Big Apple Rappin’: Debandada na Grande Alface 18/04/2006
A cena portuguesa de Hip-Hop está a morrer ou foi uma conspiração judaica-cristã que comprometeu um importante lançamento da Soul Jazz? O unDJ GoldenShower foi lá espreitar. Veni, Vidi, Volo in Domum redire. Hips!
Lisboa é a capital do país das mil migrações. Feita de gentes de todo o lado (como aliás são sempre feitas as capitais) é a cidade das oportunidades para um país em que é paisagem a quase todos os níveis. Lisboa é também uma cidade abandonada (já espreitaram o sítio http://www.lisboa-abandonada.net/?) que impede a vivência de pessoas no seu centro. Culpem os autarcas e a especulação imobiliária quando há feriados estendidos, como este da Morte do Porco Nazareno, para explicar porque Lisboa fica deserta.
Ontem, o Bairro Alto estava vazio e foi bom assistir a isso porque há anos que aquilo anda descaracterizado graças às hordas de brutinhos & brutinhas que invadem o Bairro no fim-de-semana. Vazio também estava o Clube Mercado onde havia o lançamento de “Big Apple Rappin’, the early days of Hip-Hop Culture NYC 1979-1982”, CD duplo editado pela fabulosa Soul Jazz Records. Trata-se de mais uma “pérola” de (re)descobertas esquecidas pelo tempo como é apanágio desta “pedagógica” editora. Como o nome indica, o CD é dedicado à génese do Hip-Hop em Nova Iorque.
No entanto para uma festa de lançamento, a coisa foi estranha: não havia público (claro, os “lisboetas” foram para o Algarve comer peixe para celebrar a Páscoa) e não estava lá o disco propriamente dito. Já eram umas duas da manhã (ou seriam mais?) quando lá cheguei com amigos mas ainda assim não seria razão para este fiasco, ou seria? Seja como for, o som bombava “old-school” e para além de meia-dúzia de gatos pingados havia os parvinhos dos b-boys a fingirem que são gajos fixes que sabem fazer macacadas do break dance mas tivesse a dar Morbid Angel ou Kool Herc as macacadas são sempre as mesmas – é inacreditável como os tipos não curtem a música da sua própria cultura, podemos gozar os metálicos de fazerem headbanging mas ao menos sabemos que a cabeça a abanar está sintonizada com a bateria da música. E ainda por cima estes sub-normais dos b-boys ocupam a pista toda com estas demonstrações de ginásio.
PS ou Fim da noite numa Lisboa Civilizada (sem muita gente, sem carros por todo o lado, com os bares semi-vazios onde se podia circular livremente): o Bicaense passava também old-school e estava (bem) mais animado que o Mercado. Depois, acabar no Incógnito a ouvir os “índios” e ficar definitivamente bêbado, yeah!
Sofa Surfers: Como se estivéssemos em Viana do Castelo (?). 03/05/2006
Concerto morno com o público mais feio que Axima Bruta [texto] e Jucifer [ilustração] tiveram a infelicidade de partilhar no Club Lua.
Ontem à noite, assistimos à falha continuada dos Sofa Surfers. Os seis austríacos vindos da “Electrónica Bom Gosto” da última metade dos anos 90, foram dos nomes basilares dessa cena e também os mais interessantes, ao contrário do «chic» burguês dos Dorfmeisters & cia, sempre arriscaram de álbum para álbum.
Um bocado de História: “Cargo” era quase Industrial, “Encounters” era HipHop e Ragga, e o novo “The Red Álbum” é Rock e Soul – que quanto a mim e imprensa especializada não correu lá muito bem a julgar pelas críticas e pontuações medianas. E foi neste último disco que o concerto incidiu. Não tenho nada contra o Rock per se mas tocado pelos Sofa Surfers – mestres em manipulação Dub e Electrónica – as coisas não funcionam lá muito bem, parecia mais uma banda debutante à procura de personalidade embora tivesse momentos “sónicos” inesperados.
Mani Obeya (coreógrafo e bailarino) foi o vocalista de serviço, eficiente na Soul cantada, giro a dançar mas sem grandes dotes para dizer que fosse bom animador ou vocalista. O formato Rock que dominou 75% do espectáculo era tão chato que ninguém dançava, claro. Só quando o Mani deixou de ser a peça importante do jogo musical, ou seja, quando os “surfistas do sofá” foram buscar velhas glórias sujas, barulhentas e “funky” que aquilo passou a ser UMA festa. Mas durou pouco tempo. Veio o Encore com “Elusive scripts”, música de “Encounters”, com participação vocal / rap do poderoso Dälek e de Dev1… no concerto os seus “cameos” são feitos na projecção vídeo e em sampler (som). Uma bombinha-surpresa, sem dúvida… e depois disso mais uma música ou outra para abrirem-se as luzes do Club Lua – kaput!
