terça-feira, 6 de junho de 2006

É Punk, estúpido!


v/a: "Trash! The roots of Punk!" (Mojo; 2006)

Apesar da 3ª Guerra Mundial já ter começado e ninguém ter dado por ela - é natural, ela começou e desenvolveu-se de uma forma que não a esperada -, o espectro do desemprego ou emprego precário e a impossibilidade de gozarmos a vida em plena riqueza material e espiritual, vivemos o melhor dos mundos porque actualmente é tudo à pala! Jornais no metro, revistas de música, toda a música do mundo (Viva Soulseek!), e não sei o quê mais. Basta comprar um pacote de fritos para engasgarmos com um brinquedo de plástico. Compramos o Expresso e levamos um DVD ou um bife de porco atrás. E uma revista sem CD áudio é impossível não haver - só o triste Blitz-versão-revista é que ainda não o faz sabe-se lá porquê mas quem quer saber?
Infelizmente a maior parte dos CD's de oferta são sempre feitas com um Design popularucho cheio de brilhos e efeitos feios (iguais aos dos refrigerantes e das t-shirts com temas do Wrestling americano), tem uma falta de coerência editorial na selecção das faixas e do seu ordenamento. São CD's que promovem um mercado limitado no tempo e na ocasião, e raramente ficam nas estantes dos fãs de música porque raramente podemos ver estes CD's como "discos" ou de "álbuns" - são promoções tão importantes como os samples de perfumes no Shopping ou nas revistas de mulheres.
Por mero acaso, o DJ Milkshake há alguns anos indico-me a Mojo - uma revista britânica de arqueologia Pop cujas capas tem sempre bandas de tipos com mais de 40 anos e/ou mortos, ex.: Rolling Stones, Led Zep, Sex Pistols, Radiohead... ok! já tiveram os betinhos dos Strokes na capa mas só porque a editora deve ter mexido uns bons cordéis - mas dizia... o Milkshake indicou-me a revista porque a dada altura eles começaram a fazer umas colectâneas bem interessantes na lógica comercial e linear do CD de oferta mensal. Foram quatro volumes de uma série intitulada Mojo Music Guide e cada volume tratava de géneros musicais como o Garage-Punk, as raízes do HipHop, a Soul e o Blues. Isto com um grafismo (muito) atraente e uma selecção bem esgalhada e pedagógica. Infelizmente, fizeram só quatro volumes e voltaram à xungaria de sempre. Ainda fazem algumas colectâneas temáticas engraçadas mas insistem nas capas mais impróprias ao conceito de Belo.
Por acaso, o CD do número de Junho até surpreendeu (o Iggy está sempre bem, man!) ao dedicar-se às origens do Punk britânico e onde vamos encontrar inesperadamente (ou nem por isso) bandas pré-1976 de Pub-Blues-Rock, Glitter/Glam Rock, Hard Rock, Psicadélico e Krautrock - e os Stooges, claro! Começa logo com a promiscuidade dos New York Dolls e o clássico Personality Crisis, T-Rex a seguir («Calling all destroyers») e vai por uma listagem de gente desconhecida (*) ou mais ou menos conhecida como os (alemães) Can, Mott the Hoople (potente!), Dr. Feelgood, Hawkwind (o tema é, curiosamente, Motorhead)... Assim até vale a pena ler sobre estórias da carochinha Pop/Rock da Mojo. No fim, ainda temos esperança no Rock'n'Roll Reeditado porque o que se ouve nos dias de hoje é mesmo uma meninagem frente às guitarradas destes burgessos dos inícios de 70 quando eles saiam malcheirosos das fábricas (quando havia fábricas na Europa e não na Malásia, foda-se!) prontos a emborcar pints, a pintar os lábios com baton rasca, a usar lantejoulas e botas de canudo cor-de-rosa ultra-choque. Ah!

Qualidade numérica: 4,2/5 Objectivo pós-audição: A capa não envergonha ninguém no meio da colecção!

(*) pelo menos para mim nomes como Hollywood Brats, Jook, Count Bishops, Hammersmith Gorillas, Kilburn and the High Roads, Eddie and the Hot Rods, Be-Bop Deluxe e Groundhogs não me dizem nada...

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