- GhunaGangh (FacaMonstro)
- Celso : Contra os cristãos (Estampa, 1991)
- Chester Brown : Paying for it (Drawn & Quarterly; 2011)
- 20ª e 21ª Feira Laica Internacional
- AcontorcionistA : Calendário (edição MMMNNNRRG) + exposição Purple Rose
- Rui Eduardo Paes : Bestiário Ilustríssimo (Chili Com Carne + Thisco)
- André Ruivo : Mystery Park (edição Chili Com Carne + The Inspector Cheese Adventures) + lançamento 1 de Abril
- Sektor 304 : Subliminal Actions (Malignant)
- Candlemass, Malignous Tumour, Blacklodge e Jucifer (15º SWR )
- Magius : Black Metal Cómix (F.O.G. Cómix)
segunda-feira, 31 de dezembro de 2012
deu-me kick em 2012:
domingo, 30 de dezembro de 2012
I'm Exuma! I'm the Obeah Man!
A primeira vez que ouvi os Exuma foi um tema (o que abre este disco, Exuma, the Obeah Man) numa compilação dedicada ao "pré-Disco", nomeadamente Nicky Siano's The Gallery (Soul Jazz; 2004). Realmente era uma faixa curiosa e "alien" no meio de todo aquela Funk e Soul. Mais tarde foi na Galactic Zoo Dossier, revista especializada em psicadelismo, que li um artigo sobre o homem/ banda, o que ainda me deixou mais curioso embora nunca me tenha lembrado de ir ao Google ou ao Soulseek procurá-los. Até que, numa feliz excursão em 2006 à Vinil Experience, descobri esta reedição em CD (também há compactos na loja) do primeiro álbum - originalmente, da Mercury (1970). A edição de 2003 era da Reportoire, editora alemã que se dedica à reedição de Pop / Rock dos velhos tempos... É uma editora (tal como s Soul Jazz) que faz "serviço público" não só pela selecção do material, mas também pela qualidade das embalagens e a inclusão de artigos sobre o disco ou a banda (ou o contexto histórico-musical), geralmente assinados pelo jornalista Chris Corner.
A carreira de Exuma foi incompreendida desde a sua estreia discográfica com o lançamento de dois discos em 1970, um primeiro homónimo e um segundo era Exuma II (que entretanto adquiri comprando a um alemão qualquer na Discogs). Ambos não tiveram sucesso comercial e os fracassos nas vendas foram constantes ao ponto do mentor do projecto, McFarlane Anthony McKay, ter abandonado as gravações nos anos 70, dedicando-se à pintura e só voltando ao show-biz nos anos 80 com o sucesso que ganhou nas Bahamas, a sua terra natal. A razão do fracasso norte-americano, poderá parecer ridícula nos dias de hoje mas alguns dos motivos apontados são: não haver uma única imagem da banda nos discos (as capas são umas pinturas assustadoras feitas por McKay), os discos terem sido lançados no mesmo ano (sem deixar os produtos "respirarem"), falta de investimento na promoção e sobretudo porque o som era (é!) difícil de catalogar nas lojas e para passar na rádio - Shaman Folk? Country Reggae? World Music Psicadélico? Soul tribal? Pop Pagão? Realmente, percebemos a (feliz) alienação deste projecto, Exuma pega nas raízes caribeanas do Voodoo e vai construindo um álbum ritmado, simultaneamente negro, quase que catártico, com alguma crítica social, uivos de cães e zombies a mastigarem carne humana nham-nham-nham...
sábado, 15 de dezembro de 2012
a última Laica!!!
ÚLTIMO acontecimento do maior evento de edição independente em Portugal!!!
O Mesinha de Cabeceira estará lá e curiosamente também autores estrangeiros que participaram no último número: Dice Industries (Alemanha), Mattias Elftorp (Suécia) e Martin López Lam (Peru / Espanha)...
E há unDJ FarraJ na festa de despedida!
Shame on the nigger!
segunda-feira, 10 de dezembro de 2012
quinta-feira, 6 de dezembro de 2012
Malmö de Cabeceira
Mattias Elftorp e Amanda Casenellas em Malmö a exibirem o Mesinha #23 invés de promoverem as suas próprias edições... mundo de loucos!
Elftorp participou no último MdC com um retrato da Kristiina - a quem é dedicado o volume - e prá semana está em Lisboa para a última Feira Laica.
terça-feira, 4 de dezembro de 2012
O Hábito Faz O Monstro
O Hábito Faz O Monstro de Lucas Almeida é o quinto volume da Mercantologia, colecção dedicada à recuperação de material perdido no mundo dos fanzines, editada pela Associação Chili Com Carne num total de 500 exemplares, cada um com 104 páginas 16,5x23cm a p/b, capa a cores, e o seguinte ISBN: 978-989-8363-15-2.
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Este volume reedita uma selecção de BDs publicadas entre 2002 e 2009, nos números 2, 5, 7, 11 e 13 do zine O Hábito Faz O Monstro, e algumas inéditas produzidas entre 2009 e 2012.
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Este volume reedita uma selecção de BDs publicadas entre 2002 e 2009, nos números 2, 5, 7, 11 e 13 do zine O Hábito Faz O Monstro, e algumas inéditas produzidas entre 2009 e 2012.
Este volume teve o apoio da Câmara Municipal de Cascais e o IPDJ
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Pode ser adquirido na loja em linha da CCC e brevemente na Kingpin Books e Livraria Sá da Costa...
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Estará presente na próxima Feira Laica mas iremos fazer um lançamento mais tarde...
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Sobre O Hábito Faz o Monstro #7, Pedro Moura no blogue Ler BD escreveu: «(...) a atenção ao seu trabalho [Lucas Almeida] desdobra-se para além das arenas habituais, quer por ter ganho há pouco tempo o prémio dos Jovens Criadores na área de bd/ilustração, e por surgir como uma das "promessas para 2007" num artigo da revista do Expresso. (...) o conteúdo mostra-se bem mais variado mas sob o mesmo signo de liberdade dos melhores zines. O número 7 é o que apresenta, até agora, aquela que me parece a maior e mais sustentada história da personagem-avatar do autor, o "Jovem". Como se lerá na nota final, nasce o texto, um tecido de várias considerações sobre o amor, de um trabalho escolar do autor. A sua aplicação às aventuras desta personagem torna essas mesmas considerações ora em verborreia a ridicularizar ora numa lição sustentada por quem a apresenta (o demónio) ora numa lição negada pelo Jovem confuso... Nesse aspecto, recorda aquelas enormes notas criadas por Chester Brown em I Never Liked You, por exemplo. Mas a mistura de níveis e de tons, entre a profunda reflexão verbal sobre um complicado (se não o mais complicado) sentimento humano e a paródia das acções.»
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sexta-feira, 30 de novembro de 2012
segunda-feira, 26 de novembro de 2012
Tou no Tornado que afinal fica até 7 de Dezembro!
A exposição Tornado pretende ser um espaço de mostra de desenho, ilustração e pintura em todas as suas vertentes e técnicas "não-digitais". Múltiplos serão apenas permitidos se técnicas tradicionais - serigrafia ou gravura. Serão consideradas válidas à participação impressões digitais desde que com registos "manuais" sobre elas (por exemplo, fotografias pintadas ou riscadas por cima). O que se pretende é a exposição de peças únicas, registos manuais dos seus autores.
A exposição decorrerá entre 9 de Novembro a 7 de Dezembro de 2012 na Galeria da Biblioteca Municipal Rocha Peixoto, na Póvoa de Varzim.
foto onde está o meu trabalho (2º à esq. na primeira fila)... Quem é que está à minha volta!?
Ah! O desenho chama-se "39"... Guess what?
sábado, 24 de novembro de 2012
Fiz uma capa pró Jello Biafra
Mitomania é fixe!
Monster Magnet : Powertrip (A&M; 1998)
É o álbum mais popular desta banda e que conseguiu levar o stoner rock aos topes e sucesso. Hard Rock que se vai transformando noutros géneros (surf, arabesco, psych, rock sulista, baladinha,...) piscando o olho a toda a cartilha de Rock pesado como Warrior Soul, MC5, Black Sabbath, Stooges, Doors, Soundgarden, Led Zeppelin, Jane's Addiction,... em perfeito materialismo dialéctico orelhudo e viciante.
Os temas versam a vida white trash norte-americana - diz a lenda que este disto foi escrito pelo vocalista Dave Wyndorf em residência "artistica" na cidade de Las Vegas durante 21 dias, onde escreveu 21 canções, das quais 13 fazem este disco - em que se celebra a vida hedonista, drogas, revelações divinas, referâncias ao universo Marvel - Wyndorf durante uma vidade drogas também trabalhou numa loja de BD. Tudo perfeitamente embrulhado com uma produção exemplar e profissional de estúdio de meter raiva a qualquer detrator da banda ou amante do género Stoner. Ainda assim consegue ser mais sujo e xunga que os Queens of The Stone Age. Receava o pior daqui...
quarta-feira, 21 de novembro de 2012
Maria Isabel Mendes de Almeida e José Machado Pais [org.] : "Criatividade, juventude e novos horizontes profissionais" (Zahar; 2012)
Coincidências servem para romances do Paul Auster e "posts" catitas... como este! Enquanto eu publiquei o Mesinha de Cabeceira #24 onde está uma BD onde aparece o sociólogo José Machado Pais, ele lança este livro, Criatividade (...), no Brasil, pela editora Zahar, onde... eu apareço!
Criatividade (...) colecciona uma série de estudos feitos em Portugal e no Brasil sobre novas formas de criação e trabalho. Algumas são historicamente ligadas a vários tipos de marginalidade como a tatuagem (símbolo de excelência dos rufiões e da prisão), o Hip Hop (na sua origem de cultura de rua) e a BD (uma arte não reconhecida como Arte seja pelo público seja a nível institucional) - é nesta última onde entro, claro está, com algumas vinhetas da BD "Die Fliege II" publicada no Noitadas, Deprês & Bubas (Chili Com Carne; 2008).
