quarta-feira, 31 de dezembro de 2014
2014ever
1. John Ralston Saul : Voltaire's Bastards: The Dictatorship of Reason in the West (Free Press; 1992)
2. The Soft Pink Truth : Why Do the Heathen Rage? : Electronic Profanations of Black Metal Classics (Thrill Jockey)
3. Anton Kannemeyer : Papá em África (MMMNNNRRRG)
4. Olivier Schrauwen : O Espelho de Mogli (MMMNNNRRRG)
5. Joshua Oppenheimer : The Act of Killing (Final Cut; 2012)
6. John Holmstrom : The Best of Punk Magazine (Harper Collins; 2012)
7. Zona de Desconforto (Chili Com Carne)
8. Judith Forest : 1h25 + Momon (5éme Couche; 2009-10)
9. Dash Shaw : Doctors (Fantagraphics)
10. Michel Houellebecq : As Particulas Elementares (Temas & Debates; 1999)
11. Pina Chang : Visiter tous les pays (NA)
12. Pascal Matthey : 978 (5éme Couche; 2013)
13. Front 242
14. Cristophe Meierhans : Some use for your broken clay pots (7 Março; Teatro Maria Matos)
domingo, 28 de dezembro de 2014
sexta-feira, 31 de outubro de 2014
20 anos, 10 horas
Consolidated : Business of Punishment (London; 1994)
Os Consolidated ao vivo no final dos espectáculos ao vivo faziam um "open mic" para o público intervir. Ouve-se no final do CD, uma faixa com uma compilação dessas intervenções que até são meio arrepiantes. Um gajo reclama quando é que a banda pára com "politics" nas suas músicas, que ainda por cima pregam para os convertidos... Responde uma gaja: "politics" acabam quando uma mulher deixar de apanhar com 24 horas de "bullshit"... 20 anos depois ouvir esta banda Funk Industrial com mensagens de esquerda ainda faz sentido tudo o que se passa na rodela. Façam isso, oiçam...
É fácil ser homem e dizer merdas a diminuir o sexismo (ainda) vigente. Só curtia que cada homem que diz que sexismo não existe, transforma-se numa preta lésbica, assim durante uma semanita ou duas... E depois falávamos!
sexta-feira, 24 de outubro de 2014
Dico : "Breve História do Metal Português" (A Causa das Regras; 2013)
Rosebud... Quando se chega à "Casa dos Quarenta" a malta começa a escrever as suas memórias para preservar algo que lhe é ou foi querido. Será um fenómeno do mundo Pop da actual sociedade hiper-informatizada ou apenas uma Midlife Crisis? Não sei responder a isto até porque também já me meti nestas andanças mas numa destas opções vamos encontrar o âmbito deste livro.
Infelizmente Dico (quem assina assim!?) falha redondamente no que pretendia fazer, o que é uma pena porque se há algo que teve piada no meio português das músicas urbanas foi justamente o Heavy Metal - até mais que o Punk. Só que Dico cospe no prato onde comeu, fazendo moral sobre a "violência e destruição" que acontecia em Cascais durante os concertos no Pavilhão Dramático - era essa destruição que animava aquela vila de betos, dick! Ou condenando o parrícidio cometido por Tojó dos Agonizing Terror em 1999 que deveria ser algo que se devia celebrar como uma tentativa do fim desta nossa sociedade portuguesa paternal e mimada - embora se saiba que o Tojó era um tótó mas no plano simbólico é um marco importante na transição da ruralidade para uma nova urbanidade em Portugal. Como Tiago Guillul bem que me dizia que os metaleiros não tem percepção do seu próprio legado...
Saltando do Panque do Senhor para o Sr. Rob Zombie, este dizia que não havia público de mente mais aberta que o do Metal, uma música até pode ser Drum'n'Bass mas se tiver um Riff de guitarra está tudo bem! O livro de Dico mostra que isso não é verdade, pelo menos com os metaleiros portugueses, que tal como outras tribos urbanas de cá são realmente a personificação do horrível termo tecnocrata "nichos de mercado", fechados num auto-consumo, ignorando o que não está fora do seu círculo social e cultural. Por isso, surpresa do caralho! O Dico não devia saber do passado da música portuguesa e ao descobrir ficou tão fascinado que mais de metade do livro é dedicado a bandas Rock dos anos 60 e 70 psicadélicas, progressivas ou de Hard Rock / proto-Heavy Metal - ou seja, temas que já tem sido abordados noutros documentos escritos ou áudio-visuais mas que aqui são repetidos apenas porque Dico nunca pensou fora da caixa dos Cenobitas do Hellraiser. Ficou pasmado porque José Cid contribuíu para o "Metal" português nos seus tempos de Prog Rock. Mais vale tarde do que nunca? Sim tudo bem, só que não sobrou espaço para o que interessa, o período rico em histórias dos anos 80 para a frente, que ainda não foram contadas.
Seja como for Dico também não parece ter capacidade para as contar porque todo o livro é um enumerar de "factóides" como acontece neste tipo de livro feitos por fãs e que pecam ainda mais por se armarem em académicos, cheio de notas chatas que explicam, por exemplo, o significado de "Cortina de Ferro" - pois é, podia ser um programa de uma rádio pirata nos anos 80, né? Ou o que é uma Demo-Tape, fixe, mas não explica qual foi a importância dos Braindead, Thormenthor, Moonspell ou Shrine. Nem se percebe o que significava ser metaleiro nesses tempos em que andar com cabelos longos equivalia a ser gozado ou a levar porrada na rua pelos Skins. Os metaleiros pareciam uns anjinhos e as metaleiras eram autenticas pitas-princesas de ter fantasias eróticas de corar a Guerra dos Tronos. Sim nos anos 80 até meados dos anos 90, os metaleiros eram uma tribo a suar de juventude e elegância, antes de eles passarem a ser programadores informáticos gordos e elas em casa prenhas com folhos do Goth-Metal. Significava que quem pertencia a este mundo do Som Eterno (ao que parece alguns metaleiros chamam isto ao Heavy) fazia um real esforço militante que incluia editar fanzines, lançar demos e outros registos fonográficos, fazer programas de rádio (ainda hoje há sempre um programita depois da meia-noite numa rádio da província ou isso já acabou?), organizar "tape-trading" (trocar k7s e vídeos por listas de correio) e distros. Este fascinante mundo parece já surreal ter existido agora que estamos na web.2., sendo que o livro não mostra quase nenhuma documentação relevante nesse sentido. Também ficou de parte a influência real de fenómenos como o Grindcore, Black Metal ou outros sub-géneros na cena metaleira portuguesa.
Mais citações (sim porque o livro é preguiçoso e metade dele é escrito dessa forma): Nem os Guns nem os Stones deram cabo de mim / foi tal o xinfrim / malditos headphones (Repórter Estrábico). A competição de quem têm o maior pénis é outro sintoma dos coleccionadores / fãs / melómanos que escrevem estes livros e quase sempre chega ao ponto da incongruência, não faltando pelo menos uma fotografia em que o autor aparece algures (aqui é o Dico em pose com a sua banda Dinosaur), bilhetes de concertos míticos, peças de orgulho como um poster autografado de Quorthon (dos Bathory) semi-nu à Conan o Bárbaro de cueca de couro e espada na mão, etc... Tudo bem, há sempre curiosidades gráficas interessantes ou então motivos para nos rirmos. Já o cartaz do (primeiro?) Festival Super Bock / Super Rock que não tem assim tanta banda de Metal que justifique a sua reprodução, não só porque é um evento popular cuja memória ainda não é tão curta, e pior ainda, além que parece que o livro foi patrocionado pela marca de cervejas porque é publicado na última página do livro. Seja como for, é apenas um detalhe porque graficamente o livro é o desastre típico de livros de amadores, vanity press ou não, parece que foi feito em 1986 - tal como os livros de Aristides Duarte, os dois volumes intitulados Memórias do Rock (2006-10), ler resenha crítica no Underworld #20.
Este foi o primeiro esforço para a História do Metal português, alguém o tinha de fazer e Dico teve os "Colhões de Ferro" para tal, parabéns seja como for mas espera-se que um dia apareça "A História Completa".
Infelizmente Dico (quem assina assim!?) falha redondamente no que pretendia fazer, o que é uma pena porque se há algo que teve piada no meio português das músicas urbanas foi justamente o Heavy Metal - até mais que o Punk. Só que Dico cospe no prato onde comeu, fazendo moral sobre a "violência e destruição" que acontecia em Cascais durante os concertos no Pavilhão Dramático - era essa destruição que animava aquela vila de betos, dick! Ou condenando o parrícidio cometido por Tojó dos Agonizing Terror em 1999 que deveria ser algo que se devia celebrar como uma tentativa do fim desta nossa sociedade portuguesa paternal e mimada - embora se saiba que o Tojó era um tótó mas no plano simbólico é um marco importante na transição da ruralidade para uma nova urbanidade em Portugal. Como Tiago Guillul bem que me dizia que os metaleiros não tem percepção do seu próprio legado...
Saltando do Panque do Senhor para o Sr. Rob Zombie, este dizia que não havia público de mente mais aberta que o do Metal, uma música até pode ser Drum'n'Bass mas se tiver um Riff de guitarra está tudo bem! O livro de Dico mostra que isso não é verdade, pelo menos com os metaleiros portugueses, que tal como outras tribos urbanas de cá são realmente a personificação do horrível termo tecnocrata "nichos de mercado", fechados num auto-consumo, ignorando o que não está fora do seu círculo social e cultural. Por isso, surpresa do caralho! O Dico não devia saber do passado da música portuguesa e ao descobrir ficou tão fascinado que mais de metade do livro é dedicado a bandas Rock dos anos 60 e 70 psicadélicas, progressivas ou de Hard Rock / proto-Heavy Metal - ou seja, temas que já tem sido abordados noutros documentos escritos ou áudio-visuais mas que aqui são repetidos apenas porque Dico nunca pensou fora da caixa dos Cenobitas do Hellraiser. Ficou pasmado porque José Cid contribuíu para o "Metal" português nos seus tempos de Prog Rock. Mais vale tarde do que nunca? Sim tudo bem, só que não sobrou espaço para o que interessa, o período rico em histórias dos anos 80 para a frente, que ainda não foram contadas.
Seja como for Dico também não parece ter capacidade para as contar porque todo o livro é um enumerar de "factóides" como acontece neste tipo de livro feitos por fãs e que pecam ainda mais por se armarem em académicos, cheio de notas chatas que explicam, por exemplo, o significado de "Cortina de Ferro" - pois é, podia ser um programa de uma rádio pirata nos anos 80, né? Ou o que é uma Demo-Tape, fixe, mas não explica qual foi a importância dos Braindead, Thormenthor, Moonspell ou Shrine. Nem se percebe o que significava ser metaleiro nesses tempos em que andar com cabelos longos equivalia a ser gozado ou a levar porrada na rua pelos Skins. Os metaleiros pareciam uns anjinhos e as metaleiras eram autenticas pitas-princesas de ter fantasias eróticas de corar a Guerra dos Tronos. Sim nos anos 80 até meados dos anos 90, os metaleiros eram uma tribo a suar de juventude e elegância, antes de eles passarem a ser programadores informáticos gordos e elas em casa prenhas com folhos do Goth-Metal. Significava que quem pertencia a este mundo do Som Eterno (ao que parece alguns metaleiros chamam isto ao Heavy) fazia um real esforço militante que incluia editar fanzines, lançar demos e outros registos fonográficos, fazer programas de rádio (ainda hoje há sempre um programita depois da meia-noite numa rádio da província ou isso já acabou?), organizar "tape-trading" (trocar k7s e vídeos por listas de correio) e distros. Este fascinante mundo parece já surreal ter existido agora que estamos na web.2., sendo que o livro não mostra quase nenhuma documentação relevante nesse sentido. Também ficou de parte a influência real de fenómenos como o Grindcore, Black Metal ou outros sub-géneros na cena metaleira portuguesa.
Mais citações (sim porque o livro é preguiçoso e metade dele é escrito dessa forma): Nem os Guns nem os Stones deram cabo de mim / foi tal o xinfrim / malditos headphones (Repórter Estrábico). A competição de quem têm o maior pénis é outro sintoma dos coleccionadores / fãs / melómanos que escrevem estes livros e quase sempre chega ao ponto da incongruência, não faltando pelo menos uma fotografia em que o autor aparece algures (aqui é o Dico em pose com a sua banda Dinosaur), bilhetes de concertos míticos, peças de orgulho como um poster autografado de Quorthon (dos Bathory) semi-nu à Conan o Bárbaro de cueca de couro e espada na mão, etc... Tudo bem, há sempre curiosidades gráficas interessantes ou então motivos para nos rirmos. Já o cartaz do (primeiro?) Festival Super Bock / Super Rock que não tem assim tanta banda de Metal que justifique a sua reprodução, não só porque é um evento popular cuja memória ainda não é tão curta, e pior ainda, além que parece que o livro foi patrocionado pela marca de cervejas porque é publicado na última página do livro. Seja como for, é apenas um detalhe porque graficamente o livro é o desastre típico de livros de amadores, vanity press ou não, parece que foi feito em 1986 - tal como os livros de Aristides Duarte, os dois volumes intitulados Memórias do Rock (2006-10), ler resenha crítica no Underworld #20.
