sexta-feira, 31 de maio de 2013

Natureza Morta


Fundo para o site da Feira Morta a pedido da organização. Bute lá? É 6 e 7 Julho n'Os Amigos do Minho, Intendente, Lisboa!

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Anarchy for sale!



Muitas vezes, e não em poucos casos abusivamente, o punk foi/é identificado com o anarquismo. Em outra área, são habituais as analogias da chamada "livre-improvisação" com os princípios libertários, mesmo quando quem toca são músicos com perspectivas políticas e sociais influenciadas por correntes marxistas como o trotzkismo e o maoísmo. Seja como for, há mais conexões entre Música e Anarquia do que aquelas que se supõe. Um contributo para o seu desvelamento, tanto quanto para a desmitificação de algumas ideias feitas, está neste novo livro de Rui Eduardo Paes, o segundo do autor na colecção THISCOvery CCChannel, depois de Bestiário Ilustríssimo.

O novo livro de Rui Eduardo Paes relaciona as músicas de hoje (jazz, improvisação, pop-rock, noise, electrónica experimental, música contemporânea) com as novas tendências do pensamento libertário, descobrindo analogias mas também desmistificando ideias feitas. Daniel Carter, Lê Quan Ninh, John Cage, Fela Kuti, Frank Zappa, Thom York (Radiohead) e Nicolas Collins são algumas das figuras retratadas pela escrita analítica e de dimensão filosófica, mas não raro com humor e alcance provocatório, do ensaísta e editor da revista “online” jazz.pt. Entre os temas percorridos ao longo dos 10 capítulos amplamente ilustrados estão o ocultismo, a espiritualidade, a ciência, a ficção científica, a tecnologia, o amor e o sexo, com referência a autores como Robert Anton Wilson, Hakim Bey, Murray Bookchin, Starhawk e Ursula K. Le Guin.

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O livro é ilustrado por vários artistas da Associação Chili Com Carne: Joana Pires, Marcos Farrajota  (imagem - desenho que recuperei da Umbigo), André Coelho, Jucifer, Bráulio Amado (acumulando o cargo de Designer do livro), José Feitor, David Campos, Daniel Lopes, André Lemos, João Chambel e Ana Menezes.

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Edição da Chili Com Carne e Thisco a lançar em 29 de Maio de 2013, às 21h30, na Trem Azul, Lisboa, com a participação do escritor Rafael Dionísio e do músico Paulo Chagas, seguido de concerto de Shameful Iguanas [Luís Lopes: guitarra eléctrica; Hernâni Faustino: baixo eléctrico; Marco Franco: bateria] e bar à disposição, com cerveja à pressão fresquinha.

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Sobre o autor: Com quase 30 anos de actividade repartida entre o jornalismo cultural, a crítica de música e o ensaísmo teórico, Rui Eduardo Paes é autor de vários livros sobre as músicas criativas. É o editor do site jazz.pt, membro da direcção da associação Granular e autor dos press releases da editora discográfica Clean Feed. Foi um dos fundadores da Bolsa Ernesto de Sousa. Assessorou a direcção do Serviço ACARTE da Fundação Calouste Gulbenkian e integrou o júri do concurso de apoios sustentados do Instituto das Artes / Ministério da Cultura para o quadriénio 2005-2008.

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80p p/b; 16,5x22cm
ISBN: 978-989-8363-21-3
PVP: 10 euros (50% desconto para associados, lojistas e jornalistas)

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muito obrigado pelo envio do teu livro já maquetizado. os textos estão soberbos e o trabalho gráfico ficou excelente! parabéns a quem concebeu e materializou este objeto literario-grafico-musical absolutamente único! António Branco (crítico de música que irá apresentar o livro em Coimbra no Jazz ao Centro, Coimbra, Junho 2013)

domingo, 19 de maio de 2013

Uma noite, faltam mil!





