sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

21

- Olivia Gazalé : Le Mythe de la Virilité (Robert Laffont; 2019)

- Adam Curtis: Can't Get You Out Of My Mind (BBC)

- Olivier Schrauwen : Sunday part 3, 4 (Colorama)

- Frans Masereel : La Ville (Martin Halleux; 2019 - orig. 1925)

- Philip K. Dick : Os Olhos do Céu (Panorama; 1957) + A Máquina Preservadora (Livros do Brasil; 1989-90)

- Carlos da Fonseca : Para uma análise do Movimento Libertário e da sua História (Antígona; 1988)

- Frantz Fanon : Pele Negra, Máscaras Brancas (Letra Livre; 2017 - orig. 1952)

- Yeong-shin Ma : Moms (Drawn & Quarterly; 2020) 

- José Feitor: Fosso #1 + Tumulto (Imprensa Canalha)

- Asghar Farhadi : À procura de Elly  (2009)

- John Berger : Ways of Seeing (BBC; 1972)

- Stan Neumann : Le temps des ouvriers / O tempo dos operários (Les Filmes D'ici; 2019)

- André Lemos: Dekomikonstrutivismus (Opuntia Books)

- Luigi Comencini : Lo Scopone Scientifico (1972)

- Jules Renard : O Pendura (Assírio & Alvim; 2009 - orig.: 1892)

- Akira Kurosawa : Rashomon - Às portas do Inferno (1951) + Yojimbo (1961)

- Jafar Panahi : 3 Rostos / 3 Faces (2018)

- Edward Abbey : O Gangue da Chave-Inglesa (Antígona; 2019 - orig. 1975)

- Tom Dissevelt & Kid Baltan : Song of the Second Moon (Fifth Dimension; 2015 - orig. 1962)

- Metadevice : Turba + Atomization (New Approach)

Feliz 2022

 



A Discrepant Records é uma editora que atacou por todos os lados em "músicas atípicas" muito à semelhança do que é a Sublime Frequencies. O seu responsável é português que vive entre paraísos fiscais e a capital do império Londres. Sei lá, foi o que percebi...  rumores. A verdade é que captou nos últimos anos quase todos os músicos portugueses de foro experimental ou out, tipo Filipe Felizardo ou Von Calhau, ao mesmo tempo que apresenta sons de mundos exóticos para nós eurocêntricos ou colagistas  sonoros como People Like Us ou ainda novas músicas do mundo não-ocidentalcrata como estes Praed com Fabrication of Silver Dreams (2017) e Rizan Said com King of Keyboard ((2016) ambos parcerias com a editora libanesa Annihaya.

Praed não é coisa fácil de ouvir quando estão em modo de Jazz mas este é um álbum psico-étnico acessível a qualquer cidadão do mundo que não se quer irritar com música. Pegam na música tradicional árabe Shaabi fundem Space Jazz (seja lá o que isso quer dizer) e algum Noise para inglês ver, o que dá para agradar gregos e troianos, acho. Agradável prá trip hipnagógica de sofá porque tem profundidade temporal. Há algo de Maurice Louca mas sem drama. A capa não é prateada, é o efeito da luz no plástico que a faz assim, é mais sonhos de alumínio.

Said é o braço esquerdo do sírio Omar Souleyman - o direito serão os poetas que se segredam as líricas ao ouvido? - e que metralha nos seus concertos o techno-allah mais pujante prá dança sem travões. Este disco é isso mesmo, Said a curtir a sua sem a voz do Souleyman. Tão simples como isso sem ser simplista porque estamos perante uma verdadeira demonstração de virtuosismo no orgão (ehm...) tal como o outro cromo dos E.E.K. A festa de ano novo já 'tá programada em casa com estes LPs todos, só falta mandar vir  as dlogas pela Getir!

domingo, 28 de novembro de 2021

Nick Cave: "A Morte de Bunny Munro" (Alfaguara / Objectiva; 2009)

Lá porque um gajo é famoso no mundo da Pop não quer dizer que seja bom noutras áreas artísticas - vide os quadros da Patty Smith ou os seus livros incrivelmente chatos. O Nick Cave que faça Rock que faz isso muito bem, como escritor é apenas divertido. Verdade se diga, que papei o livro em dois dias e de forma frenética, nesse aspecto Cave consegue atrair a atenção do leitor ao relatar o percurso decadente e mortal de um tarado sexual chamado Bunny Munro (sim é o nome da criatura). As ligações a outras personagens são fracas (a sua família, as gajas que ele come ou tenta comer, um Diabo violador à solta) chegando-se ao fim do livro a pensar que lemos uma vulgaridade descartável, que o romance prometia mais do que ofereceu e que a capa é apenas horrorosa.
No entanto se conseguirem isto a menos de 5 paus na Feira da Ladra ou quejandos, não se roguem de comprarem por curtirem os discos dos Bad Seeds. Até porque, lembrem-se disto, há sempre pior, olha, como os livros da Smith que nunca tive alguma vez coragem de escrever sobre eles por vergonha alheia.

sábado, 20 de novembro de 2021

Conteúdo sifilítico

 


Há tantas formas de como abordar o LP de estreia dos franceses Treponem Pal (Roadrunner; 1989) que me perco. Uma delas é que esquecemos sempre a França como um país em que se encontra música que nunca é celebrada apesar da influência real que possa ter pelo mundo. Num esquema autofágico seria fácil pensar Métal Urbain -> Big Black -> Ministry -> Treponem Pal, sendo os primeiros e últimos franceses e os do meio gringos como bem se sabe.

Metal Industrial entre Godflesh e Young Gods - e não é só a voz de Marc Neves que lembra a de Francis José Conceição Leitão Treichler (sorry, não resisti) dos Young Gods que soa parecido mas também toda uma cadência sonora que lembra os primeiros discos de YG, para além de Treichler ter feito produção deste disco e de outros dos Trepo - ehm, onde ia? ... 