Este foi o primeiro esforço para a História do Metal português, alguém o tinha de fazer e Dico teve os "Colhões de Ferro" para tal, parabéns seja como for mas espera-se que um dia apareça "A História Completa".
quinta-feira, 23 de outubro de 2014
Azeite do Médio-Oriente
Dois CDs de música dos desertos... balelas! São mais urbanos do que sei-lá-o quê...
O primeiro é um CD-R que comprei na Feira Medieval em Lamego (não me perguntem o que estava lá a fazer, ok?) e que o bacano da tenda queria 7 euros por ele quando se topava que a caixa era aquela de CD-single, a capa era uma impressão manhosa, impossível de saber o nome dos artistas e claro que via-se que era um CD-R com uma estampa manhosa para parecer oficial. O que percebi mais tarde é que mazika.com é um portal livre de música árabe - seja lá o que isso quer dizer... Saiu a sorte grande apesar de tudo! Ah, e a negociação ficou pelos quatro euros que justificam as 18 faixas de Pop de arabescos, algumas com House tão falsificado como a rodela auditiva,... uma festa mesmo!!! Provavelmente deve ser tudo do Líbano mas não tenho a certeza. Mais certo é que isto deve ser o Pimba árabe mas soa bem e não sei o que eles cantam. Mas só assim é que se consegue curtir Pop, não? Nos anos 80 não percebia o inglês que os artistas Pop cantavam e era bem mais feliz do que mais tarde quando entendi as pobrezas líricas que cantarolavam. Mais estranho é ver os vídeos no youtube, tal como os clips Bollywood nos restaurantes indianos, em que pouco a pouco o corpo feminino também é explorado como no Ocidente, os gajos parecem uns broncos como qualquer norte-americano, as bundas saltitam, etc...O mundo inteiro transforma-se numa MTV gigante!
O segundo CD é um digipack (uau!) de música turca fazendo versões de monstros do Pop/Rock Ocidental: Sting, R.E.M., Madonna, Michael Jackson, Black Eyed Peas e ainda clássicos como It's Raining Men e Can't Take My Eyes Off You... Ouvir na rua o Smoke in the Water (dos Deep Purple claro) nesta versão é qualquer coisa! Foi o que me aconteceu em Badajoz em Setembro, na Noite Branca / Noite dos Fanzines. Fui a correr ao DJ de serviço perguntar o que era, resposta: Dolapdere Big Gang... Comprando o disco no discogs esperava uma bomba mas infelizmente a banda não tem génio a fazer as versões pois respeita ad nauseam as vocalizações dos temas originais, com a desvantagem que elas não tem a graça de Stipe ou Jackson, se quisermos ficar só pelos Michaels. São quase uma hora de "Ídolos" com uma orquestra de ritmos e texturas turcas que dão uma cor exótica a temas insuportáveis Pop - os bons momentos são quando os temas são bons de origem como o referido Deep Purple ou os Depeche Mode ou o Billie Jean. Ao menos que cantassem em turco estas músicas tal como Rachid Taha fez com os Clash! Sempre teria mais vida! Local Strangers (Yakartop; 2006) chega a ser tão plástico como a capa sugere com a sua bailarina desenhada a estilo Manga. Tal como foram feitos muitos edíficios à pressa no Algarve também esta Aldeia Global prefere o betão invés de materiais tradicionais.
PS
Pimba mesmo deve ser isto e que é ainda melhor que o Pop sofisticado dos CDs. Azeite do bom!
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MdC Tv,
O meu coração é árabe
segunda-feira, 20 de outubro de 2014
Dead Pombo : uma banda de merecido tributo aos Dead Combo!
Como eles dizem algures: Finalmente lançamos um projecto que nos ficou engasgado desde 2005 quando participamos na compilação Portuguese Nightmare, um tributo aos Misfits, e ouvimos a excelente versão de Dead Combo para o não menos excelente tema Angelfuck. Achamos na altura que esta dupla ‘tuga é que merecia ser homenageada e depois de muitos atrasos devido aos compromissos com os nossos outros projectos mais comerciais, finalmente Dead Pombo levanta voo!
Eis o primeiro tema, uma rapsódia que reúne os temas Tejo Walking (2004), Um Homem Atravessa Lisboa (Na Sua Querida Bicicleta) (2007) e Blues da tanga (2011), que mostram como os Dead Combo conseguiram afirmar-se como uma força criativa nos últimos 10 anos. Esta é a nossa forma de homenagear um dos projectos nacionais mais interessantes de sempre. - Dead Pombo (Pica & Zézinho), Almada 2014. Gravado nos Estudios Outsourcing, Oeiras. Agradecimentos ao Walt Thisney pela produção.
sábado, 11 de outubro de 2014
Es positivo lo excesivo
Yello : You gotta say yes to another excess (Vertigo; 1983)
Segui o conselho do Macaco Silva e lá arranjei o terceiro álbum desta banda suiça cheia-de-pasta, o tal último com o Carlos Peron que irá dedicar-se a "darkismos" e "industrialices" enquanto que Dieter e Boris entrarão em grande no Pop (ou deverei dizer synth-pop?) e na Fama.
Comparando aos dois primeiros álbuns, este falta-lhe qualquer coisa, um gancho qualquer, orelhudo para o Top + ou bizarro para apanhar um melómano. Great Mission talvez seja o melhor tema, passado numa selva a transbordar de exotismo "kitsch". O resto soa a algo mais ou menos normal, para o que eles já tinham feito, explorando sobretudo a linha do swing electrónico e entrando até em samplagens irritantes de gajas a gemer ou a dizerem I Love You. Ainda assim, não sei se concordo com o Macaco Silva que este é o último álbum de jeito dos Yello - tanto que gosto do Flag, por exemplo - mas é bem capaz de ser verdade é que daqui prá frente, passaram a construir as suas cidades musicais nos territórios conquistados, sem visão de ir à procura de novos continentes. Ainda assim, dada a qualidade destes senhores, o pior que isto significa é que ainda tenho muitos álbuns para me aventurar com muito prazer...
Espera lá... aventura? Não, se calhar queria dizer antes como um turista acompanhado por um guia, não?
CIA info 81.2
Chegou-me o livro de BD para o qual o Camarada Zograf convidou-me!
É uma antologia de BD, no âmabito da Bienal de Arte de Pancevo, cujo tema é "Escultura". E como tal só podia dedicar-me a descrever o prazer que dá ver aquelas peças de Arte em Santo Tirso, terra que é conhecida por ser o maior museu ao ar livre de escultura contemporânea, em especial o barracão de Pedro Cabrita Reis...
Lançado em Setembro, neste livro encontra-se outro português, o Tiago Baptista, e ainda a malta do Tonto, o Gianluca Constantini (que inclui uma imagem da sua visita a Lisboa), o Alberto Corradi (comissário da exposição portuguesa em Treviso), autores norte-americanos e, claro, autores sérvios!
sexta-feira, 10 de outubro de 2014
Raízes do Kriminal
Halloween : Projecto Mary Witch (Sonoterapia; 2006)
Este é o primeiro álbum de Halloween, a melhor coisa que aconteceu em Portugal neste milénio... É um disco mais pesado e primário do que o segundo álbum (de 2011 e tão aclamado aqui neste blogue como noutros media). A misantropia e sexismo estão no pico, a decadência urbana é mais descascada, e os instrumentais são simples, há alguns clichés do Hip Hop 'tuga (ou do Hip Hop em geral) mas já temos aqui o Halloween que todos adoram: letras para quem ignora a realidade dos pobres e dos negros em Portugal, rimas arrastadas pela voz ganzada, retratos de marginais e criminosos do guetho. É o CD que cria uma figura ímpar no panorama de música portuguesa.
Entretanto descobri que o Allen é Testemunha de Jeová, facto chocante apesar de acreditar em liberdade religiosa. Por outro lado não surpreende, quem leva uma vida criminosa mais tarde ou mais cedo "arrepende-se" e viram-se para a cena dos otários (religião) - o que não faltam são casos de muita malta radical que acaba numa Igreja qualquer... Não sei se faz parte de uma "desinformação" para gozar com as pessoas mas este caso até poderá ter piada porque se o gajo levar balázios de um rival, Halloween vai bater as botas porque não pode aceitar sangue de outros! Será das mortes de estrela nacional Pop mais iconográfica desde o António Variações! Cool!
Prefácio em QUADRADINHOS
Escrevi o prefácio para este catálogo / antologia de BD portuguesa ligada ao Festival de BD de Treviso. O livro é bilingue (italiano / inglês) e participa autores que já passaram pelo Mesinha de Cabeceira como Jorge Coelho ou José Smith Vargas, coisa bem eclética como podem bem perceber. Mais que eclética é institucional com a vantagem de estar bem feitinha!
Fica aqui um excerto do meu texto: (...) Quando se tenta fazer o retrato de um país através das suas actividades criativas nunca se é consensual. Se um país possuir uma indústria esta será mais fácil de identificar pelos seus modos de produção (como acontece com a BD dos EUA, Japão ou a franco-belga) mas quando chegamos à produção de autor, esta nunca poderá ser colocada num grupo fechado porque de cada autor espera-se um trabalho individual, personalizado e visionário. Pelo meio há ainda toda uma enorme palete de tons porque aos autores podem ser pedidas encomendas comerciais ou institucionais ou porque conseguem furar dentro da “máquina”, algumas vezes impondo as suas regras sem comprometerem o seu estilo pessoal, outras vezes não...
A BD portuguesa é na essência feita de BD de autor que começa explosivamente com Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905) e vai sempre sendo interrompida ou recuperada com as atribulações históricas do país – como exemplos: o Estado Novo e o crítico Carlos Botelho (1899-1982), a Revolução de 25 de Abril e o grupo experimental da revista Visão (1975/76). Na realidade só houve um momento industrial e foi durante o tempo do isolamento do país pelo fascismo, que criou um proteccionismo e permitiu algumas décadas de profissionalismo na área da BD. Encontramos nestes tempos “de ouro” (como os coleccionadores da nostalgia chamam) vários desenhadores virtuosos ao nível de outros internacionais. O problema era que as revistas de BD, todas elas infanto-juvenis, ou eram controladas directamente pelo Estado ou indirectamente através da Censura e por isso as temáticas não saiam das balizas da História (hipócrita) de Portugal, do nacionalismo tosco e claro de bons costumes familiares, higiénicos e físicos.
Não admira que, alguns autores se tenham fartado e tenham imigrado, como fez Jaime Cortez (1926-1987) para o Brasil – inaugurando lá uma escola de BD e até a primeira exposição de BD no mundo!; ou Eduardo Teixeira Coelho (1919-2005) para Espanha, Inglaterra, França até se fixar em Itália (onde ganhou o Prémio de Melhor Desenhador Estrangeiro em Lucca 1973); ou ainda Carlos Roque (1936-2006) para a Bélgica, entre as décadas de 40 e 60 que são marcadas por grandes vagas de imigração de portugueses, sobretudo para a reconstrução da Europa pós-Guerra, à procura de melhores condições de vida. Portugal não só era um país atrasado culturalmente como era economicamente – o Governo de Salazar acabou com as fábricas para não ter massas proletárias, que trazem sempre reivindicações sociais, acreditam nesta lógica!? Sair deste pesadelo fascista não foi fácil nem o que veio depois com uma sociedade mal preparada para quase tudo como por exemplo fazer comércio com BD. Daí que ainda hoje há exemplos de autores à procura dos grandes mercados da BD porque em Portugal “não há nada” como Jorge Coelho (1977) e Rudolfo (1991) que felizmente podem trabalhar nos seus estúdios ou em casa e não tiveram de imigrar prá “gringolândia”. (...)
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quarta-feira, 8 de outubro de 2014
Ideias negras
Hangover Heartattack : A tribute to Poison Idea (Farewell + Network of Friends + Ataque Sonoro; 2003)
20 bandas de vários pontos do planeta (sobretudo da Alemanha, EUA, Austrália e Brasil) fazem um tributo aos Poison Idea, uma das principais bandas do Crossover dos anos 80 (ao lado de D.R.I, C.O.C. e The Accüsed), ou seja, falamos de velocidade e sujidade punk / hardcore com o rigor matemático do Metal. Os Poison são conhecidos de andarem na estrada mesmo que percam dedos dos pés por infecção gangrenosa entre mil e uma aventuras de excessos de drogas, álcool e rock'n'roll whitetrash, e por isso não é à toa que merecem todo o respeito de bandas famosas como Pantera ou Napalm Death. Infelizmente não são estas que se encontram no CD mas outras dentro do espectro Hardcore e que não me parece que tenham acrescentado muito aos originais, tirando os Paintbox que meteram alguns samplers e loucura japonoca, os Mata-Ratos que traduziram a letra para português (tal como fizeram mais tarde na compilação de Misfits pela Raging Planet) ou os The Hellcandidates a puxarem para o Hard'n'Heavy (redudância) foleiro... Se calhar o disco ouve-se melhor do que se fosse um disco dos próprios Poison Idea - imagino que seja mais penoso ouvir o mesmo registo da mesma banda do que o mesmo registo por várias bandas, especialmente quando não se é fã do Hardcore como é o meu caso.