Os estudos aqui publicados mostram como estas sub-culturas vieram à tona através do advento da Internet e outros media, que as tecnologias digitais modificaram os modos de vida do século XXI ao ponto de que se fala em geração "slash" - o tipo que é médico/DJ/poeta, por exemplo -, que a criatividade e os meios de profissionalização se complementam, sobretudo numa base autodidacta (ainda há poucos anos não havia cursos universitários de BD, por exemplo) como se encontram soluções e cooperações através de contágios em áreas diferentes. É um testemunho de uma geração que abandonou o romantismo do génio criador e solitário, que é capaz de ser nómada, "oblíqua" e "modal" - e asséptico, plástico e chato, acrescento eu...
Outro ponto interessante do livro é que apesar de haver um oceano a separar os dois países onde foram recolhidos depoimentos e foram feitos os estudos, a verdade é que os discursos e modus operandi dos criativos são iguais, sem diferenças ou características nacionais como a Aldeia Global gosta! Preocupante?
Outro ponto interessante do livro é que apesar de haver um oceano a separar os dois países onde foram recolhidos depoimentos e foram feitos os estudos, a verdade é que os discursos e modus operandi dos criativos são iguais, sem diferenças ou características nacionais como a Aldeia Global gosta! Preocupante?
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Mercantologia
terça-feira, 13 de novembro de 2012
Arabyon Ana para Alt Com / No Borders
E saiu (com a minha BD) a antologia sueca do Alt Com - No Borders! Por enquanto só tenho um exemplar para mim mas um dos editores, o Mattias Elftorp, vai estar em Lisboa (outra vez) prá última Feira Laica, e trará montes de exemplares do livro - que deverá ser grátis para quem lhe comprar alguma publicação!
Anotem lá na agenda: 15 e 16 de Dezembro no mesmo sítio da exposição dos 20 anos do Mesinha de Cabeceira !!!
A BD para a antologia do Alt Com (com o tema "No Borders") intitula-se Arabyon Ana que significa "eu sou árabe"(aprendido aqui) e é um tomar de consciência à nossa História, da nossa economia que foi baseada numa escravatura inumana que, acho eu, nos moldou até aos dias de hoje... É uma BD que também é contra à bola e os nacionalismos. Irei usar esta BD também para uma participação na revista Pangrama... mas aí será para falar de betos!!!
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O meu coração é árabe
sexta-feira, 9 de novembro de 2012
Socialistishes Patienten Kollektiv
Test Dept : Pax Britannia (Jungle; 1991)
Um disco que também tem como sub-título An Oratorio In Five Movements não fosse um disco onde música clássica, música de câmara e música industrial se fundem para tratar sobre o tema do Imperio Britânico e a Inglaterra, essa terra de paradoxos. A terra que pratica democracia há mais tempo mas que tem aqueles jarretas nojentos dos Reis, a terra em que o pai de família é um rabeta de primeira, a terra que pertence à Europa mas que só faz broches à América (aliás, a grande conclusão no final deste grande disco), que são um paz de alma mas onde a violência transborda em estádios e nas ruas sem aviso, etc etc...
O disco é uma encruzilhada que destila as grandiosas percursões industriais que aliás os Test Dept eram os grandes mestres, e música clássica orquestrada por uma companhia - curiosamente este cruzamento de "industrial + clássica" será onde contemporâneos e pioneiros seus comos Laibach irião parar na mesma altura. Como disco de Industrial de velha guarda, os discursos samplados são escolhidos a dedo, para que cada palavra da Margaret Thatcher ou outro político nos faça vomitar de tanto nojo... Algures vão se ouvindo gaitas-de-foles, claro!
Um grande disco a recuperar mas é de evitar a versão CD porque na altura os designers não saibiam que reduzir o material de um disco de vinil para CD era um erro. Não se consegue ler letras seja das músicas, da ficha técnica, músicas, etc... É sacar da 'net ou comprar o vinil.
sexta-feira, 2 de novembro de 2012
Faço aifargoibotua enquanto escrevo...
Este ano voltei à BD Amadora depois de não ir lá desde 2007...
A única razão disto ter acontecido - calamidade, bem sei... - é que o mesmo homem que produziu a exposição Tinta nos Nervos (vulgo o Pedro Moura) convidou-me para uma exposição que há para lá sobre aifargoibotua.
Ora como eu fui dos primeiros autores de BD em Portugal a fazer aifargoibotua (e ainda faço aifargoibotua tal como também faço ainda xixi e cócó todos os dias) tinha de estar lá metido. Por acaso estou bem acompanhado, com autores que repeito e venero como o Baudoin, o Robert Crumb, Marko Turunen, Fabrice Neaud ou uma nova fornada de autores portugueses que encaminharam nos últimos anos pela aifargoibotua como o Tiago Baptista, David Campos e Marco Mendes - claro, que nem tudo corre bem, há emplastros como o João "o mininu tristi" Mascarenhas... ou ainda uns restos mortais dos excessos de cenografia que a Amadora nos habituou, embora seja verdade que este ano não descobri o polipropileno expandido em nenhum canto... Estranho, cortes de orçamento?
Claro que ainda há restinhos de foleirada aqui e acolá, sendo o mais grave a destruição da ilustração de Paulo Monteiro para o catálogo do evento. Por falar nisso, o catálogo é o habitual pardieiro de ensaios variados, que nem Pedro Moura e Jan Baetens se safam - tenho muita pena... Talvez por estratégia do tipo "é a primeira vez que o grande público vai ter acesso à aifargoibotua" (deixo aqui a ironia em lume-brando) que pouco ou nada nos trás à reflexão sobre a aifargoibotua. Chega a ser anedótico até a confirmação do Baietens que se pode fazer aifargoibotua sem aifargoibotua... Claro, qualquer leitor de Gustave Flaubert ou Phillip K. Dick já o sabia, e não foi preciso nenhum grau académico para chegar a essa conclusão. Numa sucessão de livros ficcionados de escritores podemos descobrir a história de vida do seu autor contada nessa crono-bibliografia. Esta é a grande novidade dada pelo Baietaman, é do tipo Ovo de Colombo e digno da BD e da BD Amadora. Man! Aquele álbum em que o Astérix luta contra super-homens (representando a indústria dos "comics") e robots (idem para a Manga, BD japonesa) revela que o Uderzo é um velho chéché, acho que se pode ver a sua aifargoib nesse álbum, né?
Gozo à parte, fui num Domingo de manhã para não me cruzar com os idiotas do costume e como já não há anormalidades feitas pelos arquitectos da câmara, visitei sem precalsos... Até "gostei" de lá voltar mesmo quando não há lá "novidades", dada a sincopada crise da BD portuguesa com o eterno retorno dos mesmos autores e à selecção (sempre) desinteressante da BD estrangeira que a organização reúne há 23 anos - basta pensar que a aifargoibotua é aqui apresentada com décadas de atraso, depois dos esforços da colecção Lx Comics, o Salão Lisboa, revista Quadrado, reedição de No Lazareto do mestre Rafael Bordalo Pinheiro, e ainda as edições sobre Carlos Botelho e de Fernando Relvas, ou "O Macaco Tozé" de Janus, etc, etc, etc, etc... Talvez porque agora a aifargoibotua esteja a dar no mercado através de grandes editoras como a Devir e a Contraponto (selo editorial lacaio da Bertrand) que a BD Amadora tenha-se lembrada da aifargoibotua - um "género" que mudou o panorama da BD a nível mundial, ao ponto de ter conseguido a proeza de entrar no tradicional mercado livreiro que sempre ignorou a BD nas suas prateleiras.
Amanhã vou lá voltar porque um amigo quer conhecer o Baudoin, e no último Domingo vou buscar as sobras dos livros que deixei à venda com a Pedranocharco... Três vezes na BD Amadora num ano parece-me bruxedo, foda-se! Obrigado Pedro!
A única razão disto ter acontecido - calamidade, bem sei... - é que o mesmo homem que produziu a exposição Tinta nos Nervos (vulgo o Pedro Moura) convidou-me para uma exposição que há para lá sobre aifargoibotua.
Ora como eu fui dos primeiros autores de BD em Portugal a fazer aifargoibotua (e ainda faço aifargoibotua tal como também faço ainda xixi e cócó todos os dias) tinha de estar lá metido. Por acaso estou bem acompanhado, com autores que repeito e venero como o Baudoin, o Robert Crumb, Marko Turunen, Fabrice Neaud ou uma nova fornada de autores portugueses que encaminharam nos últimos anos pela aifargoibotua como o Tiago Baptista, David Campos e Marco Mendes - claro, que nem tudo corre bem, há emplastros como o João "o mininu tristi" Mascarenhas... ou ainda uns restos mortais dos excessos de cenografia que a Amadora nos habituou, embora seja verdade que este ano não descobri o polipropileno expandido em nenhum canto... Estranho, cortes de orçamento?
Claro que ainda há restinhos de foleirada aqui e acolá, sendo o mais grave a destruição da ilustração de Paulo Monteiro para o catálogo do evento. Por falar nisso, o catálogo é o habitual pardieiro de ensaios variados, que nem Pedro Moura e Jan Baetens se safam - tenho muita pena... Talvez por estratégia do tipo "é a primeira vez que o grande público vai ter acesso à aifargoibotua" (deixo aqui a ironia em lume-brando) que pouco ou nada nos trás à reflexão sobre a aifargoibotua. Chega a ser anedótico até a confirmação do Baietens que se pode fazer aifargoibotua sem aifargoibotua... Claro, qualquer leitor de Gustave Flaubert ou Phillip K. Dick já o sabia, e não foi preciso nenhum grau académico para chegar a essa conclusão. Numa sucessão de livros ficcionados de escritores podemos descobrir a história de vida do seu autor contada nessa crono-bibliografia. Esta é a grande novidade dada pelo Baietaman, é do tipo Ovo de Colombo e digno da BD e da BD Amadora. Man! Aquele álbum em que o Astérix luta contra super-homens (representando a indústria dos "comics") e robots (idem para a Manga, BD japonesa) revela que o Uderzo é um velho chéché, acho que se pode ver a sua aifargoib nesse álbum, né?
