quinta-feira, 18 de abril de 2024

João Lisboa : "Provas de Contacto" (Assírio & Alvim; 1998)

 Passo a vida a queixar-me que há poucos livros portugueses sobre música e no entanto é como as Bruxas, não acredito nelas, mas que existem, existem! Descobri recentemente este aglomerado de entrevistas a cromos como Leonard Cohen, Tom Waits (maravilhosos conversadores!), John Cale, David Bowie (sempre espertinho), David Byrne, Laurie Anderson, Robert Wyatt e a princesa (na altura, hoje Raínha) islandesa Björk. Escreve Lisboa que a gaja dos Sonic 'tava armada em parva ou em punk (porque sempre foi, punk! Nada parva!!!) e não tava numa de lhe responder (imagino ela a topar o ar de beto de Lisboa, crítico do Expresso) mas está boa a entrevista. Rende! Lisboa faz boas perguntas, os textos estão bem encaminhados - não segue uma cronologia mas temas que se vão desenvolvendo ao longo das diferentes personalidades. É um testemunho de uma era que já lá foi, passam-se boas horas de nostalgia e há poucas descobertas para quem tenha andado por ali nos anos 80 e 90, sobretudo na faceta mais burguesa, como é óbvio Lisboa nunca irá perceber Ministry, por exemplo. Sonic Youth já é um pau barulhento para ele e o público do semanário dos cotas - o Expresso era dos cotas na altura e ainda o é, claro. 
Sem comentários em relação à capa mais chata do mundo!! Sempre ouvi falar na ignorância gráfica de quem escreve sobre música, e Lisboa não deverá ter culpa das escolhas da editora mas isto é quase tão grave como a do Baton!

sábado, 13 de abril de 2024

Borboleta nos Nervos


 

HOJE às 16h, na Tinta nos Nervos irei entrevistar / conversar com a luso-descendente francesa Madeleine Pereira acerca do seu livro Borboleta, que versa sobre a emigração portuguesa  dos anos 60/70.

Creio que será este o quarto livro de BD que tem esta temática ou pelo menos alguma componente sobre "as minhas origens portuguesas que desconheço" de uma segunda ou terceira geração de pessoas que nasceram em França de pais portugueses e que, depois de estabelecerem-se como classe média decidiram contar as suas raízes familiares (e pobres).

Não sei porque a Tinta me convidou, e apesar das minhas suspeitas que o livro não seria um livro que publicasse ou sequer que o apresentasse em público, e também, por ser um livro para "jovens adultos", apesar de tudo gostei da forma como a autora tratou o tema, através de uma sincera autobiografia e ligeira investigação, bem como um nítido esforço gráfico de apresentar da melhor forma as humilhações da emigração clandestina dos anos 60/70.

A bientôt!

domingo, 7 de abril de 2024

Ladrão que rouba ladrão, mil anos de perdão!

yo yo yo

Adivinhem o que foi reimpresso?




A BD demorou 40 anos a chegar ao automatismo (obrigado Robert Crumb e Moebius por terem tomado drogas!), ”andou às aranhas” com a autobiografia ou à auto-representação do autor, jornalismo, ensaio e crónica e uma eternidade no que diz ao respeito institucional. Não podemos ficar de fora, não podemos deixar que os DJs roubem todo o bolo! Preparem lá essa tesoura e cola! Melhor ainda… saquem lá o Photoshop! 

É um pássaro?
É um avião? 
Não! 
É o Samplerman!!!

Ladrão que rouba ladrão, mil anos de perdão!




FEARLESS COLORS compila algumas das melhores páginas de BD que Samplerman produziu entre 2012 e 2015. Pode-se dizer que elas fazem homenagem aos "comic-books" norte-americanos dos anos 40 e 50, sendo misturados tal como uma viagem de um DJ a realizar o que Marcos Farrajota intitulou de "Comix Remix" - artigo escrito originalmente para o jornal finlandês Kuti e entretanto acessível em várias línguas, como o português no blogue da Chili Com Carne.

