sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

EGOtripping 3



O estilo das pranchas é decididamente punk: os desenhos são horríveis. «Epá, eu não sei desenhar, mas também não preciso», diz ele. É só meia verdade: assim como se compram calças rasgadas e se despenteiam artisticamente as cabeças, o Farrajota faz questão que os seus bonecos sejam feios.Quando um sai bem, chateia-se. Folha embrulhada em bola e nova imagem vai surgindo em substituição, mais tosca. Marcos Farrajota é a reincarnação de Francis Bacon, com a diferença de que, se este veio afrontar os presunçosos meios das artes plásticas, o português parece ter como missão chagar a tonta e alegrinha cultura pop.Não conheço ninguém que tenha como maior ambição piorar em vez de melhorar, só esta ave rara. Coisas bonitas são para betinhos, acha. Presumo que seja um trauma, pois o rapaz cresceu em Cascais. (...) Anti-BD à Tintim e anti-DJ de “entertainment”. Assim é o Farrajota, situacionista discordiano que incomoda mesmo os anarquistas cá do burgo. Aliás, a sua própria aparência forja o desengano. Se olharem para ele vêem o cabelo e as patilhas de Wolverine, mas não só não lhe saem lâminas dos braços como desdenha dos super-heróis da Marvel.Ele é ainda mais «trashy». É mais «arte povera», mais arte bruta, um Dubuffet alfacinha dedicado aos valores especiais do autodidactismo, da ingenuidade e da idiossincrasia. É isso que o torna tão cativante. Dizia o francês, em tradução livre: «O normal é psicótico. Normal significa falta de imaginação, falta de criatividade. A razão que se lixe. Precisamos é do mais elevado nível de delírio.» Temos o Farrajota para isso, e bem que a música necessita deste par de ouvidos com ligação directa aos olhos e a um lápis. Rui Eduardo Paes

Amo-Te Lisboa | An ignominious street a̶̶r̶̶t̶̶ movie


No meio de tanta merda de street-art - patrocinada e institucionalizada pela Câmara Municipal de Lisboa como forma muito matreira e 'tuga de disfarçar os problemas urbanísticos da capital - surge uns genuínos, italianos, brutos e canídeos. Os Cane Morto, andaram por aí em Lisboa a grafitar de "forma errada" segundo os cânones de uma arte morta.
Entretanto isto chegou numa altura em que se sabe que o DJ Balli virá em Março a Lisboa destruir os nosso ouvidos! Estejam atentos e preparem-se!

domingo, 7 de fevereiro de 2016

Hinos Nacionais

Nástio Mosquito com Se eu fosse angolano (Dzzzz; 2014) mostra que a música angolana moderna não precisa de ser bronca-populista-kudurista nem de intervenção-máquina-do-tempo como Ruy Mingas. A verdade desta frase é sobretudo provada no CD de "remix" (mas que também tem temas novos) intitulado S.E.F.A. Fast Food que acompanha o CD "oficial", o original, o que dá título à coisa e que é mais Mingas que "electrónico".
No Fast food os complexos são mandados às favas e lá se vai ouvindo temas com pendor Electro / House que podem rolar na boa num bar ou numa discoteca de música "alternativa"... Um sopro de ar fresco para a lusofonia! Só é estranho não estarem todos as músicas dois CDs numa só rodela uma vez até que cabiam num só disco. Vaidade de artista com orçamento?
Os temas de Mosquito passam pela crise de identidade de um angolano cuja pátria pouco lhe diz - e realmente, para que serve a Pátria a não ser para os tarados nazis? Ou ainda, o que é que o teu país fez por ti? E afinal, pensando melhor, do que há de angolano destes discos? A produção é de bifes, Mosquito deve ter vivido mais em Portugal ou fora de Angola do que viver lá. Se eu fosse...





Já escrevi várias vezes em publicações físicas ou em linha que o Hip Hop português tem apenas duas ou três personagens que valham a pena ouvir os discos do princípio ao fim. Ou seja, artistas com visões próprias que recusam serem carneiros do género musical e que ousam quebrar barreiras. Um era o Ex-Peão que entretanto entrou num jogo comercial muito pouco interessante, os outros dois são Allen HalloweenNerve. 2015 foi o ano de regresso de ambos e foram os álbuns do ano do Pop/Rock/música urbana portuguesa. Se não concordarem ide ouvir o Stoner de trazer por casa!