Gozo à parte, fui num Domingo de manhã para não me cruzar com os idiotas do costume e como já não há anormalidades feitas pelos arquitectos da câmara, visitei sem precalsos... Até "gostei" de lá voltar mesmo quando não há lá "novidades", dada a sincopada crise da BD portuguesa com o eterno retorno dos mesmos autores e à selecção (sempre) desinteressante da BD estrangeira que a organização reúne há 23 anos - basta pensar que a aifargoibotua é aqui apresentada com décadas de atraso, depois dos esforços da colecção Lx Comics, o Salão Lisboa, revista Quadrado, reedição de No Lazareto do mestre Rafael Bordalo Pinheiro, e ainda as edições sobre Carlos Botelho e de Fernando Relvas, ou "O Macaco Tozé" de Janus, etc, etc, etc, etc... Talvez porque agora a aifargoibotua esteja a dar no mercado através de grandes editoras como a Devir e a Contraponto (selo editorial lacaio da Bertrand) que a BD Amadora tenha-se lembrada da aifargoibotua - um "género" que mudou o panorama da BD a nível mundial, ao ponto de ter conseguido a proeza de entrar no tradicional mercado livreiro que sempre ignorou a BD nas suas prateleiras.
Amanhã vou lá voltar porque um amigo quer conhecer o Baudoin, e no último Domingo vou buscar as sobras dos livros que deixei à venda com a Pedranocharco... Três vezes na BD Amadora num ano parece-me bruxedo, foda-se! Obrigado Pedro!
quarta-feira, 31 de outubro de 2012
Jorge Lima Barreto : "Jazzorama 5" (Tugaland; 2007)
Foi uma descoberta na Trem Azul... Outro livro de Jorge Lima Barreto (1949-2011) e desta vez com o selo da má-pagadora Tuga Land - antes conhecida por Corda Seca, também especialista em fugir aos créditos de ilustradores e autores de BD. A Tuga Land é conhecida, também, por fazer colecções de livros e CDs para jornais do tipo Pop Rock Português e BD Jazz mas não livros... Livros assim do tipo agrafados e poucas páginas. É um mistério mesmo, esta brochura saiu com algum jornal? Foi para as livrarias? Perdeu-se no meio de "bestsellers" - aqueles livros com mais de 500 páginas, com capas photoshopadas de anjos e conspirações maçónicas?
Não faço puto ideia, só sei que descobri isto a semana passada lá na Trem Azul e a edição já tem 5 anos de existência. São mini-ensaios sobre Jazz em jeito de telegrama onde se aprende mais sobre música que os livros de 500 páginas, sobretudo porque Barreto não se cinge apenas ao Jazz mas trata de todas as questões de pós-modernismo, multimedia e tecnologia. Apenas o último ensaio, Cognomes do Jazz, é um exercício de espetácularidade onanista para "nerds" do Jazz - em que Barreto separa os músicos de Jazz pelos seus nomes ou melhor as suas alcunhas que remetem para títulos nobiliárquicos (como Duke Ellington e Count Basie), os derivados do republicanismo (Prez, como era conhecido Lester Young), zoologismo (Gato Barbieri e Cat Anderson), botânica (Bean, isto é, Coleman Hawkins), toponímia (Philly Joe Jones), caracteriologia (Judge, como era apelidado Milt Hinton), religião (Turyaia - Alice Coltrane), familiarismo (Pops, i.e. Louis Armstrong), fisionomiologia (Fats Navarro), exotismo (Panama Francis) e tecnicismo (Joseph "tricky sam" Nanton)... Enfim, um gozo fútil bem enquadrado no selo em que foi publicado. Check it out!
Não faço puto ideia, só sei que descobri isto a semana passada lá na Trem Azul e a edição já tem 5 anos de existência. São mini-ensaios sobre Jazz em jeito de telegrama onde se aprende mais sobre música que os livros de 500 páginas, sobretudo porque Barreto não se cinge apenas ao Jazz mas trata de todas as questões de pós-modernismo, multimedia e tecnologia. Apenas o último ensaio, Cognomes do Jazz, é um exercício de espetácularidade onanista para "nerds" do Jazz - em que Barreto separa os músicos de Jazz pelos seus nomes ou melhor as suas alcunhas que remetem para títulos nobiliárquicos (como Duke Ellington e Count Basie), os derivados do republicanismo (Prez, como era conhecido Lester Young), zoologismo (Gato Barbieri e Cat Anderson), botânica (Bean, isto é, Coleman Hawkins), toponímia (Philly Joe Jones), caracteriologia (Judge, como era apelidado Milt Hinton), religião (Turyaia - Alice Coltrane), familiarismo (Pops, i.e. Louis Armstrong), fisionomiologia (Fats Navarro), exotismo (Panama Francis) e tecnicismo (Joseph "tricky sam" Nanton)... Enfim, um gozo fútil bem enquadrado no selo em que foi publicado. Check it out!
quinta-feira, 25 de outubro de 2012
20 anos do Mesinha de Cabeceira
25 Outubro - 16 Dezembro
Estação Elevatória a Vapor dos Barbadinhos, Lisboa
no âmbito da Trienal Desenha 2012
Sinopse: Exposição de originais de BD, desenho e ainda de fanzines, serigrafias e pintura relativos aos 20 anos de existência do fanzine Mesinha de Cabeceira. Criado por Marcos Farrajota e Pedro Brito, desde 1992, que se assumiu como um projecto mutante que se intervala em antologia, monográfico e "perzine" para além de ter passado pela impressão profissional, pela fotocópia e pela serigrafia
Sobre a exposição: Deveria ser uma retrospectiva mas para isso era preciso logística e dinheiro que ninguém teria interesse em investir. E depois há originais perdidos por todo o lado: em Macau, na área metropolitana de Lisboa e quem sabe Brooklyn, Hamburgo, Belgrado, Viseu e Seattle... O fanzine nasceu em Lisboa, embora os seus dois fundadores, Pedro Brito e Marcos Farrajota fossem dos subúrbios (Barreiro e Cascais, respectivamente) mas os colaboradores vieram de vários pontos do planeta, daí que recolher todo o material seria complexo e dispendioso.
Esta exposição é uma selecção de peças curiosas, sobretudo de originais de BD dos 20 anos de actividade editorial do fanzine Mesinha de Cabeceira, desde o seu número zero até ao mais recente número 23. Optou-se para mostrar algumas curiosas peças que mostram de forma simples as pranchas de BD (originais) pouco antes de serem impressas fosse nos tempos gloriosos da fotocopiadora até à impressão offset – passando ainda pela serigrafia.
Muitos destes originais tiveram pouca visibilidade, ou por causa das tiragens reduzidas das edições (sobretudo dos primeiros 12 números) ou ainda porque nunca estiveram expostas noutros espaços - excepção serão os trabalhos de André Lemos, Filipe Abranches, João Maio Pinto, Jucifer, Marcos Farrajota e Pepedelrey que ainda o ano passado, foram vistas por milhares de pessoas durante a exposição Tinta nos Nervos, no Museu Berardo.
Da Noruega vieram as páginas da BD de Monia Nilsen, em registo de entrevista saída no Mesinha de Cabeceira Popular #200 (Chili Com Carne, 2006). Da viagem a Moçambique, Crizzze conta a sua experiência com as cores fortes de África – o trabalho saiu no #17 (Chili Com Carne, 2003). Dos EUA veio uma pintura de Mike Diana que mostra os ácidos a todas as cores da capa do MdC #15 / Sourball Prodigy (MMMNNNRRRG; 2002). Da Alemanha Dice Industries envia as suas BD-colagens que integram o recente número 23 a sair durante esta comemoração do MdC - um mimo, as colagens e o livro, já agora!
Vindos também deste número poderemos ver os originais de André Coelho, Bruno Borges, Sílvia Rodrigues, José Smith Vargas, Afonso Ferreira, Daniel Lopes e Lucas Almeida (numa nova montagem em serigrafia).
E recuperamos ainda trabalhos de Arlindo Horta, João Chambel (remontados) do MdC 18 (Chili Com Carne, 2004), de Nunsky - da sua clássica BD psycho-goth-billy -, Silas, Jorge Coelho e montes de originais "bedroom punk" de Marte (as primeiras páginas das séries Loverboy e NM) e claro... Pedro Brito - os primeiros trabalhos, que serão bastante curiosas para os fãs hardcore deste autor!!!
Informação útil: Inaugura a 25 de Outubro, patente até 16 de Dezembro | 10h - 18h | inauguração 19h
Museu da Água - Estação Elevatória a Vapor dos Barbadinhos, Lisboa | Público-alvo não determinado com interesse pela banda desenhada e ilustração. Para público com mais de 16 anos | Acesso: Adultos 2 euros, até 12 anos gratuito, Cartão jovem, aposentados, mais 65 anos 1 euro.
Extra: Dia 27 de Outubro – aliás à noite, a partir das 22h, na Trem Azul, as comemorações dos 20 anos do Mesinha de Cabeceira expandem-se para Festa com uma outra exposição, Cronovisões, Ex-votos para o Futuro, uma individual de Doutor Urânio que mostra o seu trabalho de colagem retro-futurista, e haverá concerto de Susana Santos Silva (trompete, electrónicas) com Jorge Queijo (bateria, electrónicas) e um pé-de-dança com os discos de unDJ MMMNNNRRRG.
Internet thing: mesinha-de-cabeceira.blogspot.com | chilicomcarne.com
FESTA de SÁBADO à NOITE (dia 27 Outubro na Trem Azul): exposição de colagens de Dr. Uránio + concerto Susana Santos Silva (trompete, electrónicas) com Jorge Queijo ( bateria, electrónicas) + unDJ MMMNNNRRRG.
