quarta-feira, 18 de agosto de 2021

Boa merda (48)

 



Um gajo vai à discoteca (loja de discos, pá!!!) especializada em Punk e Ska e sai sempre com material de hippies - heresia! Que marado! A culpa é do gajo que está ao balcão, claro. 

Desta vez levei o pirateado CD pela Radioactive (2006), do único LP dos Hot PoopDoes their own stuff de 1971. Auto-editado pela banda, tem um som "freak" na onda de gozo Zappiano em que tanto se ouve Beatles, Janis Joplin, Nancy Sinatra ou Beach Boys em absoluto cinismo em relação aos anos 60 Flower Power. 

O disco é conhecido mais pelas suas capas sequenciais. A capa num plano vemos o destinos dos dejectos humanos da banda: a sua produção, a distribuição, a confeição, a injecção e a morte por seres um drogado de merda - literalmente. Também inexplicável é a contra-capa em que se vê a banda acompanhada por burros (e mulas) seguida por outra foto "imediata" deles a exporem-se num nu frontal mas com os sexos trocados dos quatro gajos e uma gaja. Malta com piada, sem dúvida. Precedem o humor Punk que virá em poucos anos à frente mas sobretudo mostra que já houve décadas mais divertidas do que a nossa.

terça-feira, 3 de agosto de 2021

RIP ROCK

Como escrevi numa resenha a uma k7 no penúltimo número d'A Batalha: O Rock nasceu negro nos anos 50, foi adoptado por padrastos brancos, começou a namorar aquela que viria a ser a sua companheira prá vida, a Pop. Até tomaram drogas psicadélicas juntos nos anos 60. Depois ficou adulto e responsável (Prog), teve um filho anarca (Punk), nados-mortos (Metal) e bastardos (Industrial) e sendo entretanto um «ok, boomer» perdeu-se nos anos da web 2.0. Claro que quer deixar rasto na História e meteu-se a fazer museus e deixou que lhe escrevessem epitáfios. Sem «gigs» em 2020, morreu no centro de dia porque o Estado não tem paciência para velhos. Em Guimarães, Porto e Almada até fizeram livros luxuosos com prefácios dos mercenários Rui Moreira ou Inês de Medeiros (...) - estes últimos respectivamente nos catálogos Musonautas:  Visões & Avarias : 1960-2010 : 5 Décadas de Inquietação Musical no Porto (Galeria Municipal do Porto; 2019) e Margem : Uma História do Rock (Museu da Cidade de Almada; 2019).

O prefácio de Medeiros é a hipocrisia com todo o charme. Se a capa e a primeira foto que se encontram no livro é dos putos a atirarem-se dos balcões de Ratos de Porão em 1994, não convém esquecer que a senhora afirmou que o Rock não entraria mais na sala de espetáculos onde aconteceu o mítico concerto - o Incrível Almadense. Revela estar contentinha pela exposição, que esteve patente em 2019, por ter batido o recorde de entradas de público no Museu da Cidade. Uma foto do belo concerto dos Mudhoney deveria lembrar que até à pandemia acontecer em 2020 não havia um sítio decente na cidade inteira para as bandas tocarem em condições. Pois é filhota, o que vale é que as pessoas esquecem-se de tudo e os kotas do Rock devem voltar a votar em ti por os ter metido num livro em formato superior A4, talvez para não ser tão foleiro como objecto de design - é luxuoso q.b. mas não tem a aristocracia dos Musonautas - já lá iremos... Neste Na Margem há textos a pensar sobre a museificação do Rock por Vítor Belanciano e as normais cronologias desta música mais a indexação da memorabilia da exposição, desde pulseiras de picos de Black Metaleiros a fanzines de BD como o Hips! de Nuno Saraiva & cia, bem como uma divertida BD pós-moderna de seis páginas de Miguel Fonseca e Rui Amaral feita em 1987 - um caso raro de contemporaneidade na BD portuguesa, diga-se de passagem mesmo que em contexto escolar - e que deu origem nos Thormenthor. Ah! e também as discografias das bandas do concelho e essas coisas todas e ao contrário do Porto, assumem aqui a existência da música pesada Punk / Hardcore / Metal. Um manancial para os historiadores do Futuro. Um trabalho bem feito, sem crítica como as instituições gostam. Epá, e topo da cereja é que já faço parte da bibliografia da história desta merda do rock tuga, ena! Vou mudar o meu nome para Múmia Farrajota.

Musonautas é outro patamar, não fosse o Porto e o que significa, a segunda mais importante cidade portuguesa e como tal berço de artistas e cultura. claro que começa mal com o editorial de quem dá o carcalhol, o actual presidente da câmara Rui Moreira, a dar em nostalgia e a falar dos seus negócios de família. Dá tudo a perder mas felizmente a fantástica documentação, a abrangência do livro (não é só sobre Rock, trata de música contemporânea, neo-clássica, popular, da imprensa, enfim quase tudo), as intervenções dos seus vários escritores e o design gráfico fazem disto uma peça histórica que Lisboa com o "Merdina" nunca poderá ter tal documento. Se calhar ainda bem, se fosse a actual Vereação da Culltura só se poderia esperar murais de homenagem ao Zé Pedro ou ao Ribas poluindo as últimas paredes de Lisboa que restam. 

Falhas, algumas, o texto sobre o Hip Hop é fraco - e preocupante como a Matarroa é mal lembrada - e o Heavy Metal é quase ignorado - só não é porque o Gustavo Costa é um músico respeitável do mundo do Experimental e Improv, e que teve nas suas origens bandas como os Genocide. É ainda acompanhado por um CD (aprende Almada!) com raridades musicais para todos os gostos - Hospital Psiquiátrico finalmente com bom som -, pena não tem um alinhamento cronológico para se sentir um evoluir dos sons - dos estilos à gravação. Aliás, não é à toa que o disco acaba com a sensação que os Dealema (e o Hip hop) continua a ser um guetho musical. Para a próxima contacte-me que eu sei fazer isso bem.

Aaaaaaah... foi uma bela época. RIP Rock!