É um género muito datado entre 1988 a 1995, diria. Sons tensos e pesados para ninguém se sentir alegre e pateta. O problema sempre é o que fazer com isto depois de se fazer dois ou três álbuns repetitivos? No caso deles foram para o electro-dub mas sem gênio e claro quando o pessoal envelhece sempre mal, do puto magricelas giraço ao balofo tatuado e anéis que parece uma sucata onde as modas urbanas vão lá parar - por favor, não quero conhecer o Max Cavalera nem o Al Jourgensen agora. 

A coisa torna-se genérica e a música perde valor para "conteúdo" como agora se diz, porque haverá sempre uma nova série de bosta na Netflix que precisa de um tema "indus-metal" para uma cena qualquer. Este disco ainda parte loiça e dá para um valente "headbanging" caseiro quando a esposa não está na mesma sala, não vá ela pensar que anda com um teenager misantropo.

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

A minha assinatura vale 5000 Euros



A BD Amadora deve ter algo contra os "marianos". 

Gato Mariano cagaram de alto, com a Mariana Pita fizeram merda e da grossa - sem nunca responderem por tal - e agora com o Rodolfo Mariano (mais uma vez) colocaram um livro seu na categoria dos fanzines.

Ora, é sabido que eu, Marcos Farrajota, nunca me candidatei a prémios da Amadora quando percebi que produções editoriais de qualidade tinham quase nula hipótese de ganhar num festival que promove maior parte do tempo a mediocridade da BD. 

Este ano concorri porque, feito parvo, fui no isco do dinheiro - pela primeira vez ao festival deu um  prémio monetário. Falei com os artistas e eles, claro que concordaram. 

Além de todos os nossos livros no Júri terem sido ignorados ainda alguém (não se sabe quem, a organização da BD Amadora é uma caixa negra) colocou como nomeado o Bottoms Up numa categoria que não concorremos - concorremos para melhor fanzine com A Fábrica de Erisicton - e dada a humilhação, pedimos para retirar a nomeação imediatamente.

A organização lá o fez sem pedir desculpas pelo acontecido e mais tarde descarregando qualquer responsabilidade numa nota de imprensa da Lusa.

Para a Chili Com Carne usar um stand no Festival é preciso pagar em espécie, oferecemos então vários livros e destacamos um exemplar com a minha assinatura no valor de 5000 Euros. Porquê? Porque se impediram o Rodolfo Mariano de participar nos prémios de forma correcta, impossibilitando a hipótese de ganhar 5000 Euros por melhor prémio de 2021, e uma vez que eu recuso-me ao circo dos autógrafos, boto como valor a minha garatuja nesse mesmo valor. 

Assim sendo, a organização do Festival ficará em débito connosco nos próximos anos.

E por fim, meus queridos "fãs", os poucos que tem assinaturas e afins nos meus livros, já sabem o que eles valem de futuro no OLX, Coisas, Ebay e afins!

Gracias!

domingo, 31 de outubro de 2021

Isto vai acabar em lágrimas!





Em meados da década de 80, as editoras discográficas estavam praticamente fechadas ao que de novo se ia fazendo e o que editavam pouco ou nada interessava – o “boom do rock” tinha esgotado a paciência dos ouvintes para a música em português. 

No entanto, uma sala de espectáculos em Lisboa, de nome Rock Rendez Vous, começou lentamente a dar espaço ao que realmente estava a acontecer, à margem do mercado e da crítica. E, consequentemente, apareceram umas (poucas) novas editoras independentes, como a Dansa do Som e a Ama Romanta, que acabariam por lançar alguma da mais interessante música feita nesses anos em Portugal.


No entanto, os meios destas editoras eram parcos e os orçamentos bastante reduzidos (já para não falar do limitado poder de compra dos portugueses) e, por isso, no final dessa década, as várias cenas musicais emergentes – metal, industrial, experimental, electrónica –, passam a gravar e editar as próprias cassetes para se fazerem ouvir. Era o do-it-yourself aplicado à edição dessa nova música, autoproduzida, com total liberdade, sem qualquer tipo de censura, que a partir de agora era passível de ser gravada e facilmente duplicada em casa, desprezando qualquer ideia de direitos de autor, quase sempre embalada em capas originais feitas a partir fotocópias de imagens roubadas, activamente divulgada através de flyers e fanzines e disseminada, sem intermediários, em mão e por correio, numa rede, tornada comunidade, internacional.


Facadas Na Noite, Tragic Figures, Anti-Demos-Cracia, Pé de Porco e a K7 Pirata, foram algumas das editoras que surgiram então e que marcaram esse início da edição independente em cassete, juntamente com a SPH.


Editora de Oeiras, no activo desde 1990, a SPH pôs a circular álbuns e compilações com nomes nacionais – Ode Filípica, Croniamantal – e internacionais – Merzbow, X-Ray Pop, De Fabriek, entre outros – somando um total de cerca de oitenta cassetes de música industrial, noise, avant-garde e até synth-pop, ao longo dos seus quase quatro anos de edições contínuas. No entanto, as oscilações dos interesses e mercados – estava-se na passagem das cassetes e do vinil para o CD – fizeram com que a editora acabasse em 1993. Mas, atento, como sempre, às novas linguagens musicais de circuitos underground, no início do século XXI, Fernando Cerqueira retoma as edições, dessa vez acompanhado por Luís van Seixas, sob o nome de Thisco. Perfazendo agora 20 anos, o presente livro comemora duas décadas de existência e os trinta anos do início da SPH, inventariando as edições e reproduzindo capas de ambas as editoras assim como material promocional e outra memorabilia, devidamente acompanhadas de uma conversa aprofundada com os envolvidos.




à venda na nossa loja em linha e na Matéria Prima, Snob, Tigre de Papel, ZDB, Kingpin Books, Flur e Utopia.


Historial: 

lançado na Festa dos 30 anos da SPH e 20 da Thisco na SMUP,  22 e 23 Outubro 2021 ...


quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Aristocracia do Rock


Podem-me gozar à vontade por andar a ler estes livros mas caralho, tenho direito a divertir-me! Não vejo televisão nem tenho rede sociais, como posso ter aquele momento de descarga? Não se fala tanto em "guilty-pleasures"? Não há broncos que só lêem os Senhores dos Anais ou super-Heróis? Ou policiais nórdicos? Eu leio biografias de malta do Rock compradas em segunda mão a preços bem parvos. 