(..) o público não compreende a gente (...) porque as letras agora (..) não interessam (...) não sabem apreciar o trabalho do poeta até dizem: isto é tão grande (...) a letra é tão grande - um "sample" no tema Conhaque in "Trabalho & Conhaque” ou “A Vida Não Presta & Ninguém Merece a Tua Confiança" (Mano a Mano; 2015). Esse "sample" de um poeta português do século passado (?) poderia justificar o enorme tempo que levou a saída deste CD desde o primeiro de Nerve na saudosa Matarroa... sete anos! O mundo web.2 impôs uma velocidade alucinante em qualquer campo das nossas vidas. A única forma de fazer Arte é desacelerar e até é justo que se consumam sete anos para elaborar, idealizar, realizar e despejar manifestos de como esta nossa modern life is rubbish... ou a vida não presta e ninguém merece a tua confiança.
Nerve faz-se de bobo moderno, vomita bílis por cima do PC e do engate "one night stand", nada é poupado e sendo o bobo não lhe cortam a cabeça. E ainda bem, precisamos de alguém que nos esgote a nossa esperança fazendo de espelho (não muito) distorcido e misantrópico para recuperarmos o que pudermos das cinzas deixadas no fim de cada audição. É preciso um sentido de humor bem negro para aceitar este disco como algo fixe! Obrigado Nerve!
Duas notas negativas numa produção fabulosa, a primeira é a capa que parece uma composição da C+S e tal como Allen Halloween podiam ser menos óbvios no aproveitamento daquela ideia do Tyler The Creator da segunda voz, ou seja, aquela voz distorcida de diabinho da consciência a dizer aos nossos queridos rappers para serem maus e xungas. Come on! Cena cristã batida!


Ops! O que fui dizer! Com Híbrido (ed. de autor), terceiro álbum de Allen Halloween, este despede-se da vida gangsta, dá aquela lição de moral aos putos apelando ao facto de que Deus é que é - virou Jeová como acontece qualquer africano de gueto a dada altura da sua miserável vida, invés de se virar para o anarquismo ou qualquer projecto social, infelizmente existe esta tendência do homem do gueto preferir-se enganar e aos seus próprios irmãos com patranhas religiosas. Seja como for, neste disco ainda não é grave a mensagem evangélica mas ai dele que avance com um próximo disco vestido de branco missionário e com orquestrações celestiais!
Para além das questões luso-africanas e de guetização social dos negros em Portugal, Allen é mais do que um panfleto da miséria local e consegue tratar de miséria... universal! Sendo um álbum com 13 faixas inesquecíveis há dois temas transversais para Portugal 2015 ou 2016 tanto faz: Gangsta Junkie é um surf rock melhor que qualquer banda garageira que ande por aí com uma letra tuk tuk que no seu primeiro minuto faz a polaróide lisboeta que ainda ninguém musicou. Será um hino para a Capital do Turismo se é que já não é! Mr. Bullying é uma narrativa alucinante (e terrivelmente orelhuda) de um potencial Columbine 'tuga. É tão assustador que nos deixa na merda e penso como ainda não aconteceu algo assim em Portugal? Bem... no ano passado houve um puto em Salvaterra de Magos que assassinou outro por causa de umas sapatilhas ao que parece. Para 2016 prevê-se o tiroteio numa escolinha, não? Afinal, seja para brancos ou negros, nada mudou, as nossas vidas continuam pendulares casa-trabalho como Nerve denuncia, os putos na escola ou na prisão é quase o mesmo resultado - estão lá, esquecidos pelos pais - e já foi anunciada nova crise financeira.
Bro, a Bíblia deixa-nos interpretar todos estes sinais do Apocalipse por causa do nosso próprio ADN cristão que aborve imediatamente as suas fábulas como verdades normativas. As soluções estão noutros livros mais à esquerda, citar os Clash já não é mau mas vai ler Bakunin, Halloween, e mete Javé no teu cu!

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016