sexta-feira, 25 de agosto de 2006

Betos freaks

Tool: "10 000 days" (Tool Dissectional / Volcano / Zomba / Sony BMG; 2006)

É uma banda com um carisma muito especial, que em 15 anos de carreira editou pouco mais que um EP e quatro álbuns (este é o quarto) e foram parar ao Topo do Mundo. Começando pelas malhas do "alternativo", cedo deram as voltas suficientes para que os rótulos não fossem suficientes - como Prog Rock ou Math Metal. E realmente até a Lateralus (Volcano; 2001), os Tool souberam reinventarem-se e baralhar o sistema. Não creio que suceda o mesmo com este 10 000 days que não sai das balizas já criadas em Ænima (Volcano; 1996) e Lateralus. O facto de a embalagem trazer duas lentes estereoscópicas (e imagens para ver sob a ilusão das lentes) será uma alusão aos mais de 10 000 olhos que lhes devem devorar à espera de um novo álbum que demorou 5 anos a sair?
Talvez, a fama tem o seu preço mesmo quando os 4 tipos da banda possam ser íntegros e isso tudo, é natural que teria de aparecer um álbum menos inspirado. Quase tudo o que aqui ouvimos é previsível no universo Tool. Ainda assim, logo o primeiro tema, Vicarious - sobre o "gozo" de vermos violência nos media - é daquelas faixas imediatamente viciantes com uma letra forte. Em contra-partida temos Lipan conjunring (uma "faixa-intermezzo") irritante tal é a freakalhice de índio de reserva. Ao longo de longos 75 minutos de abuso formal sobre a capacidade de armazenamento de música num Disco Compacto, vai havendo altos e baixos no álbum, e sobretudo percebemos que aquilo que os Tool nos habituavam como "experimentais" foi completamente abandonado mesmo tendo o Lustmord (SPK e outros mil projectos) numa das faixas. Com tanto djambé e repetição de tiques Rock normalizados (na senda da chachada-lamechas que são os paralelos A Perfect Circle) deveria reduzir-se a importância da banda no panorama actual...

Qualidade numérica: 3,5/5 Objectivo pós-audição: guardar para curtir as lentes que oferecem na embalagem

domingo, 20 de agosto de 2006

DEA report ou "Fest No More (ou ainda A Noite dos Maricas)"

400 kms, 40€, 4 toneladas de chuva, 4€ por um impermeável... é um resumo possível da ida ao Festival de Paredes de Coura no passado dia 17. Razão deste desperdício de tempo e dinheiro? Os Cramps - num festival de verão que geralmente tem o cartaz mais "alternativo".

Ia fazer 33 anos e achei que devia ver os Cramps uma vez na vida - já que ainda por cima perdi-os 2 vezes, uma Lisboa e noutra em Berlim. A espectiva era enorme e apesar do concerto não ter sido o melhor do mundo, não fiquei completamente desiludido. Sem tocarem os «gravest hits» do passado ao menos ainda revelam força para "continuar" - ao contrário dos Bauhaus que revelam um cansaço de banda que não tem mais nada para oferecer, que insiste no comeback bacoco e com um Peter Murphy já careca no alto da cabeça. Também chocante foi o ar de bicha acabada do Lux Interior com um loiro oxigenado horroroso. O homem já não tem a voz libidinosa e animalesca da juventude nem podia partir o palco porque não eram a banda do final do festival. Ainda assim, o som estava límpido, o fuzz estava lá todo, os solos da Poison Ivy eram perfeitos. Devia ter assaltado uma velhinha para ter ido à 9 anos ao concerto em Lisboa... paciência, já posso dizer que os vi, iupi! E também já posso dizer que não me quero meter mais nestes festivais de verão. É caro, a comida é aquela merda, são imprevisíveis os atrofios com público e com o clima, é apanhar com muitas bandas-banhadas...

Este ano foi chuva torrencial e de bandas manhosas. Tirando os !!! e os Selfish Cunt (no palco after-hours) tudo foi aborrecido neste último dia do festival. Os primeiros foram um oásis depois de ter apanhado com uma banda-banhada sueca Popinha até ao tutano - nem vi os espanhóis que eram a primeira banda da tarde («de Espanha nem bom vento nem bom casamento» nem boas bandas) - e aquela merda portuguesa com o Zé Pedro dos Xutos a cantar (quem foi o imbecil que se lembrou disto?). Isto para dizer que só poderíamos querer algo mexido e dançável e foi o que aconteceu, os !!! provaram ser melhores em palco do que em disco, apesar de achar que os tipos são demasiado brancos para aguentar o P-funk que se propõem tocar - arranjem uns Blacks do Funk ou do Hip-hop e isso resolve-se.

Os Selfish Cunt é uma espécie de "Rollins Band meets Oscar Wilde", banda queercore potente, de composições fortes e um vocalista em cuequinha e lingerie de mulher com um sotaque cockney saído da sarjeta inglesa mais imunda. Desafiador, animal de palco Rock, não parou um segundo - com os tiques todos de maricas - e foi a melhor banda da noite. Depois disso, ou durante se preferirem, a chuvada conseguiu encharcar os presentes até ao tutano. Para isto não vale a pena ir aos festivais de verão... Mas, e se vierem os Butthole Surfers? Ou os Beastie Boys? Ou os Type O Negative? pufff...

segunda-feira, 14 de agosto de 2006

all gone - live

Já não faço nada no Underworld / Entulho Informativo e antes que o site um dia desapareça decidi resgatar algumas críticas sobre eventos:

Big Apple Rappin’: Debandada na Grande Alface 18/04/2006
A cena portuguesa de Hip-Hop está a morrer ou foi uma conspiração judaica-cristã que comprometeu um importante lançamento da Soul Jazz? O unDJ GoldenShower foi lá espreitar. Veni, Vidi, Volo in Domum redire. Hips!
Lisboa é a capital do país das mil migrações. Feita de gentes de todo o lado (como aliás são sempre feitas as capitais) é a cidade das oportunidades para um país em que é paisagem a quase todos os níveis. Lisboa é também uma cidade abandonada (já espreitaram o sítio http://www.lisboa-abandonada.net/?) que impede a vivência de pessoas no seu centro. Culpem os autarcas e a especulação imobiliária quando há feriados estendidos, como este da Morte do Porco Nazareno, para explicar porque Lisboa fica deserta.
Ontem, o Bairro Alto estava vazio e foi bom assistir a isso porque há anos que aquilo anda descaracterizado graças às hordas de brutinhos & brutinhas que invadem o Bairro no fim-de-semana. Vazio também estava o Clube Mercado onde havia o lançamento de “Big Apple Rappin’, the early days of Hip-Hop Culture NYC 1979-1982”, CD duplo editado pela fabulosa Soul Jazz Records. Trata-se de mais uma “pérola” de (re)descobertas esquecidas pelo tempo como é apanágio desta “pedagógica” editora. Como o nome indica, o CD é dedicado à génese do Hip-Hop em Nova Iorque.
No entanto para uma festa de lançamento, a coisa foi estranha: não havia público (claro, os “lisboetas” foram para o Algarve comer peixe para celebrar a Páscoa) e não estava lá o disco propriamente dito. Já eram umas duas da manhã (ou seriam mais?) quando lá cheguei com amigos mas ainda assim não seria razão para este fiasco, ou seria? Seja como for, o som bombava “old-school” e para além de meia-dúzia de gatos pingados havia os parvinhos dos b-boys a fingirem que são gajos fixes que sabem fazer macacadas do break dance mas tivesse a dar Morbid Angel ou Kool Herc as macacadas são sempre as mesmas – é inacreditável como os tipos não curtem a música da sua própria cultura, podemos gozar os metálicos de fazerem headbanging mas ao menos sabemos que a cabeça a abanar está sintonizada com a bateria da música. E ainda por cima estes sub-normais dos b-boys ocupam a pista toda com estas demonstrações de ginásio.
PS ou Fim da noite numa Lisboa Civilizada (sem muita gente, sem carros por todo o lado, com os bares semi-vazios onde se podia circular livremente): o Bicaense passava também old-school e estava (bem) mais animado que o Mercado. Depois, acabar no Incógnito a ouvir os “índios” e ficar definitivamente bêbado, yeah!

Sofa Surfers: Como se estivéssemos em Viana do Castelo (?). 03/05/2006
Concerto morno com o público mais feio que Axima Bruta [texto] e Jucifer [ilustração] tiveram a infelicidade de partilhar no Club Lua.

Ontem à noite, assistimos à falha continuada dos Sofa Surfers. Os seis austríacos vindos da “Electrónica Bom Gosto” da última metade dos anos 90, foram dos nomes basilares dessa cena e também os mais interessantes, ao contrário do «chic» burguês dos Dorfmeisters & cia, sempre arriscaram de álbum para álbum.
Um bocado de História: “Cargo” era quase Industrial, “Encounters” era HipHop e Ragga, e o novo “The Red Álbum” é Rock e Soul – que quanto a mim e imprensa especializada não correu lá muito bem a julgar pelas críticas e pontuações medianas. E foi neste último disco que o concerto incidiu. Não tenho nada contra o Rock per se mas tocado pelos Sofa Surfers – mestres em manipulação Dub e Electrónica – as coisas não funcionam lá muito bem, parecia mais uma banda debutante à procura de personalidade embora tivesse momentos “sónicos” inesperados.
Mani Obeya (coreógrafo e bailarino) foi o vocalista de serviço, eficiente na Soul cantada, giro a dançar mas sem grandes dotes para dizer que fosse bom animador ou vocalista. O formato Rock que dominou 75% do espectáculo era tão chato que ninguém dançava, claro. Só quando o Mani deixou de ser a peça importante do jogo musical, ou seja, quando os “surfistas do sofá” foram buscar velhas glórias sujas, barulhentas e “funky” que aquilo passou a ser UMA festa. Mas durou pouco tempo. Veio o Encore com “Elusive scripts”, música de “Encounters”, com participação vocal / rap do poderoso Dälek e de Dev1… no concerto os seus “cameos” são feitos na projecção vídeo e em sampler (som). Uma bombinha-surpresa, sem dúvida… e depois disso mais uma música ou outra para abrirem-se as luzes do Club Lua – kaput!
De resto, ou porque o último dos SS (posso chamá-los assim?) ser um óbvio tiro nos pés ou porque (e também por consequência) a banda estar “out”, o público deste concerto eram o “outlet” da Electrónica do milénio passado, ou seja, betos deslavados e pessoal da modinha meio desfasados (perdidos entre o casaco Adidas e o Electro, ambos totalmente démodé). Um horror, meus caros! Fora de moda ou não, ainda assim a casa estava cheia. E ainda bem, caso contrário teria sido um concerto penoso.
Kisses!
Ax.
Assinado como Axima Bruta




Número Negativo 13/11/2005 E daqui fala-se da sexta edição do Número Festival que foi um fiasco a todos os niveis. Do que (ou)vi foi o britânico DJ Rupture que salvou uma das noites... pelo menos a minha!

noite -1 (11/11/05) Um fiasco de noite e percebe-se porquê. É que para um festival de novas tendências o programa proposto é francamente mau. Este festival já trouxe noutras edições gente como Kid 606, Pan Sonic, Chicks on Speed, Aphex Twin, ... mas perdeu o fio à meada [para uma ZDB que semanalmente tem propostas mais do que interessantes para qualquer um, do free-jazz-rock (Monno) ao alt-country (Jeffrey Lewis) passando pelo hip-hop (Dälek, Anticon) só para (re)lembrar os melhores que passaram por lá nos últimos meses]. Não pode ser por falta de orçamento que o cartaz deste ano fosse tão fraco e conservador, afinal quando há menos dinheiro, há mais gajos com ideias fixes.

O festival decorreu no Club Lua, uma discoteca nova na noite lisboeta & pipi q.b. Está metida dentro do estranho complexo do Jardim do Tabaco, que parece um "shopping center de bares" - coisa kitsch de novo-rico que curte condomínios fechados...

Apanhei os U-Clic a meio do concerto, banda entre os The Wire (pelo feedback) e Devo (pelos uniformes brancos) praticantes de um simpático "electro-rock" mas sem carisma ou postura ao vivo que clicasse o público, ainda que tenha sido a melhor banda da noite. Como sempre Portugal está atrasado, e neste caso são os típicos 5 anos (tão bem escrito pelo Afonso Cortez no Under #17) em relação ao que se faz lá fora. Agora que já ninguém quer saber do Electro o que estes tipos vão fazer com a sua banda toda planeada?