CRONOVISÕES, EX-VOTOS PARA O FUTURO
Exposição de Doutor Urânio
na Trem Azul, de 27 Outubro a 23 Novembro
Falamos de Tempo e Mente, que dificilmente pertencem a categorias. Separamos o passado e o futuro e descobrimos que o Tempo é uma amálgama de ambos. Separámos o bem e o mal e descobrimos que a Mente é uma amálgama de ambos, temos de compreender o todo. Issac Asimov
Os lubis-homens são aqueles que têm o fado ou sina de se despirem de noite no meio de qualquer caminho, principalmente encruzilhada, darem cinco voltas, espojando-se no chão em lugar onde se espojasse algum animal, e em virtude disso transformarem-se na figura do animal pré-espojado. Esta pobre gente não faz mal a ninguém, e só anda cumprindo a sua sina, no que têm uma cenreira mui galante, porque não passam por caminho ou rua, onde haja luzes, senão dando grandes assopros e assobios para se lhas apaguem, de modo que seria a coisa mais fácil deste mundo apanhar em flagrante um lubis-homem, acendendo luzes por todos os lados por onde ele pudesse sair do sítio em que fosse pressentido. É verdade que nenhum dos que contam semelhantes histórias fez a experiência. Alexandre Herculano
Para mim, a melhor coisa em relação ao Cyberpunk é que me ensinou a gostar de centros comerciais, que geralmente me aterrorizavam. Agora imagino que a cena toda está duas milhas debaixo da superfície da lua, e que o lado direito das pessoas foi comido por ratos de aço robotizados. E de repente torna-se interessante outra vez Rudy Rucker
Nos terrenos inacessíveis cercados por modernos edifícios encontro a fronteira entre a terceira e a quarta dimensão. Do quotidiano de destruição maciça surgem hipermontagens mediúnicas. Os objectos perdidos nos poços dos elevadores provocam-me visões antigas de um futuro tragicômico. Dos horrores das novidades tecnológicas imerge a fusão de imagens improváveis. As leucotomias pré-frontais do entretenimento fundem-se em permutações da realidade representada. A mocidade da ultra-higiene espalha suavemente as linhas principais das ditaduras auto-impostas através de radiações electromagnéticas. Morcões e trengos flutuam no mar de alienação a procura de aparelhos TDT nos escombros do naufrágio do rei D. Sebastião.
Estes conceitos e outras derivaçôes críticonostálgicas são apresentadas no formato de fotomontagem (revistas velhas, tesoura e cola).
#23 : Inverno
one comix collection about the WINTER (Inverno, in Portuguese) to comemorate 20 years of the zine Mesinha de Cabeceira created by Pedro Brito and Marcos Farrajota in1992
published by Chili Com Carne
edited by Marcos Farrajota
designed by Joana Pires
covers by José Feitor e Pedro Brito
500 copies, 352 A6 b/w pages ALL in ENGLISH
...
Antologia comemorativa dos 20 anos do zine Mesinha de Cabeceira, criado em 1992 por Pedro Brito e Marcos Farrajota.
Publicado pela Associação Chili Com Carne
Editado por Marcos Farrajota
Design por Joana Pires
capas: José Feitor e Pedro Brito
Foram impressos 500 exemplares, são 352 páginas A6 a preto e branco. todas as BDs foram redigidas em inglês.
Com trabalhos de / comix by João Chambel, Daniel Lopes, Sílvia Rodrigues, Afonso Ferreira, Rafael Gouveia, Sara Gomes & André Coelho, José Smith Vargas, Bruno Borges, João Maio Pinto, Silas , Stevz (Brazil), Martin López Lam (Peru/ Spain), Lucas Almeida, Dice Industries (Germany), Uganda Lebre, Filipe Abranches, Tea Tauriainen (Finland), João Fazenda and Zé Burnay.
Apoios / support: Instituto Português do Desporto e Juventude e Trienal Desenho 2012
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Lançamento na exposição 20 anos do Mesinha de Cabeceira, 25 de Outubro, às 19h, na Estação Elevatória a Vapor dos Barbadinhos, Lisboa.
To be released 25th October at the exhibition "20 years of Mesinha de Cabeceira" at Estação Elevatória a Vapor dos Barbadinhos, Lisbon.
Antes de apagar a luz...
Não vou dizer que 20 anos passam rápido - embora seja verdade quando se ultrapassa a barreira dos 30 - como também não vou dizer que tudo mudou desde do dia 22 de Outubro de 1992 quando eu e o Pedro Brito lançamos o número zero do Mesinha de Cabeceira.
Se nesse ano, o MdC era uma reacção à apatia que a BD sofria na altura, em 2012 os motivos para continuar um título embevecido de "bedroom punk" não são muito diferentes apesar de tudo. Aliás, é curioso que quando houve uma “época alta” para a Nova BD Portuguesa - ou seja, entre 1996 e 2002 aquando da Direcção de João Paulo Cotrim na Bedeteca de Lisboa - foi nessa altura que o MdC teve menor actividade editorial. Quero dizer com isto que vejo o MdC como uma “oposição”, não necessariamente a um sistema ou uma ordem instituída mas contra a modorra e a inércia no mundo da BD portuguesa. Geralmente cada número é feito para dar o exemplo, é portanto um projecto moralista... O que soa muito mal mas parece que faz algum sentido.
Em 1992, eu, o Pedro Brito e alguns amigos precisamos de zines de desenhos xungas com argumentos escatológicos, e porque os zines de BD que existiam não abriam portas a toda uma cultura urbana que estávamos a descobrir (música, poesia, colagem), foi a nossa mini-vingança a todos os coninhas que nos rejeitaram! Em 1995 precisava de deitar a BD autobiografia que passei da dedicar-me, coisa inédita na BD portuguesa. Em 1997 ninguém queria saber do meteórico Nunsky e fez-se uma edição especial, já ela comemorativa e de passagem para uma produção profissional. Em 2000 não se faziam concursos de BD em que se contemplasse a publicação de monografias dos trabalhos vencedores... Fez-se então! Em 2002 era porque ninguém ligava ao André Lemos nem à técnica de serigrafia. Também o polémico autor norte-americano Mike Diana não tinha um livro a solo, mais dois monográficos! Em 2003 só se pagava 10 euros por página em revistas de editoras profissionais, então a pobretanas da Associação Chili Com Carne, até ela, seria capaz de dar esse miserável valor e preparou três números do “laboratório sincopado de texto + imagem”! Em 2006 já não me lembro, foi apenas por luxúria ou porque tinha deixado de haver BD portuguesa... Em 2009 o João Maio Pinto merecia um livro num formato de meter respeitinho. Em 2010 foi para limpar a minha honra pessoal de muitos trabalhos para projectos falhados que tinham de sair por algum lado! Na coincidência cósmica da coisa tive acesso a uma nova geração de autores brasileiros a merecer embaixada em Portugal. E em 2012?
A primeira razão seria vaidade pura pelos 20 anos de existência que noblesse oblige tem de se comemorar. E chegava-se ao número 23 que sempre foi uma das obsessões do Pedro Brito - e de muita outra boa gente - para que ele voltasse aos comandos do MdC e acabava-se com a coisa, afinal 20 anos é demasiado tempo para um fanzine. Para quem não sabe o Pedro Brito por volta do número 6 abandonou o barco para se voltar para outras actividades profissionais mas nunca deixamos de ser amigos. Este 23 seria uma forma de amizade sacana de lhe passar uma batata quente mas ele conseguiu afastar-se outra vez. Entretanto à perna foi feito compromisso de participar na Trienal Desenha 2012 que incluía uma exposição retrospectiva no Museu da Água / Estação Elevatória a Vapor dos Barbadinhos entre 25 de Outubro e 16 de Dezembro.
Sendo um número de despedida, o “Inverno” como tema seria ideal porque representa o "final" (a morte ou um final de um ciclo) e como o número zero do MdC começou com "Outono... regresso às aulas" (que merda de tema juvenil, pá!), a estação do frio traria o sentido para fecharmos esta publicação de vez. Só que entretanto comecei um trabalho de grande envergadura que me exigiu uma publicação regular para conseguir concluí-lo, logo já saiu o número 24 em Julho 2012 sem este 23 ter ainda a sua forma completa - e em breve sairá o 25 e mais alguns números nesse registo.
E como se poderia comemorar? A forma iria ditar o conteúdo porque queria-se um objecto grosso que se pudesse abrir com prazer à mesinha-de-cabeceira a caminho do descanso merecido do final do dia - uma pretensão que explica o seu nome, para quem nunca o adivinhou... Um bloco de papel que tivesse muita BD de preferência com forte narratividade - embora se aceite outras deambulações textuais. Eis uma situação complicada num período (outra vez) negro da BD portuguesa em que os autores (e tudo mais) perderam as evoluções que se registaram no mundo ocidental nos últimos... 20 anos! Falo da ascensão da BD de autor, a abertura das livrarias, galerias e instituições a este médium (na sua vertente literária e artística, não pela mera sociologia da popularidade), a interactividade entre agentes no plano internacional, o uso da autobiografia - e as vertentes paralelas dos diários de viagens, jornalismo, ensaio, crítica e reportagem - para expandir o meio, a imposição comercial do romance gráfico como modelo editorial, etc… Aspectos todos eles de máxima importância e que tenho orgulho - e talvez o único que tenho nestes 20 anos de actividade - ter difundido pelos meios limitados que tive acesso. Aproveito para agradecer à Associação Chili Com Carne (e à El Pep) por terem editado alguns dos números do MdC, algumas vezes até com apoios institucionais para ajudar a causa. Já agora, sobre os outros “selos”, a FC Kómix (doze primeiros números) e a MMMNNNRRRG (quatro números) não contam para os agradecimentos porque são estruturas por onde me escondo...
Voltando à irritável BD portuguesa, este MdC deveria ser um "tour de force" para mostrá-la energética e com (alguma) saúde, cof cof... e tal como em 1992 conseguisse chegar aos objectivos. Criou-se um tema, um formato e encomendas que foram recebidas com atenção e amor por colaboradores originais da estaca zero (Pedro Brito, João Fazenda), alguns que participaram anteriormente em números antigos (João Chambel, Rafael Gouveia, João Maio Pinto, o alemão Dice Industries, Filipe Abranches, José Smith Vargas, Stevz, José Feitor, Daniel Lopes, Bruno Borges, Silas) e algumas estreias absolutas como Sílvia Rodrigues, Afonso Ferreira, André Coelho, Sara Gomes, Martin Lam López (Peru/ Espanha), Lucas Almeida, Uganda Lebre, Tea Tauriainen (Finlândia) e Zé Burnay. A todos eles agradeço o empenho e (espero eu) gozo que tenham tido para me ajudarem a marcar a data.
