quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Quase chorei com esta entrada...


Marcos Farrajota (Lisboa, 1973) é um dos mais activos agentes da cena da banda desenhada portuguesa contemporânea, enquanto programador, editor e formador da Bedeteca de Lisboa (desde 2000) e noutros círculos mais independentes, e sobretudo enquanto editor das publicações da Associação Chili Com Carne (1995) e MMMNNNRRRG (2000), cujos títulos deram a conhecer a um público mais alargado alguns dos autores de Tinta nos Nervos, autores estrangeiros de círculos underground/independentes ou editando projectos internacionais como Crack On (Chili Com Carne/Forte Pressa: 2009). Mesmo como radialista (Invisual, Rádio Zero: 2008-2009) e “UnDJ”, a sua actividade procura as relações com a banda desenhada. A sua participação em fanzines recua alguns anos, destacando-se o ainda existente Mesinha de Cabeceira (o qual se tornou um “selo” de vários títulos), que fundou com Pedro Brito em 1992, ou os títulos Publish or Perish (com Rafael Gouveia) e Osso da Pilinha (com Joana Figueiredo); publicou muitas histórias e trabalhos em títulos tão diversos Quadrado, Zundap, os jornais Blitz e Público, as revistas Bíblia, V-Ludo e Underworld. Assinando como “Marte”, escreveu os três volumes da série Loverboy, desenhados por João Fazenda (Polvo: entre 1998 e 2001) e NM2.3: Policial Chindogu, desenhado por Pepedelrey (Lx Comics no. 9, Bedeteca de Lisboa: 2001), mas escreveu também para autores como Pedro Brito, Rui Gamito, Jorge Coelho e o brasileiro Fábio Zimbres, e desenhou uma pequena série escrita por Pedro Moura.
Enquanto autor a solo, conta na sua bibliografia com os livros É sempre tarde demais (Lx Comics no. 2, Bedeteca de Lisboa: 1998), e as antologias Noitadas, Deprês & Bubas (Chili Com Carne: 2008) e Talento Local (Chili Com Carne: 2010).
Marcos Farrajota trabalha no interior dos seus limites enquanto desenhador através de uma genuína atitude devedora do “do it yourself”, da “art brut”, composições de página inusitadas, um emprego criativo da matéria verbal que espalha pelas imagens, mas sobretudo pela intensidade das suas narrativas. Se bem que podemos encontrar já em Bordalo Pinheiro e outros autores pequenas experiências autobiográficas, é Farrajota, influenciado por autores como Harvey Pekar, Robert Crumb e todo o grupo dos autores norte-americanos dos anos 1990, quem se tornou um dos percursores mais visíveis da autobiografia moderna em banda desenhada em Portugal (que, fora parcas experiências, não é de todo um género comum no nosso país, com a possível excepção de Marco Mendes). Poderemos eventualmente irmaná-lo com autores tais como Mike Diana ou Christopher Webster, que publicou, pela veia cáustica, mas encontrando em Eddie Campbell e em Ralph Steadman possíveis modelos de um uso livre de tintas e riscos no adensamento das imagens (Hunter S. Thompson, com quem Steadman colaborou, é também um modelo no posicionamento “gonzo” das reportagens de Farrajota em torno do mundo musical). Os concertos a que assiste, as experiências - boas e más - com os amigos, as relações humanas, com o mundo, os delírios e os sonhos, transformam-se na matéria comum da franqueza das suas histórias. - Pedro Moura in catálogo da exposição Tinta nos Nervos, distribuído pela Chili Com Carne

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