segunda-feira, 14 de agosto de 2006

all gone from V to X

V/A
Looking for stars
Your imagination
CD 2002 · Bor Land
Dois discos antológicos de nova música portuguesa: O 1º reúne 5 bandas representadas com 3 músicas cada. São elas: Old Jerusalem, Alla Polacca, Polaroid, Boiar e Abstrakt Circkle, todas elas ligadas ao Pop/Rock inteligente. As três primeiras bandas estão próximas das vertentes Folk/Alt.Country e Indie-Pop, já as duas últimas são mais difíceis de rotular pois divagam em atmosferas Jazz misturadas com Pop/Rock dos gloriosos tempos da MMP em que não havia vergonha em misturar qualquer tipo de sons para o melhor e para o pior: Pop dell Arte, Mler Ife Dada, Ocaso Épico, Lucretia Divina, Repórter Estrábico... Acho as primeiras bandas menos interessantes mas são as mais bem produzidas e confiantes mesmo quando copiam modelos óbvios. Um exemplo paradoxal, o tema "Geonav" dos Alla Polacca parece mesmo um inédito dos Radiohead (entre o "The bends" e o "OK Computer"), uma réplica tão perfeita que (até) soa bem - eu sei, é uma heresia... As últimas duas não parecem nem confiantes nem bem produzidas, o que é mesmo uma pena pois tem um imaginário maior! 2º disco, 12 faixas, 12 bandas: Bildmeister, The Unplayable Sofa Guitar, Old Jerusalém, Bypass, Alla Polacca, Wave Simulator, Boiar, Zoë, Dead Sea Israel, Stealing Orchestra, Polaroid e Moving Coil ou seja mais Folk/Alt.Country e Indie-Pop lamechas tirando os excelentes Stealing Orchestra (com uma faixa homónima da estreia "Stereogamy"). Acima de tudo o que se pode admirar destas bandas são as suas capacidades de composição e desconcertante intimidade exposta aos "receptores". E por falar em intimidade, esta é a linha editorial da Bor Land - basta olhar pelo minimalista design dos seus discos. Já não me lembro bem onde li o slogan da Bor Land mas era algo do tipo "não é por gritares alto que vais conseguir o que queres"... uhm... acho que era isso... uma piada às bandas do Metal!? 3 e 3,5 respectivamente

V/A: Matarroêses CD 2003 · Matarroa / SóHipHop
Colectânea do clã Matarroa, isto é, a Matarroa é um colectivo e uma editora de Hip-Hop com base em Matosinhos cujo o trabalho editorial tem sido exemplar. Sendo mais um lançamento (o terceiro) da Matarroa só vem confirmar o que a Matarroa pretende:
«Música alternativa porque não é para a maioria Música agressiva porque não tem fantasia» [in "Música Alternativa" por VRZ]
É certo que falamos aqui de Hip-Hop mas é um Hip-Hop bem produzido, bem trabalhado, consciente e inteligente, neste caso especifico este disco é um excelente catálogo das várias tendências do Hip-Hop suficientemente eclético para não enjoar: luta desgarrada de palavras entre MC's ("Yoko vs IP" por Yoko-Zoona & Inspector Mórbido), frases em velocidade desfreada ("Expansão suspeita" por Nokas), fusões com Reggae'n'Ragga (duas faixas por Bezegol) e Allah Drum'n'Bass (com o Fuse), letras com ligeira pronúncia africana e/ou divertidas ("A conspiração dos moskitos inofensivos" por Ikonoklasta), um instrumental "cool" (por Buster Bitz)... tudo razões para sentirmos que estamos a descobrir uma nova cidade musical, um El Dorado... em português! 3,8

V/A: Portuguese Nightmare, a tribute to the Misfits CD 2005 · Raging PlanetNão contem comigo para falar de discos que servem para fazer guita à pala de nomes famosos por parte de bandas obscuras. E é o caso deste disco? Por um lado acho que o sistema “associação a nome famoso para promover os que não são” é o que se passa por aqui mas por outro há aqui um estranho magnetismo, tão estranho como era o dos Misfits – uma banda medíocre mas com um carisma tão forte que se tornaram incontornáveis. E é o que se passa aqui, as bandas portuguesas são o que são (médias ou boas mas nunca brilhantes) mas conseguiram apanhar o brilho maléfico dos Misfits cada uma ao seu género: Core diversificado (Easyway, Simbiose, Day of the Dead), Metal pesadão (Decayed, Grog), Rock variado (The Temple, Capitão Fantasma, No-Counts D.O.M.), Nu-Goth (Cinemuerte, [f.e.v.e.r.]),... colocando a compilação numa confortável situação de que é possível unir (quase) todas tribos num bom disco. Destaco Mata-Ratos e Dead Combo (apesar de não gostar das bandas) por terem tido os tomates de fazer as versões em português (“Sementes do ódio”, “Hate Breeders” no original) e em instrumental (“Angelfuck”), respectivamente. Outro destaque para D’Evil Leech Project (uma violência de Extreme Metal!) e TwentyInchBurial – sem dúvida a banda com o binómio groove/peso mais equilibrado na cena Metalcore portuguesa e a confirmar que versões é com eles! Resta saber quem são os psicadélicos Octopus in the Fisherman’s Style – já que não se canta em português ao menos que se brinque com a língua inglesa... 4,2