De resto, ou porque o último dos SS (posso chamá-los assim?) ser um óbvio tiro nos pés ou porque (e também por consequência) a banda estar “out”, o público deste concerto eram o “outlet” da Electrónica do milénio passado, ou seja, betos deslavados e pessoal da modinha meio desfasados (perdidos entre o casaco Adidas e o Electro, ambos totalmente démodé). Um horror, meus caros! Fora de moda ou não, ainda assim a casa estava cheia. E ainda bem, caso contrário teria sido um concerto penoso.
Kisses!
Ax.
Assinado como Axima Bruta
Número Negativo 13/11/2005 E daqui fala-se da sexta edição do Número Festival que foi um fiasco a todos os niveis. Do que (ou)vi foi o britânico DJ Rupture que salvou uma das noites... pelo menos a minha!
noite -1 (11/11/05) Um fiasco de noite e percebe-se porquê. É que para um festival de novas tendências o programa proposto é francamente mau. Este festival já trouxe noutras edições gente como Kid 606, Pan Sonic, Chicks on Speed, Aphex Twin, ... mas perdeu o fio à meada [para uma ZDB que semanalmente tem propostas mais do que interessantes para qualquer um, do free-jazz-rock (Monno) ao alt-country (Jeffrey Lewis) passando pelo hip-hop (Dälek, Anticon) só para (re)lembrar os melhores que passaram por lá nos últimos meses]. Não pode ser por falta de orçamento que o cartaz deste ano fosse tão fraco e conservador, afinal quando há menos dinheiro, há mais gajos com ideias fixes.
O festival decorreu no Club Lua, uma discoteca nova na noite lisboeta & pipi q.b. Está metida dentro do estranho complexo do Jardim do Tabaco, que parece um "shopping center de bares" - coisa kitsch de novo-rico que curte condomínios fechados...
Apanhei os U-Clic a meio do concerto, banda entre os The Wire (pelo feedback) e Devo (pelos uniformes brancos) praticantes de um simpático "electro-rock" mas sem carisma ou postura ao vivo que clicasse o público, ainda que tenha sido a melhor banda da noite. Como sempre Portugal está atrasado, e neste caso são os típicos 5 anos (tão bem escrito pelo Afonso Cortez no Under #17) em relação ao que se faz lá fora. Agora que já ninguém quer saber do Electro o que estes tipos vão fazer com a sua banda toda planeada?
The Lithium foi a banda seguinte e comparações a X-Wife são inevitáveis, só que menos talentosos & originais, e pior, mais histéricos... outros com atrasos de 5 anos. Electro eat my ass! Fenómeno imbecil de popularidade, como só podia acontecer num país de atrasados mentais, o sueco Gay Gay Gohanson (acho que é assim que se escreve) sempre foi asqueroso: 10% de Frank Sinatra, 90% de "fashion victim" que namorou o trip-hop quando este género apareceu, foi para a cama com o electro quando estava a dar... deu-se mal e voltou pró trip-hop. Depois de ter dado um horrível & incompetente concerto na Aula Magna mesmo assim tinha de cá voltar vá-se lá saber porquê. Pelo menos desta vez a coisa correu bem mesmo que o seu show seja a coisa mais aborrecida do planeta. O homem tem fãs e foram estes que encheram metade da casa. De resto, o Gay Gay (tal como carinhosamente lhe chamamos no meu grupo de amigas) e os Gotan Project deviam ser proibidos de entrar em Portugal - não era bom que as fronteiras voltassem?À espera dos alemães Schneider TM (e Rechenzentrum), as únicas esperanças que tinha para esta noite, apareceram antes os Producers com a sua electrónica experimental "nerd" - não que fosse má mas aquela hora, 3 da matina, já não há cu! Tão chatos que eram que fui ajudar Jucifer a colar uns autocolantes numa parede do bar [os peixinhos em http://crime-creme.blogspot.com/2005/11/jucifer-pitchuencontro-de-3-grau.html] e fui apanhada por um empregado do bar que me expulsou daquele estabelecimento nocturno. Foi uma forma óptima de acabar a noite e excelente desculpa para não ter de ficar até ao fim desta primeira noite do Número Festival. O cartaz da segunda noite parece-me sinceramente melhor (Opiate, Mécanosphère, Nell'Assassin e DJ Rupture) mas o porteiro deixará-me entrar?