Modestamente o vosso criado,
Marcos Farrajota
29/09 Lx
Agradecimentos a Ana Guerreiro / Trienal Desenha 2012, Ana Laborinho / EPAL, Travassos / Trem Azul, André Lemos, Diego Gerlach, Rudolfo e David Campos. Em especial à Joana Pires que acabou de "crashar" no sofá depois de uma derradeira sessão de design deste extenso volume.
terça-feira, 23 de outubro de 2012
Tesón! Tudo me dá tesón!
Onardo? Who the fuck is Onardo? |
A poucos dias da inauguração eis algumas imagens das peças que poderão encontrar na exposição
Nunsky in Mesinha de Cabeceira #13 (esgotado mas acessível em PDF grátis no site da Chili Com Carne) |
Maquetes, todos os números do Mesinha de Cabeceira, originais jamais vistos (como os do Loverboy escritos e desenhados por Marte), e bonecada vária é o que se pode ver na Quinta-Feira. Apareçam!!!
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sexta-feira, 19 de outubro de 2012
Entrevista de Marcos Farrajota e Pedro Brito para a stress.fm
Uma entrevista na rádio online Stress FM sobre os 20 anos do Mesinha... só o texto do blog já vale a pena ler, quem sabe, sabe, e a malta da Stress não sendo jornalistas profissionais sabem!
Gracias ao Filipe Quaresma.
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quarta-feira, 17 de outubro de 2012
Infecção Urinária da Finlândia (VI)
Nova “crónica sónica Suomi”! Só que este regresso à Finlândia foi mais pobre musicalmente do que as outras quatro vezes que lá estive. Algum cansaço da viagem impediu-me de ir à Digelius e outras lojas de música de Helsínquia fazendo com que trouxesse menos discos deslumbrantes deste país.
Mais uma vez fui representar a Associação Chili Com Carne ao Festival de BD de Helsínquia que decorreu no início de Setembro, durante as minhas férias de verão. Perguntam vocês o que me leva fazer férias para um país escandinavo chato?
Em primeiro lugar acompanho a cena da BD da Finlândia desde 2004, a sua evolução artística e mercantil, por isso tenho todo o interesse ir lá despachar livros que se vendem mais facilmente do que em Portugal (inclusive até os que estão escritos em português!) e voltar a ver caras conhecidas, finlandesas e de outras nacionalidades - o festival tem muitos convidados estrangeiros. Segundo, não considero a Finlândia um país chato. Desde a primeira vez que estive lá aconteceram-me peripécias impensáveis – algumas registadas numa BD de Jarno Latva-Nikkola – o que mata os mitos e preconceitos que se têm dos nórdicos. Algumas histórias de tão absurdas que estão mais próximas do imaginário latino ou dos Balcãs… Não tendo bem a certeza do que afirmo para justificar alguma loucura que por lá impera, diria que a Finlândia é a “pobretanas” da rica zona escandinava. Só que a Noruega tem petróleo, a Suécia os ABBA e a Finlândia só sauna, alces e gelo! Foi o sucesso da Nokia que fez subir a Finlândia ao estatuto de país rico mas mesmo assim a julgar pelos preços das cervejas comparando com a vizinha Suécia, por exemplo, continua a ser o país mais barato daquelas zonas...
E nada melhor que ser “pobrezinho” para ser-se humilde e não ter peneiras. Basta ver o tal Festival de BD, por exemplo, é de facto um evento de grande dimensão mas que não tem um orçamento gigantesco como outros festivais na Europa, como o “nosso” vergonhoso Festival de BD da Amadora ou o supra-sumo dos festivais, o de Angoulême (França). O espaço principal é uma grande tenda no centro da capital onde se encontram as mesas das editoras para venderem as suas edições ao público. Como disse há convidados especiais e estrangeiros, alguns com viagens pagas outros com dormidas pagas, dependendo se os autores tem custos suportados por editoras comerciais ou se os artistas tem alguma exposição patente organizada pelo Festival. Outros convidados – como era o meu caso – são metidos em casas de particulares de pessoas que se voluntariaram em receber os convidados nas suas habitações. No fundo, serve para dizer que se não há dinheiro para hotéis não é por isso que os estrangeiros não deverão deixar de vir a um festival de BD possibilitando sinergias e parcerias para promover a BD finlandesa.
Normalmente os convidados devem ficar em casa de artistas, que cinicamente significa “estamos em casa” pois vamos encontrar os mesmos livros, discos, objectos, cartazes, serigrafias e arte na parede… Mas também podem aparecer outras situações como as casas de leitores! Foi o que me aconteceu desta vez. Fiquei na casa de um casal super-simpático de classe média. O tipo deu-me um CD da sua banda, os Monolith Resistor, intitulado Exit Autumn (auto-edição, 2010?) que é um revivalismo de Acid House, tipo de música que não me aquece nem me arrefece, para além de ser uma grande seca a maior parte das vezes. A cena Rave e Acid já teve os seus dias quando significava nomadismo, liberdade, confrontos com os porcos da bófia e claro, muita muita muita droga na cabeça. Passados 20 e tal anos este projecto parece apenas um gesto anacrónico, não só pela música poder ser considerada “retro” mas precisamente porque se volta apenas à sua forma superficial, um mimetismo puramente centrado no som sem que haja uma envolvência na cultura e acção que lhe estão (estavam?) inatas. Neste caso temos “música de informáticos” e não é preciso fazer 4h30 de viagem para apanhar com isto, basta ir aos discos funcionais das “nossas” Thisco ou Marvellous Tone para termos algo idêntico, para não dizer melhor. Avanti!
E realmente para se avançar é preciso recuar qualquer coisa… Temos de ir parar ao Fricara Pacchu, do qual apanhei numa mesa do Festival de BD um single já velho (passe a redundância) intitulado de Stories of the Old (Fonal; 2007). É anterior ao álbum Midnight Pyre e é composto por três temas de neo-psicadelismo que foge aos velhos rocks dos 60s, ao Techno dos anos 90 e às novas fornadas folktrónicas e outras “friqualhadas” dos últimos anos. Os temas são quase indescritíveis na sua mescla de guitarras espremidas, de vez em quando acompanhadas por batidas motorika ou Hip Hop. Temos aqui um ambiente de trip em sintonia com este nosso mundo industrial cheio de referências Pop, plástico, desperdício e cores berrantes. Não é uma má trip nem estamos perante ambientes negros e opressivos de malta Dark, a embriaguez é positiva que até lembra alguns momentos de Pure Guava dos Ween ou as mamadices dos Butthole Surfers. O single é acompanhado por um livro que compila trabalhos gráficos do autor / músico, onde encontramos um denominador comum da psicadelia finlandesa – em que o jornal de BD Kuti será o seu órgão de comunicação mais oficial e acessível – ou seja, temos colagens, fotografias encontradas (bastante bizarras! e não no sentido clássico de “sexo & morte!), desenhos rabiscados em marcadores de cor, tudo numa orgia sensorial que “bate” bem com a música. Como o autor de BD Tommi Musturi me confidenciou: «o Kevin [o Fricara Pacchu] é uma pessoa muito especial». Eu subscrevo!
Depois do fim-de-semana “bedéfilo” em Helsínquia fui para Tampere, a segunda maior cidade da Finlândia mas como qualquer cidade finlandesa, é quase minúscula para chamarmos de cidade... É conhecida pela cena Punk e lojas de segunda mão – ou “feiras da ladra” como eles lhe chamam. No entanto estas “ladras” são na realidade espaços enormes, onde as pessoas podem alugar uma mesa / estante para vender a sua tralha. Tudo está etiquetado e no final paga-se numa caixa comum. Não é uma Feira da Ladra como a de Lisboa, Vandoma (Porto) ou os “Rastros” de Espanha, em que estamos ao ar livre a confrontar as pessoas que comercializam as suas bodegas. Para aqueles lados, como se pode bem imaginar, com o frio, vento, chuva e gelo a apanhar a maior parte do ano, tal prática seria inviável – ou então os finlandeses, bons nórdicos que são, não tem coragem de estar a regatear com outras pessoas preços...
Considero estas lojas como outro exemplo de humildade finlandesa, no final de contas não é preciso, neste mundo de super-abudância, gastar muito dinheiro para se ter roupa, cultura ou acessórios – para quê comprar tudo novinho em folha? Lojas em segunda mão e/ou feiras da ladra são habituais pelo país inteiro, no caso de Tampere é um exagero, há por todo o lado! No centro há umas sete, nos limites da cidade existem outras três gigantescas – pelo o que me foi dito. Fui a quatro no centro e já estava farto de ver tanto lixo da nossa sociedade do consumo…Por gozo “vintage” comprei um disco a 1,5 euros do Coro masculino da Estónia, Meeksoorid (Мелодия / Melodia; 1969?), que canta em estónio (parecido com o Suomi) e o disco foi editado nos tempos da URSS, o que significa que provavelmente o coro deve cantar sobre o fantástico novo homem soviético, o proletário iluminado ou algo assim – não creio que será religioso afinal este LP vêm desses curtos e bons tempos da Humanidade em que o Cristianismo foi proibido!!! É o tipo de disco que deve ter influenciado Type O Negative a gravarem com o seu “Bensonhoist Lesbian Choir”, hehehe…
Voltando ao Punk e afins, quem quiser ouvir esse som ao vivo tem de ir ao Clube Vastavirta, onde numa quarta-feira à noite, por três euros (!) deu para ver três bandas (de Metal, na realidade), sendo a que mais curti foi The Reality Show, power-trio bem coordenado que cada música tocada por eles parecia uma estalada na cara. Vi algures num sítio na ‘net a catalogá-los de Fastcore. Não sei de tanto sobre sub-géneros no Hardcore e nem me interessa mas se existe essa caixa, os Reality Show são bem capazes de caberem nela, pois é Hardcore bem rápido e cheio de riffagem Metal da antiga. Por isso adquiri o EP 7” de estreia A Candle in Hell (Eternal Now Records + Raakanaama + Psychedelica Records; 2011) que é uma descarga eléctrica que deve aquecer os finlandeses no Inverno…
Talvez seja pela estação do frio que desde o final dos anos 70 que o Punk e Hardcore finlandês surgiu com tal agressividade que teve uma influência monstruosa a nível nacional e global. É seminal o género de som que os Terveet Kädet começaram a fazer por aquelas bandas chegando a influenciar bandas como Ratos de Porão, por exemplo…Para completar o ramalhete de Punkcore finlandês actual, o Tommi Musturi ofereceu-me outro EP 7”. Desta vez dos Haistelijat, intitulado Pakkomielle (Nuuhkaja + Joteskii Groteskii; 2012) onde apresentam 10 temas que raramente passam de um minuto de duração. É outro power trio que ultrapassa Mudhoney e Discharge em rapidez Rock’n’Roll com letras cuspidas na língua materna - que a dada altura soa a desenhos animados sei lá porquê. Lembra os Zeke...