v/a Summer One DVD 2005 · Metro Discos
Os tipos da editora Metro não nos enviaram o último CD dos excelentes Bizarra Locomotiva (quando até havia uma entrevista a esta banda no último número), mas enviaram um DVD de Surf! Que fixe! Que bom ver uma hora de homo-erotismo desportivo: betinhos em tronco nu, ondas a rebentar como uma ejaculação gigante do Rei Mar, rapazes bronzeadinhos a fazerem gestos obscenos com os dedões das mãos porque falharam uma ondita. O que aconteceu àqueles vídeos de Surf em que as melhores partes eram aqueles cortes de poucos segundos com gajas boas e enjoadinhas e de rabos bem queimadinhos? E de maminhas redondinhas? Ah! Este é o primeiro DVD de surf português com banda sonora só de bandinhas portuguesas, cujas músicas nem sempre se ajustam às imagens - nada de escandaloso, maus são os separadores digitais. Temos Rock electrónico, pós-Grunge, Nu-Metal, Funk, Dub num ecletismo saudável e atletismo participativo dos Braindead, Blasted Mechanism, Mofo, Tendrills, Anger, Rollana Beat, More República Masónica, Cool Hipnoise, e (oh, não!) Blind Zero (a banda mais azeiteira de sempre?). Pergunta-se porque não estão os Dr. Frankenstein – a banda surf!? Bem, pelo menos não estão aquelas bandinhas de Hardcore melódico, ufa! 2,7

V/A: Superfuzz - o.s.t. CD 2005 · Lowfly
A LowFly lançou mais uma colectânea, desta vez uma selecção de 26 temas de Retro-Garage-Rock’n’Roll-Punk-Blues-Surf escolhida pelo “Paiva” em pessoa! Conceito inédito, pelo menos em Portugal, uma vez que o “Paiva” é uma personagem de BD publicada no Blitz, da autoria de Esgar Acelerado e Rui Ricardo (actualmente desenhada por João Maio Pinto que colabora aqui no Underworld). Ok! Na verdade quem escolheu Dirtbombs, 5.6.7.8’s (sim, as japonesas do filme Kill Bill!), Monkeywrench, Knockout Pills, Act-Ups, Dr. Frankenstein, Insomniacs, Legendary Tiger Man entre outros foram o autor Esgar Acelerado e o editor da Mondo Bizarre, Hugo Moutinho. Curiosamente o disco cheira a “disco de oferta” desta revista (não digo isto como má língua!) pois 90% das bandas costumam flutuar por lá. A excepção a isso e a quase tudo no mundo (este sim um evento inédito!) são a estreia de Garina Sem Vagina, uma banda que existia... na BD. Cheira-me a piada dos autores! Já agora, “elas” soam a Surf Rock. Por fim, e mais uma razão para comprar o disco, a editora oferece uma impressão offset limitada de 1000 exemplares, numerada e assinada por Rui Ricardo. 3,7

VIVE LA FETE Grand Prix CD 2005 · Surprise / NTM
São 4 e meia da manhã, a festa cá em casa já acabou… Olha, chegaram os meus primos emigrantes… vêm da Bélgica e estão cheios de pica. (eu queria era pelo menos tirar as garrafas do quarto)
Os cabrões puseram uma cena qualquer na aparelhagem e estão a dançar aquela porra…
- “O que estamos a ouvir? (tosse de excesso de nicotina) Alguém tem um cigarro?”
– “É uma banda d'um gajo dos dEUS”, responde-me a Antoine Vanessa.
– “Ah!” (amanhã tenho tirar os vidros partidos por detrás do frigorifico) ... Foda-se! Quando é que eles se vão embora? E levam esta treta Electro-pop? Não tem a ironia fun & lo-fi dos Stereo Total (que os meus primos emigrados na Alemanha deram-me a conhecer), não tem a escatologia ou o carisma da Peaches, nem a estética lesbian-chic da Miss Kittin, nem… nada. (porra, quem é que vomitou no bidé!?)
E esta voz da gaja da capa (que a estas horas da manhã parece boa comó-milho!) viola as figuras da Brigitte Bardot e da Jane Birkin,… os anos 80 nos países francófonos devem ter sido um pesadelo como está a ser agora! Não admira que queiram meter fogo naquela merda... (Claro, alguém tinha de apagar os cigarros nos copos e nas canecas)
– “MALTA, C'EST FINI! A FESTA ACABOU!!!”
2