The Lithium foi a banda seguinte e comparações a X-Wife são inevitáveis, só que menos talentosos & originais, e pior, mais histéricos... outros com atrasos de 5 anos. Electro eat my ass! Fenómeno imbecil de popularidade, como só podia acontecer num país de atrasados mentais, o sueco Gay Gay Gohanson (acho que é assim que se escreve) sempre foi asqueroso: 10% de Frank Sinatra, 90% de "fashion victim" que namorou o trip-hop quando este género apareceu, foi para a cama com o electro quando estava a dar... deu-se mal e voltou pró trip-hop. Depois de ter dado um horrível & incompetente concerto na Aula Magna mesmo assim tinha de cá voltar vá-se lá saber porquê. Pelo menos desta vez a coisa correu bem mesmo que o seu show seja a coisa mais aborrecida do planeta. O homem tem fãs e foram estes que encheram metade da casa. De resto, o Gay Gay (tal como carinhosamente lhe chamamos no meu grupo de amigas) e os Gotan Project deviam ser proibidos de entrar em Portugal - não era bom que as fronteiras voltassem?
À espera dos alemães Schneider TM (e Rechenzentrum), as únicas esperanças que tinha para esta noite, apareceram antes os Producers com a sua electrónica experimental "nerd" - não que fosse má mas aquela hora, 3 da matina, já não há cu! Tão chatos que eram que fui ajudar Jucifer a colar uns autocolantes numa parede do bar [os peixinhos em http://crime-creme.blogspot.com/2005/11/jucifer-pitchuencontro-de-3-grau.html] e fui apanhada por um empregado do bar que me expulsou daquele estabelecimento nocturno. Foi uma forma óptima de acabar a noite e excelente desculpa para não ter de ficar até ao fim desta primeira noite do Número Festival. O cartaz da segunda noite parece-me sinceramente melhor (Opiate, Mécanosphère, Nell'Assassin e DJ Rupture) mas o porteiro deixará-me entrar?
noite -2 (12/11/05) Olha, olha... deixaram-me entrar... mais valia não! Sei que estou a ser ingrata mas cheguei mesmo na altura para apanhar "un con qui voudra être un grand bateur mais c'est un pauvre diable"... Sim, apanhei os Méchanosphère sem ter de passar por mais Electro-Rock! Mechano (para simplicar embora não queira compará-los à banda espanhola) tem a teoria certa, e a minha simpatia estética (Painkiller, Godflesh) mas não consegui gostar do que assisti. Apresentaram-se com um (pre)conceito irónico, a exploração do tema "oriente" (dada as recentes circunstâncias francesas?) com o Adolfo Luxúria Canibal a balbuciar chinesadas e cânticos pseudo-muçulmanos e o Benjamin Brejon a soprar instrumentos orientais. É óptimo ver algo "free" nos dias de hoje, em que o formato sobressai sempre ao conteúdo. Mas algo não resultou... a começar pelo tontinho do percussionista do LePiloteRouge, todo maluco (ou a fingir, não sei; um poseur?) mas do qual não se vê trabalho de forma alguma - nem um ritmo o gajo consegue manter. Mechano é caos sonoro, improvisação, restos mortais de Dub-Industrial e Noise mas falta élan. Se o concerto deles parece o primeiro ensaio de uma banda de putos todos janados também é verdade que qualquer puto janado com um sentido para o show-off deve conseguir transmitir energia para o público... aqui isso não aconteceu, não há energia genuína! Torna-se desagradável vê-los dado ao meu imenso respeito/admiração pelo Adolfo. Também tiveram azar em relação ao evento, se na primeira noite do festival a casa estava a metade, nesta segunda noite deviam estar umas 50 pessoas com muita sorte. O evento foi um fracasso de público e atrevo-me a dizer, de conteúdos: para além das escolhas duvidosas o próprio alinhamento foi mal feito - ex.: na noite anterior a escolha de colocar os Producers às 3 da manhã! Entretanto o som - a acústica - não era das melhores sobretudo com uma casa vazia. Para quê ter equipamento áudio/vídeo estimado em 10 mil contos ou euros (who cares?) se depois o som rompe por todos os lados?
Se na noite passada estávamos atrasados 5 anos, com os Invaders passamos para 15 anos de atraso. Estamos na institucionalização das Raves, com um Techno que já não interessa nem ao Menino Jesus. E para piorar, o tipo que punha som era o mesmo dos Producers - um tal de Fadigaz - que já me tinha dado fadiga na noite anterior... porque raios estes tipos não ficaram para o fim do evento? Do tipo: festa com martelada para acabar em beleza o festival (ironia). Nem quero falar dos vídeos dos Dub Video Connection que conseguiram a proeza de fazer visuais que já não se fazem na Europa civilizada. Inacreditável!
MAS veio o DJ Rupture salvar a noite. Suponho que tenha feito isso porque não vi até ao fim a actuação drum'n'bass do DJ/ip (da editora Bip-Hop e que usava uma t-shirt de dos lendários noise-punkers Big Black -Respect!!!) nem o Nel'Assassin - o cansaço tomou-me, não fui expulsa desta vez! REWIND! DJ Rupture trouxe do melhor que se faz nas pistas de dança da Europa: dancehall, ragga, jungle, drum'n'bass, breakcore a mil, em que (por curiosidade) The Cure ou Black Sabbath eram remisturados com as batidas negras do século XXI. De apontar também o trabalho exemplar dos VJ's No Linx - good work boys! DJ/ip ia com balanço, o meu balanço era mais para a cama. Espero que para o ano o Número seja diferente e positivo. Boa noite! Assinado como Axima Bruta



Cromossomas trocados 09/11/2005
Os Bizarra Locomotiva abriram para uns Young Gods que comemoram 20 anos de carreira na pior sala de Lisboa City. Uma noite em português, francês e inglês. Faltou o alemão.
«O cromossoma Y é um dos mais pequenos cromossomas humanos, e é aquele que determina o sexo masculino. Enquanto as mulheres têm nas suas células dois cromossomas X, os homens têm um cromossoma X e um Y. O cromossoma Y tem cerca de um terço do tamanho do cromossoma X e apenas um centésimo do número de genes. Mas apesar de tão evidentes diferenças, há muito que se suspeitava que num nosso antepassado distante os cromossomas eram iguais e foram tornando-se diferentes ao longo da evolução.» O que raios isto tem a ver com Young Gods?
O nome da tour que comemora 20 anos de carreira destes semi-deuses suíços intitula-se XXY - XX para 20 anos em numeração romana e Y para Young Gods, claro. Bem, e quando isto dos cromossomas corre mal é lixado.
Foi o que aconteceu no Domingo, passado dia 6 de Novembro, na Aula Magna da Cidade Universitária de Lisboa. A melhor banda portuguesa de Rock Pesado, os Bizarra Locomotiva, e a melhor banda de Rock do mundo, os Young Gods, tocaram na Pior sala de espectáculos da capital. Acústica horrível (a voz de Franz toda distorcida entrava-me pelo ouvido esquerdo como um berbequim!), sistema americano de acesso (os que tem mais dinheiro tem direito aos lugares da frente), não se pode fumar ou beber na sala, para não dizer que um tipo tem de ficar sentado... nunca vi lá nenhum bom espectáculo e duvido que alguma vez irei ver...
Bizarra é a melhor banda de Rock pesado em Portugal tal é a brutalidade dos temas que debitam... longe dos tempos em que eram duas ou três pessoas, agora parecem mais normais, quatro tipos em palco meio à toa do que devem fazer, parece-me tudo um bocado homo-erótico (o título desta reportagem não é assim tão inocente!). O vocalista em visual meio Anthony Kiedis (Red Hot Chili Peppers) meio Lou Ferrigno (Mister USA, actor da série televisiva do Hulk) já não corre de um lado para o outro non-stop, preferiu chatear um tipo da fileira da frente e parecia um puto a pular por um chocolate. Não percebi porque levantou o tipo das teclas/maquinaria para às costas... bizarro... Houve "Ódio" e temas antigos - como o "Fear now" ou "Filhos do holocausto". Para uma banda deste calibre não se percebe porque ela só serve para fazer as primeiras partes dos Young Gods... ninguém pega neles a sério!?
Duas cervejas a seguir - a última quase de penálti porque não se pode beber no auditório - aparecem os Young Gods. Antes disso, durante o intervalo (da cerveja) deu para topar o público: tudo up-30's vestidinhos à Vanguarda na vontade de celebrar a sua juventude perdida, cheios de dinheiro para gastar nas t-shirts, discos em vinilo e uma serigrafia da banda. Brutais como sempre, a banda suíça tem uma idade considerável mas soube gerir bem a sua carreira com independência mudando de disco para disco sem perder um milímetro de personalidade. Não é de estranhar que se oiça Techno / Psy Trance (do "Second Nature" e "Only heaven"), Punk/industrial ("Envoyé" e "Jimmy" do primeiro álbum homónimo da banda), Hard Rock (do "TV Sky"), Cabaret ("Charlotte"), Kurt Weil (só houve, infelizmente, direito a "September song" em relação ao excelente disco "Plays Kurt Weil")... Franz Treichler, um Jim Morrison de pacotilha, dançou e falou com o público. A banda ainda nos ofereceu alguns temas refundidos e um novo (cheio de White Noise... pista para o futuro? Noise by Young Gods? Promete!!!).
Foram três "encores" previsíveis exigidos por um público que queria repetir as velhas glórias de 1992 mas esquecem-se que a Aula Magna não serve para bons concertos, só para reuniões de RGA's inúteis ou neste caso, para reuniões de ex-punks a caminho da terceira idade. Para uma banda que não sabe o que é a estagnação criativa, mereciam um lugar melhor. Será que no Hard Club foi melhor?



Mundo às avessas 30/10/2005
Quando se espera uma coisa e depois é outra...
Hoje, dia 30 de Outubro, a hora mudou... e antes disso na noite de 29 para 30 houve na Caixa Económica Operária um "brainstorm underground" que juntou associações com a Thisco e a Chili Com Carne (entre outras que a hora alterada não me deixa relembrar) numa iniciatica porreira: concertos, bancas de cenas independentes (discos, zines, livros, t-shirts, etc..), convívio... O estranho é que estava à espera uma coisa de uns tipos e nada de outros e foi tudo às avessas.
Eu explico, fui com expectativas que Strutura gosse (desculpem, fosse, merda para os copos!) - fosse - fixe e que a joint-venture Sci-Fi Industries, Slow Soldier e Flat Opak fosse uma seca... foi ao contrário! Strutura (ou os 3 Pedros!) até tem um som electrónico interessante, cheio de desconstruções textuais e rítmicas, e a julgar pelo EP (online no site da Mimi Records) esperava que as partes de recital de textos fosse mais limpa e com presença. No entanto, foi-se pelos delays de voz que tornava os textos (de livros de autores vários, não perguntem quais) imperceptíveis. Desilusão...
A joint-venture que à pouco tempo em Cacilhas (no bar O Culto) parecia que estavamos presente de 3 estarolas egocêntricos fizeram um bom show! Techno, Drum'n'Bass e sub-variações de música de dança são debitadas a 100 à hora, numa dinâmica live. Não estava à espera disto... De resto, havia uma apetitosa banca de discos e zines da Thisco e Chili Com Carne, o meu namorado DJ GoldenShower punha som nos intervalos dos projectos, a cerveja acabou muito cedo (por causa da máquina de pressão, malditas máquinas, não?) o que obrigou a malta a beber coisas mais fortes - o que é bom, no meu caso foram demasiados whiskies-colas, hips! - e L'ego mostrou uma série de vídeos seus - alguns um bocado datados, infelizmente - e acompanhou (muito bem) como VJ para os Sci-Fi, Slow & Flat. Hips! Assinado como Axima Bruta

all gone from A to E

A minha colaboração com o Underworld / Entulho Informativo foi-se... e antes que eles tirem as minhas críticas do site deles (nunca se sabe) vim alojá-las aqui mesmo assim ao molho, só por ordem alfabrútica! As reviews têm pontuação à boa maneira de revista pro e os nomes das bandas estão em caixa alta sabe-se lá porque razão idiota...

ADVANTAGE The Elf-intitled CD 2005 · 5RC / Sabotage
Vivemos num mundo em ruínas, uma Roma cercada de bárbaros à espera de ser saqueada... Bem... ‘bora divertir-nos antes do massacre e do fim da nossa existência! Bute ouvir estes californianos que juraram gravar todas as músicas da Nintendo até morrerem! Tarefa essa que continua neste segundo álbum: as músicas de 8 bits dos clássicos Double Dragon III, Castlevania, Wizards & Warriors são transformados para o formato “guitarra, baixo e bateria”, em estruturas muito bem conseguidas de Rock-Jazz-pseudo-electrónico, que podem lembrar um pouco os Trans Am. Merecem a pontuação em linguagem binária: 0011,0101

ANABELA DUARTE DIGITAL QUARTET Blank Melodies CD 2005 · Zounds / Sabotage
Polaroids: Anabela e a Björk fazem compras em Londres; Anabela e a Laurie Anderson tomam um cappuccino em Nova Iorque; Anabela ao lado do “Fernando Pessoa” na Brasileira, a comer um pastel de nata... Quem é esta gaja ao lado da Björk? Anabela Duarte é uma figura injustamente esquecida da Pop nacional porque, à excepção do trabalho com os Mler Ife Dada, a carreira dela nunca foi mediatizada. A solo, fez dois discos: “Lisbunah” (Polygram; 1987), no qual já trabalhava uma revisão do Fado (muito antes desta moda salazarenta) e “Delito” (Ananana; 1999), com gravações de espectáculos de 1991 no Instituto Franco-Português, e onde o tradicional e a cibernética apertavam muito bem as mãos. Apesar da gravação ser fraca, “Delito” mostrava que Anabela sempre esteve uns passos à frente de quase toda a gente em Portugal. E tão à frente está ela que fez um terceiro disco – finalmente com uma boa produção, como é apanágio da Zounds – tão sofisticado que “Ela-ela” perdeu a Alma. Não é à toa que a Björk ou a Anderson aparecem logo no início deste texto – as comparações são inevitáveis, os maneirismos deixam-nos desapaixonados. Anabela canta pela primeira vez tudo em inglês, um fascismo linguístico, quando antes usava o português e enxertava inglês, francês, alemão, arménio e “Dada”. O som Microwave até nos entusiasma, sobretudo em “There Will Be Evil”. As doze músicas que compõem o CD são bonitas mas a beleza é de um Design artificial. O título “Blank Melodies” assenta como uma luva: melodias vazias. “Alfama” ficou lá bem para trás. 3,3