Seja como for cabe tudo em 48 minutos, podia ser pior, neste CD com tratamento de luxo: um digipack com um livro de 100 páginas, encrustado à embalagem, que inclue entrevistas à banda e um diário de uma turné. Só é pena estar cheio de erros ortográficos e afins. Pelos vistos três editoras não foram suficientes para se fazer revisão de texto.
Betos!
Finalmente recebi o número da Pangrama em que explico que "Os betos venceram..." (na cultura portuguesa), misturada com outra já publicada na Suécia e um pósfácio... Enfim, uma fragmentação que até parece arte contemporênea, que bem!
Demoraram dois anos a lançar este número e quatro meses a enviar-me exemplares!
terça-feira, 9 de setembro de 2014
Pink Metal!!!
The Soft Pink Truth : Why Do the Heathen Rage? Electronic Profanations of Black Metal Classics (Thrill Jockey; 2014)
Javier Calvo no último texto do livro El Sueño y el Mito (Aristas Martinez; 2014) afirma que o Black Metal (BM) foi a última vanguarda europeia. Por mais grotesco e trágico que tenha sido, o movimento guarda características de uma vanguarda artística como outras que reconhecemos do passado século XX, embora neste caso não tenha tido uma máquina de marketing como no Punk, os acontecimentos passaram fora das grandes capitais da cultura como Londres ou Paris (tudo começou numa cave imunda de uma loja de discos em Oslo) e foram protagonizados por três adolescentes idiotas que misturavam paganismo, música Heavy Metal, Tolkien e paranóia. E sobretudo foi um movimento cujos os seus criadores escafederam-se (literalmente com as mortes por suicídio e assassinato, respectivamente de Dead e Euronymous) antes que se torna popular em qualquer sentido, desde da natural expansão de imitadores, seguidores e gente que vai suavizando a coisa (como Dimmu Borgir que é considerada uma "boys band" do BM) até ao foclore pictórico em que até revistas de moda usam os "corpse paintings" para um sessão fotográfica de modelos.
Imagino que esses "grim boys" iriam-se passar com este disco feito por uma das cara-metade de Matmos. TSPT pegou em clássicos do BM para criar um manifesto e provocação contra a homofobia que existe no seio dos fãs deste tipo de música mas mais que isso também parece um ensaio estruturado como uma pesquisa académica em que nada é deixado ao acaso, começando logo por uma invocação pagã "queer" na "intro".
A música propriamente dita começa com a versão Techno-Industrial de Black Metal, dos Venom, para descambar em IDM, House muita 'nilas, Dubstep e Electro para temas de Behemit, Mayhem, Darkthrone, Hellhammer e Sarcófago... é mesmo TRUE Black Metal!!! Para quem pensa que isto é uma exploração "novelty" ou uma graçola, enganem-se, repito: é mesmo TRUE!!! Os temas estão compostos respeitando as composições e até alguns dos ambientes das bandas originais - uma heresia para quem não goste das rabetices Disco/House mas azar porque este disco de Electrónica ou de música de dança é tanto comida para o cérebro como ideias pró corpo. TSPT deixou detalhes fantásticos de quem estudou muito bem onde se metia - a última faixa, uma piada ao BM por Seth Putnam (falecido vocalista de Anal Cunt) bem demostra o detalhe disto.
Mas será que era mesmo preciso fazer um disco-manifesto-anti-homofóbico quando temos fotografias destas?
Estes tipos são os Profanatica... A mim parece-me que eles serão pouco homofóbicos mas posso estar errado! |
terça-feira, 26 de agosto de 2014
Paulo Coimbra Martins : "Guimarães: 50 anos de pop/rock” (Cineclube de Guimarães; 2013)
Eis um livro com muito bom aspecto sobre Pop/ Rock editado em Portugal, uma coisa rara!!! Depois de ficar embasbacado com o design do álbum (ou "coffee-table" como os cócós chamam-lhe agora este tipo de livros) revela-se uma desilusão. É na realidade um misto de "coisas boas" e "coisas más" que se mete depois numa balança e cai para baixo. Começamos por aonde? Pelas más, claro!
Tal como na BD - que tirando um período institucional entre 1996 e 2002 em que a Bedeteca de Lisboa editou uma série de livros e catálogos sobre a História da BD portuguesa - o Rock também sofre de reconhecimento como uma cultura com valores dignos e próprios. A BD e o Rock já há muito que ultrapassaram o cunho juvenil e popular das suas géneses, e como tal precisam de mais investigação e promoção para reavivar as obras realmente importantes das suas Histórias. Ambas ignoradas pelos centros culturais e institucionais, o conhecimento destas culturas só pode ser feito quase sempre por acervos privados de coleccionadores, excelentes pessoas que guardam tudo o que apanham mas por isso mesmo são incapazes de julgarem as obras para além o seu gosto e memórias afectivas e emocionais. Quando as obras que ultrapassam um certo período da história pessoal do indíviduo, ele acaba por ignorá-las e perde-se a orientação, se que havia desde início...
É o que acontece aqui, topa-se que o livro foi escrito por um "vanguarda" - que não se sabe muito bem o que é tirando que é um "anacronismo" de uma tribo urbana que se criou em Portugal para designar amantes de música Pop/Rock "alternativa" e "Dark". E o problema é que os vanguardas são caucasianos e eurocêntricos, o que estraga tudo! Quando o "vanguarda" Martins escreve sobre a História (resumida e assumida como tal) do Rock e Pop é de ficar admirado que ele refira a bandas medíocres como Little Nemo (uns Joy Division belgas) ou X-Mal Deutschland (umas gajas alemãs góticas), que acredito que ele seja doido por elas ao ponto de lhes dar mais importância do que referir a artistas negros quando sabemos que o Rock é negro até ao tutano. E o Pop também! É obra conseguir ignorar Goree Carter (talvez o primeiro músico do Rock), Chuck Berry, Little Richard - este último até é referido mas apenas porque usava pentados extravagantes quando creio que foram os Eagles of Death Metal que disseram que não havia Carcass se Richards não se mexesse como uma bicha louca -, o som Motown e da Stax, James Brown e Lee "Scratch" Perry ou qualquer jamaicano - e digam-me, por favor, uma música Pop dos últimos 30 anos que não use as técnicas de estúdio vindas da Jamaica! Aparecem umas fotografias e referências muito ao de leve a Jimi Hendrix, Massive Attack e Bad Brains e já gozam! Insinuar que o Martins seja racista seria uma estupidez mas pelo livro ficamos a saber que como coleccionador e melómano não tem tendências prá música "Black". Costuma-se dizer que "o gosto não se discute" e ninguém é obrigado a gostar de nenhum dos nomes de artistas negros aqui referidos mas o autor deveria estar aberto a tal quando escreve um artigo de contextualização mundial - para depois poder usar como lupa para a história portuguesa e de microscópio para o concelho de Guimarães. É um erro obtuso - e para mim, sendo africano, é obsceno - não assumir primeiro que a música vêm sempre de África... mas adiante!
A História do Rock português até vai bem mas a dada a altura o autor mete mais um foco estridente nas bandas nacionais góticas, de Metal, EBM e Industrial como se fossem a melhor coisa feita neste canto europeu - é claro que Buraka Som Sistema não faz parte deste universo e é ignorado! Mais exageros de um ponto de vista tendencioso e que tornam o livro duvidoso. É verdade que é necessário que se escreva uma História sobre estes (sub)géneros (e muitos outros) em Portugal mas não me parece que este fosse "o sítio" mais indicado para tal, ou pelo menos desta forma gratuíta.
O livro segue com um dicionário de bandas do concelho, em que vale tudo desde grupos de baile a DJs de Drum'n'Bass - como Phast Mike que só gravou um 10" para o zine/editora Garagem. Claro que não li todas as centenas de entradas, espero que tenha havido espaço para projectos Hip Hop ou Kuduro caso elas existiram ou existem por aquelas bandas já que pelos vistos que um DJ de D'n'B tem lugar nas entradas. A maior parte do livro é constituído por cerca de 40 entrevistas a músicos ou agentes musicais locais, e que precisava de um maior trabalho de edição dada a repetição de situações e queixumes comuns. Impossivel de ler todas as entrevistas devido a esse problema de repetição que se apanha rapidamente nas primeiras leituras de senhores respeitáveis (os Kings, das primeiras bandas de Rock do concelho e do país e que só gravaram neste milénio), metaleiros, "indíos" (Blue Orange Juice, lembram-se?) ou figuras pitorescas (o carismático o-metal-deu-cabo-de-mim Bino Chouriça). As entrevistas mais dinâmicas e interessantes são de não-músicos como Marco Martins (instigador cultural e "boss" da Garagem) ou Rosa Guimarães que foi uma das responsáveis pelo Movimento Jovem, evento que nos inícios dos 90 teve impacto nos músicos locais.
Como positivo, é isto mesmo que foi descrito anteriormente: temos uma enorme recolha quer em formato de dicionário quer em entrevista, das bandas e músicos de Guimarães, profissionais ou amadores, com discos gravados ou não... Um trabalho de sapa! Aquele "it's a dirty job but someone has to do it"!!! Se não fosse o "cromo" do Martins a fazer mais ninguém iria fazer e toda esta informação seria para sempre perdida. Neste sentido reforço o que disse no início, se não fossem os coleccionadores, a cultura do Rock não existiria em Portugal porque nenhuma instituição ou académico quer saber dela. Felizmente o livro é um marco para que essa informação não desapareça. Com ou sem discursos articulados, o que é importante é ter os registos dos "velhinhos" do Rock, ou dos novos e jovens, para se perceber como se usufruía a música noutras épocas, como funcionavam os modelos económicos (ou não), a vivência no meio (à partida conservador como se pode esperar de uma cidade minhota), os acontecimentos que marcaram as várias gerações de músicos, ouvintes e artistas. Trata-se de um documento com importância para o concelho para ter esses registos de identidade, e também para investigadores de música portuguesa poderem usar como fonte noutros trabalhos.
O que era perfeito era cada cidade ou concelho de Portugal tivesse um livro assim e não apenas quando há uma Capital da Cultura - o livro foi feito nesse âmbito acompanhado por um documentário. Neste livro fartam-se de chamar a atenção para os poderes locais investirem na música Pop/ Rock, alertando para os bons resultados facilmente comparáveis com a vizinha Braga.
À sua dimensão é uma espécie de tour de force para que Guimarães saia do marasmo quando tudo aponta haver lá tradição e talento. Desejo a maior sorte para tal mas desejaria mais ainda se houvessem niggas lá na cidade!
Tal como na BD - que tirando um período institucional entre 1996 e 2002 em que a Bedeteca de Lisboa editou uma série de livros e catálogos sobre a História da BD portuguesa - o Rock também sofre de reconhecimento como uma cultura com valores dignos e próprios. A BD e o Rock já há muito que ultrapassaram o cunho juvenil e popular das suas géneses, e como tal precisam de mais investigação e promoção para reavivar as obras realmente importantes das suas Histórias. Ambas ignoradas pelos centros culturais e institucionais, o conhecimento destas culturas só pode ser feito quase sempre por acervos privados de coleccionadores, excelentes pessoas que guardam tudo o que apanham mas por isso mesmo são incapazes de julgarem as obras para além o seu gosto e memórias afectivas e emocionais. Quando as obras que ultrapassam um certo período da história pessoal do indíviduo, ele acaba por ignorá-las e perde-se a orientação, se que havia desde início...
É o que acontece aqui, topa-se que o livro foi escrito por um "vanguarda" - que não se sabe muito bem o que é tirando que é um "anacronismo" de uma tribo urbana que se criou em Portugal para designar amantes de música Pop/Rock "alternativa" e "Dark". E o problema é que os vanguardas são caucasianos e eurocêntricos, o que estraga tudo! Quando o "vanguarda" Martins escreve sobre a História (resumida e assumida como tal) do Rock e Pop é de ficar admirado que ele refira a bandas medíocres como Little Nemo (uns Joy Division belgas) ou X-Mal Deutschland (umas gajas alemãs góticas), que acredito que ele seja doido por elas ao ponto de lhes dar mais importância do que referir a artistas negros quando sabemos que o Rock é negro até ao tutano. E o Pop também! É obra conseguir ignorar Goree Carter (talvez o primeiro músico do Rock), Chuck Berry, Little Richard - este último até é referido mas apenas porque usava pentados extravagantes quando creio que foram os Eagles of Death Metal que disseram que não havia Carcass se Richards não se mexesse como uma bicha louca -, o som Motown e da Stax, James Brown e Lee "Scratch" Perry ou qualquer jamaicano - e digam-me, por favor, uma música Pop dos últimos 30 anos que não use as técnicas de estúdio vindas da Jamaica! Aparecem umas fotografias e referências muito ao de leve a Jimi Hendrix, Massive Attack e Bad Brains e já gozam! Insinuar que o Martins seja racista seria uma estupidez mas pelo livro ficamos a saber que como coleccionador e melómano não tem tendências prá música "Black". Costuma-se dizer que "o gosto não se discute" e ninguém é obrigado a gostar de nenhum dos nomes de artistas negros aqui referidos mas o autor deveria estar aberto a tal quando escreve um artigo de contextualização mundial - para depois poder usar como lupa para a história portuguesa e de microscópio para o concelho de Guimarães. É um erro obtuso - e para mim, sendo africano, é obsceno - não assumir primeiro que a música vêm sempre de África... mas adiante!