Algures percebi que havia uma música dedicada ao artista e autor de BD Kalervo Palsa (1947-1987) - aliás, a capa lembra o tipo... Musturi traduziu-me a letra dessa música e acho que diz algo do tipo «K. Palsa encontra-se morto ali, ali onde é a fronteira»… Inaugura-se um novo estilo? O Haiku Punk?
Kiitos Tommi & Tiina
Mais uma vez fui representar a Associação Chili Com Carne ao Festival de BD de Helsínquia que decorreu no início de Setembro, durante as minhas férias de verão. Perguntam vocês o que me leva fazer férias para um país escandinavo chato?
Em primeiro lugar acompanho a cena da BD da Finlândia desde 2004, a sua evolução artística e mercantil, por isso tenho todo o interesse ir lá despachar livros que se vendem mais facilmente do que em Portugal (inclusive até os que estão escritos em português!) e voltar a ver caras conhecidas, finlandesas e de outras nacionalidades - o festival tem muitos convidados estrangeiros. Segundo, não considero a Finlândia um país chato. Desde a primeira vez que estive lá aconteceram-me peripécias impensáveis – algumas registadas numa BD de Jarno Latva-Nikkola – o que mata os mitos e preconceitos que se têm dos nórdicos. Algumas histórias de tão absurdas que estão mais próximas do imaginário latino ou dos Balcãs… Não tendo bem a certeza do que afirmo para justificar alguma loucura que por lá impera, diria que a Finlândia é a “pobretanas” da rica zona escandinava. Só que a Noruega tem petróleo, a Suécia os ABBA e a Finlândia só sauna, alces e gelo! Foi o sucesso da Nokia que fez subir a Finlândia ao estatuto de país rico mas mesmo assim a julgar pelos preços das cervejas comparando com a vizinha Suécia, por exemplo, continua a ser o país mais barato daquelas zonas...
E nada melhor que ser “pobrezinho” para ser-se humilde e não ter peneiras. Basta ver o tal Festival de BD, por exemplo, é de facto um evento de grande dimensão mas que não tem um orçamento gigantesco como outros festivais na Europa, como o “nosso” vergonhoso Festival de BD da Amadora ou o supra-sumo dos festivais, o de Angoulême (França). O espaço principal é uma grande tenda no centro da capital onde se encontram as mesas das editoras para venderem as suas edições ao público. Como disse há convidados especiais e estrangeiros, alguns com viagens pagas outros com dormidas pagas, dependendo se os autores tem custos suportados por editoras comerciais ou se os artistas tem alguma exposição patente organizada pelo Festival. Outros convidados – como era o meu caso – são metidos em casas de particulares de pessoas que se voluntariaram em receber os convidados nas suas habitações. No fundo, serve para dizer que se não há dinheiro para hotéis não é por isso que os estrangeiros não deverão deixar de vir a um festival de BD possibilitando sinergias e parcerias para promover a BD finlandesa.
Normalmente os convidados devem ficar em casa de artistas, que cinicamente significa “estamos em casa” pois vamos encontrar os mesmos livros, discos, objectos, cartazes, serigrafias e arte na parede… Mas também podem aparecer outras situações como as casas de leitores! Foi o que me aconteceu desta vez. Fiquei na casa de um casal super-simpático de classe média. O tipo deu-me um CD da sua banda, os Monolith Resistor, intitulado Exit Autumn (auto-edição, 2010?) que é um revivalismo de Acid House, tipo de música que não me aquece nem me arrefece, para além de ser uma grande seca a maior parte das vezes. A cena Rave e Acid já teve os seus dias quando significava nomadismo, liberdade, confrontos com os porcos da bófia e claro, muita muita muita droga na cabeça. Passados 20 e tal anos este projecto parece apenas um gesto anacrónico, não só pela música poder ser considerada “retro” mas precisamente porque se volta apenas à sua forma superficial, um mimetismo puramente centrado no som sem que haja uma envolvência na cultura e acção que lhe estão (estavam?) inatas. Neste caso temos “música de informáticos” e não é preciso fazer 4h30 de viagem para apanhar com isto, basta ir aos discos funcionais das “nossas” Thisco ou Marvellous Tone para termos algo idêntico, para não dizer melhor. Avanti!
E realmente para se avançar é preciso recuar qualquer coisa… Temos de ir parar ao Fricara Pacchu, do qual apanhei numa mesa do Festival de BD um single já velho (passe a redundância) intitulado de Stories of the Old (Fonal; 2007). É anterior ao álbum Midnight Pyre e é composto por três temas de neo-psicadelismo que foge aos velhos rocks dos 60s, ao Techno dos anos 90 e às novas fornadas folktrónicas e outras “friqualhadas” dos últimos anos. Os temas são quase indescritíveis na sua mescla de guitarras espremidas, de vez em quando acompanhadas por batidas motorika ou Hip Hop. Temos aqui um ambiente de trip em sintonia com este nosso mundo industrial cheio de referências Pop, plástico, desperdício e cores berrantes. Não é uma má trip nem estamos perante ambientes negros e opressivos de malta Dark, a embriaguez é positiva que até lembra alguns momentos de Pure Guava dos Ween ou as mamadices dos Butthole Surfers. O single é acompanhado por um livro que compila trabalhos gráficos do autor / músico, onde encontramos um denominador comum da psicadelia finlandesa – em que o jornal de BD Kuti será o seu órgão de comunicação mais oficial e acessível – ou seja, temos colagens, fotografias encontradas (bastante bizarras! e não no sentido clássico de “sexo & morte!), desenhos rabiscados em marcadores de cor, tudo numa orgia sensorial que “bate” bem com a música. Como o autor de BD Tommi Musturi me confidenciou: «o Kevin [o Fricara Pacchu] é uma pessoa muito especial». Eu subscrevo!
Depois do fim-de-semana “bedéfilo” em Helsínquia fui para Tampere, a segunda maior cidade da Finlândia mas como qualquer cidade finlandesa, é quase minúscula para chamarmos de cidade... É conhecida pela cena Punk e lojas de segunda mão – ou “feiras da ladra” como eles lhe chamam. No entanto estas “ladras” são na realidade espaços enormes, onde as pessoas podem alugar uma mesa / estante para vender a sua tralha. Tudo está etiquetado e no final paga-se numa caixa comum. Não é uma Feira da Ladra como a de Lisboa, Vandoma (Porto) ou os “Rastros” de Espanha, em que estamos ao ar livre a confrontar as pessoas que comercializam as suas bodegas. Para aqueles lados, como se pode bem imaginar, com o frio, vento, chuva e gelo a apanhar a maior parte do ano, tal prática seria inviável – ou então os finlandeses, bons nórdicos que são, não tem coragem de estar a regatear com outras pessoas preços...
Considero estas lojas como outro exemplo de humildade finlandesa, no final de contas não é preciso, neste mundo de super-abudância, gastar muito dinheiro para se ter roupa, cultura ou acessórios – para quê comprar tudo novinho em folha? Lojas em segunda mão e/ou feiras da ladra são habituais pelo país inteiro, no caso de Tampere é um exagero, há por todo o lado! No centro há umas sete, nos limites da cidade existem outras três gigantescas – pelo o que me foi dito. Fui a quatro no centro e já estava farto de ver tanto lixo da nossa sociedade do consumo…Por gozo “vintage” comprei um disco a 1,5 euros do Coro masculino da Estónia, Meeksoorid (Мелодия / Melodia; 1969?), que canta em estónio (parecido com o Suomi) e o disco foi editado nos tempos da URSS, o que significa que provavelmente o coro deve cantar sobre o fantástico novo homem soviético, o proletário iluminado ou algo assim – não creio que será religioso afinal este LP vêm desses curtos e bons tempos da Humanidade em que o Cristianismo foi proibido!!! É o tipo de disco que deve ter influenciado Type O Negative a gravarem com o seu “Bensonhoist Lesbian Choir”, hehehe…
Voltando ao Punk e afins, quem quiser ouvir esse som ao vivo tem de ir ao Clube Vastavirta, onde numa quarta-feira à noite, por três euros (!) deu para ver três bandas (de Metal, na realidade), sendo a que mais curti foi The Reality Show, power-trio bem coordenado que cada música tocada por eles parecia uma estalada na cara. Vi algures num sítio na ‘net a catalogá-los de Fastcore. Não sei de tanto sobre sub-géneros no Hardcore e nem me interessa mas se existe essa caixa, os Reality Show são bem capazes de caberem nela, pois é Hardcore bem rápido e cheio de riffagem Metal da antiga. Por isso adquiri o EP 7” de estreia A Candle in Hell (Eternal Now Records + Raakanaama + Psychedelica Records; 2011) que é uma descarga eléctrica que deve aquecer os finlandeses no Inverno…
Talvez seja pela estação do frio que desde o final dos anos 70 que o Punk e Hardcore finlandês surgiu com tal agressividade que teve uma influência monstruosa a nível nacional e global. É seminal o género de som que os Terveet Kädet começaram a fazer por aquelas bandas chegando a influenciar bandas como Ratos de Porão, por exemplo…Para completar o ramalhete de Punkcore finlandês actual, o Tommi Musturi ofereceu-me outro EP 7”. Desta vez dos Haistelijat, intitulado Pakkomielle (Nuuhkaja + Joteskii Groteskii; 2012) onde apresentam 10 temas que raramente passam de um minuto de duração. É outro power trio que ultrapassa Mudhoney e Discharge em rapidez Rock’n’Roll com letras cuspidas na língua materna - que a dada altura soa a desenhos animados sei lá porquê. Lembra os Zeke...
