terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

É preciso é ter Karma...


Se os Nirvana fizeram porque não pode fazer o Allen Halloween!? Unplugueto (SóHipHop; 2019) não é o fácil proveito económico de um formato comercial que vende a mesma música ainda por cima sem ruído eléctrico. Claro, que fazer uma versão do Sérgio Godinho parece mesmo aquele golpezinho sujo publicitário que qualquer bardamerdas da música portuguesa seria capaz de fazer para render a sua carreira miserável.
Se houve uma figura no música portuguesa neste milénio foi o Allen Halloween - se calhar a única -, tão figura que nunca fez parte da cena triste do Hip Hop nem de qualquer outra coisa, felizmente o Rui Miguel Abreu nunca lhe meteu os dentes em cima nem nunca o veremos na Eurovisão, ou se aparecer será a fazer um kizomba kristão que poderemos ignorar. Isto porque se há uma nota negativa é que este CD é o registo fonográfico de epitáfio de Allen, que passou pró Dark Side, ou seja para Deus, o anormal do caralho!
Allen foi o único gajo cujas músicas chegaram a todo o tipo de espectros, dos punks recauchutados à borregada dos metaleiros, do mitra da rua ao intelectual no seu palácio. Ouve-se este disco e está aqui a razão do seu sucesso e transversalidade. O recital melancólico de experiências violentas nas grandes cidades são tão bem colocadas na língua portuguesa que é impossível não sentirmos-nos identificados com a alienação e revolta mesmo que alguns (ou muitos) dos seus ouvintes sejam branquelas, e como tal, não sejam sejas vítimas do insidioso racismo português - lembro-me do Allen a ser expulso no Musicbox, quando ele ia tocar nessa mesma noite - ou que não tenham vivido em bairros degradados. A sua experiência de vida contada com a poesia dos dias vividos não cai em ridículo ou ignorância - como o Valete - daí que a nostalgia da vida loca da juventude, os amores e desencontros, a deriva no álcool dos bares e bairros, a morte de Deus (no caso de Allen é o contrário) e o vazio existencial, as dores de crescimento e o fenómeno de "Peter Pan" sejam temas que ressoam pelo ouvinte mesmo que as vivências rapadas de Allen sejam extremas da "thug life" e respectivos "G's", pitbulls e o Jah-jah.
Em Portugal, o seu rival impossível será o António Variações. Impossível porque além de estar morto, é um ícone que já teve direito a um "biopic" e tudo. Allen morreu também, em 2047 haverá um filme de certeza intitulado de "Bandido Velho : a vida de Halloween" a elevar o estatuto deste belo perdedor. Como qualquer perdedor, nunca será esquecido!

Gracias Camarada Fom Fom!

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Atropelä Merdinaa


Chiptune finlandês de uma banda que pelos visto dá o seu melhor a julgar pelo título da k7 The Very Best of 8 Bits High (Samsara Exit; 2019). É um trio de Commodores Punks provavelmente alinhados à demo scene que tocam música fixe para conduzir o carro pela Almirante Reis afora - enquanto o Merdina deixar - relembrando quando o Rudolfo era o Rudolfo. Há também um momento meio Mark Stuart and the Maffia no meio do som videojogos. Só é dispensável é um tema com ritmo Drum'n'Bass, que toda agente sabe é o género musical mais aborrecido à face da Terra! Se calhar na Finlândia curtem...
Kiitos Tommi!

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Fusão é um erro



A editora australiana Extreme é mais conhecida pela famosa Merzbox que juntava em 2000 a produção discográfica do mestre japanoise Merzbow em 50 CDs. No entanto há mais do que isto no seu catálogo e apanhei recentemente Ancestor's Halo (1997) de Ed Pias, um disco freak tão bem produzido que parece que o gajo está mesmo ao teu lado a tocar para ti. A viagem passa ao lado dos extremos orientes com perspectivas ocidentais, topas? Um Quarto Mundo centrado em percussões de instrumentos "exóticos" (para os ouvidos ocidentais, claro) que nem parece que estamos perante um académico! Há um ambiente sonoro de tensão Dark que vai enfraquecendo sorrateiramente a uma paz qualquer traduzida em hipnagogia - ganza deve ajudar... Belo disco e sem chulé.
O homónimo Land (1995) é difícil de definir, talvez seja uma espécie de Mr. Bungle para intelectuais, que tanto pode ser Miles Davis como banda sonora de Twin Peaks, como a seguir pode ser Earth neste novo milénio ou ainda qualquer coisa que o Brian Eno "ambientou". Disco dinâmico - sem ser "esquizo" como Mr. Bungle, não vos querendo induzir em erro - permite várias audições-descobertas e deixar o mistério a desvendar de quem era esta malta, o que queriam fazer com este disco, zeus!, o que se passa aqui?