ANDRÉ ROBILLARD Sait-on jamais la vie CD/DVD 2002 · Le Dernier Cri
A editora francesa Le Dernier Cri é a ovelha negra das independentes francesas. É uma editora que se dedica a lançar os desenhos, ilustrações e banda desenhada em livros (geralmente serigrafados com mestria) mais agressivos do planeta. Mas também lançam discos Punk Noise... entre eles encontramos este de André Robillard um demente cujo o trabalho é procurado / cobiçado pelos coleccionadores de Art Brut. É conhecido pelas suas armas Lazer feitos de lixo encontrado na rua. Mas o bicho também canta. E toca acordéon (até lhe dá!) para além de executar uma estranha percussão com um balde e cartuchos vazios nos dedos... Irritante ao ponto de se quer me dar ao trabalho de perceber o que homem diz, eis um objecto que serve de registo aúdio de um artista louco e dos periquitos na gaiola que vivem com ele. 3

BERNARDO DEVLIN Circa 1999 [9 implosões] CD 2003 · ExtremOcidente / Sabotage
- Então Marte, o que tens feito?
- Olha, ando a escrever para um zine de música...
- E é fixe?
- Sim, escrevo sobre bd e alguns Cêdês de música estranha...
- Música estranha?
- O que não é Metal, Punk e Hardcore [risos] ... sei lá... sobre Industrial ou Pop... coisas inclassificáveis como o Bernardo Devlin...
- Devil!?
- Não é Devil Metal! É mesmo nome de beto, Bernardo Deve-line. Fez a banda sonora d' A Suspeita...
- Aquele filme de animação muita-bom?
- Yá!
- E é fixe?
- Algumas pessoas gostam, a parte instrumental é do melhor que já se fez em Portugal mas a voz dele estraga tudo... o que eu gosto mesmo é do nome da editora, Extremo Ocidente, tudo pegado!!!
- Masé-fixe?
- São 9 composições bufas & oníricas de música contemporânea... não é Clássica, não é Jazz mas usa elementos de ambos...
- Masé-fixe?
- Ele já fez parte dos Osso Exótico, lembras-te?
- Sim, sim, masé-fixe?
- Lembras-te mesmo de Osso Exótico!?
- Bardamerda, para a próxima não falo contigo, adeus!
- ...
3,5

BY-PASS Psychoactive CD 2000 · ITMM
I. O autor sérvio de bd Aleksandar Zograf veio a Portugal e passou-me o disco de estreia dos seus vizinhos By-pass. Ambos vivem na cidade de Pancevo, cidade essa que foi bombardeada pelas Forças da Liberdade da NATO em 1999... pois. Dada a estas "convulções de libertação" (para não dizer outra coisa) devem imaginar que não deve ter sido fácil gravar e editar o album.
II. Poucos meios, grande imaginação. A jeito de brincadeira, hoje ao almoço, dizia para a minha colega de trabalho que Portugal também devia ser bombardeado ou sofrer uma guerra civil para a arte portuguesa deixar de ser uma punheta chata.
III. Os By-pass podem ser facilmente rotulados como um Rock Neo-Grunge que suplica a Soundgarden e Tool, e apesar de a dada altura perderem a pica nas últimas faixas, também sabem apresentar um Rock poderoso com identidade. E isto porque sabem Criar. E só se cria quando se tem à vontade para ser lúdico. E esta banda "psioactiva" sabe fugir fugazmente aos seus moldes fazendo experiências laterais - usando electrónica ou até elementos étnicos - que até soam a algo de novo mesmo quando sabemos que isso não é verdade.
IV. By-pass não é a melhor banda de sempre, é só mais uma banda de garagem perdida no mundo mas serve de exemplo para as bandas de garagem de Portugal. Se em Portugal o pessoal fosse menos coninhas e parasse de fingir que é muito sério e/ou profissional - o que até hoje não deu em nada no que diz respeito a fama & fortuna tirando os Moonspell diga-se de passagem - e já agora se cantassem na sua língua-mãe - estes By-pass cantam em sérvio = não percebo um peido... mas garanto que soa bem! - talvez a música portuguesa fosse mais excitante e sincera. Estamos balofos ou mimados (escolham)...
V. O humor está mais que presente a julgar por um separador em que o David Lee Roth é parodiado... só por isso já vale a a pena! «I'm just a gigolo!» 3,4

CLEANING WOMEN Aelita CD 2004 · Badvugum/ BV2
Se o tivesse ouvido em 2004 seria o meu álbum do ano! Apesar de ser um CD encontro-lhe um feeling de LP/vinil, isto porque a partir da faixa sete – que no grafismo do CD inicia a segunda coluna de títulos das músicas – o ambiente muda completamente. Bem, do que falamos? Copy+paste sobre o primeiro CD criticado no texto do Under’ #15: “os CW são “Post Novelty Noise Rock Funk Sci-fi Samba Metal Disco Hardcore Folk Industrial Zounds” / Três pseudo-travestis pegam em restos de material de limpeza doméstica (estendal da roupa, tambor da máquina de lavar, baldes, parafusos, …) / Obcecados por limpeza / Rock transgénico com dramatismo da música tradicional e riqueza rítmica do Industrial.” Neste segundo disco, começam com uma “banda sonora” de seis minutos para o filme de Iakov Protazanov, “Aelita” (1924), que é o primeiro soviético de Ficção Científica – a acção passa-se em Marte, prestes a explodir numa Revolução Operária, e tem cenários/roupa esteticamente devedoras ao Futurismo e ao Construtivismo [o filme é remontado num videoclip de dez minutos e incluído no CD]. A tal banda sonora recria o ambiente cinematográfico e nostálgico na perfeição, com um toque épico de meter inveja a muita banda de Gothic Metal. Uma homenagem e uma obra-prima ao mesmo tempo? Possivelmente! Até à quinta faixa há um tom sério com Hip-Hop Industrial, Country meio tonto, Hardcore desmembrado, etc... Chega ao lado B (a faixa 7) e o tom muda para algo divertido: funky, musical de Broadway (“Entertaining Musical Hall”), Metal Étnico/Oriental (lembra Secret Chiefs 3), jingle para vídeo promocional de um hotel de Verão... Logo vêem. E sempre com um som “CW”. É pouco? É! Só tem 42 minutos! Quero mais!! 5

CREWCIAL Ombuto (A semente) CD 2005 · Matarroa / SóHipHop
Com as edições de Conjunto Ngonguenha, Verbal e agora estes Crewcial, a editora nortenha Matarroa tornou-se na embaixada de hiphop angolana em Portugal. O que per se já é uma boa notícia obstante que os discos de Crewcial e Verbal - ao contrário dos Conj. Ngonguenha - deixam um bocado a desejar. O Hip Hop é o fenómeno (musical e não só) urbano mais importante dos últimos anos não só em Portugal e na comunidade portuguesa, no entanto o que tem faltado é loucura e genialidade nos grupos/discos. Não que a qualidade de gravação, produção, da música e "literária" sejam más - aliás isso já não existe neste milênio graças ao acesso tecnológico - mas justamente neste caso podia haver aquela metáfora que entre Angola e Portugal há uma distância enorme mas ouvindo "Ombuto" não damos conta disso... as raízes africanos devem ter caído do Boeing 747, os tripulantes ouviram demasiada R'n'B foleira nos auscultadores do avião e por fim foram assimilados pelo cinzentismo português quando chegaram ao aeroporto. E já agora, por falar em qualidades de produção, parabéns ao Chemega, provavelmente o designer de embalagens de cédés mais original do mundo! Quem duvidar que veja o que ele fez com a estreia de Verbal e agora com este disco: chemega.com - é que este é o segundo disco (o outro é do Verbal) que só está lá em casa por causa da embalagem! 3,1

DEATH FROM ABOVE 1979 You're a woman, I'm a machine Duplo CD 2005 · Last Gang / 679 / Farol
Parece que anda na moda bandas de 2 elementos e realmente para quê ter uma banda de 7 gajos para fazer estardalhaço? Numa pespectiva KISS (keep it simple, stupid) acredito que deve criar uma sinergia mais intimista e menos distraída com apenas 2 pessoas. E os resultados estão à vista, neste caso, estes canadianos transbordam energia e imaginação Rock e Funk trashalhado (a referência antiga dos Gang of Four não poderia estar de fora como aliás tem acontecido com maior parte das bandas dos últimos 2 anos) chupado nas veias revisitadas da New Wave. É natural a comparação dos DFA1979 a Liars, Yeah Yeah Yeahs e The Rapture. Com bateria, voz e sem guitarra (incrivelmente emulada pelo baixo e sintetizadores) convencem-nos a dar um pezinho de dança e a beber mais um copo... e mais outro e... a desgraça acontece... uma bebedeira daquelas que dá para dançar histericamente a provar a quantidade temas "single" que podem ser sacados de um álbum com pouco mais de 35 minutos, que é diversificado e certeiro como deve ser um bom álbum de estreia. A presente edição inglesa presenteia-nos com um disco extra com 2 vídeo-clips, um tema ao vivo, dois extra e 3 remisturas a dar para o "Electro", tudo isto material sacado da discografia "extra-álbum" da banda que completam mais uns vinte e tal minutos de prazer. 4

DINOSAUR Jr. 3 CêDês 2005 · Sweet Nothing / Ananana
Dinosaur [1985] Era o álbum homónimo da banda antes da banda ter de acrescentar o “Jr. “ por já haver outros Dinosaur na praça. Já cá está tudo o que viria a tornar os Dino Jr. em algo único nos anos 80: barulheira sónica, energia crua ressacada do Hardcore, solos de guitarra Heavy, sentimentalismo Folk e letras lamentosas cantadas por uma voz mastigada de J Macis.
Extras: O primeiro single “Does it Float” ao vivo, o que permite comparar o tema em estúdio e o inferno sónico live. 3,7
You’re Living All Over Me [1987] É o desenvolvimento natural e aperfeiçoamento da fórmula descoberta. Gravado na editora da altura, casa dos Sonic Youth ou dos Husker Du, o baixista Lou Barlow tem direito à composição de dois temas neste disco cheio de energia Pop/Rock com trago metalizado.
Extras: A versão bem porreira de “Just Like Heaven” (The Cure) e dois vídeos. 4,2
Bug [1988] Primeiro álbum já com a denominação “Jr.” e o último da formação original. Macis torna-se o único compositor e tirano da banda. O som está tão solidificado que mais do que nunca apresenta as suas características dualistas: acessível /complexo, épico/melancólico. Mas o que é mesmo fixe neste disco é que não todos os dias que se mete um tipo da banda a gritar durante 4 minutos “porquê é que vocês não gostam de mim?”. Barlow saiu depois deste álbum para criar os Sebadoh, Folk Implosion, …
Extras: Dois videoclips. 4,1
Conclusão: Com estas três reedições fica feita a primeira parte da história dos Dino Jr. Em 1988 sai também pela SST, o primeiro dos Soundgarden, um ano depois aparecia “Bleach” e em 1991 “Nevermind”, ambos dos Nirvana. O plano Grunge estava em curso! Os Dino Jr. iriam ter a sua quota-parte da fama nos anos 90 até à sua dissolução em 1997 – e respectivo recente retorno que até deu direito a uma visita ao Sudoeste deste ano.


