quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Tão amigos que eles eram...


primeira prancha "original" e segunda prancha acabada da bd para um zine espanhol no âmbito da CCC Freak Tour.
O "portugñol" é uma desculpa divertida para suavizar a violência e o absurdo da situação.
último exemplar do Combate (título do zine!) está à venda aqui

Este disco vale um milhão de libras!!!


KLF : Justified & Ancient (KLF Communications; 1991)

Foi a banda "Pop/Rock" que mais danos fez e ninguém lhes dá importância. Todos ficam contentes em saber nos golpes dos Sex Pistols mas os KLF foram piores Situacionistas que os Punks. Fizeram música mais ou menos xunga, enriqueceram com vendas de singles nos Tops mundiais e enterraram a sua carreira, primeiro contratando os Extreme Noise Terror nos prémios Brit para fazerem uma versão Grind do sucesso 3A.M. Eternal, depois proibindo a edição do seu material e por fim queimando um milhão de libras ganho das vendas (e impostos deduzidos).
Cada vez que encontro um disco deles penso que poderei estar de frente a uma raridade porque como escrevi eles proíbiram a edição de mais discos seus mas... como também escrevi, venderam como nem ginjas na sua curta carreira por isso há a pontapé discos deles.
A música é House, a primeira geração de música de dança a invadir os Tops - juntamente com os Technotronic, Snap e outras trampas comerciais que apesar de tudo tem um patine de inocência e carisma comparando com o asco que se transformou a produção posterior de Música de Dança. Os KLF são da altura que samplar era um problema, e foram os primeiros a fazer mash-ups e a cunhar o Chill Out, isto a favor deles. Depois podemos achar que estamos perante o fim da civilização pois a música tem o seu quê de piroso apesar de ter layers de samplagem marada: ritmos africanos, guitarra country, sons de multidão, "rapadas" manhosas, palavras de ordem herméticas - que se deviam ao fascínio da obra de Robert Anton Wilson (1932-2007) -, efeitos sonoros ingénuos, autofagia referencial (aos Timelords e JAMM's, projectos anteriores) e tudo do pior que se pode imaginar. A mistura não deixa de ser extraordinária e fascinante apesar de tudo. Não creio que os KLF odiassem a sua música fatela que fácilmente chegou aos topos de vendas. Sabiam que para continuarem a serem "terrorartistas" teriam de voltar a ter pouco dinheiro caso contrário ficariam confortáveis e estagnados como os punks... Se assim não fosse não poderiam ter cuspido na Arte Contemporânea como fizeram ao criarem a Foundation K e o seu prémio para a pior Artista do Ano.
Por isso, cada disco deles deve ser recuperado não como uma forma de coleccionismo bacoco nem como forma de especulação económica e-bay. Pela música talvez, se quiserem mas sobretudo para terem em posse uma peça de Arte Contemporânea tal como uma serigrafia do Warhol ou uma lata Merda de Artista.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Apodrecendo no planeta Terra...




A ida ao Hei joe deu nisto: um CD de 56 minutos "dronistas" (desculpem, queria dizer e-drugistas) e psicadélicos (inevitávelmente) cuja a figura de proa é nada mais nada menos o Sonic Boom (Spacemen 3, Spectrum) acompanhado por outros cromos: Kevin Martin (na altura God, mais tarde Techno Animal, hoje The Bug - o artista da década!), Kevin Shields (My Bloody Valentine) e Eddie Prevost (dos seminais A.M.M.).
De alguma forma estamos naquilo que se convencionou chamar o "som do espaço" - mesmo quando sabemos que no Espaço não há som - ou seja, neste caso o modus operandi é o uso de orgãos e feedbacks de guitarras a emularem um futuro cósmico inventado pelos chips torturados da banda sonora do filme Forbidden Planet (1956) num Eterno Retorno fajuto nas suas quatro faixas que variam entre os 7 e os 20 minutos. Mas não damos por elas nem queremos saber se tem uma ordem porque ficamos hipnotizados a ouvir esta porra - com drogitas aposto que deve ser um mimo, deve mesmo dar vontade de morrer numa overdose-eutanásia-simpática com o cerebelo a sair no corpinho e a expandir-se pró grande-irmão-universo-deus-blá-blá. Um bófia marciano isola o local do sinistro e diz para o público curioso: "vão se embora, não há aqui nada para ver!"

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Ai agora é que vai doer!?