Não, o Festival Islâmico de Mértola não é uma merda de uma feira medieval! Não é um carnaval, é uma celebração da cultura islámica deixada pela península Ibérica e é mesmo fixe! E sim pode-se beber álcool!
A vila (aldeia?) de Mértola é linda e mais linda fica porque se transforma num "souk" mas sem a chatice das javardices dos países muçulmanos - sim, neste caso admito que prefiro uma fabricação ocidental do mundo árabe do que ir à coisa verdadeira. Sou europeu numa europa decadente, é certo, mas gosto da minha "zona de conforto" e não me apetece apanhar com a ignorância dos árabes, para isso, já chega todos lisboetas do dia-a-dia: os "boys" do bairro, os vizinhos imbecis, os velhos fascistas, os salazarentos, os pindéricos, os porcos (há de vários tipos, dos que cospem no chão aos que dão prémios a si mesmos), os fanáticos da bola (que é toda a gente até as gajas nos dias que correm) enfim, um manancial de merda urbana que somos obrigados a viver com, quanto mais ir para um país que não se percebe a língua e também replica tudo isto mas de outras forma?
Por isso, viva o artesanato inútil que nunca irei comprar para casa, as roupas e afins, os produtos de higiene que nunca liguei pevas - embora goste do shampoo finlandês e da sauna! - e as bugigangas que não interessam a ninguém. Tenho prazer em ver toda estas futilidades apenas para criar uma ilusão temporária de exotismo que nunca irei pôr pé... mas claro, queijos alentejanos e os doces marroquinos não há forma de resistir sem encher a pança e o saco destas iguarias!
À tarde e de noite há concertos, workshops e conferências. Os concertos no Cine-Teatro Marques Duque esgotam ficando centenas de pessoas cá fora à toa como um ímpio embriagado no deserto - se cobrassem um euro isto já não aconteceria, certo? Por isso foi mesmo uma frustração estar a mongar pela aldeia por ter perdido os concertos da tarde. Conferência vi uma, sobre "agricultura e capitalismo" de um alucinado espanhol. Algumas pespectivas que referiu eram interessante, outras fossem já conhecidas, embora seja sempre bom relembrar que a Monsanto quer foder o planeta!
Concertos à noite custavam 3 euros por noite - embora isso não fosse referido no programa oficial do festival - e na noite de Sábado houve Mad Sheer Khan e Bombino. O primeiro era um velho com rastas francês de origens argelinas numa dilruba quitada e tinha uma parceira mais novinha com ar de francesinha que tocava um harmónio, juntos fazem uma espécie de Rock psicadélico com batidas Rave e Hip Hop, o poderia ser interessante se as batidas não fossem convencionais e muito chatas. Fiquei com a sensação de ver um velho chéché que começava todas as músicas como versões do Jimmy Hendrix para javardá-las mais tarde, como uma fraude de Aldeia Global para meter no mesmo buraco dos horríveis Gotan Project e afins. O segundo era bem melhor embora não tenha assim tanta admiração pelo "blues do deserto" que anda por aí... E depois do Mad Sheer cansar-nos, já não dava para aguentar a calmaria do trio que usava curiosamente instrumentos tradicionais... do Rock! Sim falo de baixo, guitarra e bateria! É curiosa estas trocas de instrumentos, os ocidentais a quererem pegar nos instrumentos "exóticos" e os "outros" a pegarem nas vulgaridades do Ocidente. Assim sendo, só lá faltava Çuta Kebab & Party e Jibóia. agora só daqui a dois anos!

terça-feira, 14 de maio de 2013

O disco mais fodido de 1980 e o disco mais cool de 1981



Yello : Solid Pleasures (1980) + Claro que si (1981)
(Ralph / Vertigo)