DISCO DOOM Binary stars CD 2003 · Defer / Architecture
Começa com Dinosaur Jr., depois parece Melvins com Pavement, há terceira música já vamos para Blues Explosion com Sebadoh, mais tarde Sonic Youth e outros "indíos"... não que seja mau o disco destes suiços mas para quem é já batido nestas andanças já sabe que mais vale ficar pelos originais de que uns "local heroes". Por acaso o disco até é bem esgalhado e bem trabalhado fugindo muitas das vezes para caminhos menos óbvios da mediania do "indie" como para o Stoner ou Space Rock mas ficamos sempre com aquela sensação de desconforto de que já ouvimos aquilo noutro sítio qualquer. Mais curioso é o ritmo do álbum que começa com temas mais agressivos e depois vai caindo para paisagens marcianas calmas e intrigantes... isto em 34 minutos. Nada maus para estreia. 3,5

DOWN RIVER NATION Pulse CD 1999 · Chaosphere Recordings
Alguns cromos de bandas mais ou menos conhecidas como The Whores of Babylon (Goth-Metal electrónico), English Dogs (Punk UK anos 80), Prodigy (Techno, pseudo Punk-electrónico) juntaram-se e fizeram uma brincadeira: tocar Rock pesado... Desde já digo que é um álbum bem produzido - até demais para uma brincadeira - mas há aquela máxima: "Basicamente, os ingleses não sabem rockar!!!" Buenos... tem bons riffs, boa bateria, etc... mas no fim, a coisa não pega, nem é Rock doce (sim porque os ingleses sabem fazer pop deliciosa!) nem é Rock amargo. Não que seja mau, não que não tenha até alguma originalidade, não que não seja bem tocado. Não bate, porque será? Simples: "Basicamente, os ingleses não sabem rockar!!!" Estranhamente este disco foi só editado cá em Portugal, considerando as personalidades envolvidas é caso para dizer que temos aqui uma peça de colecção. 3

DSM666 CDr 2006 · useLESS POORductions
DSM666 é alter-ego do K.U.T. (Kero um tiro – Gabba, Digital Hardcore, Teknoise), ou vise-versa - e é ainda Eye.8.soccer (Perestrelo Noise) e quem sabe outros mil projectos secretos. Neste projecto dedicado ao Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM, manual publicado pela Associação Psiquiátrica Americana que serve para identificar as várias doenças mentais) é aplicado a fórmula Drone industrializante, que presta vassalagem ao Black e Doom Metal para criar o efeito de ambiente negro e psicótico q.b. – agora que Portugal tem finalmente "serial-killers" poderemos apreciar este tipo de obra com algum orgulho nacional e pesar dramático, ié! Esta “Burzum Black Mayonnaise Mass” (perdoem-me os anglicismos) está materializada num CD-R de edição limitadíssima (existem 10 exemplares empacotados em cartão de pastas de arquivo) que traz três faixas de cerca de 17 minutos no total, e ainda bem que passado a coisa começa a irritar os tímpanos. De resto, quem tiver curiosidade basta ir ouvir no MySpace do projecto e se quiserem o objecto peçam ao Dr.Gama. 3,5

D’EVIL LEECH PROJECT Bleed Your Mind CD 2004 · Raging Planet
Não posso ficar calada quando vejo injustiças! A sério que não! Não percebo porque um dos melhores projectos de Metal – de Extreme metal, o único em Portugal? – é completamente esquecido pelo fandom português, pela imprensa especializada e tudo que rasteje nesta pátria lusa que use cabelo longo para headbanging. Nenhum álbum de estreia (embora este já seja o segundo do colectivo, uma vez que antes intitulavam-se de Devileech e gravaram Leechtron pela CD7 em 1997) foi tão ignorado - em relação directa à qualidade da banda e da sua música. Não percebo como tanta trampa que anda por ai recebe mais atenção e carinho que eles. Talvez porque incluam excertos electrónicos e o pessoal da pesada não curta? Porque pareciam uma pandilha de gays (“Tom of Finland a desenhar os Flinstones”) no vídeo-clip “M0du5 0p3r4nd1”? Porque são da margem sul? Porque usam caixa de ritmos? Mas a voz à Cannibal Corpse não convence ninguém? Nem a dualidade brutalidade e sofisticação de uns Zyklon? Nem os milhentos riffs imaginativos que escutamos nos 54 minutos do CD? Nem o Industrial Death Metal a rodos? Nem as letras sujas de Gore? Parece que ninguém se apercebeu que os D’evil tem imaginação para todos que se atravessarem no seu caminho. Por exemplo, o tema “Into Slackness” é surpreendente pela facilidade como começam com um riff minimal devedor aos My Dying Bride e algum Heavy Metal clássico (Psicadélico!), transmutando-se em Death, regressando ao riff psicadélico e acabando numa Electrónica quase ambiental na linha dos projectos mais “funcionais” da Thisco… e quando nos damos conta do que aconteceu já estamos no próximo tema, “Achromatic Impetus”. Toda a obra que se encontra registado neste este disco é uma viagem cyber-porno-serial-killer que nos deixa em estado de ansiedade tal, que se o animal de estimação arrastar a bola de ténis pelo chão e fizer um “barulho suspeito” o mais certo é apanharmos um susto valente – iá! o violador louco do bairro entrou em casa! E se de valentia escrevo, então estes 4 tipos são isso e muito mais porque até a “Dave-Mckeanada” está bem feita, ou seja, o artwork do CD está melhor que qualquer outra banda do género neste canto europeu e acreditem sendo eu uma metalhead já há alguns anos sei do que falo! O que eu quero dizer é que mesmo quando os D’evil caiem no cliché da cena, conseguem fazer melhor que a média. Isso já é muito nos dias que correm!
PS – há rumores de um regresso para este ano… amigos do underground: atentos e dêem o vosso apoio a UMA banda lusa realmente BOA! assinado como Axima Bruta 4,5

EAGLES OF DEATH METAL Peace Love Death Metal C D 2004 · AntAcidAudio / Sabotage
Na banda sonora de "Kill Bill vol.1" há uma música horrível mas que acaba por ser fixe. Correcção, mesmo muita fixe... é aquela versão Tex-Mex-Disco-de-tias dos Animals de uns tais Santa Esmeralda! Nos anos 90, o "kitsch" tornou-se um estandarte de muita arte e a ironia, a arma de arremesso. A vergonha de gostar de algo que é francamente mau tornou-se "cool". É o que acontece com esta banda, que começando logo pelo nome que é apropriado à banda autora do infra-satânico tema "Hotel California". E depois de Death Metal não tem nada, claro, afinal são os Eagles do Death Metal! Como se pode escrever uma resenha séria a uma banda cuja capa do primeiro disco se apresenta de cor-de-rosa e azul bébé? E quando a música só nos faz lembrar em gritar «let's boogie!»? [Que nojo: «let's boogie!»] Mas os EDM soam bem, sim, é verdade, o que se pode fazer? Afinal seria impossível mais uma banda da família dos Queens of Stone Age (Josh Homme é aqui baterista) soar mal, não? Só que invés de Rock pesado e desértico o passeio dos EDM é pela Pop manhoso e Rock sulista dos anos 70 (fazem uma versão de "Stuck in the Middle with You" dos Stealers Wheel, lembram-se da banda sonora dos "Cães Danados" também do Tarantino?), pelo Blues/Garage à Jon Spencer, pelo "Arena Rock" dos Kiss, pelo Glam de ir ao cuzinho, pelo "Funk-Falseto" à Prince, etc... uma paneleirice pegada que há muito não se via! Que este será o disco de verão para muita boa gente isso será... eu gostei... e pelos vistos tenho mau gosto! 4,1

EARTH Hex; Or Printing In The Infernal Method CD 2005 · Southern Lord / Sabotage
O regresso de uma banda lendária dos anos 90 que estimulou o famoso Drone Metal que tanto se fala nos dias de hoje. Um regresso cinematográfico em que o Doom da banda é abandonado para o “Gótico Americano” – o quadro de Grant Wood (1891-1942) – ou se preferirem para o “Dead Man” de Jim Jarmush - um dos filmes mais bonitos de sempre, se me permitirem o aparte. Aliás, o que temos aqui é a continuação do que Neil Young fez na banda sonora do filme: Drone-Country. Por isso fãs de (Dark) Americana eis aqui um bom disco, mórbido e desértico como é regra. Metaleiros pouco encontrarão algo que vos interesse. Gajos que pensam que os Dead Combo são fixes podem encontrar aqui algo melhor. Fãs de Earth antigo talvez venham a gostar da mudança. Quem gostar da ideia de um mash-up entre Ry Cooder e primórdios de Black Sabbath este é o disco. 4

EXPERIENCE Positive karaoke with a gun / Negative karaoke with a smile CD + DVD 2005 · Boxson / Green UFOs / Ananana
O que é pior que uma banda Rock espanhola? Fácil... uma banda Rock francesa! Os Experience além de serem uma continuação evoluída dos Noir Desir (para falar da linhagem francófona apenas) acrescentam à violência sónica alguma voz rapada e electrónica (samplers). Vão no terceiro registo constituído pelo "Positive (...)", um CD de versões, e o "Negative (...)", DVD típico de banda ao vivo, na estrada e outras vulgaridades, coisa para fã sem critério. O CD é que me provoca (alguma) confusão tal é o ecletismo e bom gosto de bandas/músicas escolhidas, que atravessam estilos tão díspares como HipHop (Public Enemy), Rock sónico (Pussy Galore), Emocore (Q and not U), Alt.Country (Bonnie Prince Billy), ou gente inclassificável como P.I.L. e Soul Coughing, ou esquecida como Moonshake - uma banda Indie inglesa dos 90! É preciso ser cromo para juntar isto tudo! Só que bom gosto nunca foi sinónimo de Arte e estes zombies são pretensiosos e pouco calorosos (o típico francês?). Se havia dúvidas o DVD ranhoso tira-as. Tanto faz que sejam malucos q.b. para escolher Gil Scott Heron e Shellac, uma Almita nunca chegará aparecer! E porque nos dias de hoje é normal comprar DVD e CD na mesma embalagem: [2(DVD)+3,3(CD)]:2= 2,65

all gone from F to K

[f.e.v.e.r.] Bipolar EP 2006 · Raging Planet
Com o risco de me repetir [ver Under #17], a pós-modernidade tem destas coisas estranhas: existe uma banda portuguesa Pop/Rock muita boa, que lembra ora os KMFDM ora os Linkin Park, orelhuda até ao caroço mas sem passar atestado de imbecilidade – que é quase sempre o problema do Pop. Uma combinação de Metal, Goth, Electrónica e com um sentido Pop apurado. Mas esta banda até agora ainda não gravou o álbum!? Fez dois EP's, um álbum de remixes das músicas desses EP’s, tudo bem embrulhado e hypesco. Esperávamos pelo álbum mas lançaram ainda mais um EP de um só tema que é remisturado pelos próprios (que já tinha saído na colectânea Shock Of This Light [Thisco; 2006]), pelos Corvos e pelo mestre Martin Rev. Temos ainda na rodela um vídeo do tema animado em flash e de estética Sin City, sons para telemóvel e samples do tema para usarmos e abusarmos. O que se passa aqui? E ainda por cima o raio do tema é porreiro. Não cansa mesmo depois de ouvir cerca de sete variações (se incluirmos a faixa dos samples!), até parece uma sinfonia. Isto é muito estranho... 4,3

[f.e.v.e.r.] Electronics CD 2005 · Raging Planet / Thisco / Fonoteca de Lisboa
Álbuns de remixes são sempre uma grande banhada, não porque a música seja má ao ser “remisturada” mas porque geralmente ao haver tanta gente envolvida (bandas, produtores, DJ’s) parecem-se mais a mantas de retalhos sem força. Curiosamente este disco de remisturas dos [f.e.v.e.r.] que envolve gente tão diferente como Shhh…, Ultimate Architects, Mofo, Sci Fi Industries é bastante coeso sem que se perca as identidades das bandas “remisturadoras” e (curiosamente) a banda “remisturada”! Mais pesadão pelas mãos de Bizarra Locomotiva, mais Metal por Moonspell, mais Gótico por Aenima, etc... o tema mais desconstruído é o de Mécanosphère em industrialismos Dub. Se este disco é exemplar no que diz respeito ao conceito de álbum de remixes, o seu ponto fraco é justamente a banda “remisturada” que ainda não provou ser uma “referência Pop telúrica” que justifique um álbum de remixes quando só tem apenas dois EP’s editados [ver Under #13]. Vivemos o pós-modernismo, do que adianta fazer esta resenha? 3,6

FANTÔMAS Suspended Animation CD 2005 · Ipecac / Sabotage
Eu, Prof. Marte, especialista em tarot e búzios, prevejo para 2005 um novo lançamento do grupo musical Fantômas, do estimado Patton. Prevejo que será um álbum de homenagem ao mês de Abril – conhecido por ser o mês do humor nos EUA – e aos desenhos animados. Prevejo que o disco gravado na mesma sessão de "Delirium Cordia" é composto por trinta faixas que representam trinta dias. A embalagem terá um calendário luxuoso com ilustrações do japonês Yoshitomo Nara. O ambiente sonoro será como ver desenhos animados antigos da Warner a um sábado de manhã, depois de uma noite terrível e cheia de cocaína, neuras, muito mau sexo e um vizinho do lado a ouvir Grindcore em altos berros. Prevejo também que os críticos do nosso país – que são todos uns fashion victims – irão dizer mal deste disco, porque se por um lado é verdade que não traz nada de original ao que Patton já fez, também é verdade que não é uma seca ao contrário dos discos anteriores (ver Under’ #13). Como a moda Patton deve estar a passar, está claro que os nossos "criti-cu-zinhos" vão começar a sua rápida jornada da debandada! Prevejo ainda que o disco sairá no dia 1 de Abril e receberá pelo menos um 4 nas resenhas dos discos na revista Underworld.