Foi com demasiadas (agora sei) expectativas que fui ao lançamento da revista Chicote para chegar à conclusão que vai continuar a não haver nada nas bancas para comprar / ler - por isso, amigos, nunca se esqueçam do vosso livro (ou revista estrangeira) antes de sair de casa para ler na vossa rotina pendular de transportes públicos ou na vossa mais ou menos extraordinária viagem de avião!
Ainda recentemente queixava-me que a Cultura Beta tinha ganho a Capital, pois agora ganharam mais um orgão de informação, como se não bastasse a ausência de espírito crítico do "retro-chic" da Umbigo e das novas tendências da Dif e da Parq. É verdade que alguns textos do Chicote são de longe melhores que as futilidades "peter pan" das outras publicações referidas mas em algumas situações usa as mesmas convencionais "armas de desilução maciça" (tipas semi-nuas como desculpa para as ejaculações comerciais precoces) ou as mesmas incompetências comunicacionais de todas as publicações portuguesas. Graficamente é uma pálida imitação da Exit (revista inglesa) com os erros à portuguesa: páginas com camadas uniformes de texto, as ilustrações são inexistentes para não dizer más - só existem duas, uma do Pedro Zamith (nada de anormal no seu trabalho) e outra de uma tipa qualquer sem jeitinho nenhum coitadinha, ainda podemos dizer que há ilustração na revista?
Parece uma revista para betos que se querem deprimir. Os textos são na essência pré e pró apocalípticos, ou melhor, são realistas: são tratadas questões da crise económica, tecnológica e energética em paradoxo ao "glam" de uma revista "glossy". Poderão sugerir que estamos perante uma "maçã envenenada", uma revista "iluminada" disfarçada de cultura mainstream. Um beto estúpido pega na coisa pelas mamas das tipas amarradas e apanha com um artigo a dizer de que estamos bem fodidos para sempre. Podia ser giro se conseguisse pensar que existe essa estratégia mas não me parece... Se houver, terá de ser mais refinada e sofisticada, e estar a dois passos à frente de tudo!
Se o director da revista, António Cerveira Pinto, em tempos foi considerado como o crítico/ comissário enfant terrible, agora talvez seja apenas um velho terrível porque fez um péssimo trabalho e nada aprendeu sobre ética jornalística. É natural que todo o grupo organizado - esta revista está incluída numa pretensa comunidade artística, a Smart Gallery, do qual é mentor - crie os seus orgãos de publicidade e/ou propaganda. O ridículo é quando se crítica os outros (a sociedade e as suas conspirações - artigo sobre a seita Meditação Transcendental) e se faz o mesmo erro. Neste número Zamith é ilustrador do editorial e é difundido uma exposição sua na Smart Gallery em destaque na agenda cultural; o mesmo se passa com o grupo de designers da revista que tem direito a um longo artigo a elogiá-los - bem precisam pela mediocridade do seu trabalho demonstrada na própria publicação, diga-se... Não há problema que façam estas manobras de auto-promoção mas que o assumam de início de forma explícita e não dessimulada ou envergonhada tão típica da maneira dos portugueses. Ou então que o façam de forma imaginativa...
A Chicote diz-se que trata de «arquitectura, artes visuais, cinema, design, escrita, fotografia, ilustração, moda, meios interactivos, rádio, música, performance, teatro, vídeo, ecologia e indústrias criativas» mas quase nada disto existe nas suas páginas, e em alguns casos é de um conservadorismo atroz como a secção de música, que é de vomitar a medula. Mais, escreve-se algures nos sites da Missão da revista: «Promove o cosmopolitismo cultural, estimula a criatividade, defende as indústrias criativas, promove a internacionalização dos autores e marcas culturais, dissemina as boas práticas criativas, contribui para a formação de públicos urbanos exigentes.», uma piada mal contada nunca está só... cada item desta lista daria para fazer um "post" mas não há tempo para isso, tenho em mãos vários números da Mollusk que dará para 20 viagens de Metro versus a duas do Chicote, realmente, tenho mais que fazer...

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Lost & Found music Department


bd a meias - quer dizer, o Andreas Michalke fez muito mais que metade, ou melhor, eu fiz muito menos que metade - sobre discos... Discos que Andreas comprou na sua estadia em Portugal com a redacção do jornal alemão Jungle World - onde foi publicada a bd - e discos que arranjei durante a CCC Freak Tour.
+ infos aqui.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Suomi Singles (2)

Ainda há pouco tempo falava que a Onião Faz a força já os finlandeses sabiam disso há bués!!! Seis editoras que editavam estes singles distribuiam entre eles as suas edições na melhor marketing colaborativo possível.
Kuusi Plentä Kustantajaa (essa "joint-venture") é representado num logotipo com seis figuras humanas, e cada vez que aparece na capa de um disco é colocado um número no centro da figura para identicar qual é a editora naquele grupo. Pelos vistos a Verdura era o número 5 e era mais dada ao psicadelismo pelo que percebi pelo catálogo e ouvindo o Tirez sur le musicien (2001) de Hinageshi Bondage, um noiser finlandês que desenvolve neste single um drone e um ambiente opressor pós-industrial, dividido em duas partes (os dois lados do disco).