noite -2 (12/11/05) Olha, olha... deixaram-me entrar... mais valia não! Sei que estou a ser ingrata mas cheguei mesmo na altura para apanhar "un con qui voudra être un grand bateur mais c'est un pauvre diable"... Sim, apanhei os Méchanosphère sem ter de passar por mais Electro-Rock! Mechano (para simplicar embora não queira compará-los à banda espanhola) tem a teoria certa, e a minha simpatia estética (Painkiller, Godflesh) mas não consegui gostar do que assisti. Apresentaram-se com um (pre)conceito irónico, a exploração do tema "oriente" (dada as recentes circunstâncias francesas?) com o Adolfo Luxúria Canibal a balbuciar chinesadas e cânticos pseudo-muçulmanos e o Benjamin Brejon a soprar instrumentos orientais. É óptimo ver algo "free" nos dias de hoje, em que o formato sobressai sempre ao conteúdo. Mas algo não resultou... a começar pelo tontinho do percussionista do LePiloteRouge, todo maluco (ou a fingir, não sei; um poseur?) mas do qual não se vê trabalho de forma alguma - nem um ritmo o gajo consegue manter. Mechano é caos sonoro, improvisação, restos mortais de Dub-Industrial e Noise mas falta élan. Se o concerto deles parece o primeiro ensaio de uma banda de putos todos janados também é verdade que qualquer puto janado com um sentido para o show-off deve conseguir transmitir energia para o público... aqui isso não aconteceu, não há energia genuína! Torna-se desagradável vê-los dado ao meu imenso respeito/admiração pelo Adolfo. Também tiveram azar em relação ao evento, se na primeira noite do festival a casa estava a metade, nesta segunda noite deviam estar umas 50 pessoas com muita sorte. O evento foi um fracasso de público e atrevo-me a dizer, de conteúdos: para além das escolhas duvidosas o próprio alinhamento foi mal feito - ex.: na noite anterior a escolha de colocar os Producers às 3 da manhã! Entretanto o som - a acústica - não era das melhores sobretudo com uma casa vazia. Para quê ter equipamento áudio/vídeo estimado em 10 mil contos ou euros (who cares?) se depois o som rompe por todos os lados?
Se na noite passada estávamos atrasados 5 anos, com os Invaders passamos para 15 anos de atraso. Estamos na institucionalização das Raves, com um Techno que já não interessa nem ao Menino Jesus. E para piorar, o tipo que punha som era o mesmo dos Producers - um tal de Fadigaz - que já me tinha dado fadiga na noite anterior... porque raios estes tipos não ficaram para o fim do evento? Do tipo: festa com martelada para acabar em beleza o festival (ironia). Nem quero falar dos vídeos dos Dub Video Connection que conseguiram a proeza de fazer visuais que já não se fazem na Europa civilizada. Inacreditável!
MAS veio o DJ Rupture salvar a noite. Suponho que tenha feito isso porque não vi até ao fim a actuação drum'n'bass do DJ/ip (da editora Bip-Hop e que usava uma t-shirt de dos lendários noise-punkers Big Black -Respect!!!) nem o Nel'Assassin - o cansaço tomou-me, não fui expulsa desta vez! REWIND! DJ Rupture trouxe do melhor que se faz nas pistas de dança da Europa: dancehall, ragga, jungle, drum'n'bass, breakcore a mil, em que (por curiosidade) The Cure ou Black Sabbath eram remisturados com as batidas negras do século XXI. De apontar também o trabalho exemplar dos VJ's No Linx - good work boys! DJ/ip ia com balanço, o meu balanço era mais para a cama. Espero que para o ano o Número seja diferente e positivo. Boa noite! Assinado como Axima Bruta
Cromossomas trocados 09/11/2005
Os Bizarra Locomotiva abriram para uns Young Gods que comemoram 20 anos de carreira na pior sala de Lisboa City. Uma noite em português, francês e inglês. Faltou o alemão.
«O cromossoma Y é um dos mais pequenos cromossomas humanos, e é aquele que determina o sexo masculino. Enquanto as mulheres têm nas suas células dois cromossomas X, os homens têm um cromossoma X e um Y. O cromossoma Y tem cerca de um terço do tamanho do cromossoma X e apenas um centésimo do número de genes. Mas apesar de tão evidentes diferenças, há muito que se suspeitava que num nosso antepassado distante os cromossomas eram iguais e foram tornando-se diferentes ao longo da evolução.» O que raios isto tem a ver com Young Gods?
O nome da tour que comemora 20 anos de carreira destes semi-deuses suíços intitula-se XXY - XX para 20 anos em numeração romana e Y para Young Gods, claro. Bem, e quando isto dos cromossomas corre mal é lixado.
Foi o que aconteceu no Domingo, passado dia 6 de Novembro, na Aula Magna da Cidade Universitária de Lisboa. A melhor banda portuguesa de Rock Pesado, os Bizarra Locomotiva, e a melhor banda de Rock do mundo, os Young Gods, tocaram na Pior sala de espectáculos da capital. Acústica horrível (a voz de Franz toda distorcida entrava-me pelo ouvido esquerdo como um berbequim!), sistema americano de acesso (os que tem mais dinheiro tem direito aos lugares da frente), não se pode fumar ou beber na sala, para não dizer que um tipo tem de ficar sentado... nunca vi lá nenhum bom espectáculo e duvido que alguma vez irei ver...