FAT WORM OF ERRORS Pregnant Babies Pregnant With Pregnant Babies CD 2006 · Load Records
Douglas Adams no Guia Galáctico do Pendura falava de uma lua em que decorria uma festa já há 100 anos, e que essa festa já estava para além da idiotice total porque não só a orquestra já estava bastante cansada como os habitantes-foliões já não renovavam o seu sangue há algum tempo e por isso roçavam a Trissomia 21. Creio que este colectivo norte-americano de Improv/Noise devem ser deste sítio e roubaram os instrumentos à tal orquestra. O nome do colectivo faz justiça à sua música porque não me lembro de ouvir algo tão irritante e errático nos últimos tempos como este disco de estreia. Atonalidades de Música Concreta, porrada de sons tirados de brinquedos (são mesmo brinquedos? parecem-me armas sonoras!), Histerismos à canzana God Is My Co-Pilot, Falsificações de pretensões artsy-fartsy, Exponenciais de Morte à Música. Dêem-lhes um foguetão, sff! Enorme! 3,5

FATIMAH X Ángeles en loop, la brutalité des ordinateurs et des enfants CD 2003 · Transformadores / Sabotage
Estreia de mais um projecto de Jorge Ferraz - dos clássicos 80's vanguardistas Santa Maria Gasolina do teu Ventre (ver crítica nos nossos arquivos)... e mais outras cem encarnações - desta vez acompanhado por mais duas personagens femininas que são ou querem ser mães e gostariam de lançar cocktails molotov na música nacional e internacional. Juntos criam atmosferas melódicas mesmo que usem maquinaria triturada e guitarras grelhadas. Somos um país de poetas e ultimamente temos parido bandas de Pop electrónico baseadas em "boa poesia + voz feminina" - tendo os Três Tristes Tigres como a banda seminal desta onda. Cantam/recitam em português provando mais uma vez que a nossa língua, ao contrário que se diz, serve para letras de músicas Pop (e não só). As referências zapatistas e revolucionárias (na capa, design gráfico do disco e letras) desaparecem na música pois o discurso lírico não chega a ter uma carga social como dá a entender na embalagem, nem é radical como se podia esperar nestes tempos que vivemos revoltados com a Globalização / Imperialismo dos EUA. É projecto com alguma piada como se pode atestar pela faixa 4 que é um excelente exercício (instrumental) de Drum'n'Bass + Electro. Se não fosse tão pseudo-fragmentado não perderia a mensagem - e qual era mesmo? Com menos pretensão em criar personagens e conceitos sem carisma teria mais impacto lírico e musical. O título em francês é enervante pois é assim que percebemos que a senhora ressaca da cultura de intelectual de café dos anos 80 ainda não se lembrou de tomar um Gurosan. 3,5

Fidbek: Erro musical
Infamous & VRZ: 100 insultos
Dois CDs de 2003 · Matarroa / SóHipHop
Estes são os dois primeiros discos lançados pela editora Matarroa e que mostrou logo que pretendia fazer um excelente trabalho na cena Hip-Hop portuguesa. Infelizmente ao contrário do francamente bom "Funk Matarroês" dos MatooZoo ou da eclética & interessante colectânea "Matarroêses" (ver neste site), estes dois discos são o que é mais normal em Hip-Hop. Pode parecer um insulto dizer isto pois a qualidade é acima da média seja nas rimas & beats dos artistas, ou nas embalagens e produção dos discos. Mas a verdade é que daqui pouco ou nada de novo há para falar, tão bem feito que são feitos os discos mas vazios de novidade que o mais fácil de analisar são as coisas que irritam do que as coisas positivas, assim sendo, o que irrita são 3 coisas:
1) a temática em autofagia e masturbatória, ou seja, insultos e "ego-trips" sobre a cena Hip-Hop, por um lado parece que batem em gajos mainstreams e gajos underground filha-da-putas (e há sempre tantos em todo o lado, seja no Hip-Hop, seja no Cinema...); até podemos identificar algumas pessoas em geral (Eminem's & Puff Daddy's & os MacDa Weasel) ou figuras que já tivemos a infelidade de conhecer (cada um na sua área profissional e/ou artística)... mas a dada altura os "insultos" tornam-se cansativos, sempre a bater na mesma tecla e assim perdendo todo o sentido...
2) a mania de samplar "som branco" (sinfonias, musica de câmara, bandas sonoras de filmes)... será um complexo de ser branco? O Hip-Hop é fixe é pelo groove obtido pela rapinação a grandas malhas Funk, Blues, Jazz, Reggae - tudo o que é "som negro"... soa mesmo a foleiro, como se fosse os samples sacados fossem uma tentativa de mostrar erudição (musical!?) mas o que soa mesmo é a música de super-mercado... só falta mesmo a Vanessa Mae aquela da bruta-mini-saia e violino na omoplata para completar o ramalhete.
3) cédés longos como raio!!! 60 e 70 minutos respectivamente, tenham lá dó, pá!!! Momento alto em "Erro musical": o tema "... em extinção" em que ouvimos um arrepiante sample de um rosno de cão, ideia bem sacada diga-se e que dá ao tema uma distinção única a um disco já ele bastante variado nas abordagens instrumentais... Momento alto em "100 insultos": o tema "3 gotas de ácido" com 3 MC's convidados (Martinêz, Fuse e Bezegol) a darem registos vocais bem diversificados e poderosos, a um álbum por si já violento... 3,2

JEL Soft Money CD 2006 · Anticon / Sabotage
O que pode correr mal num álbum? [resposta a escrever muito em breve] E num álbum da Anticon? [resposta a escrever um dia destes] Este é o primeiro álbum de Jel a solo, que para quem não saiba, Jel não é um debutante na música: é membro de projectos como Subtle, 13&God e Themselves, além de ser um dos cabecilhas da editora Anticon. Há qualquer coisa de déjà vu neste disco, algo injustamente que não nos impressiona para quem conheça minimamente os discos desta editora de Hip Hop alternativo ou só o económico "Anticon label sampler 1999-2004" [ver Under #16] onde aliás, já se editava o tema "Nice last" como chamariz deste álbum. Jel com ajuda de Odd Nosdam vão na senda do catálogo já explorado: landscapes abstractas, deambulações psicadélicas, beats bem sacados e letras inteligentes ligadas aos sentimentos anti-Bush, anti-consumista e anti-guerra. Sem querer, parece que o disco se posiciona num ponto estático. Não deixa de ser muito bom e agradável - certo! - mas também é inconclusivo. [pontuação] Tenho aquela triste sensação que daqui um ano, se voltara a ouvir o disco ficarei arrependido de não o ter pontuado + do que 3,9

JELLO BIAFRA & THE MELVINS Never Breathe What You Can't See CD 2004 · Alternative Tentacles / Sabotage
Prognósticos só no fim do jogo! Dois pesos-pesados! À vossa esquerda o Punk-mais-Punk de sempre, activista político, ex-Dead Kennedys! À vossa direita os pais do Grunge-antes-de-ser-Grunge, mestres do Rock mais pesado do planeta!
Jello ataca com fantásticas líricas politicas cheias de sarcasmo como sempre! Seja a Bushes, Guerras Santas e a imbecilidade total deste mundo capitalista!
O uppercut de Melvins é fraco! Mais parece murros à DK!
Biafra não consegue defender a sua idade! A voz falha!
Melvins no entanto retrai daquilo que estamos habituados! Não há imaginação neste combate!
Podia ser Biafra vs outra banda qualquer! No passado houve bons combates como Biafra vs NoMeansNo! Não é este o caso destes 40 minutos de combate!
Cada round tem pelo menos 4 minutos balofos! E nada se resolve!
Só "Islamic bomb" meio broadwayesca é que faz vibrar!
Boas artes gráficas como sempre!
Não deviam respirar aquilo que não vêem! 3,4

KITTIE Spit In Your Eye + Until The End DVD + CD 2004 · Artemis / Rykodisc / Edel
Pitas menstruadas a dar no Metal. Raiva no feminino! Faltam bandas com fêmeas, sobretudo no espectro mais pesado. Tal como My Ruin e Otep, as Kitties tem vozeirões e riffs pesadões MAS falta imaginação nos instrumentos. A voz berrada de Morgan Lander é bem fodida MAS também canta com melodia super-pirosa ao nível de uma Avril Lavigne. Enfim, vê-se que são meninas mimadas e que namoram o Metal empresarial – como muitos outros meninos feios com tatuagens e piercings. Para provar basta analisar as edições recentes da banda. “Spit in your eye” é o típico DVD de banda em digressão gravada com um concerto e vários vídeos cheios de caretas e brincadeirinhas parvas para mostrar que são umas malucas MAS depois afirmam que afinal são músicas sérias, honestas, etc... um discurso abusado pelas bandas MTV, o que só as coloca em xeque com contradições inevitáveis. Resta dizer que o DVD é do piorio: concerto com chungaria, imagens cheias de blur para não fazer publicidade a esta ou aquela marca MAS, no entanto, fartam-se de dizer fuck you e afins… sem censura. As imagens da América por onde viajam são também do pior – ainda nos queixamos das paisagens portuguesas! 2,5
O CD “Until the End” (o terceiro da carreira) até começa bem, com um tema bem violento, “Look so Pretty”, MAS depois vai perdendo a pica. O tema “Daughters Sown” acabaria o CD em beleza MAS aparece um extra que é uma remistura soft e cantada de “Into the Darkness” que estraga tudo outra vez! 3,2
Não são as inócuas Donnas e percebe-se o sucesso desta banda – miúdas novinhas que fazem barulho de envergonhar muitos gajos – MAS não se pode falar em bandas no feminino só porque há uma vocalista e umas outras miúdas a tocar. Se as letras e os instrumentos forem tão cinzentos como os das bandas masculinas então estamos no limite da mediocridade, em que homem ou mulher significarão a mesma coisa, ou seja, nada. Será que nunca irão aparecer umas novas Babes in Toyland?

KK NULL Kosmo Incognita EP 2005 · Thisco + Fonoteca de Lisboa
Esta é a segunda investida da Thisco em Japanoise - a primeira recorda-se foi ainda este ano com “Dust of Dreams” do mestre Merzbow - e como tem sido hábito no seu catálogo, eis mais EP de cerca de 20 minutos de edição limitada (200 cópias) estreando em Portugal o KK Null, músico Rock dos monstruosos Zeni Geva e compositor Noise. É como “noiser” que o apanhamos a esmigalhar o cérebro do ouvinte dado à massa sonora pesada e dinâmica que imprime nesta peça intitulada “Kosmo Incognita”. Sorrateiramente, KK Null vai oscilando os sons e acrescentando elementos novos fazendo com que a peça cresça e pouco a pouco deixe se ser óbvia. Um Jam de Electrónica toda lixada que perdura 13 minutos amaldiçoados. Depois de uns minutos relaxados – tipo sci-fi-chill-out – volta a drones industriais em crescendo até acabar abruptamente aos 19m48s. Um cosmos que se descobre brutalmente. 3,7

Kutna Hora: Will or nothing
Novalis: Paradise...?
dois CDs 2003 e 2005 · Twighlight / Ars Musica Diffundere / Black Rain / Equilibrium
A primeira que ouvi Punk foi numa K7 emprestada toda lixada com o primeiro álbum dos Censurados. Depois de arranjar uma cópia para mim e ter passado sei lá quantas semanas a ouvi-la, fui descobrindo outras bandas Punk, algumas seminais como Clash, Dead Kennedys, outras já numa linha diferente como RxDxPx, Chaos UK, etc... e de repente tirando uma ou outra outra banda, sentia que a cena Punk era uma repetição de clichés. Senti-me traído pelo Punk - afinal não devia ser ele a originalidade e liberdade? Ao longo dos anos fui descobrindo outros sons, e depois de encontrar uma primeira banda de um género e os seus percursores, abatia-se o peso da repetição. O que tem haver o Punk com estes dois discos? Nada... mas continuando a minha deambulação egocêntrica: hoje, ouvindo o primeiro dos Censurados continua achar pica ao álbum, não reconheço lá grande Arte na banda comparando aos originais Dead Kennedys, mas reconheço o prazer da descoberta. Por isso cada coisa na sua prateleira, independentemente dos gostos, há música de qualidade (com ideias, com personalidade, com universos, etc...) e depois há sucedâneos com os quais nos podemos apaixonar por esta ou aquela razão ("passava os Fields of Nephilim quando fizemos amor" ou "fiz o primeiro Mosh no concerto de Xutos!") mas não significam que tenham a) interesse b) Arte c) razão de existir.
Isto para dizer o quê? os Kutna Hora são uns argentinos do NeoFolk-DarkWave mas eu não preciso deles quando já ouvi os clãs Swans e Death in June, nem dos Novalis que são alemães e mais parecem ter um nome de um carro para classe média. Talvez alguém que não conheça este tipo de som possa vir a gostar deles mas se ler esta resenha então já sabe por onde deveria começar. 2,5 e 1,8 respectivamente
PS Argentinos e Alemães? Quem diria, não há nada que oiça nas rodelas que me diga isso a não ser as notas de imprensa que as acompanham. A globalização ainda os pune mais mas para explicar porquê seria preciso escrever ainda mais, eles merecem?

all gone from L to U

L'EGO Os ladrões do tempo CD 2005 · Thisco + Fonoteca de Lisboa
Com cerca de 20 discos realizados (na essência reeditados como CêDê-R's pela Thisco) e uma «não-carreira» que remonta a 1984 (ironia de data, hein?) com os pioneiros da música electrónica portuguesa, os Hist, esta banda sonora para o Teatro do Mar (uma companhia de Sines) pode ser considerada como o primeiro disco "oficial" - como as regras comerciais ditam - de L'Ego. Temos aqui um disco «composto exclusivamente por colagem e manipulação de elementos sonoros pré-existentes», excertos inteligentemente pilhados a fontes tão diversas como Pan Sonic, Autechre, Fura del Baus, Scanner... De estética ambiental e IDM, não é brilhante mas também não envergonha e ouve-se bem. Não sabendo como foi o executado o espectáculo dedicado ao Futuro da Humanidade abordando as questões tecnológicas, e sendo um «teatro de rua multimédia, não verbal, assente numa estrutura cénica mutante, próxima do conceito da máquina de cena, visual, físico, musical, com recurso a efeitos de pirotecnia. Todos os públicos» [site da companhia dixit] não sei como a banda sonora funcionava. Como objecto independente não impressiona nem parece transmitir nenhuma mensagem em especial. Será melhor assim? 3,4