E foi coincidência apanhar estes dois que são os gajos dos bastidores. Tony Visconti é produtor de discos e a Sharon Osborne é uma rufia bem famosa que dispenso apresentá-la. Ele é gringo e foi para a Inglaterra para saber como se gravavam discos tão sofisticados naquela ilha e ela inglesa de gema foi prá Amérikkka para fugir ao pai que era um mafioso do Pop/Rock. Ambos escrevem estas autobiografias - com ajuda de ghostwriters claro está, aliás, pergunto se ambos saberão escrever? - que são fascinantes porque partilham do facto de serem de classes baixas e que sobem aos topos possíveis do mundo do Rock e espetáculo. Ambos são uns toscos ignorantes que apesar de estarem nos centros imperiais de Londres e Los Angeles rodeados por pessoas criativas e com ideias incríveis (especialmente nos anos 70 e 80), para além, de terem dinheiro no bolso (em altos e baixos impressionantes!), nunca se esforçaram por se educarem e serem mais do que umas "bestas" abusadas ou abusadoras. Ambos mostram-se "apolíticos"e o Punk passou-lhes ao lado - man, até o inútil do Tim Burgess refere os Crass no livrinho dele - o que mostra que se não te bateu culturalmente o Punk não passas de um granda tótó.

Ainda assim, em Bowie, Bolan and the Brooklyn Boy (HapperCollins; 2007) de Visconti até percebemos que é um gajo culto ou curioso e que conta histórias simpáticas, não tivesse produzido Mark Bolan / T. Rex e David Bowie. Nada mais assimétrico que estes dois, apesar das vidas paralelas, Bolan foi o típico artista pobreta que assim que fez milhões passou a ser um granda porco ganancioso. Se não tivesse morrido no desastre de automóvel teria acabado reacionário e barrigudo como o Elvis. Bowie como se sabe evoluiu no seu projecto de camaleão Pop sempre com grande estilo e arte, mesmo na hora da sua morte. Ganhei a confirmação que a Inglaterra sempre foi um país de suínos porque o Bolan tinha de pedir ao Visconti que lhe deixasse tomar banho algumas vezes por semana na casa dele porque não o podia fazer com tanta regularidade na casa dos pais - creio que a água sempre foi cara na ilha, daí esta falta de higiene. De resto, ele produziu de tudo de grande neste planeta: Procol Harum, Gentle Giant, Osibisa, Sparks, Thin Lizzy, Rick Wakeman, Hazel O'Connor (ena!), Boomtown Rats (ok, ele trabalhou com "punks" mas era só pela guita), Adam Ant, os merdas dos U2, Nana Mouskouri e até o nazi do Morrisey. Voltou prós EUA entretanto já não me lembro porquê...

Extreme : My autobiography (Time Warner; 2005-06) da Osborne foi a coisa mais divertida que li este Verão porque é um grande degredo. O pai era um xungão que lhe fez a vida negra até morrer miserável e abandonado num centro de dia em perfeita harmonia yin-yang ou o famoso "cá se fazem, cá se pagam". Ela foi para os EUA para ser não só saco-azul dos negócios sujos do pai como para ter a sua independência da sua família de criminosos. Depois, claro meteu-se com o Ozzy Osborne, o bêbado que lhe dava porrada mas que Sharon aguentou estoicamente porque achava que ele uma pessoa muito mais divertida e interessante do que a que conhecemos em público. Amor ao quanto obrigas. Mula como é, aguentou as humilhações do seu parceiro descontrolado, tanto que ela tinha de dar a última palavra para mostrar que sempre teve razão para aguentar a criatura, ou seja, Ozzy recuperado e desintoxicado é outra pessoa e um fofo, dizem e ela confirma como tudo mudou depois de ele deixou de ser alcóolico. No livro fala-se de violência no mundo dos espéculos perpetuado pelo pai de Sharon, grandes fraudes em bandas pelos patos bravos da altura, violência doméstica e familiar, amas-secas que roubavam, luta contra o cancro e claro um "que sa foda o mundo", queremos é curtir e fazer guita por isso a concepção do OzzFest não é para salvar baleias mas para metaleiros gastaram os seus salários no recinto. Não deixa de ser impressionante toda a crueza e crueldade desta malta, com os seus momentos redentores - que sabem a pouco porque são pessoas nitidamente pouco cultas.

Nem sei se o título deste "post" está correcto, não será antes esta malta toda do Rock quando tem sucesso meros "Novos Ricos Rock"? Sim, porque os únicos que sempre foram ricos e fizeram Pop (de alta qualidade) foram os Yello. O resto é ralé que até é melhor nem terem muito guita para não fazerem maus discos quando tem a conta cheia. Famintos e à rasca é que fazem obras-primas, certo?

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

PMP (Pior Música Portuguesa)

Porque o Barbosa morreu, perdi a vergonha,
Porque isto nunca acontecerá,
Porque o Gato Mariano é Fake News,
Porque a Música Portuguesa precisa de melhorar-se a si própria,
eis os piores momentos da "Música Moderna Portuguesa" para não cometermos os mesmos erros de A.C.  (Antes do Covid).


1 - KHS / Why / Elo 4 / Peace Maker (Ed. SPA; 1987) 
EP 7" que nem no discogs alguém o meteu à venda nem se encontra a capa na 'net. Também não serei eu a faze-lo. Uma mediocridade tal que mostra a outra face da SPA para além de fechar bares e alimentar músicos medíocres, isto é: não serve para nada.

2- Blind Zero 
Azeite do Norte, do principio até ao fim, estes "parolo geme" (sim foram amplamente gozados no livro de BD Loverboy, o rebelde) são o Antes e Depois da MMP. O Antes: criatividade, espontaneidade, amadorismo. O Depois: copycat, bullshit, money. Apesar do investimento enormes, o plano deu errado, mendigaram uma internacionalização pela pequena espanhola Subterfuge (cá em Portugal era tudo à grande!) e por fim o vocalista até teve de cantar em português numa faixa de Mão Morta.

