sábado, 26 de março de 2016

Riccardo Balli : "Apocalypso Disco" + "Frankenstein Goes to Holocaust" (Agenzia X; 2013-16)

DJ Balli (aka de Riccardo Balli) esteve cá em Lisboa e deixou-me uns livros dele... O primeiro é este Apocalyso Disco que ainda tem um subtítulo catita: "a rave-o-lução do post techno".
Há quem diga (Simon says) que o Techno foi a última revolução na música urbana. É bem capaz de bem ser verdade porque ela envolve a derradeira tecnologia que nos acompanha desde a Revolução Industrial (sons de máquinas a trabalhar, máquinas que nos controlam, etc...), a rebelião (drogas, festas ilegais, o anonimato das produções e edições) e por fim o "life-style" pois... Para quem ficou a arder com o "exta-si-exta-no" dos anos 80-90, novidade: entretanto muito mais se avançou neste tipo de música, seja na sua desconstrução de batidas (jungle, drum'n'bass, breakcore), velocidade das mesmas (o excesso do Extratone, a proposta mais radical que li neste livro) e os métodos de produção - o cut/paste primitivo da Jamaica passou a ser um "hyper-mash-up" com um clique de rato e que está a tornar a cultura mestiça - yes! sempre achei esta melhor forma de erradicar o nazismo e outros "ismos" tontos e fanáticos.
Tudo isto é descrito neste livro de Balli de uma forma orgânica pois ele não faz uma "História" mas apresenta apontamentos ou entrevistas como a músicos / produtores politizados como Christoph FringeliVJs como os Sansculote ou ainda um académico que trata do Psy-Trance e Goa Trance (sendo referido com muito respeito o festival Boom em Portugal). Para além deste lado documental há a provocação, não fosse Balli o DJ conceptual que é, que apresenta conceitos de mestiçagem como o "Mutant Dancefloor" onde poderia estar lá os ritmos Doomduro dos Black Taiga, para além dos "mash up" textuais de excertos de Philip K. Dick ou Fulcanelli.
No caso de PKD, Balli usa um capítulo de Os Clãs da Lua de Alfa em que substitui os nomes das várias tribos de doentes (dessa lua) pelos vários tipos de produtores de música de dança: gabbers, hiphopers, etc... mais do que um mero gesto brincalhão, existe uma lógica por detrás, pois Balli mostra ao longo do livro como o tipo de diferentes músicas de dança moldam a personalidade dos seus consumidores - e voltamos ao princípio, o Techno é a música que melhor expõe a puerilidade das nossas vidas de robots ao serviço do Capitalismo.
O livro está redigido em italiano, é óbvio que não apanhei tutto... ma... o que apanhei fez sentido! Não fosse ele certificado por Steward Home, para bom entendedor meia-palavra basta. Tradução obrigatória! Aspetta:

O "Frankenstein" já é mais manhoso, pelo menos fiquei à espera de algo que depois não se concretizou. A culpa pode ter sido, outra vez, do meu fraco italiano mas também do conteúdo mais gerido pelo formato editorial.
Balli tenta criar um livro todo ele um "mash up" literário e ensaísta que talvez fracasse pelo design saloio da editora, colocando imagens de Frankensteins a torto e a direito, apenas porque sim, ou pelo excesso de compartimentos em capítulos. Deveria ser um livro mais fluído e labiríntico na sua leitura. O corpo (cadáver?) do texto é "plundertext" que pega no famoso romance de Marry Shelley, escrito em 1818 (808 State?), para ser remisturado com episódios autobiográficos de Balli na sua relação com a música, seja de uma forma muito fortuita seja densa quando escreve uma carta a explicar que ele não é o Billy Corgan -é uma carta aberta a uma gaja que foi prá cama com ele porque ela pensava que ele era esse "grande poeta das abóboras de Chicago". Há textos gamados ao John Oswald e artigos de convidados sobre os KLF ou V/VM, enfim, a dada a altura pergunta-se o que o Balli escreveu realmente para ter o seu nome da capa - piada reaccionária!
O que ele faz é "brand new, you're retro" (Tricky) porque ao misturar isto tudo ele não é só o "DJ literário" pós-moderno como parte da base da cultura como ela deveria ter sido sempre antes de virem as ideias parvas da "originalidade" e do "copyright" no século XIX. Dizia um compositor de música clássica que o melhor compositor é aquele que absorve todas as obras à sua volta e faz algo de novo com elas - o Girltalk parece um velhinho depois disto... Balli parte de mil pedaços de corpos musicais - da clássica à "novelty" (Spike Jones), da xenocronia de Zappa ao Horrorcore - para montar um ensaio de música contemporânea sobre um "monstro sónico" do século XXI que ele imaginou. Só que este ensaio deve ser lido como um romance de terror, não esperem daqui um livro "factual" mas sim uma ficção de referências reais. Génio ou fraude? Muitas vezes não há diferenças entre ambos.