LOOSERS 6 songs E.P. CD-EP 2003 · ZDBMüzique / Sabotage
Os Loosers estreiam-se num EP de 6 canções e mais 3 de bónus... isso não é um LP!? Espero que seja para enervar coleccionadores chatos caso contrário, ponho em questão a sanidade mental da banda que é a «next big thing» lisboeta - tal como os X-Wife o são no Porto. A música que elaboram tem um Groove contagiante que extraem de um Rock cru e de um Noise bem estruturado de sintetizadores a lembrar Suicide. E adivinhem? Toda a gente diz que ao vivo é que é! Vi-os no passado dia 27 de Dezembro (2003) na Galeria Zé Dos Bois e não senti diferenças significativas entre o ao vivo e a gravação. Gozam, para o bem e para o mal, da bênção dos "artaístes", "freak-chics" e outros "losers" do mundo da arte lisboeta, vulgo o "lobby gay" (ou será uma afirmação demasiado reaccionária!?) que dizem com um ar bovino "eles são muita-fixes!", e se alguém disser que não, dão aquele olhar de "não sabes o que dizes" - ler: todos os meus amigos artistas acham que eles são bons, o lobby do suplemento Y do jornal Público escreveu que são fixes e sendo assim eu também acho fixe! Espero que a banda consiga passar por cima disto e prove, quando o lobby se fartar deles, que afinal não era só + uma "next big thing". Este EP estreia a ZDB no mundo da edição fonográfica. Para quem não sabe, esta galeria foi nos anos 90 a ponta-de-lança de Arte alternativa. Desde 1996 que tem apostado numa programação musical no seu espaço (Bairro Alto), primeiro para projectos de sons electrónicos / improvisados / experimentais mas desde 2002 que abriram portas para a música urbana como Hip-Hop ou Rock. 3,6

LOOSERS iiii CD-Demo 2005 · Ruby Red
Mundo pequeno: está um gajo em Antuérpia (Bélgica) a falar com o camarada Jelle Crama [www.jellecrama.tk] e a trocar galhardetes, quando o tipo me passa um CD-R embalado numa capa no formato de álbum em vinilo de uns tais... Loosers. «Ah! Que engraçado, lá em Portugal também temos uma banda chamada Loosers...»; «Exactamente, são eles», responde o Jelle; «Não, não... não percebes, em Portugal também temos uma banda com esse nome»; «Sim, sim, são eles!» insiste Jelle. E eram. Investigações mais tarde, descobri que os Loosers andam a (auto)editar uma série de CD-Rs (e também o recente segundo disco que só saiu em vinilo) provando que são mais do que uns fashion-victims-do-pós-electro-revival-new-wave-do-pessoalixo-do-Bairro-Alto. Ao que parece nestas edições tem havido menos Rock rotulável e mais experiências sónico-tribais na linhagem Glenn Branca e acólitos. Interessante. Especialmente a capa em serigrafia do Jelle! 3,6

MAL D'VINHOS CD-R 2004 · Pimba's Autoroute, discos & peticos iltd / Some Farwest Noizes
6 potenciais mega-hits para o Verão mais uma bUnita canção bónus de Natal («este natal vai ser diferente.../ este Natal não há prendas para ninguém») é o que os Mal d'vinhos apresentam na sua primeira obra Pimba DIY. E sabem do que falam: «Gravei um disco para a Discossete, dei-me mal Não quero mais ver esses cabrões da Espacial Eu nunca serei cãozinho da Lusosom Não vou deixar a Vidisco roubar o meu dom». É isso mesmo! Ser Pimba não é só cheirar o bacalhau da Maria e quer'alho. Pode ser poemas de Bértol Bérxte, denunciar os lobis ou o mediatismo Capitalista («a gaja da têbê não peida») e os paneleiros do tuningue. Humor artsi do Faroeste 'tuga, dá-le! 3,5

MICRO AUDIO WAVES No waves CD 2004 · N_records
Há nitidamente uma tendência na música urbana portuguesa para bandas electrónicas com uma voz feminina. Se a coisa pode remontar aos Mler Ife Dada nos anos 80/90 foi com os Três Tristres Tigres que se estabeleceu seguido de uma enxurrada: Mãozinha, Coldfinger, Gift, Fatimah X, ... Será que foi por causa de sucessos (justificados) de Portishead e (injustificados) de Lamb? Talvez, também há a hipótese de como as mulheres, em geral, gostam de drama e os portugueses, em particular, também gostam de ser trágicos de terem encontrado o ponto de encontro nesta fonte de trabalho que é a "electrónica com voz de gaja". MAW (para simplificar) inclui Flak (Rádio Macau) só por curiosidade e até poderíamos analisar paralelismos com Fatimah X (que inclui o Jorge Feraz) mas não me apetece... MAW vão no segundo disco e encontraram uma vocalista (o primeiro disco era só instrumental ao que parece) mas não deixaram de explorar as relações de composição entre o Pop/Rock e a electrónica mais sofisticada do momento, a micro-samplagem - que tem Matmos como reis, ou príncipes visto que a Björk é a Rainha que os emprega. O resultado Pop dos MAW é simpático, agradável e eficiente tal como uma refeição saída do micro-ondas depois de um chato dia de trabalho. Ouve-se bem como muitas outras coisas que se podiam ouvir nestas condições. Não irrita mesmo quando se armam em "artaítes" e despejam umas línguas estranhas e/ou deambulações pseudo-Dada. Até podiam mudar de nome para Micro Audio Wallpapers! Ainda assim é uma banda a seguir com atenção de futuro, na esperança das coordenadas sonoras desloquem-se da frieza Nórdica para o confortável Sul. Nota de referência para a N_records (que organiza o Número Festival) que fez um bom trabalho de edição. 3,6

NEVERMET ENSEMBLE No Quarto Escuro CD 2005 · Rudimentol / Ananana
Miguel Cabral, activista da música electrónica, fez mais uma das suas. Desta vez recebeu ficheiros de música por e-mail vindos de músicos da Bélgica, França, Itália, Japão, Espanha e EUA que nunca se encontraram. Misturou os sons desses ficheiros e assim lançou a Nevermet Ensemble - a banda que nunca se conheceu. A música é experimental, balançando entre a improvisação óbvia e outras sonoridades mais "urbanas" (até há um bocado de Death Metal e tudo!), ficando a impressão no fim que há aqui um ecletismo musical que podia ser devedor aos projectos da Ipecac ou da Web of Mimicry embora o conceito tenha mais piada que o resultado propriamente dito. 3,5

Numbers We're animals CD 2005 · Kill Rock Stars / Sabotage
Escrevia eu ainda no outro dia, sobre o Festival Número (ver na secção "Ao vivo"), o que ia fazer uma banda portuguesa que lá tocou (eram os U-Clic) e que investiu no Electro-rock agora que género passou de moda? E o que pode fazer uma banda norte-americana? Duas respostas: a portuguesa começou a carreira tarde demais como sempre, bem podem arrumar as botas porque já não vão conseguir atingir mercados internacionais e sobreviver com os nichos electro-rock - daqui a 10 anos é capaz de haver um revival deste tipo de som, por isso rapazes, é melhor esperar sentado! A norte-americana é bem capaz de continuar, até porque já assentou no tempo certo, continua a vir cá tocar - foi à Galeria ZDB e ao Porto - e continua a editar discos anualmente, como este recente "We're animals" - o terceiro de originais & oficiais (esquecemos remixes e afins). Mais perguntas: independentemente das modas estes tipos norte-americanos ainda têm validade? O disco pode ser ainda interessante? Respostas complicadas. Realmente agora que estamos em ressaca Electro e deixou de ter piada ouvir sintetizadores ácidos + vozes femininas ou réplicas do vocalista dos B-52's + bateria rockeira + guitarras sujitas do indie 80's (muito Sonic Youth aqui!), pouco ou nada poderemos encontrar aqui que nos emocione. O "enquadramento histórico" está errado. Podiam os Numbers incorporar novas coisas e dar um passo à frente? Não quiseram... não estão interessados em evoluir, só em canibalizar o que já foi feito. Podiam até chamar ao álbum de "We're robots" ou "We're Pavlov animals" que seria mais sincero... 3,4

ORGASMO CD 2005 · Vida / Som Livre
Com um nome destes – um bocado incómodo, tentem perguntar no quiosque do bairro pelo CD dos Orgasmo – ao menos devia ser uma bomba! Este orgasmo é daqueles de punheta antes de adormecer. Não é aquele orgasmo-mamute quando um tipo entra noutra dimensão mental de excitação e quando se vêem é uma enxurrada de energia que percorre o corpo inteiro até ficamos felizes da vida e cairmos para o mundo dos sonhos. Ainda assim há razão de existência para este quarteto que não é novato nestas andanças das bandas – há aqui sobreposições de projectos e convites de elementos de outras bandas como Carbon H e Slamo. Penetrando nos cosmos do psicadelismo, via Rock e alternando pelo Funk, algumas vezes ao ritmo Drum n’Bass & Breakbeats, esta cópula de estilos é excitante mas a tesão não é (ainda) total. Algumas partes fazem lembrar vagamente os The Music, entre outras coisas perdidas na memória, mas com identidade em construção ficando a expectativa que bastará no próximo registo lubrificar a máquina e... Schuap, schuap! Devo referir (pela negativa) a discrepância de registos gráficos entre a capa (departamento de aerógrafo anos 70/80’s) divertida pelo kitsch assumido e os desenhos toscos na faixa multimédia e na impressão do CD (para fazer tosco é necessário também ter dom artístico), o que não se percebe bem onde querem ir no que diz respeito à imagem da banda: brincalhões com suor de Red Hot Chili Peppers ou bedum dos Fúria do Açúcar? 3,9

PHANTOM VISION Calling The Fiends CD 2004 · Cop International
Terceiro registo desta banda electro-gótica em terras estrangeiras, caso para admiração para os que pensam que o mundo é só o bairro onde vivem. Phantom Vision desenvolve-se nos caminhos da electrónica compondo boas canções. Curiosamente a atmosfera deste disco consegue aproximar-se mais do Rock do que de um registo electro, mas pessoalmente, para um velho gótico como eu, pouco ou nada transmite. Falta loucura e imaginação para ultrapassar um género que já tem mais de 25 anos e que já teve tempos memoráveis, justamente porque os artistas desses tempos arriscavam, não ficaram presos a cânones, pelo contrário estavam a criá-los! Bauhaus, Alien Sex Fiend, só para citar os meus favoritos. Por mim, não acho impressionante que uma banda seja profissional e ache um “spot” numa cena especializada: Acho confortável para todos os envolvidos. Só espero que esta banda não seja realmente um caso de “visão fantasma” e avance para o desconhecido. Se o disco fosse de há 20 anos levava um 4,4 mas sendo deste milénio... 3,4

PUBLIC ENEMY New Whirl Odor CD+DVD 2005 · SLAMjamz / NTM
Este é o oitavo álbum dos “Laibach do Rap” – ninguém se lembrou desta! Um álbum já considerado pela crítica como um disco sem inspiração… mas como assim? São os Public Enemy! Estamos em 2005 e não há espaço mediático nem para polémicas nem para critica social na ponta da língua, tudo isso está acabado. O HipHop que os Public Enemy projectaram ao longo da sua carreira – eles e muitos artistas negros foram censurados ou proibidos de passar na rádio ou TV – foi substituído pelo individualismo e materialismo alicerçado e projectado por uma MTV estúpida e estupidificante. A batalha dos PE é a de ainda ter alguma voz no meio de uma cena que não querem parentes “pobres” a criticá-los. Os PE são dos poucos (como os Dälek) que tem a integridade artística, a militância DIY, que continuam a ser barulhentos e sujos, que se atiram a pequenas deambulações musicais e que, sem papas na língua, cospem letras intervencionistas. Sim, este álbum não vai ter airplay nem vai ficar nas listas dos melhores discos de 2005 (até porque foi editado pela sua própria editora, a indie SLAMjamz)… mas são os Public Enemy! A catinga de uns PE envelhecidos continua a ser melhor que muita merda que anda por ai, seja Rock seja HipHop. Há qualquer coisa de estranho neste álbum que passa pela auto-referência e auto-reflexão da banda. Se juntarmos ao facto que na mesma altura é editado um best of pela (sua antiga casa) Def Jam diremos que “New Whirl Odor” poderá um ponto de partida para próximas acções e edições. Até lá «Check What You’re Listening To». 3,8

SANTA MARIA, GASOLINA EM TEU VENTRE! Free Terminator / Falcão Solitário Sem Ser Distorção CD 2005 · Zounds / Sabotage
Até nem nos podemos queixar muito sobre reedições de discos que foram importantes no meio Pop/Rock português dos últimos 25 anos. Desde a Candy Factory ter reeditado os LP's de Pop Dell'Arte à colectânea "Ama Romanta Sempre!", entre outras iniciativas em relação a Mler Ife Dada, Mão Morta, Us Forretas Ocultos, Rádio Macau, M’as Foice, etc, agora foi a vez LP "Free Terminator/ Falcão Solitário Sem Ser Distorção" (Ama Romanta, 1989) dos Santa Maria, Gasolina Em Teu Ventre!, e o seu maxi homónimo auto-editado (de 1990), ambos reeditados pela Zounds com um excelente trabalho gráfico e embalagem. Os Santa Maria incluíam Jorge Ferraz – hoje com o projecto Fatimah X –, e o que tocavam pode ser descrito por poesia instrumental pseudo-Dada, com guitarras em abrasantes arrastos de feedbacks devedores às experiências excessivas da juventude sónica dos anos 80. O tempo, no entanto, não perdoa. Se nos fins dos anos 80, em Portugal, este LP foi conotado de alien ou de provocador, no nosso novo milénio passa um bocado ao lado. Sobretudo o LP que é menos interessante ao nível de composição do que o maxi. De registar que o maxi inclui a participação de Adolfo Luxúria Canibal no tema "Go West, Celine", que parece um lado B perdido de Mão Morta. Próxima reedição obrigatória: Ocaso Épico! 4