O título é exagerado como é óbvio, em 1980 deve ter havido discos mais fodidos e discos mais "cool" em 1981... O meu interesse e fascínio por Yello começou pelo Claro que si comprado na Feira da Ladra nos inícios dos anos 90, deles conhecia o vídeo-clip do tema The Race (de 1988) e pouco mais. O vídeo e o som eram extravagantes para quem estava condicionado aos programas de TV como o Top + nos anos 80 em Portugal. Já ter passado não sei aonde na TV e não me esquecer deles (pudera!) foi uma sorte. Apesar de nos anos 90 querer afastar-me do Pop "mainstream" à descoberta da "música alternativa" tinha curiosidade na banda e comprei o disco por 500 paus, hoje, 2,5 euros mas que ainda era coisa cara para um disco em segunda mão na altura. Rendeu porque é um dos meus discos favoritos de sempre.
Começa com Daily Disco e tal como quase tudo dos Yello parece errado e tosco apesar dos grandes padrões de produção sonora - Boris Blank é conhecido por ser um picuínhas nos sons que produz - mas o "disco" que tocam não tem a "fiesta" dos Boney M nem coisa que se pareça. Sobretudo não tem uma fantasia escapista, os temas parecem que foram feitos por pessoas deprimidas sabendo que o Prozac só irá aparecer na década seguinte - e a essa espera é dolorosamente eterna! Esta é uma hipótese, a outra é que soa a boémios blasés - uma forte hipótese, porque se Yello não é "working class heroes" também não é "teeny bopper", o milionário vocalista Boris Meier entrou na banda já com uns 30 anos. Na altura levei um duche de água fria porque Claro que si não era uma electro-fanfarra como conhecia do tema The Race. Em compensação conheci uma música cheia de ambientes noturnos, cinematográficos e cínicos, que mudam de camisa de faixa em faixa, passando pelo Reggae falsificado de Ballet Mecanique, ao igualmente falsificado (?) Cuad El Habib - um tema Dark Synth com letra e voz em árabe - voltando ao Disco para camionista que é The Lorry e que até para não haver dúvidas inclui um solo xunga de guitarra à ZZ Top. Depois metem-se na selva New Age de Homer Hossa; e por fim, acabam com Pinball Cha Cha que dá a pista do que os Yello seriam mais conhecidos no futuro, ou seja, andróides dandys com suor latino-americano, caricaturas de machismo e de ar Retro.
Recentemente, numa feira de discos na Matéria Prima (do Porto) encontrei o Solid Pleasure, primeiro álbum do grupo que comprei a 6 euros (roubalheira, a edição é uma porcaria!) e foi novamante um choque! Claro que primeiro estranha-se e depois... Repete algumas coisas do Claro que si, do Disco tosco (Downtown Samba) ao tal "Reggae falsificado" (Rock Stop), só fica de fora é o arabesco. O que entra é que é inesperado, nomeadamente os temas Assistant's cry e Stanztrigger, o primeiro parece Test Dept se estes tivessem previsto os "call-centers".  Os temas imediatamente anteriores, Magneto e Massage, só ajudam para criar esse ambiente Industrial, tanto que a primeira vez pensava que eram um tema só. Stanztrigger podia ser sem querer dos Throbbing Gristle se estes fossem mais técnicos. Acaba com Bananas to the beat parecido ao que viria ser um ano depois a conclusão de Claro que si com o Pinball Cha Cha.
Não esperava esta aproximação Industrial nos Yello, habituado a vê-los como flâneurs pós-modernos ou uma raça pós-colonialista em extinção mas pesquisando vê-se que estes temas em específico tinham como créditos Carlos Peron, que abandonaria o projecto e fará bandas sonoras Dark fatelas e EBM sem piada. Peron foi com Blank o fundador dos Yello. Meier entrou mais tarde para voz / letras / videos fazendo deles um trio - e não o duo que estamos habituados a ver. Tem piada que o tipo com o nome latino pelos vistos queria ser um europeu chato do pós-industrial enquanto os que tem nome mais germânicos queriam era libertar a franga.
Seja como for, são dois álbuns fabulosos, que obrigam a ouvir como deve ser tão cheio de histórias e universos em cada faixa, curiosamente são discos cada um com menos de 40 minutos! É incrivel como as bandas até há mais de 20 anos atrás eram capazes de fazer discos com vários tipos de música - ex.: Kashmir dos Led Zep, qualquer tema dos Mano Negra, os três primeiros discos de Ministry com Paul Barker, os Mão Morta, Beastie Boys, Talking Heads, etc, etc, etc,... Nos dias de hoje, as bandas fazem discos em que tocam o mesmo tema vezes o número de faixas do disco. Quem explora um nicho de mercado, seja Punk seja EBM seja Indie, tem de trabalhar como robots para os círcuitos comerciais que há em cada um desses nichos, que geralmente são completamente conservadores - se encontrarem um gótico que curta ska será de admirar, por exemplo. Ouvir Yello no século XXI pode parecer um bocado triste mas a verdade é que ninguém é capaz de fazer mais discos assim - e ao que parece, nem eles próprios que foram envelhecendo senilmente. Entre Yello ou uma merda indescritível como os Vampire Weekend mais vale ouvir uns velhotes, não por sentimentos de nostalgia (não os ouvi na altura e na realidade podia o ter feito porque era adolescente nos anos 80) ou por ser vintage (a idioteira do século XXI). Vale apenas pela qualidade comprovada, no fundo, é a mesma coisa como ter de escolher entre um livro do Graham Greene e um Peixoto que ande prái...