Algures percebi que havia uma música dedicada ao artista e autor de BD Kalervo Palsa (1947-1987) - aliás, a capa lembra o tipo... Musturi traduziu-me a letra dessa música e acho que diz algo do tipo «K. Palsa encontra-se morto ali, ali onde é a fronteira»… Inaugura-se um novo estilo? O Haiku Punk?
Kiitos Tommi & Tiina
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segunda-feira, 20 de agosto de 2012
Magius : "Black Metal Cómix" (F.O.G. Cómix; 2012)
Há obras que se seguem com as movidas musicais e esta é claramente uma delas. Se os Fabulous Freak Brothers de Gil Shelton era Rock psicadélico, se Love & Rockets dos Hernandez Bros era Punk californiano, o Peter Pank de Max sobre a movida espanhola, o Hate de Peter Bagge era sobre o Grunge, se Loverboy de Marte e João Fazenda (olha a modéstia, cabrão!) era sobre o Indie 'tuga (coisa que não existiu mas que se fingiu seja na ficção da série seja na realidade), se Psychowhip de unDJ GoldenShower e JCoelho (isso é coisa pouca para te auto-citares, ó rabeta!) é sobre o Rock industral, Sicotronic Records de Miguel Angel Martin é sobre Harsh Noise, ufa!... Então, Black Metal Cómix de Magius é sobre... BLACK METAL, claro!
Trata-se de um volume auto-editado de 208 páginas A5 dos fanzines homónimos publicados entre 2001 e 2012 em que Magius em curtas BDs vai contando a história mórbida do Black Metal com um "alto-relevo" para a cena seminal norueguesa, em especial para a banda Mayhem e o seu fundador e instigador da cena Black, Euronymous (1968-1993), que é a capa do livro. Não esquecendo que Euronymous foi morto pelo Varg Vikernes (na altura auto-intitulado de Count Grishnackh, mais conhecido pelo influente projecto Burzum), estes queimaram dezenas de igrejas (a única coisa boa da cena Black Metal), Euronymous fotografou o corpo do vocalista Dead (1969-1991) após o seu suicidio com um tiro de espingarda na pouca mioleira que devia ter, usou essas fotos para um "bootleg" da banda e segundo consta, oferecia restinhos do craneo do Dead em forma de colar de pescoço às pessoas que ele achasse merecedoras do seu respeito. Tudo isto soa "a BD" ou a desenhos animados escatológicos do tipo South Park mas não! Tudo isto foi verdade nos primórdios dos anos 90 e talvez porque a realidade ultrapassa sempre a ficção, todo o livro é feito com um "comic relief" para não entrarmos nas profundesas destes putos estúpidos noruegueses.
Por falar em South Park, a abordagem é realmente idêntica no que diz ao movimento dos corpos, uma vez que Euronymos ou o gajo de Burzum aparecem sempre como criaturas que não crescem e com os membros imobilizados (como se fossem ícones fofinhos) mesmo que estejam a fotografar - a máquina fica suspensa no ar e os braços caídos sempre imobilizados. Não se trata de uma falta de capacidade técnica do autor conseguir desenhar corpos com movimentos mas antes de gozo iconoclasta. De corrigir ainda que o autor desenha ambientes negros e góticos com bastante perícia que muitas vezes parece que são colagens ou montagens de imagens. Mas não são como o autor me chamou a atenção...
Também são interessantes as outras histórias que mesclam ficção com realidade, sobretudo quando tratam dos temas do Nacional Socialismo a que muitas das pessoas da cena Black Metal estão associadas. Estas BDs são um retrato da estupidez da cultura popular extrema, que só dá mesmo para rir! Infelizmente!
Trata-se de um volume auto-editado de 208 páginas A5 dos fanzines homónimos publicados entre 2001 e 2012 em que Magius em curtas BDs vai contando a história mórbida do Black Metal com um "alto-relevo" para a cena seminal norueguesa, em especial para a banda Mayhem e o seu fundador e instigador da cena Black, Euronymous (1968-1993), que é a capa do livro. Não esquecendo que Euronymous foi morto pelo Varg Vikernes (na altura auto-intitulado de Count Grishnackh, mais conhecido pelo influente projecto Burzum), estes queimaram dezenas de igrejas (a única coisa boa da cena Black Metal), Euronymous fotografou o corpo do vocalista Dead (1969-1991) após o seu suicidio com um tiro de espingarda na pouca mioleira que devia ter, usou essas fotos para um "bootleg" da banda e segundo consta, oferecia restinhos do craneo do Dead em forma de colar de pescoço às pessoas que ele achasse merecedoras do seu respeito. Tudo isto soa "a BD" ou a desenhos animados escatológicos do tipo South Park mas não! Tudo isto foi verdade nos primórdios dos anos 90 e talvez porque a realidade ultrapassa sempre a ficção, todo o livro é feito com um "comic relief" para não entrarmos nas profundesas destes putos estúpidos noruegueses.
Por falar em South Park, a abordagem é realmente idêntica no que diz ao movimento dos corpos, uma vez que Euronymos ou o gajo de Burzum aparecem sempre como criaturas que não crescem e com os membros imobilizados (como se fossem ícones fofinhos) mesmo que estejam a fotografar - a máquina fica suspensa no ar e os braços caídos sempre imobilizados. Não se trata de uma falta de capacidade técnica do autor conseguir desenhar corpos com movimentos mas antes de gozo iconoclasta. De corrigir ainda que o autor desenha ambientes negros e góticos com bastante perícia que muitas vezes parece que são colagens ou montagens de imagens. Mas não são como o autor me chamou a atenção...
Também são interessantes as outras histórias que mesclam ficção com realidade, sobretudo quando tratam dos temas do Nacional Socialismo a que muitas das pessoas da cena Black Metal estão associadas. Estas BDs são um retrato da estupidez da cultura popular extrema, que só dá mesmo para rir! Infelizmente!
quinta-feira, 16 de agosto de 2012
David Soares : "Compêndio de Segredos Sombrios e Factos Arrepiantes" (Saída de Emergência; 2012)
David Soares não pára! De performances spoken word a discos, de livros para a infância a livros de BD, agora este de ensaios, o homem está possesso!!! E damos Deo Gratias a isso, não é todos os dias que podemos ter acesso a livros novos de alguém que estimula a inteligência aos (seus) leitores. No caso deste novo título então, a bandeja de conhecimento é nos oferecida de forma simples e com algum humor negro.
Seja sobre Nazis, como foram criadas as câmaras de gás, bruxas, vampiros, a palavra badagaio, a autoridade, temos um rol de temas tenebrosos que a Humanidade criou em toda a sua História, toda ela corrompida por deturpações, mitos e mentiras pelos "Vencedores da História". Felizmente aprece Soares com espada de luz e erudição como aliás ele já o fazia nos seus blogues oficiais... E curiosamente do último blogue, já com a papa toda feita, Soares aproveitou apenas um texto ou outro. A maioria do livro são escritos inéditos invés de ter ido repescar ao passado como muita gente faz. É de se tirar o chapéu!
Só falta audácia gráfica no livro que funciona demasiado em chapa cinco - texto corrido, fotografias com legendas - tudo sem sal. Os Designers poderiam aprender muito com as composições das BDs para paginar livros. Ou então o Soares devia escrever um livro sobre isso para eles perceberem de vez!
De resto, se David Soares fizer disto uma série de livros será bem positivo. O Compêndio não é um livro "light" de graçolas (escrito por algum parvalhão mediático, por exemplo) mas também não é um manual científico de arrasar a mioleira ao pobre comum dos mortais. É um interessante apanhado de boas histórias de Alta Cultura e Baixa Cultura que Soares seleccionou para nos entreter - à beira da piscina, no café da esquina a beber minis, whatever... - mas sem NUNCA cair na futilidade. Há pouca gente que nos ofereça cultura desta forma. Venham mais cinco!
Seja sobre Nazis, como foram criadas as câmaras de gás, bruxas, vampiros, a palavra badagaio, a autoridade, temos um rol de temas tenebrosos que a Humanidade criou em toda a sua História, toda ela corrompida por deturpações, mitos e mentiras pelos "Vencedores da História". Felizmente aprece Soares com espada de luz e erudição como aliás ele já o fazia nos seus blogues oficiais... E curiosamente do último blogue, já com a papa toda feita, Soares aproveitou apenas um texto ou outro. A maioria do livro são escritos inéditos invés de ter ido repescar ao passado como muita gente faz. É de se tirar o chapéu!
Só falta audácia gráfica no livro que funciona demasiado em chapa cinco - texto corrido, fotografias com legendas - tudo sem sal. Os Designers poderiam aprender muito com as composições das BDs para paginar livros. Ou então o Soares devia escrever um livro sobre isso para eles perceberem de vez!
De resto, se David Soares fizer disto uma série de livros será bem positivo. O Compêndio não é um livro "light" de graçolas (escrito por algum parvalhão mediático, por exemplo) mas também não é um manual científico de arrasar a mioleira ao pobre comum dos mortais. É um interessante apanhado de boas histórias de Alta Cultura e Baixa Cultura que Soares seleccionou para nos entreter - à beira da piscina, no café da esquina a beber minis, whatever... - mas sem NUNCA cair na futilidade. Há pouca gente que nos ofereça cultura desta forma. Venham mais cinco!
quinta-feira, 2 de agosto de 2012
Benjamin Brejon, Manuel João Neto [coor. ed.] : "Sonores : Sound / Space / Signal" (Soopa + Guimarães 2012; 2012)
Com um ano de diferença entre eles, eis dois livros que se complementam ou será o contrário? Ou não há relação possível?