A História do Rock português até vai bem mas a dada a altura o autor mete mais um foco estridente nas bandas nacionais góticas, de Metal, EBM e Industrial como se fossem a melhor coisa feita neste canto europeu - é claro que Buraka Som Sistema não faz parte deste universo e é ignorado! Mais exageros de um ponto de vista tendencioso e que tornam o livro duvidoso. É verdade que é necessário que se escreva uma História sobre estes (sub)géneros (e muitos outros) em Portugal mas não me parece que este fosse "o sítio" mais indicado para tal, ou pelo menos desta forma gratuíta.
O livro segue com um dicionário de bandas do concelho, em que vale tudo desde grupos de baile a DJs de Drum'n'Bass - como Phast Mike que só gravou um 10" para o zine/editora Garagem. Claro que não li todas as centenas de entradas, espero que tenha havido espaço para projectos Hip Hop ou Kuduro caso elas existiram ou existem por aquelas bandas já que pelos vistos que um DJ de D'n'B tem lugar nas entradas. A maior parte do livro é constituído por cerca de 40 entrevistas a músicos ou agentes musicais locais, e que precisava de um maior trabalho de edição dada a repetição de situações e queixumes comuns. Impossivel de ler todas as entrevistas devido a esse problema de repetição que se apanha rapidamente nas primeiras leituras de senhores respeitáveis (os Kings, das primeiras bandas de Rock do concelho e do país e que só gravaram neste milénio), metaleiros, "indíos" (Blue Orange Juice, lembram-se?) ou figuras pitorescas (o carismático o-metal-deu-cabo-de-mim Bino Chouriça). As entrevistas mais dinâmicas e interessantes são de não-músicos como Marco Martins (instigador cultural e "boss" da Garagem) ou Rosa Guimarães que foi uma das responsáveis pelo Movimento Jovem, evento que nos inícios dos 90 teve impacto nos músicos locais.
Como positivo, é isto mesmo que foi descrito anteriormente: temos uma enorme recolha quer em formato de dicionário quer em entrevista, das bandas e músicos de Guimarães, profissionais ou amadores, com discos gravados ou não... Um trabalho de sapa! Aquele "it's a dirty job but someone has to do it"!!! Se não fosse o "cromo" do Martins a fazer mais ninguém iria fazer e toda esta informação seria para sempre perdida. Neste sentido reforço o que disse no início, se não fossem os coleccionadores, a cultura do Rock não existiria em Portugal porque nenhuma instituição ou académico quer saber dela. Felizmente o livro é um marco para que essa informação não desapareça. Com ou sem discursos articulados, o que é importante é ter os registos dos "velhinhos" do Rock, ou dos novos e jovens, para se perceber como se usufruía a música noutras épocas, como funcionavam os modelos económicos (ou não), a vivência no meio (à partida conservador como se pode esperar de uma cidade minhota), os acontecimentos que marcaram as várias gerações de músicos, ouvintes e artistas. Trata-se de um documento com importância para o concelho para ter esses registos de identidade, e também para investigadores de música portuguesa poderem usar como fonte noutros trabalhos.
O que era perfeito era cada cidade ou concelho de Portugal tivesse um livro assim e não apenas quando há uma Capital da Cultura - o livro foi feito nesse âmbito acompanhado por um documentário. Neste livro fartam-se de chamar a atenção para os poderes locais investirem na música Pop/ Rock, alertando para os bons resultados facilmente comparáveis com a vizinha Braga.
À sua dimensão é uma espécie de tour de force para que Guimarães saia do marasmo quando tudo aponta haver lá tradição e talento. Desejo a maior sorte para tal mas desejaria mais ainda se houvessem niggas lá na cidade!
sexta-feira, 22 de agosto de 2014
Escif : El Vandalismo Ilustrado (Ajuntament de Vila-real / TEST; 2014)
Quando estive a primeira vez em Valência, durante a mítica turnê da Chili Com Carne, foi impossível não reparar nas paredes da cidade e encontrar pinturas de Escif. Caramba, aquela cidade está cheia delas e mais importante do que isso, topa-se o trabalho dele pelo seu estilo gráfico e pelo conteúdo.
Há muito que a "street art" passou a ser um engodo. Era uma "arte de rua" caracterizada por ser popular (feita por indivíduos sem pretensões artísticas) e marginal (era e é ilegal "sujar" paredes) e que nesta década passou a ser controlada pelo Estado e por companhias comerciais - as que a patrocinam como a usam para vender produtos. Serve na maior parte das vezes para tapar a vergonha que são os edifícios abandonados pela parvoíce capitalista (especulação imobiliária com conivência do poder local) ou para as cidades darem um ar de modernaças e cosmopolitas aos turistas. Vê-se como por exemplo, Lisboa usa esta "arte" dessas duas formas (como aquela merda inacreditável nas Escadinhas de S. Cristóvão) mas em Ponta Delgada, outro exemplo, só a usa para promover turismo tal como recebe lá um Campeonato de Surf qualquer...
O resultado seja como for é o mesmo de sempre: uma arte popular passa a ser feita por "profissionais" e só eles é que tem autorização para fazerem obras. E essas obras para serem aprovadas pelas instituições que pagam aos artistas (e os materiais) acabam por ser "cleans", politicamente inócuas, bem-comportadas e como quase toda a arte contemporânea vigente é "humorística". Pisca o olho ao público para que este pense que é inteligente quando só diz redundâncias ou promove a nostalgia. Pode ser um sapo gigante, os Descobrimentos (só a parte da Glória, nada daquela cena dos negreiros, ok?), um cravo do 25 de Abril e os mais afoitos até escrevem "a revolução qualquer coisa" para parecer que são agitadores do sistema. Uma bosta completa! Não bastava termos TV gigantes nas estradas, outdoors e tanta outra poluição visual e mental, como ainda temos de levar com estes engraçadinhos!
O caso muda de figura com o Escif, mesmo que eu tenha encontrado um catálogo do seu trabalho - comprei ao autor (era mesmo ele?) no último Tenderete - publicado por uma Câmara Municipal espanhola - de Vila-real... Para já o tipo sabe de pintura ou ilustração. É elegante, usa cores que não são histéricas, e o humor dele na realidade é uma mostra da tristeza em que vivemos que oferece mais revolta do que sorrisos. Se pode parecer um paradoxo defender este artista achando os outros uns vendidos, apesar de tudo, o trabalho de Escif é diferente porque não é "espectacular" por isso não fere o olho e a mente. É quase "decorativo", muitas vezes as suas pinturas adaptam-se ao pano de fundo, não o tenta alterar e impor a sua arte, ou seja, o trabalho é subtil e chama a atenção é pela mensagem e não pelas formas que nos ofendem os sentidos. Faz comentário social e político na rua invés de ser num jornal ou noutro mass-media, na essência trata do capitalismo selvagem que nos tem afectado nos últimos anos, desmontando a injustiça do sistema com uma simplicidade igual aos seus desenhos. Não há muitos "artistas de rua" assim, parece-me...
Há muito que a "street art" passou a ser um engodo. Era uma "arte de rua" caracterizada por ser popular (feita por indivíduos sem pretensões artísticas) e marginal (era e é ilegal "sujar" paredes) e que nesta década passou a ser controlada pelo Estado e por companhias comerciais - as que a patrocinam como a usam para vender produtos. Serve na maior parte das vezes para tapar a vergonha que são os edifícios abandonados pela parvoíce capitalista (especulação imobiliária com conivência do poder local) ou para as cidades darem um ar de modernaças e cosmopolitas aos turistas. Vê-se como por exemplo, Lisboa usa esta "arte" dessas duas formas (como aquela merda inacreditável nas Escadinhas de S. Cristóvão) mas em Ponta Delgada, outro exemplo, só a usa para promover turismo tal como recebe lá um Campeonato de Surf qualquer...
O resultado seja como for é o mesmo de sempre: uma arte popular passa a ser feita por "profissionais" e só eles é que tem autorização para fazerem obras. E essas obras para serem aprovadas pelas instituições que pagam aos artistas (e os materiais) acabam por ser "cleans", politicamente inócuas, bem-comportadas e como quase toda a arte contemporânea vigente é "humorística". Pisca o olho ao público para que este pense que é inteligente quando só diz redundâncias ou promove a nostalgia. Pode ser um sapo gigante, os Descobrimentos (só a parte da Glória, nada daquela cena dos negreiros, ok?), um cravo do 25 de Abril e os mais afoitos até escrevem "a revolução qualquer coisa" para parecer que são agitadores do sistema. Uma bosta completa! Não bastava termos TV gigantes nas estradas, outdoors e tanta outra poluição visual e mental, como ainda temos de levar com estes engraçadinhos!
O caso muda de figura com o Escif, mesmo que eu tenha encontrado um catálogo do seu trabalho - comprei ao autor (era mesmo ele?) no último Tenderete - publicado por uma Câmara Municipal espanhola - de Vila-real... Para já o tipo sabe de pintura ou ilustração. É elegante, usa cores que não são histéricas, e o humor dele na realidade é uma mostra da tristeza em que vivemos que oferece mais revolta do que sorrisos. Se pode parecer um paradoxo defender este artista achando os outros uns vendidos, apesar de tudo, o trabalho de Escif é diferente porque não é "espectacular" por isso não fere o olho e a mente. É quase "decorativo", muitas vezes as suas pinturas adaptam-se ao pano de fundo, não o tenta alterar e impor a sua arte, ou seja, o trabalho é subtil e chama a atenção é pela mensagem e não pelas formas que nos ofendem os sentidos. Faz comentário social e político na rua invés de ser num jornal ou noutro mass-media, na essência trata do capitalismo selvagem que nos tem afectado nos últimos anos, desmontando a injustiça do sistema com uma simplicidade igual aos seus desenhos. Não há muitos "artistas de rua" assim, parece-me...
segunda-feira, 4 de agosto de 2014
Must not!
Must : Sado Maso Disco (Epic; 1978)
Se houvesse razão para não curtir Disco este 7" será a razão para tal. O título? 5 estrelas! A foto da capa e da contracapa (a tipa e o tipo a apertarem as mãos como "fim de negócio")? 5 estrelas! A música? Disco sem piada com um tipo a dizer "que gostas pouco gostas", uma tipa a gemer e antes disso uma chicotada! Querem mais? Não... não há mais! Disco a evitar!
XXXungaria
Prong : Power of the damn mixxxer (13th Planet; 2009)
Ainda os Rammstein andavam aprender a tocar instrumentos e já os Prong já tocavam "tanz metal" abrindo terreno para bandas que concentrariam electrónica, Hardcore, Industrial e Metal no mesmo saco ou então que viriam a gerar o Nu-Metal. Prong é Rock com Groove que fica mal num metaleiro ou num punk, azar para eles e para a banda que nunca teve assim um grande reconhecimento. Agora tão metidos com o gajo dos Ministry que consegue as bandas da sua editora a 1) fazer um álbum de remix a seguir ao último álbum oficial (como fazia N.I.N. ou Fear Factory nos anos 90) e 2) ter as capas de discos mais foleiras do mundo. O disco é uma banhada monumental, quem faz as "mixes" nem são grandes cromos da música electrónica mas mais malta conhecida do Rock (Pitchshifter, Anthrax, Dillinger Escape Plan)... é assim meio anacrónico mas funciona, convenhamos, os amaericanos quando é para mexer o cu sabem o que fazem. Os temas são quase todos transformados para Techno simples mas os malhões dos Riffs e voz enquadram-se bem nos beats. Temos festa! Só falta a Coca e as strippers para estarmos lá!
sexta-feira, 1 de agosto de 2014
Bestiário tem segunda edição...
ISTO é uma boa notícia! Em 2012 a Chili Com Carne e a Thisco editaram um novo livro do RUI EDUARDO PAES intitulado Bestiário Ilustríssimo - que inclui ilustrações pela Joana Pires. A "besta-remix" de cima é feito desses desenhos do livro e inspirou para fazer a nova capa da segunda edição! Ah! Serigrafias destas ilustrações estão para mostra e venda no site da CCC!
quinta-feira, 31 de julho de 2014
CaCHoRRo eSFoMeaDo
Passo a vida a repetir isto porque a malta não aprende: as bandas do Canadá são "erradas"! Parecem que querem soar às dos EUA porque partilham o mesmo continente mas não conseguem. Há sempre algo de errado (ou deveria dizer "europeu"?) que mete-se lá para o meio e muda o som de forma estranha! Pensem nos Malhavoc, Voivoid, Bran Van 3000, Fuck The Facts, D.O.A., Front Line Assembly, NoMeansNo e claro nos divinos Skinny Puppy!
