quarta-feira, 30 de julho de 2008

Last night the DJ saved my... my... my... ehm... hum...

Eis algo díficil de analisar The portable supersound (Small Town Super Sound / Ananana; 2007), um CD-sample promocional ou será mesmo uma colectânea comercial? Mas a dificuldade não passa por aqui, o resultado é o mesmo seja promo ou seja comercial, passa antes em catalogar, assim em caixinhas pequenas, o que se ouve... A editora é de Oslo e lança discos de Jazz, Rock e Electrónica - o Jazz que editam dizem que tem de ter uma "atitude Punk", seja lá o que quer dizer isso.... A verdade é que se no essêncial temos uma viagem de Techno, ou seja, ritmos repetitivos misturados com texturas, pedaços musicais e ruídos de várias origens - talvez para não cansar o ouvinte que não gosta de Techno, conseguindo intrigá-lo. É o caso dos Sunburned Hand of the Man, uma banda Rock de desvaneios psicadélicos cujo tribalismo aplicado na faixa Half-under, confunde propósitos - parece um "downtempo" ou uma freakice "chill-out" talvez por ter produção de Four Tet? Outro caso, é Lift Boys que na realidade é disfarce de Yamatsuka Eye (o mítico vocalista dos Boredoms e de Naked City) que começa com um exótico House (quase a lembrar algumas músicas de Chemical Brothers) para acabar por soterrar o tema em Electro-Noise inesperado - é a melhor faixa do CD. O resto é música de consumo simpático de absorção fácil para quem gosta de bares de acrílico e achar que a música de dança ou electrónica ainda é uma vanguarda musical - por falar nisso, o House-com-assobio de Bjorn Torske é mesmo o fundo do poço da música electrónica, os Kraftwerk não devem estar a acreditar nisto...

Entretanto, os Bandidos Desesperados lançaram a sua primeira "mix-tape" (termo anacrónico na era digital mas sempre soa melhor que "mix-CD-R", certo? seja como for fui eu que usei a expressão, eles intitulam o CD de "promo") e até estava com alguma curiosidade em ouvi-los dada a javardice que é o programa dos tipos na Rádio Zero - e que tive a dupla honra de ter sido recebido no seu programa e de os ter recebido no meu. Quando eles disseram que «bandidos à noite é merda e bandidos à tarde na rádio também é merda mas é merda diferente» não estava à espera desta merda toda misturada: começa com uma merda qualquer da bola (alguém que perceba de bola deve achar piada, não é o meu caso), mete uns coros à Beach Boys e salta pró House nojento ou Techno-Samba vomitante, e até um excerto de (I don't want to lose) "Your love" (tonight) dos Outfield (uns parolos dos anos 80). E há Electro, R'n'B e Hip Hop francês do mais ordinário possível em pouco mais de 42 minutos - se calhar queriam mesmo fazer uma k7. Iá, man! Os Bandidos são daqueles DJ's que se devem divertir a passar bosta e o pior é que o pessoal vai dançar esta porra... É o "Trash chic", é o "lixo de uns é o Lux de outros", é a porra dos designers e dos publicitários, são as revistas inócuas de novas tendências, é a CGD e a revista Azul, é a propaganda da ONU e os seus agentes do mal a poluirem o planeta mais uma vez para combater a poluição. Abram os olhos terrestres idiotas, crianças e outras lesmas: agora sim somos "consumidores responsáveis" e agora sim é que "é fixe reciclar".

Por isso, fodam-se todos bandidos do caralho! Eu quero é que o planeta se foda! O que é mesmo fixe é Trash à séria! E para isso gostaria de relembrar este álbum: Hellspawn (Earache; 1998), o sub-título diz tudo: «Extreme Metal meets Extreme Techno». De um lado as grandes bandas da Earache como Morbid Angel, Napalm Death, Brutal Truth e outras mais ligeiras como Dub War ou Pulkas, do outro lado e a remisturar em registo Techno Hardcore / Gabba estão Delta 9, Panacea, Freak ou projectos Rock que já usam electrónica (Berzerker e Pitch Shifter). O resultado é variável e devo acrescentar que a editora engana os consumidores neste disco em duas faixas: Godflesh vs Justin Broadrick não é uma faixa nova uma vez que aparece no álbum de remisturas dos Golflesh, Love and Hate in Dub (Earache, 1997), e o próprio Justin faz parte dos Godflesh! E na faixa de Ultraviolence vs Hellsau, ambos projectos electrónicos extremos - e não uma banda de Metal versus Electrónica... Mas até se perdoa dada a brutalidade de algumas faixas e as melhores são, sem dúvidas nenhuma, as de Metal mais extremo como as de Morbid Angel ou de Napalm Death (que tem um groove do caraças!). Há também Techno troglodita, umas misturadas manhosas ou faixas longe do Techno bronco mas que ficam aqui bem como contra-ponto como é o caso de Godflesh que é mais Drum'n'Bass.
A Earache - cujo nome sempre lhe assentou bem por ter editado os discos Grind mais lixados do planeta até no novo milénio se ter reduzido à parvoíces comerciais, moral da história: os metálicos não sabem gerir bem o seu património - com este disco e outros do género estava a explorar um novo filão de música extrema - como o Gabber que ficou conhecido pelo "Techno dos metálicos" - na mesma altura que a Digital Hardcore e os Atari Teenage Riot estavam no auge criativo. Pena não terem ido mais longe mas já se sabe o extremo não é infinito... É um festão este CD mesmo com a capa 3D manhosa ou para quem não tem paciência para "dance music" e outras paneleirices.