EP's de vinis de 7" com montes de faixas não é coisa impossível sobretudo se forem com bandas Grindcore mas não é o que acontece com Shit Hits Volyme One (E Records; 1996) em que encontramos 7 bandas mas só uma ou duas é do Grind: Autumnfire, Irstas, Fuckathon, Obfuscation (primeira banda de um dos gajos dos Circle), Plan E, Belial e Anonymus. De resto, há Grunge, Crust e música psicadélica semi-experimental movida a sintetizadores como os finlandeses gostam. Em poucos minutos entramos em vários mundos mal-gravados - muitas das faixas eram de demo-tapes, e naqueles dias não havia os genocídios de erros via pro-tools e PC's. Soa a quente mesmo vinda das fiordes.

(pois, a capa não é esta mas como isto já é velhinho não há muitos registos na 'net para sacar; e o disco tem mesmo "volyme" escrito e não "volume"...)

Resta dizer que o tal "marketing participativo" funcionava tanto que passado quase 15 anos, arranjei estes belos discos, que ainda poderão ser pedidos - posso servir de intermediário sem problemas!

domingo, 10 de outubro de 2010

Suomi Singles (1)

O Tommi Musturi esteve em Madrid o ano passado e... vergonha! Deu-me vários singles que lançou antes da sua editora Boing Being se dedicar exclusivamente à bd. Andei a chatear-lhe durante meses e só passado um ano e um mês é que faço aqui um apanhado do material - esta é a vergonha!!! É rídiculo mas o que posso fazer!? Singles e EP's são irritantes de ouvir porque um gajo tem de se levantar de 4 em 4 minutos - com sorte! - para mudar de lado.


Enquanto por cá andava-se em Indíos deprimidos com as Beekeepers e afins, na Finlândia com menos sol tinham mais energia fazendo uma misturada de Garage, Punk, Grunge, Hardcore e Pop/Rock, em temas curtos que tanto devem à tradição do Hardcore finlandês criado pelos Terveet Kädet.
Os Mouth Odour na sua estreia homónima e da editora (1995) mostram essa mistura sem problemas num belo vinil verde repugnante - e já agora etiqueta cor-de-rosa choque, o que demostra que o (ab)uso de cores fortes tem sido uma constante no trabalho gráfico do Tommi. Refrigerator (1997) é uma continuação de trabalho: punk que se disfarça em Pop para montar Hardcore melódico enquanto se quebra em Prog de segundos - quase a lembrar os Atheist. Algures na capa do disco aparecem uma fórmulas matemáticas que nos deixam na dúvida o que temos aqui é Punk Politécnico!? Deixam-nos a boca aberta e a cheirar mal dela. Bom! Já os Blubberheads com Traumance (1996) é mais Hardcore e é também mais linear que os Mouth Odour, resta-lhes energia de sobra para sentir-se algum respeito.


Estas bandas repetem-se no EP Boogaboo-Baboon-Bang! (1996) que ainda junta os Luxury Spit e os Fridge. Os últimos são meio freaks e indies, Pop da amargura que lembra Portugal que se criticou no 2º parágrafo, esquece! Cada banda tem direito a dois temas, o segundo dos Luxury Spit é o que sobresai com o seu Riff viciante. A capa é do Musturi que também fazia o design de todas estas edições. É um Musturi jovem, com 20 anos, muito influenciado pelos efeitos psicadélicos underground mas com a minúcia que há de ser reconhecido no futuro.

In-Walked Blank e Songs that time forgot (1997) não temos canções mas sim instrumentais de Rock musculado - tipo Lobster, por exemplo. Dentro do espectro mais artsy ainda temos o split Warser Gate / Can Can Heads (1999), os primeiros são Noise Rock - não muito primata - e os segundos Post-Rock - não muito calmos. Nada a declarar...

Chegamos à secção "Trash Rock'n'rolla" com os The Brats e o seu Night of the Gorilla (1998). A voz faz lembrar a do Glenn Danzig, talvez daí a capa de "comic-book" série B de uma bd inglesa de 1967, ano que provavelmente a banda preferia estar como outras mil bandas "garageiras" que pupulam pelo planeta. Estavam em 1998 e não eram os únicos a entrar no revivalismo. Agora estamos em 2010, continua haver demasiada banda assim e não há volta a dar. Pode ser que quando inventarem uma máquina do tempo possamos despejar toda essa gente na década de 60. Seria maravilhoso...

Kapteeni Perkele - que quer dizer Capitão Diabo, creio... - com o EP Oihreita (1998) cantam em finlandês com o power do power-trio (se me permitirem a redudância). Guitarras e ritmo punkrolheiro a partir e talvez por isso que estamos a ouvir basco ou japonês - até parece uma banda "punk biesta" espanhola... Talvez a prova material que os artistas finlandeses fizeram um pacto com o Diabo e tudo o que fazem se não for criativo pelo menos é poderoso. Aqui não há xoninhas!