Banda Electro-Industrial criada nos anos 80, interrompeu actividade discográfica entre 1996 e 2004. Há uma contante no trabalho deles e que se topa por exemplo em Mind: The Perpetual Intercourse (Nettwerk; 1986) que é o (ab)uso de sintetizadores que invés de fazerem coisas bonitas e Pop, criam antes ambientes claustrofóbicos, labirínticos, distorcidos e libidinosos. As letras são sobre a grande merda que é a Humanidade, a defesa dos animais e um despertar ecológico - depois de vomitar umas 15 imperiais da noite anterior! O som de tão "errado" que é (numa perspectiva Pop/Rock) faz-nos antes em pensar em contacto sexual com peles humanas e gordura animal. Foram assim durante muito tempo, o que se traduz em muitos discos em que os mais fora do baralho são Last Rights (Nettwerk; 1992), o meu favorito e que já apanhei um fã a dizer que é um disco que não faz sentido (!) e The Process (American; 1996), disco limpo e pronto prá MTV da altura para competir com Ministry ou N.I.N., ou seja, um álbum tão "norte-americano" como o nome da editora. É também neste disco que as desgraças abatem-se na banda - a morte do teclista Dwayne Goettel por tomar cavalo a mais, as pressões da editora, etc... - e "acabam".
A banda volta mais tarde aos discos com este The Greater Wrong of the Right (Synthetic Symphony; 2004) e têm editado regularmente ao longo deste milénio. A dura tarefa nem era sequer trair o passado mas sobretudo ser mais do que uma peça de museu que voltou à vida com mil imitadores nojentos (da cena EBM) à volta. Felizmente os músicos fizeram projectos bem bons ao longo da hibernação do cachorrito - como o magnífico OhGr - e trouxeram as suas influências para a banda.
Daí que este álbum de regresso não é um clone de algo passado mas uma obra contemporânea que mantêm o "erro" a funcionar ao mesmo tempo que pisca o olho para novas linguagens urbanas - não é por acaso que o video do tema Pro-Test são góticos num desafio de Breakdance na "streeta" ou que no disco participe o jovem monstro Otto Von Schirach ou ainda que o "artwork" deste disco seja feito pelo francês Fredox, o artista mais escatológico do colectivo Le Dernier Cri... Os Beats são modernos para uma nova pista de dança que provavelmente terá de procurar novos boémios com coragem para experimentá-la.
Este disco de alguma forma parece aquelas histórias dos cães que se perdem do dono, fazem uma viagem de 100 quilómetros mas acabam por encontrar a casa passado duas semanas e tal. Good dog!
Banda Electro-Industrial criada nos anos 80, interrompeu actividade discográfica entre 1996 e 2004. Há uma contante no trabalho deles e que se topa por exemplo em Mind: The Perpetual Intercourse (Nettwerk; 1986) que é o (ab)uso de sintetizadores que invés de fazerem coisas bonitas e Pop, criam antes ambientes claustrofóbicos, labirínticos, distorcidos e libidinosos. As letras são sobre a grande merda que é a Humanidade, a defesa dos animais e um despertar ecológico - depois de vomitar umas 15 imperiais da noite anterior! O som de tão "errado" que é (numa perspectiva Pop/Rock) faz-nos antes em pensar em contacto sexual com peles humanas e gordura animal. Foram assim durante muito tempo, o que se traduz em muitos discos em que os mais fora do baralho são Last Rights (Nettwerk; 1992), o meu favorito e que já apanhei um fã a dizer que é um disco que não faz sentido (!) e The Process (American; 1996), disco limpo e pronto prá MTV da altura para competir com Ministry ou N.I.N., ou seja, um álbum tão "norte-americano" como o nome da editora. É também neste disco que as desgraças abatem-se na banda - a morte do teclista Dwayne Goettel por tomar cavalo a mais, as pressões da editora, etc... - e "acabam".
A banda volta mais tarde aos discos com este The Greater Wrong of the Right (Synthetic Symphony; 2004) e têm editado regularmente ao longo deste milénio. A dura tarefa nem era sequer trair o passado mas sobretudo ser mais do que uma peça de museu que voltou à vida com mil imitadores nojentos (da cena EBM) à volta. Felizmente os músicos fizeram projectos bem bons ao longo da hibernação do cachorrito - como o magnífico OhGr - e trouxeram as suas influências para a banda.
Daí que este álbum de regresso não é um clone de algo passado mas uma obra contemporânea que mantêm o "erro" a funcionar ao mesmo tempo que pisca o olho para novas linguagens urbanas - não é por acaso que o video do tema Pro-Test são góticos num desafio de Breakdance na "streeta" ou que no disco participe o jovem monstro Otto Von Schirach ou ainda que o "artwork" deste disco seja feito pelo francês Fredox, o artista mais escatológico do colectivo Le Dernier Cri... Os Beats são modernos para uma nova pista de dança que provavelmente terá de procurar novos boémios com coragem para experimentá-la.
Este disco de alguma forma parece aquelas histórias dos cães que se perdem do dono, fazem uma viagem de 100 quilómetros mas acabam por encontrar a casa passado duas semanas e tal. Good dog!
quarta-feira, 23 de julho de 2014
Recordando Estrompa (3/3)
No #6 do MdC, eu e o Pedro Brito entrevistamos o Estrompa porque ele era uma espécie de um modelo para nós na altura, fascinados com o mundo dos fanzines e do D.I.Y. A entrevista foi porreira mas o melhor foi quando dissemos ao Estrompa que precisavamos de umas fotografias e pensamos que ele poderia usar um "fotomaton" para tal o que matava várias situações: o facto de não termos máquina fotográfica, ou se tinhamos teriamos ainda de mandar revelar o rolo e imprimir a fotografia para colar na página da entrevista - ei! era tudo feito à mão, nada de computadores em 1994! Excepto o texto que era passado num word qualquer. O Estrompa pegou no dinheiro, meteu-se na máquina e o resultado foi bem melhor do que estavamos à espera!!! Grande Estrompa!
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MESINHA de CABECEIRA
terça-feira, 22 de julho de 2014
Recordando Estrompa (2/3)
Desenho de Estrompa para a "equipa editorial" do MdC publicado no #6. A personagem claro que é o seu Tornado...
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MESINHA de CABECEIRA
segunda-feira, 21 de julho de 2014
Recordando Estrompa (1/3)
Morreu o Estrompa, autor de BD e editor de fanzines. Foi um das primeiras pessoas que conheci na BD portuguesa nos inícios dos anos 90 quando a malta reunia-se em encontros semanais (não havia "fachobook" e essas coisas), às Quintas-Feiras, num café no Parque Mayer - e mais tarde para outros sítios como a Casa do Alentejo. Estrompa era o organizador desta tertúlia (conhecida pela Tertúlia Shock) onde apareciam os membros mais novos da cena da BD lisboeta, todos principiantes e aspirantes a autores como o Ricardo Blanco, Pedro Brito, João Fazenda, Xanxa Cabrita, Pepedelrey, Arlindo Horta, Rui Gamito, Jorge Coelho, Tózé Lopes, José Lopes entre outros,...
Na altura o Estrompa editava o fanzine Shock em que cada número era dedicado a homenagear personagens da BD. Fiz este desenho que era para o número dedicado ao "Torpedo 1936", que é uma merda, bem sei, mas também o que não faltava no Shock era coisas tão merdosas como esta mas o Estrompa rejeitou-me o trabalho - nunca cheguei a perceber se foi pelo facto de ser mau ou se foi por ter incluído a sua figura e a sua criação-pastiche "Tornado" porque o Estrompa não queria protagonismos, já sabia que a malta da BD são todos "bitches" - se eu editasse um fanzine só meu, começassem a dizer que me tinha subido o sucesso à cabeça... e depois de trabalhar em grupo porque dá-me muitos amigos, isso satisfaz-me muito disse numa entrevista ao Mesinha de Cabeceira em 1994. Talvez por isso que demorou a assumir o Shock como o seu fanzine (situação mais do que legítima) em que os últimos números quase só se publicava BDs das aventuras de Tornardo. Pelo meio chegou a editar o Café no Park, fanzine que Estrompa sensivelmente criou para dar espaço à malta jovem que parava lá na Tertúlia.
Seja como for, esta e outras rejeições levou-me a mim e ao Pedro Brito a começar o nosso próprio fanzine, o Mesinha de Cabeceira. Não me lembro se fiquei chateado com o Estrompa na altura, é bem provável que sim, afinal como pode ele ter tido rejeitado esta bela obra de arte!? Mas se fiquei chateado foi por pouco tempo porque o Estrompa era um pessoa que transmitia alegria a poros, aliás, transbordava de boas ondas ao ponto que até saltava e rebolava-se na mesa do snooker - jogava bem esse jogo, já agora! Como poderia eu ficar chateado com um gajo assim?
sexta-feira, 18 de julho de 2014
unDJ FarraJ || SALAMANDRA DOURADA
Sexta-Feira, dia 18 de Julho, às 21h a Chili Com Carne volta a cometer a loucura de organizar uma festa para quem gosta de livros, zines, discos fora do "normal"!!! Apesar do sucesso doido no Adufe desta vez viraram-se para a periferia e a simpática Salamandra Dourada na Ameixoeira onde ainda haverá música vinda de unDJ FarraJ e o boss da Zerowork Records!
Haverá promoções especiais, exposição de serigrafias da Chili Com Carne, comida vegetariana e objectos culturais não identificados! Sim... OCNIs!
domingo, 13 de julho de 2014
Nerds à portuguesa
Não sei se estou a perceber bem mas este "post" é sobre como seria fixe ter uma série de BD em TV! Que mamados! Pelo menos conseguem ser engraçados dizendo coisas como Loverboy será um dos grandes anti-heróis da BD portuguesa, o seu humor pode ser por vezes provocador e infantil, mas nunca é aborrecido.
A e-mag Sketchbook ainda faz esta espécie de resenha: 1 [sic] ícone dos anos 90 que muito fez pela BD dita alternativa [wtf?]. Esperemos k [sic] não fique por aqui... Tá tudo louco!?
Pior ainda: foi vencedor na Melhor Publicação Independente dos Troféus Central Comics ao lado de coisas nojentas como Pizzaboy, Super-Homem, Batman, Patos da Disney e Mal-Criadas, a mediocridade no seu melhor onde o Loverboy vai acabar por se enterrar. Felizmente estes e muitos outros prémios em Portugal não valem nada a nível de impacto mediático ou de vendas ou ainda reconhecimento póstumo. Amanhã até nós iremos esquecer que recebemos o troféu. Deo Gratias!
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João Fazenda,
Loverboy,
MdC Tv
domingo, 22 de junho de 2014
Feira de atrocidades
Mão Morta : Pesadelos em Peluche (Universal; 2010)
Como fã desta banda não há nada pior quando eles fazem um álbum "alegre", ou mais correctamente, um álbum subversivo, ou seja, em que a banda coloca um bocado de mel à superfície para depois as letras do Adolfo Luxúria Canibal darem dentadas nos cérebros dos ouvintes.
Usando as pulsões eróticas e mórbidas do "romance" Atrocity Exhibition, uma obra-prima do Ballard, para questionar os comportamentos do homem moderno, este disco está entre o disco de 1998 - Há já muito tempo que nesta latrina o ar se tornou irrespirável - de influência Situacionista e provavelmente com o recente Pelo meu relógio são horas de matar, a julgar pelo tema de apresentação, não tendo ainda ouvido o disco inteiro. Fica entre eles por causa das críticas sociais que embarcam mas também pelas sonoridades Pop que propagam.
A banda é capaz de fazer de tudo como bem sabemos do seu passado, desde o Rock abrasivo típico da banda, passando por Fado (canibal!), House, Death Metal, Funk e o que for preciso. Neste disco abraçam as linhas contemporâneas do Pop/Rock: o retro-ronhônhô Garage, post-metal eternamente redundante, Rock cristão à FlorCaveira, synth-Pop xunguita, Rock Gótico insuportável (com a ajuda do Fernando Ribeiro, claro está!), enfim, um catálogo do pior que se fez neste milénio e que a banda, sem medos e pernas às cotas, abraça com os braços bem abertos para gozar (?) com o triste panorama musical português - o último tema Tiago Capitão não profetiza as dezenas de bandas portuguesas que se chamam Capitão Qualquer-Coisa? Até o facto de o disco ser da multinacional Universal parece intencional invés de uma coincidência cósmica.