3- Paus
O que dizer de uma banda quando ela assume-se logo como um Lado B dos Battles? Mas sendo os seus elementos uns betos do sistema, foram abençoados pelo jornal que na redacção até a máquina de café serve merda...

4- Dead Combo : Live At Teatro São Luiz (Blitz; 2014) 
Que Dead Combo faça música placebo é lá com eles, mas ao menos que não abram a boca, por favor! As intervenções com o seu histérico público neste disco mostram que não são apenas burgessos mas também burgueses opressores da classe operária.

5- Vários cantautores católicos da Amor Fúria
Quem?

6- Vários cantautores protestantes da Flor Caveira
Geralmente com nomes rabetas bíblicos...

7- Buraka Som Sistema (depois do primeiro EP)
Assimilados! Ou citando o Farinha Master: "cheirar o cu, cheirar o cu ao Capital"

8- Throes & The Shine
Boa ideia. Preguiça máxima. Mereceram ser roubados pelos Black Taiga!

9- Fast Eddie Nelson
Ah!?

10- Moonspell 
Azeite do Sul. Ao contrário dos Blind Zero - mas nota-se que só no Norte é que se trabalha! - vingaram pelo mundo inteiro numa editora indie de Metal, comendo batatas numa carrinha friorenta. 10 mil fãs não podem estar errados tal como 1000 lemingues a suicidarem-se...

11- Jibóia : Badlav (Lovers & Lollypops, Shit Music For Shit People; 2014)
Jibóia tinha piada no primeiro disco. Jibóia encontrou uma baleia com o estômago cheio de plástico. Jibóia gravou com essa baleia.

12- Lulu Blind (tudo)
A prova viva que Tó Trips seria capaz de vender a sua mãe por 15 minutos de fama...

13- Simbiose
Chato desde sempre, a evitar sobretudo em concertos...

14- Black Bombaim & Peter Brötzmann (Lovers & Lollypops, Shhhpuma; 2016)
O disco mais idiota de sempre mas a revista inglesa The Wire disse bem...

15- Besta
Falhados!

16- A Besta
idem

17- Rita Braga
É a gaja mais persistente na música portuguesa que até Slavoj Žižek a cita conceptualmente: and so on, and so on, and so on...

18- Live Low
Melhor que Resistência, pior que Madredeus. No Porto pronuncia-se "bibeló"

19- Legendary Tiger Man
Legendários eram os Tédios Boys, ou pelo menos, tinham o melhor cu masculino de Coimbra - uma jornalista dixit - e que era o do Tony Fortuna, já agora. 

20- David Fonseca
Azeite do centro, instigador de Nostalgia barata como o vendido do Markl (é assim que se escreve?). Tentou sacar fama com a morte de David Bowie para ficar grande mas nem toda a gente é parva, embora:

21- Discos Príncipe (tudo!)
Não dá para perceber o sucesso, ou talvez dê, os países ex-colonistas perceberam que era mais fácil deixar as colónias serem independentes e manter relações comerciais desvantajosas para as colónias sem recursos...

22- Assacínicos
Inauguraram uma sub-label da Rastilho, a Metamorfose, dedicada a "sons diferentes". Numa revista de música pediram para não ser eu a fazer a resenha crítica do disco homónimo de 2004, o que foi ainda pior nas mãos do outro crítico.

23- Poppers
O melhor que fizeram foi fechar a Metamorfose...

24- Crise Total : Autista
Banda punk que mais gravou o mesmo tema, ou outros por eles fazendo justiça ao título...

25- Putas Bêbadas : Jovem Excelso Happy (Cafetra; 2013)
Alguém fará uma tese de mestrado sobre este disco mas ninguém irá lê-lo...

domingo, 26 de setembro de 2021

quarta-feira, 18 de agosto de 2021

Boa merda (48)

 



Um gajo vai à discoteca (loja de discos, pá!!!) especializada em Punk e Ska e sai sempre com material de hippies - heresia! Que marado! A culpa é do gajo que está ao balcão, claro. 

Desta vez levei o pirateado CD pela Radioactive (2006), do único LP dos Hot PoopDoes their own stuff de 1971. Auto-editado pela banda, tem um som "freak" na onda de gozo Zappiano em que tanto se ouve Beatles, Janis Joplin, Nancy Sinatra ou Beach Boys em absoluto cinismo em relação aos anos 60 Flower Power. 

O disco é conhecido mais pelas suas capas sequenciais. A capa num plano vemos o destinos dos dejectos humanos da banda: a sua produção, a distribuição, a confeição, a injecção e a morte por seres um drogado de merda - literalmente. Também inexplicável é a contra-capa em que se vê a banda acompanhada por burros (e mulas) seguida por outra foto "imediata" deles a exporem-se num nu frontal mas com os sexos trocados dos quatro gajos e uma gaja. Malta com piada, sem dúvida. Precedem o humor Punk que virá em poucos anos à frente mas sobretudo mostra que já houve décadas mais divertidas do que a nossa.

terça-feira, 3 de agosto de 2021

RIP ROCK

Como escrevi numa resenha a uma k7 no penúltimo número d'A Batalha: O Rock nasceu negro nos anos 50, foi adoptado por padrastos brancos, começou a namorar aquela que viria a ser a sua companheira prá vida, a Pop. Até tomaram drogas psicadélicas juntos nos anos 60. Depois ficou adulto e responsável (Prog), teve um filho anarca (Punk), nados-mortos (Metal) e bastardos (Industrial) e sendo entretanto um «ok, boomer» perdeu-se nos anos da web 2.0. Claro que quer deixar rasto na História e meteu-se a fazer museus e deixou que lhe escrevessem epitáfios. Sem «gigs» em 2020, morreu no centro de dia porque o Estado não tem paciência para velhos. Em Guimarães, Porto e Almada até fizeram livros luxuosos com prefácios dos mercenários Rui Moreira ou Inês de Medeiros (...) - estes últimos respectivamente nos catálogos Musonautas:  Visões & Avarias : 1960-2010 : 5 Décadas de Inquietação Musical no Porto (Galeria Municipal do Porto; 2019) e Margem : Uma História do Rock (Museu da Cidade de Almada; 2019).