Atravessando géneros clássicos como o romance cor-de-rosa, o policial, a ficção científica e o terror, algumas das páginas tanto se identifica excertos de Fletcher Hanks como o "Samplerman original": Ray Yoshida. Violência, acção, disparos, naves espaciais, micróbios e bactérias, corpos mutilados são remontados numa colagem fractal que nos possibilitam novas formas de narrativas e leituras. 

Por detrás de um super-heróis há sempre o alterego. Neste caso de Samplerman esconde-se o desenhador francês Yvang. Começou com a experiência Samplerman em 2012 através do tumblr ZDND (La Zone De Non-Droit) juntamente com o irrequieto Leo Quievreux, tendo contaminado a web desde então. Participou em várias publicações como a š! (Letónia), Off Life, Smoke Signal, Ink Brick, Lagon, The Village Voice e Scratches. A solo saíram os seguintes livros: Street Fights Comics (ed. de Autor, 2016), Miscomocs Comics (Le Dernier Cri, 2017), Samplerman (Secret Headquarters, 2017) e ilustrou ao LP colectênea Intrepid Curves #18 da Vinyl Moon. E realizou uma capa para o título Doom Patrol da Dc Comics a convite especial de Grant Morrison.





Formato A5. 100 páginas, Quatro cores. Capa mole com verniz localizado. Uma co-edição com a Kuš!Reimpressão do livro lançado em 2017 pela extinta MMMNNNRRRG (2000-20), só mudou os logotipos dos editores envolvidos e ficha técnica.

Reeditado na nossa Mercantologia, colecção dedicada à reedição de material perdido do mundo dos zines eis disponível outra vez na nossa loja em linha e na BdMania, Kingpin Books, Linha de Sombra, Matéria Prima, Mundo Fantasma, Senhora Presidente, Snob, Socorro, STET, Tigre de Papel, Tinta nos Nervos, Utopia e ZDB. E na Modo Infoshop (Bolonha) e Freedom Press (Londres)






FEARLESS COLORS é o livro que colecciona a maior parte do seu trabalho e deu no que falar!!!
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Obra seleccionada para a Bedeteca Ideal 
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sessão de autógrafos na Mundo Fantasma (10/03/18) 
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lançamento oficial na Nova Livraria Francesa (16/03/18) com a presença do autor 
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Imagine a Jim Woodring comic, without the characters to get in the way of the experience of it. That’s what he summons in his pages. So allow yourself to get lost in these pictures. (...) Reading Fearless Colors is like taking a weird acid trip through comics as images fall apart and melt down in front of you, recombining with different images to form brand new comic pages. Samplerman’s collages take existing art and make new art out of the old, and creates comic pages that you just want to get lost in, exploring the smallest details even while wanting to pull out and see how those details collapse into a complete comic experience.

Poder-se-ia também imaginar que finalmente temos aqui uma tradução do que significaria enfrentar, com efeito, uma “crise nas infinitas terras”, que convidaria a delírios visuais bem mais inesperados do que aqueles intentados por George Pérez.

El propio autor es consciente de que, desde una perspectiva reduccionista, su trabajo podría verse como algo que no es ya cómic, aunque parta de él. «Depende de lo restrictiva que sea tu definición de cómic», dice. No debería importarnos pero, en realidad, hay en su trabajo una narratividad, y las viñetas establecen una secuencia en la que las imágenes mutan, evolucionan y se multiplican siguiendo una lógica interna, que no es la del relato, sino la de lo visual… Y la de la mente de alguien que está intentando crear algo nuevo a partir de algo viejo.

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quarta-feira, 3 de abril de 2024

Estamos todos a ficar velhos... (II)


O Erradiador / My Nation Underground continua a desterrar "coisas" do passado, e agora foi ao My Precious Things, que começou como suplemento do Mesinha de Cabeceira, depois passou a ser uma publicação autónoma que era enviada por correio (a publicação era muitas vezes o "envelope") até ir parar aos emails, e, prego final no caixão do papel, com o advento da blogosfera, passei a escrever sobre as "minhas queridas coisas" (mais uma cena inspirada nos Big Black, claro) no blogue da Chili.

Vou dizer isto, armado em cinquentão cagão: bons velhos tempos!