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Falha de memória



Omala : Relicon (Frequent Frenzy; 1991)

A loucura do presente? O presente da loucura? Vamos até 1994 ou 1995 quando descobri a compilação Art of Life (Fast Forward ; 1993) que para mim será sempre o melhor disco de música experimental - não só porque foi a primeira colectênea de música "fora" que ouvi mas porque os projectos têm realmente interesse. Entre eles encontravam-se os suecos Omala com um tema muito bonito e hipnótico, Helicoid, drone de oito minutos que pensava que era a onda do projecto.
Anos mais tarde, 2013 aliás, a Internet e a discogs.com  oferecem o que quisermos, basta ter alguns euros no paypal para satisfazer as nossas vontades. Lembrei-me dos Omala não sei porquê, e apesar de ter a hipótese de ouvir primeiro este disco antes de o comprar, decidi não o fazer porque sei que tudo o que saco para computador não oiço e/ou vai parar ao lixo mais tarde ou mais cedo.
Omala é uma segunda geração de som Industrial, e por isso é menos martelada pneumática e serrote amplificado e mais electrónico. Este álbum é uma compilação de temas que sairam no seu único disco de originais (?), juntamente com temas de instalações e performances enchendo o CD de informação / tempo, tornando a sua escuta integral tão pesada como tantos outros discos que andam por aí. Os momentos variam em música ambiental Dark e Synth Industrial, e até há situações que lembra os Goblin com as suas bandas sonoras para filmes de terror italianos. Talvez se possa meter os Omala numa intersecção entre Laibach e Skinny Puppy sem qualquer construção de canção. Os drones planantes e suaves à Helicoid é que nem "ouvisto". Nada.
É óbvio que me arrependi de comprar o disco, realmente mais valia ter "checado" antes no youtube ou descarregando o dito cujo invés de gastar dinheiro mas pelo menos sei que o ouvi como deve ser e com interesse, coisa que não posso dizer de tanta outras coisas que tenho descarregado... Estes gestos soam a anacrónico e a rídiculo, afinal como é que alguém em 2013 vai comprar um disco sem o ouvir primeiro na 'net? Mas considerando que o que é rídiculo mesmo é comprar discos a mais de 10 euros e que as melhores coisas da vida são aquelas que são conquistadas com esforço, acho que só assim é que vale a pensa ouvir música nos dias de hoje, não? Senão é fácil demais.
Uma batota positiva?

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Curti da crítica!

A Sara Figueiredo Costa escreveu sobre o Mesinha #23 na revista Ler:

Experiências e Abanões

O volume em formato de bolso, com a lombada a deixar as entranhas da encadernação à mostra, não parece enquadrar-se no universo fanzinesco, mas este Inverno é mesmo o número 23 do Mesinha de Cabeceira (MdC), fanzine já mítico editado pela Chili Com Carne que cumpriu recentemente duas décadas de vida.

Na introdução, o editor Marcos Farrajota fala dos vinte anos da publicação com o à vontade vernacular que o caracteriza e explica que o primeiro MdC nasceu da necessidade: não havendo publicações dispostas a acolher a sua produção, a de Pedro Brito (o outro editor do fanzine, nos primeiros anos) e a de vários autores que começavam a experimentar os terrenos da banda desenhada, criaram uma que o fizesse e ainda experimentaram a satisfação da vingança. O que talvez não tenham imaginado foi o potencial que se guardava naquelas primeiras páginas, em 1992, e que haveria de desenvolver-se numa teia de colaborações, experimentalismos, abanões estéticos e narrativos de toda a espécie e a capacidade de manter uma publicação arejada e vibrante ao longo de tanto tempo. De tal modo que quem queira, hoje, conhecer o que se faz no campo da banda desenhada de autor e com poucas preocupações comerciais pode continuar a usar o MdC, e concretamente este número 23, como guia fiável.

A lista de autores inclui vários suspeitos do costume, presenças habituais neste universo editorial que aqui confirmam a evolução natural que duas décadas de persistência e talento permitem (casos de João Fazenda, João Chambel, Filipe Abranches ou Bruno Borges), e algumas colaborações novas, como Sílvia Rodrigues, Uganda Lebre ou Lucas Almeida, entre muitos outros. Desta colecção de nomes e trabalhos resulta um gesto que mantém em forma elevada aquilo que a Chili sempre conseguiu produzir nas suas antologias de maior dimensão: uma babel de traços e estilos numa estranha e inquietante harmonia, o que dá ao volume uma coerência que não pode ter sido planeada mas que é o melhor exemplo dos motivos que mantêm estas pessoas a trabalhar juntas há tanto tempo. E se a coerência do conjunto não nasce do traço ou do estilo, é provável que se deva aos temas, uma radiografia nítida daquilo a que chamamos ar do tempo, com o tom apocalíptico, o peso do desperdício, a contaminação (real, nos montes de lixo que excedem da indústria de consumo e ocupam os campos, e visual, nas manchas que parecem alastrar como fungos) e uma certa ideia de no future que deve muito ao punk, mas deve ainda mais aos dias que vivemos.