Dentro do espectro Rock português os Mão Morta são impossíveis de bater, até se podem se dar ao luxo de fazer um falso álbum Pop como este. Para um fã das trevas este álbum é chato e quando se olha para o "artwork" do disco ainda menos vontade dá de se ouvir - o grafismo pobre parece mesmo feito por incompetentes gráficos de uma editora como a Universal. Acho que vou gravar para k7 apenas alguns dos temas e despachar o CD! Vai ser complicado escolher os temas...
sexta-feira, 20 de junho de 2014
Street Art from Lisbon
Como a habitação em Lisboa continua a ser um problema disfarça-se com "arte urbana" os edíficios vergonhosamente abandonados. Esta intervenção foi pelo pelo Cabrita Reis com os Gémeos do Brasil, ali para S. Lázaro. Apesar da hipocrisia da "arte urbana" admito que esta está muita bem feita!!! Parece quase real!!!
quarta-feira, 18 de junho de 2014
John Higgs : "The KLF: Chaos, Magic and the Band who Burned a Million Pounds" (Phoenix; 2013)
Porque raios os livros mais "cool" têm todos uma capa amarela? Esta pergunta poderia desencadear uma teoria da conspiração qualquer e no fundo é o que este livro faz - inventa uma conspiração qualquer com uma banda com um historial bastante bizarro. Eu sempre achei estranho gostar tanto dos KLF e este livro acaba por justificar o meu interesse pela banda porque quem poderia gostar tanto da seua música tão medíocre? O que a banda fez, segundo este livro, é o que os Dada, Situacionistas e os Sex Pistols fizeram no passado, modificaram misticamente o rumo da Humanidade como defendeu Greil Marcus no excelente Marcas de Baton. Os KLF ao queimarem um milhão de Libras no dia 23 de Agosto de 1994 fizeram Magia e preparam-nos para uma (esta) crise em que o dinheiro deixará de ter valor! Pelo meio Higgs mete uma sincronia com os nomes já referidos e as ideias de Robert Anton Wilson, Alan Moore e ainda a série de TV Dr. Who. Um livro loony, um succedâneo do Marcas de Baton que não deixa de ser divertido de ler na sua leviandade intelectual.
As férias estão aí, para quem acredita em literatura "light" para quando se está a apanhar com ultravioletas e outros cancros, este é o livro! A questão será quando voltar para o escritório... e se a teoria de Higgs estiver certa? E se os KLF foderam mesmo com todo o nosso guito? Como é que isto vai ser na rentrée??? Estas poderão ser as últimas férias do Antigo Regime, baby!
As férias estão aí, para quem acredita em literatura "light" para quando se está a apanhar com ultravioletas e outros cancros, este é o livro! A questão será quando voltar para o escritório... e se a teoria de Higgs estiver certa? E se os KLF foderam mesmo com todo o nosso guito? Como é que isto vai ser na rentrée??? Estas poderão ser as últimas férias do Antigo Regime, baby!
quinta-feira, 12 de junho de 2014
Fuck Fuck Tony
Este ano não vamos fazer o Fuck Tony Comix Bar.
Podíamos dizer que estamos fartos de Lisboa e da falta de qualidade de vida que se sente na Mouraria - milhares de pilaretes, turistas imbecis, obras que não acabam, lixo por todo lado, hostels que roubam locais de habitação, restaurantes gourmets e toda a espécie de armadilhas para turistas, etc...
Ou que já não temos coragem para enfrentar toda a imbecilidade de uma população embrutecida pela miséria económica e o álcool barato.
Mas não... A razão é que vamos ao Tenderete em Valência (Espanha) satisfazer os fãs da MMMNNNRRRG e Chili Com Carne que existem (realmente) por aquelas bandas - o que sinceramente é bem melhor do que aguentar com a Pior Noite de Lisboa.
Que alguém monte nas ruas projectos alternativos à má-onda da Festa da Cidade. Pró ano tentaremos fazer algo mas nada impede de pensar isto: que se foda Lisboa!
Podíamos dizer que estamos fartos de Lisboa e da falta de qualidade de vida que se sente na Mouraria - milhares de pilaretes, turistas imbecis, obras que não acabam, lixo por todo lado, hostels que roubam locais de habitação, restaurantes gourmets e toda a espécie de armadilhas para turistas, etc...
Ou que já não temos coragem para enfrentar toda a imbecilidade de uma população embrutecida pela miséria económica e o álcool barato.
Mas não... A razão é que vamos ao Tenderete em Valência (Espanha) satisfazer os fãs da MMMNNNRRRG e Chili Com Carne que existem (realmente) por aquelas bandas - o que sinceramente é bem melhor do que aguentar com a Pior Noite de Lisboa.
Que alguém monte nas ruas projectos alternativos à má-onda da Festa da Cidade. Pró ano tentaremos fazer algo mas nada impede de pensar isto: que se foda Lisboa!
segunda-feira, 9 de junho de 2014
CIA info 80.2
Continuando a participação na revista Cru eis que está feita uma nova BD de 3 páginas para o novo número dedicado a "coisas fofinhas"!
Já tenho meu exemplar e parece-me bem a não ser pelo excesso de naftalina de Garage!
quarta-feira, 21 de maio de 2014
João Moreira dos Santos : "Jazz em Cascais : Uma História de 80 anos" (Casa Sassetti; 2009)
Eis uma agradável surpresa este livro, pelo menos para um ex-residente de Cascais e curioso do Jazz. Desconhecia completamente que a implantação e desenvolvimento do Jazz em Portugal passou sobretudo pela Linha do Estoril - claro que a evolução do Jazz em Portugal deixou de acontecer por estas bandas a dada altura porque as iniciativas do concelho foram quase sempre para o Jazz cristalizado, comercial e para o tio & tia fingirem que gostam.
Assente nas histórias dos empresários Erico Braga (1893-1962), Luís Villas-Boas (1924-1999) e Duarte Mendonça (1931-) e a forma como sempre tentaram dinamizar e divulgar o Jazz em Portugal, o que nunca foi fácil porque essa música era do Diabo! Para o Estado Novo, pior que saber que esta música punha o pessoal a dançar e pular era ainda mais inconcebível saber que os músicos negros não eram os selvagens que os "bons portugueses civilizavam em África".
O livro é bastante agradável no que respeita à leitura do texto e das imagens / documentos que aparecem. Não chega à leviandade dos "foto-livros" que nada dizem - é irónico que neste país pouco dado às imagens tenha começado nos últimos anos a serem editados montes de livros só com fotografias mas novamente com pouco ou nenhum contexto escrito, crítico ou narrativo - mas também não é uma enciclopédia exaustiva para cromos do Jazz.
Fiquei a conhecer as razões da existências de discotecas, teatros, clubes, casinos em Cascais e Estoril, como por exemplo, nunca pensei que o Palm Beach ou Bauhaus (discotecas dos betos) tinham começado por serem lugares de música Jazz, abertos em 1941 e 1955 respectivamente. Aliás, o Bauhaus chamava-se Ronda - acho que o Camarada Gouveia já me tinha contado. Agora percebo a decadência da noite cascaense nos anos 90 quando lá vivia...
As melhores histórias contadas passam pelo festival Cascais Jazz onde vamos encontrar as drogarias e extravagâncias de Miles Davis (em 1971), o incidente político de Charlie Haden (no mesmo ano) ou as exigências "da época" (estamos no PREC, em 1975) do grupo Plexus, ao qual faziam parte o Rui Neves (actual Director do Jazz em Agosto) e Carlos "Zíngaro" (músico e autor de BD) que ilustrou um panfleto contestário. Dos anos 80 para frente, com mais ou menos pobreza ou riqueza de meios e de apoios, os movimentos ligados ao Jazz na linha vão ficando profissionais e instítuidos, ou seja, deixa de contar episódios caricatos nem nada que valha a pena ler. Se por um lado permitem a edição de um livro como este (com o apoio da Câmara Municipal de Cascais), por outro chegamos ao fim da linha.
Em completa antítese ao livro anterior está o mono-volume Duarte Mendonça : 30 Anos de Jazz em Portugal 1974-2004 (CM de Cascais; 2004), também redigido por JM dos Santos. É o pior que a despesa pública consegue fazer porque não sabe delegar o dinheiro a quem sabe fazer como deve ser - o livro anterior é exemplo disso, aliás, apoiado pela CM de Cascais mas produzido por editores particulares.
Este é um livro luxuoso com design horroroso e disfuncional, que deveria servir para homenagear a Duarte Mendonça pelo seu bom trabalho que fez em promover o concelho e o Jazz. Porque é que o designer - já agora o nome: David Santos, para quando cruzarem com ele não lhe pedirem ajuda ou trabalho - coloca uma moldura enorme ao longo de todas as páginas? Além de parecer um convite de casamento torna o livro pesado em número de páginas e peso. Porque faz páginas duplas com algumas fotografias quando elas não tem esse tamanho e com isso ficamos com elas cortadas? Nada faz sentido... Sendo que ainda por cima é um livro para cromos do Jazz porque as fotografias só tem interesse para quem é doidinho por aqueles músicos (ainda assim dada a má qualidade da reprodução nem sei se satisfaz este público) e o conteúdo escrito é apenas uma simples biografia das façanhas de Mendonça e dos seus projectos sem que haja nada de especial a declarar a nível de histórias milaborantes.
O peso, o luxo e o institucional poderiam ser más características para um livro mas este é o livro institucional no pior sentido da palavra porque foi feito pela própria Câmara, que se calhar sabe passar multas ou atribuir verbas a centros de dia mas não sabe o que é um livro! Se calhar até deveriamos ter pena do designer, coitadinho deve ter sido obrigado a fazer o que lhe pediram... Imagino o Presidente da Câmara (que deverá ser tão ignorante como a maioria dos portugueses em matéria de cultura visual) a dizer "ó David, não se pode ter fotografias a ocupar o livro todo? E se colocasse o título do livro em cabeçalho de todas as páginas? eih? Tá bonito não 'tá? E prateado? Pode-se imprimir em prateado?" Deus nos livre de sermos assim homenageados! É de enfiar o capucho!
Mediocre também é Josephine Baker em Portugal (Casa Sasseti; 2011) também do mesmo autor dos outros dois livros acima referidos. Baker (1906-75) é um ícone do século passado e que passou por Portugal várias vezes entre 1933 e 1960, ora como jet set, ora como artista como ainda como espia para os franceses. A artista nasceu nos EUA mas foi em França que se fez aceite enquanto cidadã negra com o sucesso e "escandale" do mundo do espectáculos, por isso quando a França foi nazificada, além de se ter recusado a tocar durante o regime de Vichy, ao que parece andava a recolher informações nos Casinos portugueses, informações essas que escrevia e colocava no soutien para enviar à malta do De Gaulle - a mim parece-me pouco provável isto, acho que os Senhores da Guerra têm é pancas sexuais maradas e se calhar pediam à "Josefina" esta missão era antes para ter fantasias olfativas-sexuais... Tarado, eu!?
Também se relata outras questões de Baker ter tentado adoptar uma criança portuguesa para a sua Tribo do Arco-Íris, a família de Baker de dez crianças de toda as "raças e religiões", incluíndo por exemplo um coreano, um finlandês, um israelita,... A Madonna e outras "stars" americanas não inventaram nada de novo. O livro é "light" embora seja mal enjorcado com o seu formato estreito. O DVD incluído reúne as gravações sobre as suas passagens em Portugal mas não as actuações da música em 1960 - talvez os "copyrights" fossem altos mas poupando um bocado no papel (formato e qualidade) talvez até se conseguia isso, não? No final, é um simpático documento sobre esta relação portuguesa com a "Vénus Negra" que nunca chegou a fazer "shows" tão provocantes como nas Folies Bergère - não por pudor do nosso terrível catolicismo e Estado Novo mas apenas porque esta grande mulher já estava noutra quando veio cá actuar, o que mostra que Portugal sempre acerta ao lado...
Gracias à Biblioteca de S. Domingos de Rana pelos livros - em especial, claro, pelo primeiro livro que é mesmo uma bela surpresa.
Assente nas histórias dos empresários Erico Braga (1893-1962), Luís Villas-Boas (1924-1999) e Duarte Mendonça (1931-) e a forma como sempre tentaram dinamizar e divulgar o Jazz em Portugal, o que nunca foi fácil porque essa música era do Diabo! Para o Estado Novo, pior que saber que esta música punha o pessoal a dançar e pular era ainda mais inconcebível saber que os músicos negros não eram os selvagens que os "bons portugueses civilizavam em África".
O livro é bastante agradável no que respeita à leitura do texto e das imagens / documentos que aparecem. Não chega à leviandade dos "foto-livros" que nada dizem - é irónico que neste país pouco dado às imagens tenha começado nos últimos anos a serem editados montes de livros só com fotografias mas novamente com pouco ou nenhum contexto escrito, crítico ou narrativo - mas também não é uma enciclopédia exaustiva para cromos do Jazz.
Fiquei a conhecer as razões da existências de discotecas, teatros, clubes, casinos em Cascais e Estoril, como por exemplo, nunca pensei que o Palm Beach ou Bauhaus (discotecas dos betos) tinham começado por serem lugares de música Jazz, abertos em 1941 e 1955 respectivamente. Aliás, o Bauhaus chamava-se Ronda - acho que o Camarada Gouveia já me tinha contado. Agora percebo a decadência da noite cascaense nos anos 90 quando lá vivia...