O prefácio de Medeiros é a hipocrisia com todo o charme. Se a capa e a primeira foto que se encontram no livro é dos putos a atirarem-se dos balcões de Ratos de Porão em 1994, não convém esquecer que a senhora afirmou que o Rock não entraria mais na sala de espetáculos onde aconteceu o mítico concerto - o Incrível Almadense. Revela estar contentinha pela exposição, que esteve patente em 2019, por ter batido o recorde de entradas de público no Museu da Cidade. Uma foto do belo concerto dos Mudhoney deveria lembrar que até à pandemia acontecer em 2020 não havia um sítio decente na cidade inteira para as bandas tocarem em condições. Pois é filhota, o que vale é que as pessoas esquecem-se de tudo e os kotas do Rock devem voltar a votar em ti por os ter metido num livro em formato superior A4, talvez para não ser tão foleiro como objecto de design - é luxuoso q.b. mas não tem a aristocracia dos Musonautas - já lá iremos... Neste Na Margem há textos a pensar sobre a museificação do Rock por Vítor Belanciano e as normais cronologias desta música mais a indexação da memorabilia da exposição, desde pulseiras de picos de Black Metaleiros a fanzines de BD como o Hips! de Nuno Saraiva & cia, bem como uma divertida BD pós-moderna de seis páginas de Miguel Fonseca e Rui Amaral feita em 1987 - um caso raro de contemporaneidade na BD portuguesa, diga-se de passagem mesmo que em contexto escolar - e que deu origem nos Thormenthor. Ah! e também as discografias das bandas do concelho e essas coisas todas e ao contrário do Porto, assumem aqui a existência da música pesada Punk / Hardcore / Metal. Um manancial para os historiadores do Futuro. Um trabalho bem feito, sem crítica como as instituições gostam. Epá, e topo da cereja é que já faço parte da bibliografia da história desta merda do rock tuga, ena! Vou mudar o meu nome para Múmia Farrajota.

Musonautas é outro patamar, não fosse o Porto e o que significa, a segunda mais importante cidade portuguesa e como tal berço de artistas e cultura. claro que começa mal com o editorial de quem dá o carcalhol, o actual presidente da câmara Rui Moreira, a dar em nostalgia e a falar dos seus negócios de família. Dá tudo a perder mas felizmente a fantástica documentação, a abrangência do livro (não é só sobre Rock, trata de música contemporânea, neo-clássica, popular, da imprensa, enfim quase tudo), as intervenções dos seus vários escritores e o design gráfico fazem disto uma peça histórica que Lisboa com o "Merdina" nunca poderá ter tal documento. Se calhar ainda bem, se fosse a actual Vereação da Culltura só se poderia esperar murais de homenagem ao Zé Pedro ou ao Ribas poluindo as últimas paredes de Lisboa que restam. 

Falhas, algumas, o texto sobre o Hip Hop é fraco - e preocupante como a Matarroa é mal lembrada - e o Heavy Metal é quase ignorado - só não é porque o Gustavo Costa é um músico respeitável do mundo do Experimental e Improv, e que teve nas suas origens bandas como os Genocide. É ainda acompanhado por um CD (aprende Almada!) com raridades musicais para todos os gostos - Hospital Psiquiátrico finalmente com bom som -, pena não tem um alinhamento cronológico para se sentir um evoluir dos sons - dos estilos à gravação. Aliás, não é à toa que o disco acaba com a sensação que os Dealema (e o Hip hop) continua a ser um guetho musical. Para a próxima contacte-me que eu sei fazer isso bem.

Aaaaaaah... foi uma bela época. RIP Rock!

quinta-feira, 29 de julho de 2021

Tecla 3

Anda, Diana (Sistema Solar + Ed. ________; 2021) é um livro da bailarina e coreógrafa Diana Niepce que em 2014, num ensaio cai de pescoço de um trapézio e fica tetraplégica. Isto levou-a repensar o corpo performativo (...) A partir desse momento a sua carreira é moldada em torno da sua nova condição física, sendo convidada para participar como oradora em sessões de trabalho sobre a relação entre a arte e a deficiência. Conheci o seu trabalho curiosamente num dos poucos espectáculos que pude assistir em 2020, antes desta merda toda fechar, e fiquei completamente banzado pela sua pujança e erotismo. Este ano saiu um livro dela, um "diário ficcional" diz no frontispício e na contra-capa.

Um amigo meu disse-me que prefere ler livros "maus" a nível literário mas com força vinda de uma experiência de vida do que livros bem escritos mas que a vida decorre lá do alto da torre de marfim. Creio, que ainda há uma "terceira via", que é a do gajo da torre de marfim que trabalhe no duro e que consiga também mostrar uma força vital - lembro-me do William T. Vollman na falta de melhor exemplo. O livro da Diana é da primeira categoria, como peça literária é fraca mas a sua personalidade trespassa a escrita sem papas na língua, seja para denunciar como os deficientes motores são ignorados no trato social e arquitectónico, seja para despejar as glórias e quedas dos amores + sexo com os companheiros/as (?) ou seja quem for que lhe atravesse o caminho - várias vezes ameaça dar com a cadeira de rodas a parvalhões e imagino-a atropelar o pé de um idiota e dizer "ups! desculpe, foi sem querer...". Gaja fodida!

A escrita é fragmentada e o registo é autobiográfico, falta no entanto algum empenho em oferecer a informação proposta de forma mais acessível e compreensível - sem comprometer os envolvidos e todas as problemáticas (sentimentais ou até legais) que isso acarreta, um bom editor teria acompanhado a obra de Niepce e dado ali uns valente cortes e/ ou acrescentos. Ler este livro será um mundo novo para a maioria dos leitores, não falo do mundo da dança mas da terapia e do trauma + "a vida continua" com bexigas cheias e esvaziamentos ou falta de controlo sobre os músculos (espasticidade, clónus). É dureza ler isto, toda uma nova vida feita de vários infernos (que são realmente sempre os outros) embora seja confuso acompanhar os dramas mais específicos de Niepce devido aos "saltos narrativos" ou à falta de descrições mais específicas, sejam de relações mais pessoais (sem querer ser um voyeur sedento de sangue) ou apenas para conseguir chegar ao nome de Dergin Tokmak. Mais do que literatura factual é uma escrita do estado de espírito e sobre a capacidade de sobrevivência de uma pessoa que teve um acidente quase mortal. Gaja fodida!!