quinta-feira, 10 de março de 2016

Split-tape Black Taiga + BLEID / nova edição fonográfica da MMMNNNRRRG



Talvez a MMMNNNRRRG tenha de mudar o slogan da editora de "só para gente bruta" para "só para gente muda" porque voltou a fazer uma split-tape, outra vez com Black Taiga e desta vez com essa "beata do beat" que é a BLEID!

Sai esta HOJE no Damas quando começarem as festas barulhentas com DJ Balli e outros extremistas sonoros! Esta noite haverá um live-act de BLEID e uma sessão unDJ MMMNNNRRRG.
+ informação aqui

Black Taiga é o encontro entre um congolês e um português, um foi para a gélida Irlanda mas nunca abandonou o calor africano, o outro queimou-se em Setúbal. Com EPs em linha e em k7 este projecto teve um feedback de sectores inesperados da aldeia Global:

Yes yours it's doom-kuduro but stil pretty core. I like it, nice one!!! ;) 
DJ Balli (Sonic Belligeranza, AAA, Antibothis, autor de Apocalypso Disco)

parece-me Jibóia se tivesse mergulhado num banho de ansiolíticos.!!!! já percebi! Throes + The Shine? Será? Não me acredito 
Fúa (Lovers & Lollipops, Milhões de Festa)

Top das 10 Melhores Cassetes Nacionais pela revista Arte Sonora

Cumbia Rebajada from hell? 

O dito cujo é como que o cruzamento do doom metal satânico escandinavo com o kuduro de Angola, tudo decorrendo muuuuuuuuuuito leeeeeeentameeeeeeeente, com peso de hipopótamo alimentado a papas de sarrabulho. Não se tinham lembrado da possibilidade de tal… como dizer… convergência geocultural, pois não? (...) os Black Taiga, projecto que envolve gente do Congo, de Portugal e da Irlanda (não, não participam suecos nem angolanos). Este ouve-se como se um disco em vinil de 45 rotações fosse passado em 33: até as vozes se arrastam, cavernosas. 



BLEID surgiu em 2015, é um projecto de música digital residente num computador. Com o intuito de percorrer as diversas linguagens nas quais a música electrónica se tem vindo a desenvolver nos últimos anos - como o footwork, o techno, o afrobeat, o IDM - procura explorar diferentes sonoridades a velocidades improváveis numa miscelânea ritmada e esquizofrénica.

...
2 EPs:

- Cristão Casmurro de Black Taiga : três temas de puro Doomduro produzidos por Walt Thisney + um remix inédito e exclusivo desta edição por Bleid

- Voltan de Bleid : um tema de Techno-não-canónico de 23 minutos

edição limitada a 66 cópias.
46m de música.
cartonila vermelha com dois autocolantes impressos em vinilo.
artwork de unDJ MMMNNNRRRG (BT) e Neuro (Bleid)
embalagem por Joana Pires

PVP: 6,66€ (portes incluídos)
em breve disponível na loja em linha da Chili Com Carne 



De resto, para quem anda distraído neste blogue, eis a antiga versão quadrada:


E um Jogo das 7 Diferenças aqui