Si-cut.db From tears: beach archive CD 2005 · Bip Hop
A Thisco além de editar discos de electrónica alternativa também promove editoras e bandas estrangeiras. Foi através deles que nos chegou "From tears: beach archive" de Si-cut.db que pode ser considerado como uma mistura de Dub com Micro-House criado para descansar no conforto da casa e respectivo sofá. O compositor/músico Douglas Benford usou o seu lap-top para explorar os sons das costas marítimas por onde viajou entre a Europa e a América do Norte. Felizmente o resultado é mais dado ao desafio auditivo do que ao narcotizante efeito do New Age - acredito que se devem ter arrepiado quando leram sobre os sons do mar e isso... 3

SIZZLE Natural Elements CD-R 2000 · Facthedral
O Dub apesar de já existir desde os anos 70 e apesar ter sido usado em várias técnicas de gravação em discos mais insuspeitos, só nos anos 90 é que foi redescoberto na sua pureza mais antiga, o do ambiente sonoro que invoca espaços ou paisagens psicológicas. Foi com Scorn, de Mick Harris, que trouxe as aproximações industriais a este género de música - é mais que um género, é também uma técnica! o projecto francês, Sizzle é a continuação lógica destas estratégias psico-espaciais exploradoras de ambientes negros, de "bad trips" que o Dub Industrial emite aos nossos cérebros. 55:55 é o tempo desta viagem hipnótica, onde a imaginação é limitada a loops que se repetem à exaustão sem nos surpreender de alguma forma. Podia ser melhor? Cêdê de tiragem limitada e já esgotado, pode ser descarregado em: www.facthedral.com/the_music.htm# 3,1

STEALING ORCHESTRA The Incredible Shrinking Band CD 2003 · Zounds / Sabotage
Risos de crianças, orgãos xungas, xilofones, blip, disparos laser de jogos de computador dos anos 80, pombos, cabaret, acordeãos, bandas sonoras de filmes série B, tetris, caretos de Podence, blip blip, caixas de brinquedos, que infância infeliz, blip-blip, valsa de andróides bêbados de vinho verde, blip-blip, punk-vodka & metal-klezmer, blip-blip-blip, o Papa ama os Mr. Bungle, cacos digitais, samples do John Barry e Glenn Miller a vomitarem orquestras que os nossos pais insistem em ouvir de vez enquando, chocalhos de cabras do quintal da puta da vizinha, blip-blip, o meu o rancho foclórico é maior que o teu, Dub com pauliteiros e música de Natal que passa nas lojas dos monhés e no Metro, blip, circo & tourada & uns cornudos, dark-funk para mariachi paneleiro, o Tom Waits a tomar gurosan e a tocar para a Françoise Hardy... Ah! Isto é que é Electrónica com atitude, man! Os Stealing são a fusão itílica refrescante da nossa Tradição Lusa (que os gajos do Lusitania-metal e os novos fadistas que se ponham a pau, ó caralho!!!) e de um Portugal escarrado para o Futuro pelo sr. dr. Cavaco «canibal» Silva e o betinho do Guterres. A embrulhar a música mais divertida que se faz hoje em Portugal, uma embalagem luxuosa e um livrinho com ilustrações iconoclastas a lembrar um o humor do Winston Smith (o gajo das capas dos Dead Kennedys pá!) para cada música. 4,7

SUNN 0))) Black One CD 2005 · Southern Lord / Sabotage
Bandas com nomes bizarros há muitas, mas bandas com um som bizarro não há tantas. Sunn 0))) alia as duas coisas, um nome gráfico e uma sonoridade que é um pesadelo. Rotulá-los de Experimental Metal ou Drone Metal será supérfluo embora simpatize com a ideia de Nerd Atonal Doom Metal. Ao ritmo de um álbum por ano, conquistando cada vez mais admiradores (pelo menos na imprensa), os Sunn 0))) avançam para um novo ciclo de gravações após o “White 1” e “White 2”. Trata-se de um ciclo negro de uma banda que mais parece uma espécie de “se Stockhausen fosse metálico fazia isto”, só que se antes o ciclo White só provocava um ambiente irritante, agora a irritação abraça o medo, que aliás está logo estampado na capa: um desenho detalhado de uma árvore numa floresta negra mas também parece um anjo esventrado numa floresta com raízes por todo o lado em que os nós dos troncos parecem olhos de carneiros mal mortos... Ok, ok, já chega! Não aconselho ouvir este disco em fase de sonolência pois são ainda desconhecidos os psico-traumas que poderão surgir – o meu terapeuta ainda não determinou os efeitos mas ordenou-me afastar-me do disco. Convidados desta: Oren Ambarchi, Wrest (Leviathan/ Lurker of Chalice/ Twilight), Malefic (Xasthur, Twilight) e John Wiese (Bastard Noise). De salientar que Malefic gravou a sua participação vocal dentro de um caixão colocado num Cadillac carro funerário. Não sei que espécie de tarado é que se lembra deste tipo de coisas nem sei que espécie de tarado quererá ouvir isto. Respect!! 4,1

TAPE FREAK HUGO Old Tape Series #1 Demo 2005 · Edição de Autor
O universo é estranho, tão estranho que os subúrbios de Lisboa parecem a “América mítica” do tipo Tucson. E depois, os tipos que habitam por cá (neste universo ou nos subúrbios de Lisboa ou em Tucson) têm ideias estranhas. Por exemplo, este Hugo lembrou-se de pegar nas k7’s (sim aquele formato audiofónico que tende a desaparecer tal como as cassetes vídeo VHS) para fazer um projecto musical misto com mail-art. Então é assim, se enviarem uma k7 para o Hugo, ele grava por cima dela composições electrónicas / Improv suas, faz uma capa nova (uma “foto desértica” - daí a piada Lisboa/ Tucson) e ainda troca as k7’s com outros tipos que também enviaram. Por isso quando recebi o meu exemplar dava para ouvir no fim os The Cult (arght!) que pertencia a um André que desconheço. Gira a ideia! Quanto à música do Hugo, ela anda nos territórios experimentais da Electrónica ambiental. [this_boy@netcabo.pt] 3,3

US FORRETAS OCULTOS The Worst of The Best CD 2004 · Lowfly
Estes U.F.O's não são a banda xunga alemã de Hard'n'Heavy mas sim uma banda xunga 'tuga... Em meados dos anos 90, a produção de bandas de garagem, com poucas mas honrosas excepções, dividia-se entre a banda de Metal na linha Pantera/Sepultura ou então no Indie com os Sonic Youth e os Dinosaur Jr. como linhas de orientações. Us Forretas Ocultos estão na segunda categoria, com uma pose descontraída e pretenciosamente "fun", deixaram como legado meia dúzia de temas em demo-tapes, em edições em vinil e em colectâneas na Beekeeper e LowFly, editoras cada uma à sua maneira foram as mães deste tipo de banda. Passados 5 anos desde o fim da banda (ou pelo menos do seu último registo) a LowFly lembrou-se de criar a sua colecção "Arquivos LowFly" com o objectivo louvável de reeditar pérolas do underground musical português (como a MMMNNNRRRG em relação à bd...) só é pena é que não consigo ver isto como uma pérola... só vejo porcos... algo cheira mal na banda e no som, será o problema eterno que cada vez há alguém "arteist" da Caldas da Rainha e com um elemento da banda com o apelido de Feliciano (sim essa família de artistas do "fake") num projecto musical a coisa cheira sempre mal? Tudo bem que estes UFO não tem uma postura tão "kiducha" como as outras bandas do género/geração mas é por pouco. Tudo bem que o som que praticam tem algumas outras influências para além dos papás Sonic Youth (há um bocadinho de Ska, Surf...) mas nunca chega a ser um dado adquirido, parece como sempre uma coisa à portuguesa: a meio gás e com medo (claro) de assumirem seja o que for. A desculpa será eles eram os engraçadinhos da cena, os gajos brincalhões, os gajos que se estão a cagar... sorry... but no cigar... Se houve boas bandas nessa altura e da linha "sónica" elas chamavam-se Damage Fan Club e Pinhead Society, tudo o resto foram meninos muito muito mas mesmo muito tristes, alguns porque eram deprimiditos e outros porque faziam figuras tristes tentando ser fixes... Se adquirir este disco vale a pena por a Hi-Fi em altos berros porque ainda assim é de Rock Lo-Fi de que se trata. 2,6

all gone from V to X

V/A
Looking for stars
Your imagination
CD 2002 · Bor Land
Dois discos antológicos de nova música portuguesa: O 1º reúne 5 bandas representadas com 3 músicas cada. São elas: Old Jerusalem, Alla Polacca, Polaroid, Boiar e Abstrakt Circkle, todas elas ligadas ao Pop/Rock inteligente. As três primeiras bandas estão próximas das vertentes Folk/Alt.Country e Indie-Pop, já as duas últimas são mais difíceis de rotular pois divagam em atmosferas Jazz misturadas com Pop/Rock dos gloriosos tempos da MMP em que não havia vergonha em misturar qualquer tipo de sons para o melhor e para o pior: Pop dell Arte, Mler Ife Dada, Ocaso Épico, Lucretia Divina, Repórter Estrábico... Acho as primeiras bandas menos interessantes mas são as mais bem produzidas e confiantes mesmo quando copiam modelos óbvios. Um exemplo paradoxal, o tema "Geonav" dos Alla Polacca parece mesmo um inédito dos Radiohead (entre o "The bends" e o "OK Computer"), uma réplica tão perfeita que (até) soa bem - eu sei, é uma heresia... As últimas duas não parecem nem confiantes nem bem produzidas, o que é mesmo uma pena pois tem um imaginário maior! 2º disco, 12 faixas, 12 bandas: Bildmeister, The Unplayable Sofa Guitar, Old Jerusalém, Bypass, Alla Polacca, Wave Simulator, Boiar, Zoë, Dead Sea Israel, Stealing Orchestra, Polaroid e Moving Coil ou seja mais Folk/Alt.Country e Indie-Pop lamechas tirando os excelentes Stealing Orchestra (com uma faixa homónima da estreia "Stereogamy"). Acima de tudo o que se pode admirar destas bandas são as suas capacidades de composição e desconcertante intimidade exposta aos "receptores". E por falar em intimidade, esta é a linha editorial da Bor Land - basta olhar pelo minimalista design dos seus discos. Já não me lembro bem onde li o slogan da Bor Land mas era algo do tipo "não é por gritares alto que vais conseguir o que queres"... uhm... acho que era isso... uma piada às bandas do Metal!? 3 e 3,5 respectivamente

V/A: Matarroêses CD 2003 · Matarroa / SóHipHop
Colectânea do clã Matarroa, isto é, a Matarroa é um colectivo e uma editora de Hip-Hop com base em Matosinhos cujo o trabalho editorial tem sido exemplar. Sendo mais um lançamento (o terceiro) da Matarroa só vem confirmar o que a Matarroa pretende:
«Música alternativa porque não é para a maioria Música agressiva porque não tem fantasia» [in "Música Alternativa" por VRZ]
É certo que falamos aqui de Hip-Hop mas é um Hip-Hop bem produzido, bem trabalhado, consciente e inteligente, neste caso especifico este disco é um excelente catálogo das várias tendências do Hip-Hop suficientemente eclético para não enjoar: luta desgarrada de palavras entre MC's ("Yoko vs IP" por Yoko-Zoona & Inspector Mórbido), frases em velocidade desfreada ("Expansão suspeita" por Nokas), fusões com Reggae'n'Ragga (duas faixas por Bezegol) e Allah Drum'n'Bass (com o Fuse), letras com ligeira pronúncia africana e/ou divertidas ("A conspiração dos moskitos inofensivos" por Ikonoklasta), um instrumental "cool" (por Buster Bitz)... tudo razões para sentirmos que estamos a descobrir uma nova cidade musical, um El Dorado... em português! 3,8

