[f.e.v.e.r.] Bipolar EP 2006 · Raging Planet
Com o risco de me repetir [ver Under #17], a pós-modernidade tem destas coisas estranhas: existe uma banda portuguesa Pop/Rock muita boa, que lembra ora os KMFDM ora os Linkin Park, orelhuda até ao caroço mas sem passar atestado de imbecilidade – que é quase sempre o problema do Pop. Uma combinação de Metal, Goth, Electrónica e com um sentido Pop apurado. Mas esta banda até agora ainda não gravou o álbum!? Fez dois EP's, um álbum de remixes das músicas desses EP’s, tudo bem embrulhado e hypesco. Esperávamos pelo álbum mas lançaram ainda mais um EP de um só tema que é remisturado pelos próprios (que já tinha saído na colectânea Shock Of This Light [Thisco; 2006]), pelos Corvos e pelo mestre Martin Rev. Temos ainda na rodela um vídeo do tema animado em flash e de estética Sin City, sons para telemóvel e samples do tema para usarmos e abusarmos. O que se passa aqui? E ainda por cima o raio do tema é porreiro. Não cansa mesmo depois de ouvir cerca de sete variações (se incluirmos a faixa dos samples!), até parece uma sinfonia. Isto é muito estranho... 4,3
[f.e.v.e.r.] Electronics CD 2005 · Raging Planet / Thisco / Fonoteca de Lisboa
Álbuns de remixes são sempre uma grande banhada, não porque a música seja má ao ser “remisturada” mas porque geralmente ao haver tanta gente envolvida (bandas, produtores, DJ’s) parecem-se mais a mantas de retalhos sem força. Curiosamente este disco de remisturas dos [f.e.v.e.r.] que envolve gente tão diferente como Shhh…, Ultimate Architects, Mofo, Sci Fi Industries é bastante coeso sem que se perca as identidades das bandas “remisturadoras” e (curiosamente) a banda “remisturada”! Mais pesadão pelas mãos de Bizarra Locomotiva, mais Metal por Moonspell, mais Gótico por Aenima, etc... o tema mais desconstruído é o de Mécanosphère em industrialismos Dub. Se este disco é exemplar no que diz respeito ao conceito de álbum de remixes, o seu ponto fraco é justamente a banda “remisturada” que ainda não provou ser uma “referência Pop telúrica” que justifique um álbum de remixes quando só tem apenas dois EP’s editados [ver Under #13]. Vivemos o pós-modernismo, do que adianta fazer esta resenha? 3,6
FANTÔMAS Suspended Animation CD 2005 · Ipecac / Sabotage
Eu, Prof. Marte, especialista em tarot e búzios, prevejo para 2005 um novo lançamento do grupo musical Fantômas, do estimado Patton. Prevejo que será um álbum de homenagem ao mês de Abril – conhecido por ser o mês do humor nos EUA – e aos desenhos animados. Prevejo que o disco gravado na mesma sessão de "Delirium Cordia" é composto por trinta faixas que representam trinta dias. A embalagem terá um calendário luxuoso com ilustrações do japonês Yoshitomo Nara. O ambiente sonoro será como ver desenhos animados antigos da Warner a um sábado de manhã, depois de uma noite terrível e cheia de cocaína, neuras, muito mau sexo e um vizinho do lado a ouvir Grindcore em altos berros. Prevejo também que os críticos do nosso país – que são todos uns fashion victims – irão dizer mal deste disco, porque se por um lado é verdade que não traz nada de original ao que Patton já fez, também é verdade que não é uma seca ao contrário dos discos anteriores (ver Under’ #13). Como a moda Patton deve estar a passar, está claro que os nossos "criti-cu-zinhos" vão começar a sua rápida jornada da debandada! Prevejo ainda que o disco sairá no dia 1 de Abril e receberá pelo menos um 4 nas resenhas dos discos na revista Underworld.