As melhores histórias contadas passam pelo festival Cascais Jazz onde vamos encontrar as drogarias e extravagâncias de Miles Davis (em 1971), o incidente político de Charlie Haden (no mesmo ano) ou as exigências "da época" (estamos no PREC, em 1975) do grupo Plexus, ao qual faziam parte o Rui Neves (actual Director do Jazz em Agosto) e Carlos "Zíngaro" (músico e autor de BD) que ilustrou um panfleto contestário. Dos anos 80 para frente, com mais ou menos pobreza ou riqueza de meios e de apoios, os movimentos ligados ao Jazz na linha vão ficando profissionais e instítuidos, ou seja, deixa de contar episódios caricatos nem nada que valha a pena ler. Se por um lado permitem a edição de um livro como este (com o apoio da Câmara Municipal de Cascais), por outro chegamos ao fim da linha.
Em completa antítese ao livro anterior está o mono-volume Duarte Mendonça : 30 Anos de Jazz em Portugal 1974-2004 (CM de Cascais; 2004), também redigido por JM dos Santos. É o pior que a despesa pública consegue fazer porque não sabe delegar o dinheiro a quem sabe fazer como deve ser - o livro anterior é exemplo disso, aliás, apoiado pela CM de Cascais mas produzido por editores particulares.
Este é um livro luxuoso com design horroroso e disfuncional, que deveria servir para homenagear a Duarte Mendonça pelo seu bom trabalho que fez em promover o concelho e o Jazz. Porque é que o designer - já agora o nome: David Santos, para quando cruzarem com ele não lhe pedirem ajuda ou trabalho - coloca uma moldura enorme ao longo de todas as páginas? Além de parecer um convite de casamento torna o livro pesado em número de páginas e peso. Porque faz páginas duplas com algumas fotografias quando elas não tem esse tamanho e com isso ficamos com elas cortadas? Nada faz sentido... Sendo que ainda por cima é um livro para cromos do Jazz porque as fotografias só tem interesse para quem é doidinho por aqueles músicos (ainda assim dada a má qualidade da reprodução nem sei se satisfaz este público) e o conteúdo escrito é apenas uma simples biografia das façanhas de Mendonça e dos seus projectos sem que haja nada de especial a declarar a nível de histórias milaborantes.
O peso, o luxo e o institucional poderiam ser más características para um livro mas este é o livro institucional no pior sentido da palavra porque foi feito pela própria Câmara, que se calhar sabe passar multas ou atribuir verbas a centros de dia mas não sabe o que é um livro! Se calhar até deveriamos ter pena do designer, coitadinho deve ter sido obrigado a fazer o que lhe pediram... Imagino o Presidente da Câmara (que deverá ser tão ignorante como a maioria dos portugueses em matéria de cultura visual) a dizer "ó David, não se pode ter fotografias a ocupar o livro todo? E se colocasse o título do livro em cabeçalho de todas as páginas? eih? Tá bonito não 'tá? E prateado? Pode-se imprimir em prateado?" Deus nos livre de sermos assim homenageados! É de enfiar o capucho!
Mediocre também é Josephine Baker em Portugal (Casa Sasseti; 2011) também do mesmo autor dos outros dois livros acima referidos. Baker (1906-75) é um ícone do século passado e que passou por Portugal várias vezes entre 1933 e 1960, ora como jet set, ora como artista como ainda como espia para os franceses. A artista nasceu nos EUA mas foi em França que se fez aceite enquanto cidadã negra com o sucesso e "escandale" do mundo do espectáculos, por isso quando a França foi nazificada, além de se ter recusado a tocar durante o regime de Vichy, ao que parece andava a recolher informações nos Casinos portugueses, informações essas que escrevia e colocava no soutien para enviar à malta do De Gaulle - a mim parece-me pouco provável isto, acho que os Senhores da Guerra têm é pancas sexuais maradas e se calhar pediam à "Josefina" esta missão era antes para ter fantasias olfativas-sexuais... Tarado, eu!?
Também se relata outras questões de Baker ter tentado adoptar uma criança portuguesa para a sua Tribo do Arco-Íris, a família de Baker de dez crianças de toda as "raças e religiões", incluíndo por exemplo um coreano, um finlandês, um israelita,... A Madonna e outras "stars" americanas não inventaram nada de novo. O livro é "light" embora seja mal enjorcado com o seu formato estreito. O DVD incluído reúne as gravações sobre as suas passagens em Portugal mas não as actuações da música em 1960 - talvez os "copyrights" fossem altos mas poupando um bocado no papel (formato e qualidade) talvez até se conseguia isso, não? No final, é um simpático documento sobre esta relação portuguesa com a "Vénus Negra" que nunca chegou a fazer "shows" tão provocantes como nas Folies Bergère - não por pudor do nosso terrível catolicismo e Estado Novo mas apenas porque esta grande mulher já estava noutra quando veio cá actuar, o que mostra que Portugal sempre acerta ao lado...
Gracias à Biblioteca de S. Domingos de Rana pelos livros - em especial, claro, pelo primeiro livro que é mesmo uma bela surpresa.
terça-feira, 20 de maio de 2014
LusoSerbiAmerica
E apareceu-me hoje no correio o mítico fanzine norte-americano White Buffalo Gazette com uma BD minha e do sérvio Aleksandar Zograf (autor do Mundos em Segunda Mão) que foi feita em 2003 e publicada originalmente no Talento Local apenas em 2010...
Thanks Buzz & Aleksandar!
sexta-feira, 9 de maio de 2014
quinta-feira, 8 de maio de 2014
terça-feira, 6 de maio de 2014
EGOtripping cara!
A melhor história da edição, porém, fica com o quadrinista português Marcos Farrajota e seu tergiversar free style, altamente ácido, sobre a cultura do punk rock nos dias de hoje. Em cinco páginas, no que parece um surto rabiscado de improviso, ele vai das “demos” podreira (Mukeka de Rato, Leptospirose, DFC, etc.) que recebe pelo correio, à saga de conseguir revendê-las em Portugal, a uma reflexão sobre o solipsismo da cultura punk nos dias de hoje, à comparação entre o som brasileiro e o português, e até a uma árvore genealógica do estilo, partindo de 1976. Finalmente, em talvez um único caso, a música tenha sido relevante na edição “musical” da Prego. O resultado em geral, porém, por irregular que seja, é positivo. Melhor queimar os fusíveis dessa galera de uma vez e deixá-los experimentar do que esperá-los apodrecer procurando fazer obras-primas. por causa do Prego #5!
sexta-feira, 25 de abril de 2014
25 a vir-se...
Marriette Tosel vai realizar a exposição Beijo de Língua dedicada ao livro W.C. na galeria da Abysmo a inaugurar no dia 25 de Abril, às 18h.
O evento conta com a presença de Tiago Manuel, representante em Portugal desta artista belga, sabemos que foram feitas 20 originais novos e estarão patentes até 9 de Maio.
Esta exposição veio em boa altura uma vez que o trabalho foi seleccionado para COMIC AND CARTOON ART ANNUAL (categoria "Long Form") pela Society of Illustrators (Nova Iorque), a mesma instituição que premiou recentemente André da Loba e Marta Monteiro.
...
E na Casa da Achada numa exposição intitulada O 25 de Abril por vir, Marcos Farrajota participa nesta colectiva com esta imagem...
O evento conta com a presença de Tiago Manuel, representante em Portugal desta artista belga, sabemos que foram feitas 20 originais novos e estarão patentes até 9 de Maio.
Esta exposição veio em boa altura uma vez que o trabalho foi seleccionado para COMIC AND CARTOON ART ANNUAL (categoria "Long Form") pela Society of Illustrators (Nova Iorque), a mesma instituição que premiou recentemente André da Loba e Marta Monteiro.
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E na Casa da Achada numa exposição intitulada O 25 de Abril por vir, Marcos Farrajota participa nesta colectiva com esta imagem...
quinta-feira, 24 de abril de 2014
Guantanamo questionnaire : Marcosom Farrajoto
Entrevista feita por Kaja Avberšek e David Krančan para Stripburger #62.
Let's start with Bedeteca, your home institution.
Bedeteca de Lisboa is a comics library created in 1996 by the City Hall of Lisbon. Until 2002, it has been the most important public institute supporting comics in Portugal, as it helped young artists and new editors, republished classics and published essays about comics and their History. It also organized exhibitions (with catalogues) and festivals. All this was possible thanks to the organizing skills of its director João Paulo Cotrim. Things started to fall apart after he left since all the projects depended on the political support of the then-mayor João Soares. From 2002 to 2006 we had a good program, but since then we had to work with a "zero budget". In 2009 we gave up doing exhibitions (even at zero cost) because of the problems with the building where Bedeteca resided. In 2010 the director Rosa Barreto left and the City Hall didn't find a substitution for her. This is where we are now: no leader, no team, just two people taking care of the library – and a damn good library, by the way!
What exactly was your function at Bedeteca in the golden times? Were you officially employed?
I used to manage the program for the Salão Lisboa Festival and other events, curate exhibitions, take care of the website bedeteca.com (where you can read the Portuguese comics history between 2001 and 2010!), to edit and publish books, catalogues and magazines (like Quadrado magazine or Lx Comics collection for new authors), give comics workshops, a little bit of everything … I started working in Bedeteca in 2000 as an “independent worker” – which was an illegal way of working for companies or the public institutions. As independent you work as any other employee, but you are not officially in the “house”, you’re “independent”, so you can be fired whenever they want and all that ... ah, the old days of “recibos verdes” (the tax figure of this kind of employment in the 90’s and 00’s). I’ve been working as a normal employee since 2009, yup, I’m a public worker, I’m the enemy...
So now you’re officially at Bedeteca?
Yes, that’s my “day job” or the “pay the rent job”. But since 2010, I refuse to be more than a librarian in Bedeteca. No more having Jakob Klemenčič at my place! Let me explain this private joke: in 2008, when Stripburger was here in Lisbon with the Honey Talks exhibition, the show was held in Bedeteca de Lisboa, which is funded by the City Hall. Despite having the exhibition for free and the Slovenian guests coming all the way here for free, the City Hall didn’t want to pay for their accommodation. So I offered Jakob to stay at my place, and my boss at the time also arranged her boyfriend’s place for David Krančan. Anyway, I think this is not the way to do it, so I’m not sacrificing my own resources for a public institution anymore.
Also, there seems to be no clear idea or plan of what to do with Bedeteca, so it doesn’t make sense to plan anything here right now… So I’m just a good librarian, you know, someone comes here looking for a comic book and doesn’t know the name of the author or even the title, and still I’m able to find it! I’m a nerd this way, I guess… Of course Mr. Jakob has been at my place afterwards, but that’s another story …
Does the future of Bedeteca money-wise depend only on the good will of the municipality? Has anyone tried to reactivate it with some sort of EU funding, programs like EVS, Leonardo da Vinci etc …?
Bedeteca is a public library, a member of the municipality libraries network (BLX), which is part of the Culture Department of the City Hall. It’s not a private institution so it has hierarchy and rules that make everything slow and dull. Previously there was a connection with the mayor and the culture alderman who could speed things up or at least give us some orientation lines. None in the City Hall is interested in or understands comics anymore, there’s no top management since Rosa Barreto left - we’re like a dead chicken running around headless, except this chicken can give you more than 8000 volumes of comics to read!
… among which there are quite a few books you have helped to produce yourself. You are generally known as a (self)publisher and as an activist in different areas of the alternative scene, but you are also a comic artist. How did you get into the comics anyway?
I’ve liked them since I was a kid and this passion went the usual way: as a shy and antisocial person is was more into reading comics than speaking with peers. I was drawing here and there, getting crazy about super-heroes and later underground comix. After that I got into the fanzines scene and started to do one in 1992, it was titled Mesinha de Cabeceira. Then I worked here and there, the usual way again: xerox copies, autobiography comics, getting pissed and stoned, getting pissed with the comics scene, doing DIY and becoming famous for 15 minutes in some popular series with the Loverboy series. Then I went back to zines, started doing DIY again, got really fucking pissed with the comics scene, but continued to do stuff … Now I do it less, since the editorial work take a lot of time. I was lucky to get a grant to make comics outside Portugal in 2011: this way I’ve already made half of a book which is to be published someday …
Tell us more about the upcoming book.
The all thing is essay and autobiography about archives, collections and the relation with objects. Trying to figure out why we buy so many records, books, zines, tapes and all that…
Will you publish it with Chili Com Carne? How does your publishing house work?
For now I’m publishing it by chapters in my zine Mesinha de Cabeceira (and in issuu.com/mmmnnnrrrg) but who knows when I’ll finish it anyway… I need another grant! Hahahaha The all thing is complicated to continue when I’m back to the “9 to 5 thing” and after that on the editorial stuff (Chili Com Carne and MMMNNNRRRG) and still trying to do creative work…
Chili Com Carne is a non-profit organization of young artists that mutates every 2 years with the election of a new editorial board. We are present since 1995, got legalized in 1997 and focused on publishing in 2000. You can get a lato sensus idea of the CCC on the website. The majority of our publishing represents comics but we’ve also published literature, drawings, essays and music because we like all that ... I guess CCC was always a melting-pot of ideas which couldn't be satisfied only with comics or the comics scene - or any scene at all. Of course the comics scene is square but we can say the same for music or literature as well. "Networking" was always the goal before the word went hype with the internet.