WHITE STRIPES Get Behind Me Satan CD 2005 · Third Man / XL / Pop Stock
O que posso escrever mais do que aquilo que já foi escrito sobre o último álbum dos White Stripes? Todos já sabem que não é um álbum típico de quem conquistou o planeta inteiro e a discoteca da província com o tema "Seven Nation Army". O que estamos presentes é o princípio que o duo sempre defendeu e pelo facto de serem umas estrelas mundiais não os tirou do caminho, ou seja, de provar que se pode fazer boa música sem mega-produções. O duo conhecido por só usar voz/guitarra/bateria ama a sua raiz musical norte-americana saltita pelo Blues e pelo Rock só que desta vez e contra a lógica comercial estão menos Blues e menos Rock pois vão alternando com um piano que soluça Ragtime. Para completar à riqueza musical ainda há triângulo, marimba e sinos. Este disco é como um delicioso Hambúrguer cada vez mais cheio de ketchup e outros molhos. O que não deixa de ser um "Hambúrguer White Stripes" nem de ser delicioso. Os não-irmãos-incestuosos são inteligentes. Se venderam a Alma ao Diabo, negociaram-na muito bem. Devemos afastá-los das prateleiras dos "sons retros" que nos empestaram nos últimos anos e também do "mais do mesmo". 4

WHY? Sanddollars the EP CD-EP 2005 · Anticon / Sabotage
Quando 'tou na fila para pagamento no Mini Preço há sempre uns expositores com coisinhas para levar, como embalagens de fritos-chamados-Doritos-sabor-Tex-Mex. E eu, consumidora como outra pessoa qualquer muitas vezes levo um pacotito. Quero dizer com isto que este EP do Why? tem de algo de Tex-Mex? Sim, mas só se for daquelas embalagens pequenas porque estamos perante um EP só de 20 minutos e 31 segundos que sabem a pouco e obrigam-nos ao "replay" - como os tais Doritos-sabor-Tex-Mex: ficamos viciados logo na primeira trinca daquela merda e não descansamos enquanto não acabarmos a embalagem toda como se fossemos uns animais! Why? sempre foi o artista mais "Pop" da Anticon, editora / colectivo de Hip-Hop alternativo (ver Entulho de Marte in Under #16) e com este EP que antecede o disco "Elephant eyelash" faz a sua grande viragem. Hip-Hop aqui? Aonde? Há restos deste género de música lá no fundo (da embalagem de Tex-Mex?) no uso das técnicas de Hip-Hop: samplagens, uso de beats, forma de cantar mas o que temos mais aqui é Indie-Pop/Rock (da boa!) acompanhada quase sempre de piano. É também um disco que Why? deixa de ser Yoni Wolf para passar a ser Yoni Wolf e mais 3 gajos. No fim do disco, depois de desistir de procurar o "HipHop" vamos encontrar grandes canções inteligentemente fabricadas sobre uma esquecida Miss Ohio, perdedores vários, a vida mundana, o quotidiano melancólico. Empacotado em brilho humano, como poucos ainda o fazem. Será a embalagem grande (o disco "Elephant eyelash") tão boa como esta mini-embalagem? No próximo número do Under alguém dirá... 4,1 assinado como Axima Bruta