Coincidência enquanto escrevo isto, oiço o volume 22 do Godspunk (Pumf; 2021) - uma série de colectâneas DIY inglesas que mistura tudo na boa... Dub, Indie, Punk, Black Metal, Noise da treta e Harsh Noise. Neste volume a dose é dupla de CDs e no segundo disco ouve-se os UNIT - banda Punk-Hardcore com xilofone e liberto do machismo associado a este género musical - com uma música a questionar sobre os desejos sexuais dos espásticos e avisam eles que estamos apenas a uma distância de um acidente de carro para pensarmos nisso. Levam-me a relembrar que entre as dezenas de inúteis apresentações do primeiro KISMIF, a mais brilhante delas (a única de jeito mesmo) foi a apresentação de George McKay sobre a relação entre Punk e deficiência. Sacando do seu "paper": For some disabled people, punk offered expression, empowerment, visibility, humour, bad taste, and attitude, and all in a zone of socio-cultural liberation, as much as (even more than) it exploited disability or used it as a marketing strategy.

Sobre música as referências da Niepce no livro, elas são bastante "normies" - Arcade Fire (banda que deveria ser queimada), Korn (fixe se fores puto que todos os dias sonha com sexo) ou os Sinistro (o nome diz tudo)... Diana nada punk, se formos por aí. Duvido que ela alguma vez tenha sentido o apelo por esta contra-cultura e das suas consequências descritas por McKay, por exemplo. A peça que vi em 2020 e este livro são "punks", sem pejos e siga para bingo, ou pelo menos tem essa aura, sabendo que a palavra "punk" é das mais abusadas nesta década para qualquer coisa que pareça "feia" ou "suja". Essa aura se existe fez-me gostar tanto do espectáculo e também do livro, embora este último com algumas incertezas. Algumas já foram acima descritas mas a mais complicada será quando ela escreve (p.200) que um conhecido lhe disse que pelo facto de ela ter tido o acidente, é certo que teve azar mas que isso lhe trouxe visibilidade e notoriedade no meio artístico. E que ganhou uma coisa que ninguém tem - liberdade. Acrescenta que "posso ser quem eu quiser ser, que ninguém nunca vai dizer nada." Acho que na vidinha mundana e prática que levamos, percebemos tudo o que é aqui escrito, e até aceitamos e concordamos mas Niepce não aprofunda e os excertos levantam várias questões. 

Primeiro, alguém fazer uma comparação entre deficiência física com fama é de bradar aos céus, se calhar até é de ladrar aos céus! Como se uma coisa invalida ou (re)compense a outra, até porque mostra um mundinho de cristal que ignora o facto que uma artista pode ter mais tempo de antena que um vulgar cidadão só porque é artista. Não parece injusto para os "vulgares"? Já agora, nem sei se isto é verdade afinal de contas serão os programas de TV da manhã e os reality shows menos importantes que as crónicas dos besuntas do Público? Em segundo, a liberdade artística é conseguida por um acidente terrível? O que isto diz sobre o nosso estado da arte? Ou melhor ainda, o que diz sobre as pretensões e das lamentações dos artistas dos dias de hoje? O que eles querem dizer que não podem? O que tem assim tão de extraordinário para dizer que são censurados ou auto-censurados? Não dizem o quê? O que não dizem com medo de melindrar alguém do meio que tenha os cordelinhos da bolsa ou das estruturas de programação? Em terceiro, o facto de ser aleijada passa a ser imune a críticas negativas!? Não deveria. 

E já agora... o "show" dela no Teatro do Bairro Alto foi  uma seca, uma produção cosmopolita-só-porque-sim. Terá sido um trabalho pensado para a programação da casa? Não deveria ser a casa a receber apenas o trabalho da artista em estado de graça? Não digo que tenha havido influência directa e imposta da casa em si sobre a artista - seria grave, claro - o mais natural, neste século que anda mal, é que tenha sido a artista a auto-propor-se a algo estético que fizesse sentido para aquela casa de espetáculos com uma programação tão coerente. Se os artistas adaptam-se a cada novo ambiente onde estão a trabalhar, onde está essa liberdade?

quinta-feira, 15 de julho de 2021

É só vaidade (II) @ Estalo, Guimarães, 3 a 12 de Junho

Porque raios só os ricos e os famosos podem fazer lavagem de dinheiro e tráfico de influências criando as suas Fundações que rumam ao desconhecido? 

A Fundação Farrajota veio reivindicar que até os pobretanas tem direito a tal figura de entidade colectiva. Mas que faz esta Fundação? Materializa a memória do clã, recuperando arte e objectos editoriais para espaços públicos, minando a tirania da história e dos seus tristes vencedores. Em breve também editará livros de memórias criando um verdadeiro catálogo de mitomania e de desespero existencial.


Criada em 2004 para uma exposição de Arte no evento “underground” Crime Creme Doméstico, desde então pela sua sede, já passaram esposas de social-democratas, estrelas do Trap, suecos clinicamente reconhecidos como doentes mentais, anarquistas da academia, lutadoras anti-racistas como ainda industrialitas celibatários. Neste improvável “melting-pot” de pessoas criou-se uma forte rede de “contactos” que resultou finalmente numa acção oficial no inútil festival Fólio em Óbidos, em 2019, com a mostra bibliográfica “É Só Vaidade”. 


E agora, tentacularmente, ela repete a fórmula para o festival Estalo em Guimarães.





É Só Vaidade


É uma mostra bibliográfica constituída por fanzines e outras edições independentes do acervo da Fundação Farrajota. É a sua segunda vida e tem o mesmo título porque os tecnocratas não têm imaginação.