A nível gráfico é nítido, o caos de Soopa (Soopa; 2011) era um assumir de uma estética do colectivo, quase uma declaração de intenções, um manifesto cacofónico impresso. Melhor ainda um mimo para quem gosta de livros... diferentes... ou até de músicas diferentes. Este novo título é um catálogo de eventos a decorrer na programação da Soopa para a Guimarães Capital da Cultura intitulada Sonores. Infelizmente mostra-se um livro pesado, institucional, luxuoso, limpinho e todos os defeitos que se quiserem apontar para os livros das instituições públicas (e privadas). É quase um novo-riquismo endérmico à portugalidade. Não que a Soopa não mereça o seu momento de "glória impressa", muito pelo contrário, e não quer dizer que o livro seja fútil - mais uma vez: muito pelo contrário. Só há aqui um primeiro choque de quem "os viu e quem os vê" pois é graficamente um objecto antagónico em relação ao primeiro livro do colectivo.
A nível de conteúdo complementam-se e até revela de forma mais clara as obsessões de Benjamin, Jonathan, Filipe & cia: a rádio enquanto shamã de fantasmas culturais e emissões obscuras; o Dub e o eco; o Amor, embora platónico, entre o foguete russo Sputnik e o Rei do Rock Elvis, que mesmo assim fecundaram a nossa cultura "trash"; o electro-paganismo; a mutação da tecnologia e do corpo humano musical;... temas recorrentes do colectivo Soopa, que são aqui mais bem arrumados para um público menos especializado.
A nível gráfico é nítido, o caos de Soopa (Soopa; 2011) era um assumir de uma estética do colectivo, quase uma declaração de intenções, um manifesto cacofónico impresso. Melhor ainda um mimo para quem gosta de livros... diferentes... ou até de músicas diferentes. Este novo título é um catálogo de eventos a decorrer na programação da Soopa para a Guimarães Capital da Cultura intitulada Sonores. Infelizmente mostra-se um livro pesado, institucional, luxuoso, limpinho e todos os defeitos que se quiserem apontar para os livros das instituições públicas (e privadas). É quase um novo-riquismo endérmico à portugalidade. Não que a Soopa não mereça o seu momento de "glória impressa", muito pelo contrário, e não quer dizer que o livro seja fútil - mais uma vez: muito pelo contrário. Só há aqui um primeiro choque de quem "os viu e quem os vê" pois é graficamente um objecto antagónico em relação ao primeiro livro do colectivo.
A nível de conteúdo complementam-se e até revela de forma mais clara as obsessões de Benjamin, Jonathan, Filipe & cia: a rádio enquanto shamã de fantasmas culturais e emissões obscuras; o Dub e o eco; o Amor, embora platónico, entre o foguete russo Sputnik e o Rei do Rock Elvis, que mesmo assim fecundaram a nossa cultura "trash"; o electro-paganismo; a mutação da tecnologia e do corpo humano musical;... temas recorrentes do colectivo Soopa, que são aqui mais bem arrumados para um público menos especializado.
domingo, 29 de julho de 2012
Adalberto Alves: O Meu Coração é Árabe (3ª edição, Assírio & Alvim; 1998)
Já aqui falei de outro livro deste autor e sem ler o actual roubei descaradamente o título para uma categoria de "posts" deste blogue.
Sinopses na 'net revelam o livro desta forma: O Meu Coração é Árabe revelou ao grande público português a sua herança poética árabe. São trezentas páginas preenchidas maioritariamente pela lírica de quarenta e sete poetas árabes que nasceram no espaço sul do Portugal hodierno. É uma poética refinada e densa, que fala do amor, da injustiça da morte, do quotidiano. Rica na sua expansividade, densa na emoção, esta poesia é também um alicerce, juntamente com a dos cancioneiros, do sentir poético português. Deve-se a Adalberto Alves este livro de paixão.
Agora que o consegui arranjar a 3 euros na Feira da Casa da Achada há umas semanas posso finalmente dizer algo sobre ele embora pouco possa acrescentar em relação à sinopse porque de longe sou crítico de poesia e poesia é mesmo algo que não consigo entender / ler / gostar / apreciar & tudo mais. Claro que não fiquei indiferente ao ler um poemicho de um tal Abû 'Uthmân, natural de Tavira (séc. XIII) que escreve como são bizarros certos reis / transformados em escravos do prazer / apenas desejam duas coisas / bocetinhas e bocas de mulher... (!?)
Mais interessante é a introdução de Alves, coordenador e tradutor, que revela a incúria que a cultura árabe na península sofre e que acontece até ao nível académicos e literário. Mais do que isso, a poesia árabe (peninsular, andaluz) é mesmo vista com desprezo e antagonismo nesses círculos intelectuais, por certo pela lavagem cerebral que o Cristianismo e o Ocidentalismo lhes fizeram. Esta edição ampliada e revista inclui também alguma iconografia árabe da qual destaco uma gravura de um cavaleiro cristão e um árabe quase a darem um linguado.
Irmão, se gostas de Poesia ou se achas que algo de errado está no teu espírito colonizado, deixa o álcool barato e procura este livro. Alá será generoso e até te passará uma bocetinha de virgem lá nos céus.
Sinopses na 'net revelam o livro desta forma: O Meu Coração é Árabe revelou ao grande público português a sua herança poética árabe. São trezentas páginas preenchidas maioritariamente pela lírica de quarenta e sete poetas árabes que nasceram no espaço sul do Portugal hodierno. É uma poética refinada e densa, que fala do amor, da injustiça da morte, do quotidiano. Rica na sua expansividade, densa na emoção, esta poesia é também um alicerce, juntamente com a dos cancioneiros, do sentir poético português. Deve-se a Adalberto Alves este livro de paixão.
Agora que o consegui arranjar a 3 euros na Feira da Casa da Achada há umas semanas posso finalmente dizer algo sobre ele embora pouco possa acrescentar em relação à sinopse porque de longe sou crítico de poesia e poesia é mesmo algo que não consigo entender / ler / gostar / apreciar & tudo mais. Claro que não fiquei indiferente ao ler um poemicho de um tal Abû 'Uthmân, natural de Tavira (séc. XIII) que escreve como são bizarros certos reis / transformados em escravos do prazer / apenas desejam duas coisas / bocetinhas e bocas de mulher... (!?)
Mais interessante é a introdução de Alves, coordenador e tradutor, que revela a incúria que a cultura árabe na península sofre e que acontece até ao nível académicos e literário. Mais do que isso, a poesia árabe (peninsular, andaluz) é mesmo vista com desprezo e antagonismo nesses círculos intelectuais, por certo pela lavagem cerebral que o Cristianismo e o Ocidentalismo lhes fizeram. Esta edição ampliada e revista inclui também alguma iconografia árabe da qual destaco uma gravura de um cavaleiro cristão e um árabe quase a darem um linguado.
Irmão, se gostas de Poesia ou se achas que algo de errado está no teu espírito colonizado, deixa o álcool barato e procura este livro. Alá será generoso e até te passará uma bocetinha de virgem lá nos céus.
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sábado, 28 de julho de 2012
unDJ FarraJ || CHAPITÔ
Foto: Sara Rafael |
Sobre o FF: De alguma forma, na música de Filipe Felizardo – e o novo disco, “Guitar Soil For The Moa And The Frog”, com selo da Shhpuma é disso exemplar – ouvem-se duas vozes. A da reverberação, que é a do aço (da guitarra) e a do fazer solitário, artesanal e reflexivo do performer. É essa relação intimista, irredutível, ricamente austera que as canções revelam. Uma relação hoje tão desprezada, com o som e com acto de ouvir: música de guitarras. - José Marmeleira
Sobre uDF: é mais um disfarce de um elemento ligado ao DJihad ao Bairro Autismo, outrora ligado ao colectivo OSAMAsecretLOVERS e não se sabe ao certo que relação ao unDJ MMMNNNRRRG. Nesta persona dúbia sabemos que passa música do Médio-Oriente do passado e contemporânea sem a protecção de Alá.
sexta-feira, 27 de julho de 2012
O meu coração é vermelho
Admito que preferi ignorar os discos desta banda nas minhas resenhas críticas - fiz apenas um "post" de promoção envolta da capa do Igor Hofbauer - porque não me sentia bem com o facto de não ter curtido tanto a banda em disco contra os factos de eles terem sido super-simpáticos num encontro no ano passado. O concerto na semana passada mostrou que eles não só são pessoas impecáveis como são um granada ao vivo! Gostam e tocam até que o mundo acabe - ou mais especificamante até a bófia aparecer. Numa das músicas do concerto topei uma ou outra deste álbum, em que o trio tocava por cima de uma gravação de música árabe. Voltei ao disco e afinal de contas, depois de passado um certo chauvinismo contras os franceses - descobri que é um disco poderoso.
Talvez uma das razões, para além de estar farto de Rock, é que os L'Enfance Rouge repetiam temas que estavam em Bar-Bari (mas numa versão puramente Rock) e não caia ouvír as mesmas canções de enfiada. Que a Justiça seja feita, por Alá! Acontece isto de vez enquando, não perceber um disco na altura da primeira audição e vir a ser dada importância mais tarde - mais vale tarde do que nunca, diz-se!
O power-trio franco-italiano está de um lado com o seu Rock arranca-e-para, meio-sónico e meio-musculado na tradição de bandas norte-americanas como Shellac e Jesus Lizard, do outro lado uma série de músicos do Instituto Superior de Música da Tunísia com vozes, cordas e sopros das mil e uma noites. Não há choque ou se houve foi fora do registo áudio porque desenvolveram uma estratégia de harmonia que rejeita a world-music para velhotes e que prefere ser fiel ao Avant-Rock - tanto que é o nome de L'Enfance Rouge que credita o disco e não "L'Enfance Rouge & a Orquestra da Tunísia".
Para quem gosta de arabescos e de Rock inteligente, é aqui o porto de abrigo. Amanhã até poderão ouvir uma malha aqui.
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