WIRE The Scottish Play CD + DVD 2004 · Pink Flag / Ananana
Afinal esta edição é um DVD ou um CD? É difícil de adivinhar, por um lado temos um CD áudio com o concerto de 30.04.04 no festival Triptych (Glasgow) e por outro temos um DVD (muito simples) que também reproduz esse mesmo concerto (com imagem, claro) e ainda excertos de outro dado a 26.04.03 no Barbican (uma espécie de CCB de Londres) com uma excelente instalação de Es Devlin. A propósito disso, a banda está separada em quatro salas no palco, de frente (viradas para o público) são projectadas imagens – as mais impressionantes são as ampliações de partes das caras dos elementos da banda: nariz, olho, boca – enquanto a banda debita o seu high-energy Rock mesmo quando a média dos membros da banda deve ser igual à idade do meu pai. É pena que se fique pela típica imagem de gajos a tocarem, o que no caso dos Wire ainda é pior dada à sua mítica distância com o público. Aparte: nunca percebi lá muito bem porque o pessoal curte ter "ao vivos" de bandas... são sempre uma grande seca com as devidas excepções o que não é este caso. Porque não reproduziram o concerto do Barbican na totalidade? Ou pelos menos metade/metade. Se por um lado é incrível a energia e chinfrim debitado por estes cotas (pós)punkers – um gajo ainda pensa que os Stones são uns malucos – por outro passado um pouco a coisa começa a aborrecer, o melhor é ficar pelo CD áudio. Ainda assim, só na Inglaterra é que podia haver um fenómeno assim, uma banda mítica dos gloriosos anos do Punk que volta com temas originais. Em Portugal a cultura musical só dá para insistir no regresso dos Pixies, bah! 3,9

XEG Conhecimento, 1978-2004 CD 2004 · Matarroa / SoHipHop
Geralmente os press-releases dos discos são sempre uma seca, uma tentativa bacoca de convencer o crítico que o disco é muito bom e/ou de o ajudar a não pensar... bem, ou porque hoje é domingo ou porque o press-release desta nova produção da Matarroa (uma das melhores editoras portuguesas de Hip-Hop) traduz com sinceridade o produto que estão a promover, eis uma reprodução da mesma, sendo que subscrevo/acredito com aquilo o que é escrito. Marte «Xeg é um dos MCs mais populares no meio Underground do Hip-Hop Português. Com um currículo extenso que incluí participações em Álbuns e Mixtapes já considerados clássicos (Sam the Kid, Bomberjack, DJ Cruzfader), e outras mais recentes (Nbc, Kacetado, MatoZoo), não nos devemos de esquecer do seu disco de estreia, “Ritmo e Poesia” editado em 2001, com assinalável sucesso. [ok, esqueçam esta parte porque nunca ouvi nada disto tirando os excelentes MatoZoo] Ao longo da sua carreira Xeg, caracteriza-se por controlar a mesma, da forma como controla a sua vida, simples. Sem papas na língua, fala do que vê e sente, o que lhe tem rendido alguma animosidade e, claro, a falta de reconhecimento típica de quem lidera e não segue, num meio tão pequeno como é o nosso. Sejam os tópicos, sociais (Racismo, Guerra no Iraque e o Governo), passionais, ou direccionados para o interior do movimento Hip Hop, o resultado é sempre o mesmo: honesto, directo e no final, arrasador. [um bocado reaccionário de vez em quando mas percebe-se porque o Hip-Hop em Portugal está a ser a voz das novas gerações já que é a única música urbana politizada com uma actualidade viva] Vivendo e respirando Hip-Hop, da forma mais pura, este B-Boy dos anos 80, faz questão de nunca esquecer as 4 vertentes nos seus discos. E “Conhecimento”, não foge à regra, sendo um disco de batidas harmoniosas e melódicas, maioritariamente produzido pelo próprio, podendo considerar-se este segundo registo, como um filme da sua vida, onde muitas histórias são (deliciosamente) contadas.» 3,4

XEG Remisturas vol.1 CD 2004 · Matarroa / SóHipHop
Sétima edição da Matarroa, uma editora exemplar do Hip-Hop que é lançada agora mais uma edição toda XPTO de Xeg com um cortante bonito como sempre. Sobre o conteúdo da rodela, é de referir que é um álbum que Xeg remistura uma série de músicas de Hip-Hop: dele, de uns clássicos como os Líderes da Nova Mensagem (de 1994) e de "clássicos" recentes como NBC, Kacetado, Sam the kid, Valete, MatoZoo... As remisturas implicam uma nova produção, novas versões e na maior parte dos casos novas rimas. O disco é bastante fluído e porreiro de se ouvir, não chega a entrar muito nas disputas internas do pessoal do Hip-Hop, tem músicas bem funky e com pica - destaco "Crise financeira" e "Combate mortal" que são super-catchy - e só tem uma intro que é foleira - como geralmente são foleiras todas as intros. Foi uma boa forma de acabar o ano de 2004! Parabéns à Matarroa pelo trabalho desenvolvido! 3,9

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