Os zines são artesanato urbano da Era da Informação, publicações amadoras em marginalidade, galerias nómadas de Arte e recipientes de Cultura precária. Localizáveis desde os anos 30, sofreram mutações até aos dias de hoje de tal forma que continuam a provocar dores de cabeças a todos os que gostam de catalogações. 


Estão expostas aqui, uma série de publicações a provarem a sua riqueza de temas e formatos, embora a selecção desta mostra incida-se sobretudo na Banda Desenhada portuguesa, Arte constantemente mal-tratada mesmo pelas instituições públicas que a promovem, de tal forma que a FF sentiu um chamamento para esta batalha contra a ignorância!


Em Portugal, os fanzines de BD aparecem nos anos 70, muitas vezes sem o vocábulo correcto, espalhando-se em denominações como “jornal” ou “revista”. Eram geralmente criadas por colectivos de colecionadores ou em contextos escolares mas a vontade era óbvia: sair do espartilho da censura ou, depois do 25 de Abril, curtir a liberdade da Democracia.


Com o evento da cultura digital, o zine foi-se transformando, embora muitas vezes as suas características antigas reapareçam em novos formatos. É impossível não sentir um antagonismo de conceitos entre as publicações das origens até aos anos 90 e as do novo milénio. Até ao advento hegemónico do Digital, sobretudo com a omnipresença das redes sociais a tomarem conta da Internet, os zines eram produzidos por colectivos (A Vaca que veio do Espaço), a informação e crítica eram imperativos (Aleph, O Moscardo), havia uma continuidade do título com uma numeração, mesmo quando esta era muitas vezes subvertida, e usava-se a fotocopiadora do trabalho (à socapa) ou do centro de cópias para a sua reprodução. 


No mundo da cultura digital, a produção torna-se individualizada, personalizada, mais artística, sendo muitas vezes cada objecto quase único, já para não dizer que se ignora a numeração, afinal cada título é um monográfico, seguindo a lógica de um livro - ou de uma plaquete ou de livro de autor ou de artista. As tiragens baixaram porque a impressão pode ser feita na impressora caseira ou como aconteceu na última década à base da risografia. Esta última traz o calor das cores num bonito paradoxo do defeito do trabalho manual com o brilho açucarado dos ecrãs. Apesar dessa liberdade da impressão caseira, serão poucos os exemplos que a aproveitam para exagerar ou diminuir os formatos convencionais do habitual A4 (ou dobrado dando um A5), aliás, nos anos 90, o A5 torna-se regra para quem faz fanzines - o que significa na maior parte das vezes apenas uma coisa, que edita são putos que não tem muito dinheiro.


Se o fim do zine colectivo possa significar um confinamento social das sociedades ocidentais, em compensação cada “monográfico” é um portfólio do artista, o manifesto das suas potenciais qualidades e uma cereja no topo para os leitores ousados. Apesar de ser mais fácil seduzirmo-nos por uma publicação a solo do que encontrar o artista que gostamos no meio de dezenas de páginas de uma antologia, tornou-se também mais complicado encontrar as publicações se não estas tiverem boa exposição em eventos especializados.


O digital roubou a reflexão em favor da reacção, daí que nas várias mesas da exposição queremos relembrar o sentido de missão da divulgação dessas publicações (Nemo, Cadernos da Banda Desenhada), a irreverência da experimentação (Sim/ Não), o uso de materiais pouco convencionais (106u, Sub, Succedâneo) e o uso de uma escatologia sem pudor que parece ter sido entretanto saneada nos zines, talvez porque se observa que na cultura vigente até o putedo literário actual sabe que não será multado ou preso por usar palavrões em obras literárias, “O amor é fodido”, pá! 


A quantidade de títulos com associação a “vómito” aqui presentes estão realmente balizados nos fins do século XX e no início do novo. Depois, como todos sabem, a ‘net foi inventada para vermos vídeos giríssimos de gatos, a quantidade de títulos a piscar aos amantes dos felinos rivalizam os de escatologia.


Pelo meio encontrarão objectos sobre este preciso ponto onde se encontram! A cidade de Guimarães (Garagem, Ancient Prophecy), o festival Estalo, os seus artistas convidados (André Coelho, Edgar Pêra e a Oficina Arara) e os participantes do mercado Necromancia Editorial - neste último caso, fomos às suas pré-histórias como o fanzine Zundap que deu na Imprensa Canalha ou o Clube do Inferno que agora é o Massacre. 


Estando previsto um novo número do zine Mesinha de Cabeceira, há uma mesa dedicada a esta publicação existente desde 1992, co-fundada por Marcos Farrajota e Pedro Brito. O número 30 publica uma BD da vimaranense Alexandra Saldanha, mais conhecida pela banda Unsafe Space Garden. Sim, é só vaidade…








Mesa dedicada a Guimarães e ao Estalo

Garagem #1 (Garagem, 2000), v/a

nota: revista de música que edita o primeiro disco de drum’n.bass português, de Phastmike.

- Ancient Prophecy #1 (Paulo Ribeiro; Out’96), v/a

nota: fanzine de Metal cristão

- Acto #9 (ACT; 2009), v/a

- Buraco #4 (Arara; 2012), v/a

nota: número dedicado à (des)ocupação da Es.Col.A

Mundos em Segunda Mão, vol. 2 (MMMNNNRRRG; 2015), Aleksandar Zograf

nota: “cine comics” na contracapa de Edgar Pêra

- SWR Barroselas Metalfest 18 Sticker Booklet (SWR; 2016), André Coelho

Ao Coração das Trevas (Ao Norte; 2018), André Coelho


Mesa dedicado às “pré-histórias” dos editores do Necromancia Editorial

- Estou Careca e a minha cadela vai morrer (Marco Mendes & Miguel Carneiro; Jun’05), v/a

Satélite Internacional #4/5 Sputnik (col. A Língua; Jun’05), v/a

- Tierra de Nadie (2015), Rodolfo Mariano

Surto #2 (Sarna; Jun’19), v/a

Radiation 2 (Clube do Inferno; 2014), Mao

Freak Scene #1 (Clube do Inferno; 2014), André Pereira

Zundap #11[#6?] (José Feitor; 2003?), v/a

nota: este fanzine era numerado aleatoriamente para confundir os colecionadores, yes!