FAT WORM OF ERRORS Pregnant Babies Pregnant With Pregnant Babies CD 2006 · Load Records
Douglas Adams no Guia Galáctico do Pendura falava de uma lua em que decorria uma festa já há 100 anos, e que essa festa já estava para além da idiotice total porque não só a orquestra já estava bastante cansada como os habitantes-foliões já não renovavam o seu sangue há algum tempo e por isso roçavam a Trissomia 21. Creio que este colectivo norte-americano de Improv/Noise devem ser deste sítio e roubaram os instrumentos à tal orquestra. O nome do colectivo faz justiça à sua música porque não me lembro de ouvir algo tão irritante e errático nos últimos tempos como este disco de estreia. Atonalidades de Música Concreta, porrada de sons tirados de brinquedos (são mesmo brinquedos? parecem-me armas sonoras!), Histerismos à canzana God Is My Co-Pilot, Falsificações de pretensões artsy-fartsy, Exponenciais de Morte à Música. Dêem-lhes um foguetão, sff! Enorme! 3,5
FATIMAH X Ángeles en loop, la brutalité des ordinateurs et des enfants CD 2003 · Transformadores / Sabotage
Estreia de mais um projecto de Jorge Ferraz - dos clássicos 80's vanguardistas Santa Maria Gasolina do teu Ventre (ver crítica nos nossos arquivos)... e mais outras cem encarnações - desta vez acompanhado por mais duas personagens femininas que são ou querem ser mães e gostariam de lançar cocktails molotov na música nacional e internacional. Juntos criam atmosferas melódicas mesmo que usem maquinaria triturada e guitarras grelhadas. Somos um país de poetas e ultimamente temos parido bandas de Pop electrónico baseadas em "boa poesia + voz feminina" - tendo os Três Tristes Tigres como a banda seminal desta onda. Cantam/recitam em português provando mais uma vez que a nossa língua, ao contrário que se diz, serve para letras de músicas Pop (e não só). As referências zapatistas e revolucionárias (na capa, design gráfico do disco e letras) desaparecem na música pois o discurso lírico não chega a ter uma carga social como dá a entender na embalagem, nem é radical como se podia esperar nestes tempos que vivemos revoltados com a Globalização / Imperialismo dos EUA. É projecto com alguma piada como se pode atestar pela faixa 4 que é um excelente exercício (instrumental) de Drum'n'Bass + Electro. Se não fosse tão pseudo-fragmentado não perderia a mensagem - e qual era mesmo? Com menos pretensão em criar personagens e conceitos sem carisma teria mais impacto lírico e musical. O título em francês é enervante pois é assim que percebemos que a senhora ressaca da cultura de intelectual de café dos anos 80 ainda não se lembrou de tomar um Gurosan. 3,5
Fidbek: Erro musical
Infamous & VRZ: 100 insultos
Dois CDs de 2003 · Matarroa / SóHipHop
Estes são os dois primeiros discos lançados pela editora Matarroa e que mostrou logo que pretendia fazer um excelente trabalho na cena Hip-Hop portuguesa. Infelizmente ao contrário do francamente bom "Funk Matarroês" dos MatooZoo ou da eclética & interessante colectânea "Matarroêses" (ver neste site), estes dois discos são o que é mais normal em Hip-Hop. Pode parecer um insulto dizer isto pois a qualidade é acima da média seja nas rimas & beats dos artistas, ou nas embalagens e produção dos discos. Mas a verdade é que daqui pouco ou nada de novo há para falar, tão bem feito que são feitos os discos mas vazios de novidade que o mais fácil de analisar são as coisas que irritam do que as coisas positivas, assim sendo, o que irrita são 3 coisas:
1) a temática em autofagia e masturbatória, ou seja, insultos e "ego-trips" sobre a cena Hip-Hop, por um lado parece que batem em gajos mainstreams e gajos underground filha-da-putas (e há sempre tantos em todo o lado, seja no Hip-Hop, seja no Cinema...); até podemos identificar algumas pessoas em geral (Eminem's & Puff Daddy's & os MacDa Weasel) ou figuras que já tivemos a infelidade de conhecer (cada um na sua área profissional e/ou artística)... mas a dada altura os "insultos" tornam-se cansativos, sempre a bater na mesma tecla e assim perdendo todo o sentido...
2) a mania de samplar "som branco" (sinfonias, musica de câmara, bandas sonoras de filmes)... será um complexo de ser branco? O Hip-Hop é fixe é pelo groove obtido pela rapinação a grandas malhas Funk, Blues, Jazz, Reggae - tudo o que é "som negro"... soa mesmo a foleiro, como se fosse os samples sacados fossem uma tentativa de mostrar erudição (musical!?) mas o que soa mesmo é a música de super-mercado... só falta mesmo a Vanessa Mae aquela da bruta-mini-saia e violino na omoplata para completar o ramalhete.