Bizarra é a melhor banda de Rock pesado em Portugal tal é a brutalidade dos temas que debitam... longe dos tempos em que eram duas ou três pessoas, agora parecem mais normais, quatro tipos em palco meio à toa do que devem fazer, parece-me tudo um bocado homo-erótico (o título desta reportagem não é assim tão inocente!). O vocalista em visual meio Anthony Kiedis (Red Hot Chili Peppers) meio Lou Ferrigno (Mister USA, actor da série televisiva do Hulk) já não corre de um lado para o outro non-stop, preferiu chatear um tipo da fileira da frente e parecia um puto a pular por um chocolate. Não percebi porque levantou o tipo das teclas/maquinaria para às costas... bizarro... Houve "Ódio" e temas antigos - como o "Fear now" ou "Filhos do holocausto". Para uma banda deste calibre não se percebe porque ela só serve para fazer as primeiras partes dos Young Gods... ninguém pega neles a sério!?
Duas cervejas a seguir - a última quase de penálti porque não se pode beber no auditório - aparecem os Young Gods. Antes disso, durante o intervalo (da cerveja) deu para topar o público: tudo up-30's vestidinhos à Vanguarda na vontade de celebrar a sua juventude perdida, cheios de dinheiro para gastar nas t-shirts, discos em vinilo e uma serigrafia da banda. Brutais como sempre, a banda suíça tem uma idade considerável mas soube gerir bem a sua carreira com independência mudando de disco para disco sem perder um milímetro de personalidade. Não é de estranhar que se oiça Techno / Psy Trance (do "Second Nature" e "Only heaven"), Punk/industrial ("Envoyé" e "Jimmy" do primeiro álbum homónimo da banda), Hard Rock (do "TV Sky"), Cabaret ("Charlotte"), Kurt Weil (só houve, infelizmente, direito a "September song" em relação ao excelente disco "Plays Kurt Weil")... Franz Treichler, um Jim Morrison de pacotilha, dançou e falou com o público. A banda ainda nos ofereceu alguns temas refundidos e um novo (cheio de White Noise... pista para o futuro? Noise by Young Gods? Promete!!!).
Foram três "encores" previsíveis exigidos por um público que queria repetir as velhas glórias de 1992 mas esquecem-se que a Aula Magna não serve para bons concertos, só para reuniões de RGA's inúteis ou neste caso, para reuniões de ex-punks a caminho da terceira idade. Para uma banda que não sabe o que é a estagnação criativa, mereciam um lugar melhor. Será que no Hard Club foi melhor?
Mundo às avessas 30/10/2005
Quando se espera uma coisa e depois é outra...
Hoje, dia 30 de Outubro, a hora mudou... e antes disso na noite de 29 para 30 houve na Caixa Económica Operária um "brainstorm underground" que juntou associações com a Thisco e a Chili Com Carne (entre outras que a hora alterada não me deixa relembrar) numa iniciatica porreira: concertos, bancas de cenas independentes (discos, zines, livros, t-shirts, etc..), convívio... O estranho é que estava à espera uma coisa de uns tipos e nada de outros e foi tudo às avessas.
Eu explico, fui com expectativas que Strutura gosse (desculpem, fosse, merda para os copos!) - fosse - fixe e que a joint-venture Sci-Fi Industries, Slow Soldier e Flat Opak fosse uma seca... foi ao contrário! Strutura (ou os 3 Pedros!) até tem um som electrónico interessante, cheio de desconstruções textuais e rítmicas, e a julgar pelo EP (online no site da Mimi Records) esperava que as partes de recital de textos fosse mais limpa e com presença. No entanto, foi-se pelos delays de voz que tornava os textos (de livros de autores vários, não perguntem quais) imperceptíveis. Desilusão...
A joint-venture que à pouco tempo em Cacilhas (no bar O Culto) parecia que estavamos presente de 3 estarolas egocêntricos fizeram um bom show! Techno, Drum'n'Bass e sub-variações de música de dança são debitadas a 100 à hora, numa dinâmica live. Não estava à espera disto... De resto, havia uma apetitosa banca de discos e zines da Thisco e Chili Com Carne, o meu namorado DJ GoldenShower punha som nos intervalos dos projectos, a cerveja acabou muito cedo (por causa da máquina de pressão, malditas máquinas, não?) o que obrigou a malta a beber coisas mais fortes - o que é bom, no meu caso foram demasiados whiskies-colas, hips! - e L'ego mostrou uma série de vídeos seus - alguns um bocado datados, infelizmente - e acompanhou (muito bem) como VJ para os Sci-Fi, Slow & Flat. Hips! Assinado como Axima Bruta
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