sábado, 23 de abril de 2022

Pio neiro



O Santo Graal dos discos: descobrir o pecado original. O primeiro gajo ou banda que [preencher qualquer coisa aqui] na música. Apesar das certezas há sempre descobertas, o que mete em causa o que é a originalidade e a sua validação no discurso artístico. Então, agora apanhei este Song of the Second Moon (Fifth Dimension; 2015) de Tom Dissevelt e Kid Baltan (soa a contemporâneo este nome por cauda do "kid") um disco de 1962, gravado entre 1957 e 1961. É considerado o primeiro "disco de electrónica com popularidade" ao ponto de ter sido considerado por Kubrick como banda sonora para o seu 2001. Antes há os descobridores sonoros - Martenot ou Theremin - ou os compositores sérios - Stockhausen, Varèse. A dupla holandesa são uma segunda vaga de gajos mais funcionais como os torturadores de circuitos da banda sonora do filme Forbidden Planet (1956) e os vendedores televisivos - o tema da série de TV Dr. Who (1962) - estando aqui com um disco que pretende ser "espacial". Os sons artificiais devem ter demorado eternidades a fazer, falamos ainda de fitas magnéticas a serem cortadas e remontadas até à exaustão, construindo ambientes e cenários que serão mais tarde expandidos para a psicadelia "Krautrock" e o Techno mais dançável ou mais "chill". Para o fim do disco há Swing e Jazz a lembrar o Dean Elliott - curiosamente Zounds! também é de 1962 - talvez para acalmar e satisfazer as necessidades do "normie" de 62.

O Pecado Original dos discos: satisfazer o Santo Graal do mercado. Coil vende! Aliás, é a única coisa que ainda vende... Ao ponto que ao fazerem a reedição comemorativa dos 30 anos de Love's Secret Domain (1991) a Wax Trax! é trazida dos mortos. Loja e mais tarde editora de Chicago que foi o berço do Industrial norte-americano - Ministry. Revolting Cocks, KMFDM, Controlled Bleeding,... Mas não é verdade, a companhia regressou em 2014 mas parece que só lida com reedições do seu catálogo mítico. Voltanto atrás, sim Coil vende e com razão, pareciam estar sempre à frente de tudo e de todos. Este é mais um disco que prova isso, em estado de graça no admirável novo mundo do sampler e MIDI, onde o Techno e Rave são mastigados para algo que irá aparecer passado um ano ou dois - seja os ambientes de Aphex Twin seja o trip-hop dos Massive Attack. Não é música de dança embora use os seus ritmos e padrões. O dramalhão da música deles mantêm-se, claro, senão não era Coil. Boa reedição com bom texto de um gajo de Matmos / Soft Pink Truth.

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