quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Aristocracia do Rock


Podem-me gozar à vontade por andar a ler estes livros mas caralho, tenho direito a divertir-me! Não vejo televisão nem tenho rede sociais, como posso ter aquele momento de descarga? Não se fala tanto em "guilty-pleasures"? Não há broncos que só lêem os Senhores dos Anais ou super-Heróis? Ou policiais nórdicos? Eu leio biografias de malta do Rock compradas em segunda mão a preços bem parvos. 

E foi coincidência apanhar estes dois que são os gajos dos bastidores. Tony Visconti é produtor de discos e a Sharon Osborne é uma rufia bem famosa que dispenso apresentá-la. Ele é gringo e foi para a Inglaterra para saber como se gravavam discos tão sofisticados naquela ilha e ela inglesa de gema foi prá Amérikkka para fugir ao pai que era um mafioso do Pop/Rock. Ambos escrevem estas autobiografias - com ajuda de ghostwriters claro está, aliás, pergunto se ambos saberão escrever? - que são fascinantes porque partilham do facto de serem de classes baixas e que sobem aos topos possíveis do mundo do Rock e espetáculo. Ambos são uns toscos ignorantes que apesar de estarem nos centros imperiais de Londres e Los Angeles rodeados por pessoas criativas e com ideias incríveis (especialmente nos anos 70 e 80), para além, de terem dinheiro no bolso (em altos e baixos impressionantes!), nunca se esforçaram por se educarem e serem mais do que umas "bestas" abusadas ou abusadoras. Ambos mostram-se "apolíticos"e o Punk passou-lhes ao lado - man, até o inútil do Tim Burgess refere os Crass no livrinho dele - o que mostra que se não te bateu culturalmente o Punk não passas de um granda tótó.

Ainda assim, em Bowie, Bolan and the Brooklyn Boy (HapperCollins; 2007) de Visconti até percebemos que é um gajo culto ou curioso e que conta histórias simpáticas, não tivesse produzido Mark Bolan / T. Rex e David Bowie. Nada mais assimétrico que estes dois, apesar das vidas paralelas, Bolan foi o típico artista pobreta que assim que fez milhões passou a ser um granda porco ganancioso. Se não tivesse morrido no desastre de automóvel teria acabado reacionário e barrigudo como o Elvis. Bowie como se sabe evoluiu no seu projecto de camaleão Pop sempre com grande estilo e arte, mesmo na hora da sua morte. Ganhei a confirmação que a Inglaterra sempre foi um país de suínos porque o Bolan tinha de pedir ao Visconti que lhe deixasse tomar banho algumas vezes por semana na casa dele porque não o podia fazer com tanta regularidade na casa dos pais - creio que a água sempre foi cara na ilha, daí esta falta de higiene. De resto, ele produziu de tudo de grande neste planeta: Procol Harum, Gentle Giant, Osibisa, Sparks, Thin Lizzy, Rick Wakeman, Hazel O'Connor (ena!), Boomtown Rats (ok, ele trabalhou com "punks" mas era só pela guita), Adam Ant, os merdas dos U2, Nana Mouskouri e até o nazi do Morrisey. Voltou prós EUA entretanto já não me lembro porquê...

Extreme : My autobiography (Time Warner; 2005-06) da Osborne foi a coisa mais divertida que li este Verão porque é um grande degredo. O pai era um xungão que lhe fez a vida negra até morrer miserável e abandonado num centro de dia em perfeita harmonia yin-yang ou o famoso "cá se fazem, cá se pagam". Ela foi para os EUA para ser não só saco-azul dos negócios sujos do pai como para ter a sua independência da sua família de criminosos. Depois, claro meteu-se com o Ozzy Osborne, o bêbado que lhe dava porrada mas que Sharon aguentou estoicamente porque achava que ele uma pessoa muito mais divertida e interessante do que a que conhecemos em público. Amor ao quanto obrigas. Mula como é, aguentou as humilhações do seu parceiro descontrolado, tanto que ela tinha de dar a última palavra para mostrar que sempre teve razão para aguentar a criatura, ou seja, Ozzy recuperado e desintoxicado é outra pessoa e um fofo, dizem e ela confirma como tudo mudou depois de ele deixou de ser alcóolico. No livro fala-se de violência no mundo dos espéculos perpetuado pelo pai de Sharon, grandes fraudes em bandas pelos patos bravos da altura, violência doméstica e familiar, amas-secas que roubavam, luta contra o cancro e claro um "que sa foda o mundo", queremos é curtir e fazer guita por isso a concepção do OzzFest não é para salvar baleias mas para metaleiros gastaram os seus salários no recinto. Não deixa de ser impressionante toda a crueza e crueldade desta malta, com os seus momentos redentores - que sabem a pouco porque são pessoas nitidamente pouco cultas.

Nem sei se o título deste "post" está correcto, não será antes esta malta toda do Rock quando tem sucesso meros "Novos Ricos Rock"? Sim, porque os únicos que sempre foram ricos e fizeram Pop (de alta qualidade) foram os Yello. O resto é ralé que até é melhor nem terem muito guita para não fazerem maus discos quando tem a conta cheia. Famintos e à rasca é que fazem obras-primas, certo?

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