3) cédés longos como raio!!! 60 e 70 minutos respectivamente, tenham lá dó, pá!!! Momento alto em "Erro musical": o tema "... em extinção" em que ouvimos um arrepiante sample de um rosno de cão, ideia bem sacada diga-se e que dá ao tema uma distinção única a um disco já ele bastante variado nas abordagens instrumentais... Momento alto em "100 insultos": o tema "3 gotas de ácido" com 3 MC's convidados (Martinêz, Fuse e Bezegol) a darem registos vocais bem diversificados e poderosos, a um álbum por si já violento... 3,2
JEL Soft Money CD 2006 · Anticon / Sabotage
O que pode correr mal num álbum? [resposta a escrever muito em breve] E num álbum da Anticon? [resposta a escrever um dia destes] Este é o primeiro álbum de Jel a solo, que para quem não saiba, Jel não é um debutante na música: é membro de projectos como Subtle, 13&God e Themselves, além de ser um dos cabecilhas da editora Anticon. Há qualquer coisa de déjà vu neste disco, algo injustamente que não nos impressiona para quem conheça minimamente os discos desta editora de Hip Hop alternativo ou só o económico "Anticon label sampler 1999-2004" [ver Under #16] onde aliás, já se editava o tema "Nice last" como chamariz deste álbum. Jel com ajuda de Odd Nosdam vão na senda do catálogo já explorado: landscapes abstractas, deambulações psicadélicas, beats bem sacados e letras inteligentes ligadas aos sentimentos anti-Bush, anti-consumista e anti-guerra. Sem querer, parece que o disco se posiciona num ponto estático. Não deixa de ser muito bom e agradável - certo! - mas também é inconclusivo. [pontuação] Tenho aquela triste sensação que daqui um ano, se voltara a ouvir o disco ficarei arrependido de não o ter pontuado + do que 3,9
JELLO BIAFRA & THE MELVINS Never Breathe What You Can't See CD 2004 · Alternative Tentacles / Sabotage
Prognósticos só no fim do jogo! Dois pesos-pesados! À vossa esquerda o Punk-mais-Punk de sempre, activista político, ex-Dead Kennedys! À vossa direita os pais do Grunge-antes-de-ser-Grunge, mestres do Rock mais pesado do planeta!
Jello ataca com fantásticas líricas politicas cheias de sarcasmo como sempre! Seja a Bushes, Guerras Santas e a imbecilidade total deste mundo capitalista!
O uppercut de Melvins é fraco! Mais parece murros à DK!
Biafra não consegue defender a sua idade! A voz falha!
Melvins no entanto retrai daquilo que estamos habituados! Não há imaginação neste combate!
Podia ser Biafra vs outra banda qualquer! No passado houve bons combates como Biafra vs NoMeansNo! Não é este o caso destes 40 minutos de combate!
Cada round tem pelo menos 4 minutos balofos! E nada se resolve!
Só "Islamic bomb" meio broadwayesca é que faz vibrar!
Boas artes gráficas como sempre!
Não deviam respirar aquilo que não vêem! 3,4
KITTIE Spit In Your Eye + Until The End DVD + CD 2004 · Artemis / Rykodisc / Edel
Pitas menstruadas a dar no Metal. Raiva no feminino! Faltam bandas com fêmeas, sobretudo no espectro mais pesado. Tal como My Ruin e Otep, as Kitties tem vozeirões e riffs pesadões MAS falta imaginação nos instrumentos. A voz berrada de Morgan Lander é bem fodida MAS também canta com melodia super-pirosa ao nível de uma Avril Lavigne. Enfim, vê-se que são meninas mimadas e que namoram o Metal empresarial – como muitos outros meninos feios com tatuagens e piercings. Para provar basta analisar as edições recentes da banda. “Spit in your eye” é o típico DVD de banda em digressão gravada com um concerto e vários vídeos cheios de caretas e brincadeirinhas parvas para mostrar que são umas malucas MAS depois afirmam que afinal são músicas sérias, honestas, etc... um discurso abusado pelas bandas MTV, o que só as coloca em xeque com contradições inevitáveis. Resta dizer que o DVD é do piorio: concerto com chungaria, imagens cheias de blur para não fazer publicidade a esta ou aquela marca MAS, no entanto, fartam-se de dizer fuck you e afins… sem censura. As imagens da América por onde viajam são também do pior – ainda nos queixamos das paisagens portuguesas! 2,5
O CD “Until the End” (o terceiro da carreira) até começa bem, com um tema bem violento, “Look so Pretty”, MAS depois vai perdendo a pica. O tema “Daughters Sown” acabaria o CD em beleza MAS aparece um extra que é uma remistura soft e cantada de “Into the Darkness” que estraga tudo outra vez! 3,2
Não são as inócuas Donnas e percebe-se o sucesso desta banda – miúdas novinhas que fazem barulho de envergonhar muitos gajos – MAS não se pode falar em bandas no feminino só porque há uma vocalista e umas outras miúdas a tocar. Se as letras e os instrumentos forem tão cinzentos como os das bandas masculinas então estamos no limite da mediocridade, em que homem ou mulher significarão a mesma coisa, ou seja, nada. Será que nunca irão aparecer umas novas Babes in Toyland?