V/A: Portuguese Nightmare, a tribute to the Misfits CD 2005 · Raging PlanetNão contem comigo para falar de discos que servem para fazer guita à pala de nomes famosos por parte de bandas obscuras. E é o caso deste disco? Por um lado acho que o sistema “associação a nome famoso para promover os que não são” é o que se passa por aqui mas por outro há aqui um estranho magnetismo, tão estranho como era o dos Misfits – uma banda medíocre mas com um carisma tão forte que se tornaram incontornáveis. E é o que se passa aqui, as bandas portuguesas são o que são (médias ou boas mas nunca brilhantes) mas conseguiram apanhar o brilho maléfico dos Misfits cada uma ao seu género: Core diversificado (Easyway, Simbiose, Day of the Dead), Metal pesadão (Decayed, Grog), Rock variado (The Temple, Capitão Fantasma, No-Counts D.O.M.), Nu-Goth (Cinemuerte, [f.e.v.e.r.]),... colocando a compilação numa confortável situação de que é possível unir (quase) todas tribos num bom disco. Destaco Mata-Ratos e Dead Combo (apesar de não gostar das bandas) por terem tido os tomates de fazer as versões em português (“Sementes do ódio”, “Hate Breeders” no original) e em instrumental (“Angelfuck”), respectivamente. Outro destaque para D’Evil Leech Project (uma violência de Extreme Metal!) e TwentyInchBurial – sem dúvida a banda com o binómio groove/peso mais equilibrado na cena Metalcore portuguesa e a confirmar que versões é com eles! Resta saber quem são os psicadélicos Octopus in the Fisherman’s Style – já que não se canta em português ao menos que se brinque com a língua inglesa... 4,2

v/a Summer One DVD 2005 · Metro Discos
Os tipos da editora Metro não nos enviaram o último CD dos excelentes Bizarra Locomotiva (quando até havia uma entrevista a esta banda no último número), mas enviaram um DVD de Surf! Que fixe! Que bom ver uma hora de homo-erotismo desportivo: betinhos em tronco nu, ondas a rebentar como uma ejaculação gigante do Rei Mar, rapazes bronzeadinhos a fazerem gestos obscenos com os dedões das mãos porque falharam uma ondita. O que aconteceu àqueles vídeos de Surf em que as melhores partes eram aqueles cortes de poucos segundos com gajas boas e enjoadinhas e de rabos bem queimadinhos? E de maminhas redondinhas? Ah! Este é o primeiro DVD de surf português com banda sonora só de bandinhas portuguesas, cujas músicas nem sempre se ajustam às imagens - nada de escandaloso, maus são os separadores digitais. Temos Rock electrónico, pós-Grunge, Nu-Metal, Funk, Dub num ecletismo saudável e atletismo participativo dos Braindead, Blasted Mechanism, Mofo, Tendrills, Anger, Rollana Beat, More República Masónica, Cool Hipnoise, e (oh, não!) Blind Zero (a banda mais azeiteira de sempre?). Pergunta-se porque não estão os Dr. Frankenstein – a banda surf!? Bem, pelo menos não estão aquelas bandinhas de Hardcore melódico, ufa! 2,7

V/A: Superfuzz - o.s.t. CD 2005 · Lowfly
A LowFly lançou mais uma colectânea, desta vez uma selecção de 26 temas de Retro-Garage-Rock’n’Roll-Punk-Blues-Surf escolhida pelo “Paiva” em pessoa! Conceito inédito, pelo menos em Portugal, uma vez que o “Paiva” é uma personagem de BD publicada no Blitz, da autoria de Esgar Acelerado e Rui Ricardo (actualmente desenhada por João Maio Pinto que colabora aqui no Underworld). Ok! Na verdade quem escolheu Dirtbombs, 5.6.7.8’s (sim, as japonesas do filme Kill Bill!), Monkeywrench, Knockout Pills, Act-Ups, Dr. Frankenstein, Insomniacs, Legendary Tiger Man entre outros foram o autor Esgar Acelerado e o editor da Mondo Bizarre, Hugo Moutinho. Curiosamente o disco cheira a “disco de oferta” desta revista (não digo isto como má língua!) pois 90% das bandas costumam flutuar por lá. A excepção a isso e a quase tudo no mundo (este sim um evento inédito!) são a estreia de Garina Sem Vagina, uma banda que existia... na BD. Cheira-me a piada dos autores! Já agora, “elas” soam a Surf Rock. Por fim, e mais uma razão para comprar o disco, a editora oferece uma impressão offset limitada de 1000 exemplares, numerada e assinada por Rui Ricardo. 3,7

VIVE LA FETE Grand Prix CD 2005 · Surprise / NTM
São 4 e meia da manhã, a festa cá em casa já acabou… Olha, chegaram os meus primos emigrantes… vêm da Bélgica e estão cheios de pica. (eu queria era pelo menos tirar as garrafas do quarto)
Os cabrões puseram uma cena qualquer na aparelhagem e estão a dançar aquela porra…
- “O que estamos a ouvir? (tosse de excesso de nicotina) Alguém tem um cigarro?”
– “É uma banda d'um gajo dos dEUS”, responde-me a Antoine Vanessa.
– “Ah!” (amanhã tenho tirar os vidros partidos por detrás do frigorifico) ... Foda-se! Quando é que eles se vão embora? E levam esta treta Electro-pop? Não tem a ironia fun & lo-fi dos Stereo Total (que os meus primos emigrados na Alemanha deram-me a conhecer), não tem a escatologia ou o carisma da Peaches, nem a estética lesbian-chic da Miss Kittin, nem… nada. (porra, quem é que vomitou no bidé!?)
E esta voz da gaja da capa (que a estas horas da manhã parece boa comó-milho!) viola as figuras da Brigitte Bardot e da Jane Birkin,… os anos 80 nos países francófonos devem ter sido um pesadelo como está a ser agora! Não admira que queiram meter fogo naquela merda... (Claro, alguém tinha de apagar os cigarros nos copos e nas canecas)
– “MALTA, C'EST FINI! A FESTA ACABOU!!!”
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WHITE STRIPES Get Behind Me Satan CD 2005 · Third Man / XL / Pop Stock
O que posso escrever mais do que aquilo que já foi escrito sobre o último álbum dos White Stripes? Todos já sabem que não é um álbum típico de quem conquistou o planeta inteiro e a discoteca da província com o tema "Seven Nation Army". O que estamos presentes é o princípio que o duo sempre defendeu e pelo facto de serem umas estrelas mundiais não os tirou do caminho, ou seja, de provar que se pode fazer boa música sem mega-produções. O duo conhecido por só usar voz/guitarra/bateria ama a sua raiz musical norte-americana saltita pelo Blues e pelo Rock só que desta vez e contra a lógica comercial estão menos Blues e menos Rock pois vão alternando com um piano que soluça Ragtime. Para completar à riqueza musical ainda há triângulo, marimba e sinos. Este disco é como um delicioso Hambúrguer cada vez mais cheio de ketchup e outros molhos. O que não deixa de ser um "Hambúrguer White Stripes" nem de ser delicioso. Os não-irmãos-incestuosos são inteligentes. Se venderam a Alma ao Diabo, negociaram-na muito bem. Devemos afastá-los das prateleiras dos "sons retros" que nos empestaram nos últimos anos e também do "mais do mesmo". 4

WHY? Sanddollars the EP CD-EP 2005 · Anticon / Sabotage
Quando 'tou na fila para pagamento no Mini Preço há sempre uns expositores com coisinhas para levar, como embalagens de fritos-chamados-Doritos-sabor-Tex-Mex. E eu, consumidora como outra pessoa qualquer muitas vezes levo um pacotito. Quero dizer com isto que este EP do Why? tem de algo de Tex-Mex? Sim, mas só se for daquelas embalagens pequenas porque estamos perante um EP só de 20 minutos e 31 segundos que sabem a pouco e obrigam-nos ao "replay" - como os tais Doritos-sabor-Tex-Mex: ficamos viciados logo na primeira trinca daquela merda e não descansamos enquanto não acabarmos a embalagem toda como se fossemos uns animais! Why? sempre foi o artista mais "Pop" da Anticon, editora / colectivo de Hip-Hop alternativo (ver Entulho de Marte in Under #16) e com este EP que antecede o disco "Elephant eyelash" faz a sua grande viragem. Hip-Hop aqui? Aonde? Há restos deste género de música lá no fundo (da embalagem de Tex-Mex?) no uso das técnicas de Hip-Hop: samplagens, uso de beats, forma de cantar mas o que temos mais aqui é Indie-Pop/Rock (da boa!) acompanhada quase sempre de piano. É também um disco que Why? deixa de ser Yoni Wolf para passar a ser Yoni Wolf e mais 3 gajos. No fim do disco, depois de desistir de procurar o "HipHop" vamos encontrar grandes canções inteligentemente fabricadas sobre uma esquecida Miss Ohio, perdedores vários, a vida mundana, o quotidiano melancólico. Empacotado em brilho humano, como poucos ainda o fazem. Será a embalagem grande (o disco "Elephant eyelash") tão boa como esta mini-embalagem? No próximo número do Under alguém dirá... 4,1 assinado como Axima Bruta

WIRE The Scottish Play CD + DVD 2004 · Pink Flag / Ananana
Afinal esta edição é um DVD ou um CD? É difícil de adivinhar, por um lado temos um CD áudio com o concerto de 30.04.04 no festival Triptych (Glasgow) e por outro temos um DVD (muito simples) que também reproduz esse mesmo concerto (com imagem, claro) e ainda excertos de outro dado a 26.04.03 no Barbican (uma espécie de CCB de Londres) com uma excelente instalação de Es Devlin. A propósito disso, a banda está separada em quatro salas no palco, de frente (viradas para o público) são projectadas imagens – as mais impressionantes são as ampliações de partes das caras dos elementos da banda: nariz, olho, boca – enquanto a banda debita o seu high-energy Rock mesmo quando a média dos membros da banda deve ser igual à idade do meu pai. É pena que se fique pela típica imagem de gajos a tocarem, o que no caso dos Wire ainda é pior dada à sua mítica distância com o público. Aparte: nunca percebi lá muito bem porque o pessoal curte ter "ao vivos" de bandas... são sempre uma grande seca com as devidas excepções o que não é este caso. Porque não reproduziram o concerto do Barbican na totalidade? Ou pelos menos metade/metade. Se por um lado é incrível a energia e chinfrim debitado por estes cotas (pós)punkers – um gajo ainda pensa que os Stones são uns malucos – por outro passado um pouco a coisa começa a aborrecer, o melhor é ficar pelo CD áudio. Ainda assim, só na Inglaterra é que podia haver um fenómeno assim, uma banda mítica dos gloriosos anos do Punk que volta com temas originais. Em Portugal a cultura musical só dá para insistir no regresso dos Pixies, bah! 3,9

XEG Conhecimento, 1978-2004 CD 2004 · Matarroa / SoHipHop
Geralmente os press-releases dos discos são sempre uma seca, uma tentativa bacoca de convencer o crítico que o disco é muito bom e/ou de o ajudar a não pensar... bem, ou porque hoje é domingo ou porque o press-release desta nova produção da Matarroa (uma das melhores editoras portuguesas de Hip-Hop) traduz com sinceridade o produto que estão a promover, eis uma reprodução da mesma, sendo que subscrevo/acredito com aquilo o que é escrito. Marte «Xeg é um dos MCs mais populares no meio Underground do Hip-Hop Português. Com um currículo extenso que incluí participações em Álbuns e Mixtapes já considerados clássicos (Sam the Kid, Bomberjack, DJ Cruzfader), e outras mais recentes (Nbc, Kacetado, MatoZoo), não nos devemos de esquecer do seu disco de estreia, “Ritmo e Poesia” editado em 2001, com assinalável sucesso. [ok, esqueçam esta parte porque nunca ouvi nada disto tirando os excelentes MatoZoo] Ao longo da sua carreira Xeg, caracteriza-se por controlar a mesma, da forma como controla a sua vida, simples. Sem papas na língua, fala do que vê e sente, o que lhe tem rendido alguma animosidade e, claro, a falta de reconhecimento típica de quem lidera e não segue, num meio tão pequeno como é o nosso. Sejam os tópicos, sociais (Racismo, Guerra no Iraque e o Governo), passionais, ou direccionados para o interior do movimento Hip Hop, o resultado é sempre o mesmo: honesto, directo e no final, arrasador. [um bocado reaccionário de vez em quando mas percebe-se porque o Hip-Hop em Portugal está a ser a voz das novas gerações já que é a única música urbana politizada com uma actualidade viva] Vivendo e respirando Hip-Hop, da forma mais pura, este B-Boy dos anos 80, faz questão de nunca esquecer as 4 vertentes nos seus discos. E “Conhecimento”, não foge à regra, sendo um disco de batidas harmoniosas e melódicas, maioritariamente produzido pelo próprio, podendo considerar-se este segundo registo, como um filme da sua vida, onde muitas histórias são (deliciosamente) contadas.» 3,4

XEG Remisturas vol.1 CD 2004 · Matarroa / SóHipHop
Sétima edição da Matarroa, uma editora exemplar do Hip-Hop que é lançada agora mais uma edição toda XPTO de Xeg com um cortante bonito como sempre. Sobre o conteúdo da rodela, é de referir que é um álbum que Xeg remistura uma série de músicas de Hip-Hop: dele, de uns clássicos como os Líderes da Nova Mensagem (de 1994) e de "clássicos" recentes como NBC, Kacetado, Sam the kid, Valete, MatoZoo... As remisturas implicam uma nova produção, novas versões e na maior parte dos casos novas rimas. O disco é bastante fluído e porreiro de se ouvir, não chega a entrar muito nas disputas internas do pessoal do Hip-Hop, tem músicas bem funky e com pica - destaco "Crise financeira" e "Combate mortal" que são super-catchy - e só tem uma intro que é foleira - como geralmente são foleiras todas as intros. Foi uma boa forma de acabar o ano de 2004! Parabéns à Matarroa pelo trabalho desenvolvido! 3,9