What about MMMNNNRRRG? We can hardly follow all the activities you're involved in …
MNRG is a solo project of mine created in 2000 with the intent of publishing all the comics that nobody wants! It's been a "dinamic duo" project with Joana Pires taking care of the design and my bad mood since 2010, hahahaha. Most of the label aspect is connected with an "art brut" feeling of art with no compromise and no fixed genre. The idea was to publish unique voices in comics and illustrations.
How many publications have you produced until now? Could you point out some of your most important achievements?
Maybe around 50 books both CCC and MNRG, I should go check it on the website of CCC and MNRG … and two music records as well!
I guess the most important are the first ones: Mutate & Survive and O Macaco Tozé. The first because we had this crazy idea of making a “MEGA-zine”, a 200 pages comics book featuring independent artists from Portugal. Thanks to the international promotion (I suspect most of it came from Stripburger!) we started to receive stuff from all over the world! In the end there were 77 artists from 16 countries. It was such a joy to get to know all these people. As for Macaco (crazy bas-fond Oporto comix done by Janus), it’s my first book under MNRG label, and it was my response to some stupid stuff happening with publishing houses in Portugal at that time. This was in 2000, at the peak of comics publishing and author’s comics in Portugal, and I was really angry and passionate about making this MNRG statement to protect “the innocent artists from the evil publishers”. Apart from that, I also wanted to show “fucked up comix” – not only nice stuff as it was made at the time: I wanted to show there was also nasty stuff!
Recently, perhaps it would be Boring Europa and Futuro Primitivo anthologies, because I’ve tried to change the editor’s role into a narrative DJ concept or, in other words, into a ‘comix-remix’. This means to “screw and chop” comics by other artists transforming them into new comics. It’s not an easy job because there haven’t been many experiments of this kind in the history of comics. I have a slight sensation of failure but I’m proud that I’m trying to introduce a new concept into comics … Sounds pretentious, but that’s why I started to write these articles about it published in the newspaper Kuti and in the book Metakatz. Seems like no one knows that there have actually been some experiments in this field: from Max Ernst to recent anthologies Tonto and Giuda.
What are the channels of distribution for your publications? Is it easy to buy your stuff in bookshops throughout Portugal?
We’ve mostly had mixed experience with this since 2000. We had three different distributors. One was perfect, but closed down. It was a Belgian girl who lived in Portugal but later returned back to Belgium. The last distributor was a "motherfucker" that didn’t pay, so we had to get a lawyer and we won! I guess that’s how Portugal works. This is why now and in the meantime we distribute ourselves. There’s not many bookstores left, just like record shops, after Internet revolution and economic crisis. Most of bookstores are now owned by four major chain bookstores (FNAC, Bertrand, Bulhosa and Almedina). Sometimes we succeed in convincing them to sell our books, sometimes we don’t – and we don’t know why … there is no scientific explanation to it! Still, we try not to depend on the mood of these messed up companies, so we do our own events to sell and put our books in record or fancy design shops. There is also this idea to get different crowds to read comics or literature.
There are some comics shops in Portugal but I don’t work very well with them – and vice-versa – since all they want is to sell fetishist and fascistic superheroes bullshit, manga porn and paedophilic Franco-Belgian albums. Of course there are some exceptions, like Mundo Fantasma in Porto, with which we collaborated to make an exhibition of Marcel Ruijters over there.
You surely have many foreign readers; does your stuff reach them through the distribution channels or is it more hand-to-hand, dealing stuff at the festivals throughout (mostly) Europe?
Same as in Portugal, yes, hand-to-hand, festivals … but then there’s some official and solid connections with stores in Germany, Spain and Brazil.
Do you get any kind of subsidies from the Municipality of Lisbon or the Ministry of Culture? We cannot imagine you being able to do it all out of your pockets ...
We received some funds from the Portuguese Youth Institute and previosly Cascais City Hall. Cascais is a suburb of Lisbon where I previously lived and where CCC was founded. It really helped to kickstart CCC between 1997 and 2001, but not so much a bit later: Cascais City Hall became angry with us over an anthology we published with their support. They hated a comic by Mike Diana and Rafael Dionísio’s hilarious text about the Dalai Lama. Later, they withdrew their donations saying that they didn’t support books anymore, hahahaha. This was in 2005, but last year they gave money for O Hábito Faz O Monstro, a comic book by Lucas Almeida, with a page where the Devil’s giant penis is cut with a sword. Some people just never learn!
Anyway, we’re becoming progressively able to sell enough to do whatever we want without depending on public grants and all that. This is a small operation in the sense that we don’t have an infrastructure like an office and materials or a regular program of X books per year. The internet access is paid from my pocket, the designers have their own Macs … everything is quite organic! We do what we want when we’re supposed to … so for instance, just to destroy your romantic idea of us, the books are being stored at my place (along with the clothes and shoes), at my parent’s house and at another member of CCC parents’ house. But everything is well packed and organized, our parents don’t complain!
MNRG books are published by me only, so yes, it’s from my money and it is possible to do it! It’s possible to do stuff without much money but only if you’re an organized person. You also have to be a long distance runner and you need to believe in your work. If you want to get money fast, well … then become a hipster and spend 100 Euros on a t-shirt to be at the right party with the right people! Of course it was hard in the beginning, but slowly everything comes together. For example: 10 years ago, nobody cared what I published. Now, just because we have books in FNAC megastores, people are amazed: “Oh, I saw your books at FNAC!” as though the books are better if they are sold in FNAC. Hahaha! Or some critic that used to ignore or write bad reviews about our books now writes “incredible work, blah blah”…
We all know that the alternative scene never operated with much money. Does editor’s work earn you enough money to live? If not, what are your bringing-home-the-bacon activities, if that's not too personal?
I don’t have to earn anything at all with publishing! Like I told you, I work as librarian, a comic librarian, and then I spend my money on publishing, hahahaha.
Chili Com Carne is a non-profit association so everybody volunteers most of the time – writing, drawing, design, distributing, whatever … Sometimes if there’s a better budget we can pay someone for this or that. We pay all the expenses by selling our books and other labels’ stuff, with quotas of the members of CCC and some ridiculous grants.
The small press thing is not about money but ideas. Books or other products you create serve to promote ideas or the authors in the sense that they can propel to other ideas, situations or projects in the professional world. Of course, there’s some underground stuff that you earn good money, those niches & nostalgia market maybe, but I don’t want to release stupid garage rock records or make drum’n’bass parties, do I?
What are the influences you would point out as the most important for your work? OK, we know it’s anarchism, punk, art brut, no compromise whatsoever … but can you be more specific and give us some names?
Hm, I don’t know … I think you named them all … add to this the industrial culture, noise and death metal, hahaha … and Fábio Zimbres, the editor and artist of the Brazilian comics magazine Animal, Brazilian magazines of the 90’s (Chiclete Com Banana, Piratas do Tiête …) and Escape magazine from the UK (edited by Paul Gravett). Those were the magazines that influenced me to start my own zine.
Still there’s no need to invent or quote much, the tools and models are all here! You just have to do it by yourself, make mistakes, acquire experience, have fun, revolt and do something about it. People can help a lot, you just have to ask them for it to make connections, get the rewards and enjoy what you’re doing … You can do something original or at least different from what you wanted to do in the first place by mistake! If you want something perfect, go “franchising”, if you want something different, do it on your own and invite friends to do stuff with you. They will always screw up your original idea and thanks to that it will be a better project. I like the band Pigface! Seriously, what I wrote here is more or less their modus operandi … I guess I wanted always to be Martin Atkins!
I suppose most of the stuff that influenced me comes from music, not so much from comics or arts. I like the rock’n’roll vibe of doing things – not the rock music anymore, but of the way of doing things alive and kicking. I guess that’s why we made the Boring Europa tour!
Are you a fan of Le Dernier Cri? I suppose you are …
Yes, of course, but not of every book. We don’t share many methods and aesthetics, except for a few authors we both published: Mike Diana, Tommi Musturi, André Lemos and now Marcel Ruijters. But that’s it. I do “industrial printing” books and most of them comics or literature, while LDC makes hand-made artistic graphic books. What’s fascinating about LDC is their “democratic access to culture” which is rooted in the punk culture. With LDC stuff you can have art at a reasonable price. That’s beautiful because unless you have 5000 Euros to buy original paintings, the only solution would be to put Bob Marley or Sex Pistols posters on your walls. With LDC you can have a nice drawing on a big silkscreen for 50€! Isn’t that fair? Also, the funny thing about LDC is that as soon as you discover them, you want to be part of it somehow. You want to make an exhibition with them in your town, buy their stuff to sell or to give someone, etc. It’s not common to have this relation toe-to-toe in the "normal" elitist art world, they’re an inspiring telluric force!
How do you find the right artists? You probably don't just rummage through the "garbage", but as you said, you take all the stuff that nobody else likes. You surely have some standards … do you have any preferred or favourite authors? Do they generally find you or do you find them? How does that happen? On fairs, exhibitions, on the internet, by word of mouth?
Well, the first three, Janus, Mike Diana and Christopher Webster, came from zine word. I used to read their zines in the 90’s (which was a sane activity to do in those days) and then decided to create MMMNNNRRRG, because I wanted them to get a broader audience so that their work wouldn’t be forgotten after the xerox zines disappeared into the “underground”.
Things started to change with the end the zine scene. I found some artists in the internet, like Neuro or Aaron $hunga, others through friendship or being their friends (Tommi Musturi, Igor Hofbauer, Aleksandar Zograf), and some because they live in my country (André Lemos, João Maio Pinto, Max Tilmann, Alexandar Brener & Barbara Schurz). Also festivals: I’ve met Marcel Ruijters at the Ravenna Komikaze Festival when he was doing the Inferno book (of which I saw some pages and loved it). Later I met him again in Angoulême where he gave me the Dutch edition and then in Helsinki we agreed to make the Portuguese edition! Finally I brought him to Feira Laica in Lisbon to release the book. I guess this is the most typical “comic nerd culture” example you can get from me, hahaha … things just happen.
All this authors are my favourites, they touched me somehow and I know because they are fresh and different, but nobody is paying attention to must of them. Some are just too dysfunctional to do publishing themselves so I show them to the world. Of course, nobody wants fresh and weird stuff, so some books take ages to sell out or to start selling … but anyway, that’s what editors do, right? Find important stuff to show to the world!
You mentioned Feira Laica ...
Feira Laica IS DEAD! Yeah! It's a naïve project created by me and José Feitor (illustrator and publisher - Imprensa Canalha) in 2004. We made 21 events under this banner until the last one in December 2012. Basically it was a small press fair (not a comics event) that took place twice a year: one in June, which was like a summer party with books and beers, and one in December to exploit the Christmas consumerism frenzy. It grew quite well, especially during the last 2 years, even when we somewhat reduced the program. Still, it always had concerts, many Portuguese bands that are now famous did the first gigs on Laica, then exhibitions (with Stripburger as well), DIY films, program for children, workshops ... It was all 100% DIY: we only had to find a big place and then we would organize all the things in collaboration with people interested in helping ... so I guess anarchy works! And it works really well because we had around 900 visitors in one weekend during the last edition almost without the support of the official media, of the traditional advertising (we even gave up doing posters and flyers in the last years) or the "all mighty bullshit" “Facepoop”.
Then why did Feira Laica die after all? Financial issues? Personal problems? Quarrels? Boredom? We really wonder why because it seems like it was a really successful event! Does this mean anarchy doesn't work that well after all? :)
Fuck no, it works!!! There is already another group of people doing the substitution event right now!!! See? You wicked Slovenian!!!
No money problems. Why? Because it never had any money! No personal problems or quarrels. Why? Because there was no money in it again! Just boredom! We were doing this for 8 years, always in the same way, we’ve shown that it works, so we decided it was time that someone else did it – maybe they can do it better, who knows? We don’t use the name Laica for the new events because we feel that people should use a different name as it’s going to be a different concept, working methods, people etc. At some point we actually considered just giving away the name, but then we remembered that we promoted the last one as the ultimate one. I’m not a Christian, I don’t believe in resurrection, not of the Nazarene pig and not even of this Russian bitch Laica! It’s over.
So, I guess you're not planning any similar events in the near future?
Probably not: while others continue making this kind of indie events, I’ll help with what I can, of course. Maybe we’ll use Laica as a brand to help promoting these new initiatives – like some kind of a “quality sponsor”, as Laica turned out to be pretty influential. This might help if we can assure that the next show has the same “Laica” standards. Another thing: Laica could make a comeback, but only for social purposes, like doing a benefit to save someone’s ass. Let’s not forget that all the system is shaky so you must think in a solidary way and stay connected with your community. Like sweet lil’ George Bush Jr. said: “Either you’re with us or you’re against us!” I guess he meant this in defense of the small press scene, but due to an enormous and incredible hierarchical mistake he invaded Afghanistan and Iraq.
Was there ever a time you wanted to quit the alternative scene and just be a pension-waiting public worker?
Should I have given up in 2001 or 2005 or 2008 or … today? No way, I’m like punk/hardcore bands and they’re just like cockroaches: always coming back and never giving up!
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Guantanamo questionnaire,
Marcos Farrajota
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