KK NULL Kosmo Incognita EP 2005 · Thisco + Fonoteca de Lisboa
Esta é a segunda investida da Thisco em Japanoise - a primeira recorda-se foi ainda este ano com “Dust of Dreams” do mestre Merzbow - e como tem sido hábito no seu catálogo, eis mais EP de cerca de 20 minutos de edição limitada (200 cópias) estreando em Portugal o KK Null, músico Rock dos monstruosos Zeni Geva e compositor Noise. É como “noiser” que o apanhamos a esmigalhar o cérebro do ouvinte dado à massa sonora pesada e dinâmica que imprime nesta peça intitulada “Kosmo Incognita”. Sorrateiramente, KK Null vai oscilando os sons e acrescentando elementos novos fazendo com que a peça cresça e pouco a pouco deixe se ser óbvia. Um Jam de Electrónica toda lixada que perdura 13 minutos amaldiçoados. Depois de uns minutos relaxados – tipo sci-fi-chill-out – volta a drones industriais em crescendo até acabar abruptamente aos 19m48s. Um cosmos que se descobre brutalmente. 3,7
Kutna Hora: Will or nothing
Novalis: Paradise...?
dois CDs 2003 e 2005 · Twighlight / Ars Musica Diffundere / Black Rain / Equilibrium
A primeira que ouvi Punk foi numa K7 emprestada toda lixada com o primeiro álbum dos Censurados. Depois de arranjar uma cópia para mim e ter passado sei lá quantas semanas a ouvi-la, fui descobrindo outras bandas Punk, algumas seminais como Clash, Dead Kennedys, outras já numa linha diferente como RxDxPx, Chaos UK, etc... e de repente tirando uma ou outra outra banda, sentia que a cena Punk era uma repetição de clichés. Senti-me traído pelo Punk - afinal não devia ser ele a originalidade e liberdade? Ao longo dos anos fui descobrindo outros sons, e depois de encontrar uma primeira banda de um género e os seus percursores, abatia-se o peso da repetição. O que tem haver o Punk com estes dois discos? Nada... mas continuando a minha deambulação egocêntrica: hoje, ouvindo o primeiro dos Censurados continua achar pica ao álbum, não reconheço lá grande Arte na banda comparando aos originais Dead Kennedys, mas reconheço o prazer da descoberta. Por isso cada coisa na sua prateleira, independentemente dos gostos, há música de qualidade (com ideias, com personalidade, com universos, etc...) e depois há sucedâneos com os quais nos podemos apaixonar por esta ou aquela razão ("passava os Fields of Nephilim quando fizemos amor" ou "fiz o primeiro Mosh no concerto de Xutos!") mas não significam que tenham a) interesse b) Arte c) razão de existir.
Isto para dizer o quê? os Kutna Hora são uns argentinos do NeoFolk-DarkWave mas eu não preciso deles quando já ouvi os clãs Swans e Death in June, nem dos Novalis que são alemães e mais parecem ter um nome de um carro para classe média. Talvez alguém que não conheça este tipo de som possa vir a gostar deles mas se ler esta resenha então já sabe por onde deveria começar. 2,5 e 1,8 respectivamente
PS Argentinos e Alemães? Quem diria, não há nada que oiça nas rodelas que me diga isso a não ser as notas de imprensa que as acompanham. A globalização ainda os pune mais mas para explicar porquê seria preciso escrever ainda mais, eles merecem?
segunda-feira, 14 de agosto de 2006
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