Jungle Comix #1 (Rudolfo Comix; 2009), Rudolfo da Silva


Mesinha de Cabeceira 

#0 (Fc Kómix; Out’92), v/a, capa: Pedro Brito

#5 + Meseira de Cabecinha #1 (Fc Kómix; Ago’94), v/a, capas: Pedro Brito

#10 (Fc Kómix + Chili Com Carne; Nov’96), v/a, capa: Marcos Farrajota

#13 (Chili Com Carne; Out’97), “88” de Nunsky

#16 (MMMNNNRRRG; Out’02), “Super Fight II” de André Lemos

#23 (Chili Com Carne; Out’12), v/a 

nota: páginas expostas de Uganda Lebre

#29 (Chili Com Carne; Abr’21), “A Fábrica de Erisicton” de André Ferreira


Mesa de BD anos 70 a 90

O Máximo #2 (Edições Dada; Dez’75?), v/a 

nota: páginas expostas de Isabel Lobinho

O Estripador #0 (Delfim Miranda; Jan’75), v/a, capa: Fernando Relvas

Evaristo #2 (António Pereira; Mar’75), v/A, capa: Vicente Barão

Grafpopzine (Mai’88), Alice Geirinhas e João Fonte Santa

Psicose Infantil (Illegal Comix; 1991), v/a, capa: Fernando Gonçalves (?)

Pintor & meio #2 (Rodrigo Miragaia; Abr’91), v/a, capa: Rodrigo Miragaia



Mesa de BD deste milénio

-  Galante e a Mulher-Mistério, Fotonovela nº1 (Pôe-te Fino Edições Caseiras; 2011), Bruna e Carol Carvalho

Não me contes o fim!! Eles.. morrem todos. (Senhorio; 2006), Nuno de Sousa e Carlos Pinheiro

There are only seven stories in the world (O Panda Gordo; 2013), v/a

Lençóis Felizes (Happy Sunflowers Books; 2013), Van Ayres

Noberto à chuva + Noberto nas montanhas (La Pie qui Aime eles livres; 2014), Margarida Esteves

- [sem título] (2011), Lucas Almeida

BD PZL (2018), Mariana Pita

nota: BD baseada no jogo picross ou nonogram

Durty Kat #10 (Ana Ribeiro; 2018), v/a

O Gato Mariano não fez listas em 2017 (2017), Tiago da Bernarda

Cvthvus #2 (Jun’13), Chaz the cat e Gonçalo Duarte



Mesa dos Formatos e Materiais

-  Bioedificio 421 (Lök, Itália; 2012), v/a

Bactéria #10 (Francisco Vidal; 2001?), v/a, capa: Francisco Vidal

nota: capa em serigrafia com biscoito de cão em formato de osso (moído entretanto!)

Ganmse (1986), Rigo 23

Sub #8 (Pitchu; Out’99), v/a

Mix Tape (Dinamarca, 2008), Allan Haverholm

106 u #5 (Eric Bräun, Canadá; 1998?), v/a

Succedâneo #-20 (João Bragança; Jan’01), v/a

Sim / Não (1998), Geral & Derradé

nota: duas BDs que se vão concluir na página central deste “split”

Joe Índio especial Off (A Vaca Que Veio do Espaço; 1994), v/a

Chicken’s Bloody Rice #0 (Other’s Thinking Productions; Jun’03), v/a

nota: era acompanhado por um saco de plástico que continha uma perna de galinha, arroz e água colorada de vermelho, reza a lenda, que a putrefação dos materiais fez um colecionador vomitar

Pecarritchitchi #2 (Abr’04), João Bragança

nota: deverá ser o zine mais pequeno de sempre, o número anterior tinha o tamanho de um selo



Mesa da escatologia

Cona da Mão #1 (Gonçalo Pena; 1998?), v/a, capa: Gonçalo Pena

Vermental #0 (André Silva; 1995), v/a

Vómito #1 (1997?), v/a

Vomir #1 (1999), Nuno Pereira

L’Horreur est Humaine #4 (Sylvan Gérand, França; Jan’02), v/a, capa: Fredox

Puke Junk & Hit the fan (EUA; 1997), Fly

Esperma Sangrento #1 (199_?), Janus

Herpes Labial #1 (Produções de Marda; Out’97), v/a

Besta Quadrada #1 (João Fonte Santa; 1993), v/a

Besta Quadrada #3 (André Catarino & Tiago Baptista; 2008), v/a

nota: coisas que acontecem, títulos que se repetem sem os editores conhecerem o precedente, curiosamente quer Santa quer Baptista são pintores e actualmente moram a poucos mais de 5 minutos um do outro. Recentemente aconteceu algo idêntico com o “Olho do Cu”, dois editores separados por 10 anos mas ambos moradores da mesma região, em Abrantes.



Mesa dos Fanzines de crítica e Meta 

- Aleph #2 (José Morais C. de Faria; Mar’74), v/a

nota: número em que se dá uma virada maoísta no colectivo, conforme a moda da altura

Cadernos da Banda Desenhada #2 (Catarina Labey; Mar’97), especial Jayme Cortez

Nemo #26 (2ª série, Manuel Caldas; Jun’97), v/a

O Moscardo #1 (Jun’90), Arlindo & Jorge Guimarães

nota: talvez o único fanzine de crítica de BD em Portugal, sobreviveu diatribes, dois números e um suplemento

Expofanzines 2001 (Colectivo Phanzynex, Galiza; Jul’01), catálogo

Fan Catalog (CM de Almada; 2008), catálogo

nota: além da entrada da publicação recebida nesta mostra também é mostrada as embalagens de como foram enviadas

My Precious Things #9 (Fc Kómix; Out’98?), v/a

nota: newsletter de críticas a edições independentes e catálogo da Distribuidora Esquilo GIGANTE.

- Portuguese Small Press Yearbook (Catarina Figueiredo Cardoso; 2018), v/a

nota: especial BD