sábado, 31 de dezembro de 2022

2022

- Tom Kaczymski : Beta Testing The Ongoing Apocalyse (Fantagraphics) + Cartoon Dialectics #3 (Uncivilized) 

- Rutu Modan : Tunnels (Drawn & Quartely; 2021) + Jamilti and other stories (Jonathan Cape; 2009)

- Ilan Manouach : Fastwalkers (Echochamber + 5eme Couche + Chili Com Carne + Forte  Pressa) + Anna Engelhardt [ed.] : Chimeras : Inventory of Synthetic Cognition (Onassis Foundation) 

- Nunsky : Companheiros da Penumbra (Chili Com Carne)

- Kazuichi Hanawa : Na prisão (Sendai; orig. 2000)

- Fun-Da-Mental : Seize the time (Nation; 1994) + Erotic Terrorism (Nation; 1998)

- Peeping Tom : Kind (Centro Cultural de Belém; 2 Fev.)

- Jafar Panahi : Offside / Fora de Jogo (2006)

- Mário Puzo : Os Loucos Morrem / Fools Die (Bertrand; 1980 - orig. 1978)

- Coldcut : What's that noise? (Ahead Of Our Time; 1989)

- Dmitry Bogolyubov :  Town of Glory (2019)

- Dino Risi : A Ultrapassagem / Il sorpasso (1962)

- Luis Buñel : Esse obscuro objecto do Desejo / Cet Obscur object de desir (1977)

- Max Ernst : A little girl dreams of taking the veil / Rêve d'une petite fille qui volout entrer au Carmel (Dover; 2021; orig.: 1930)

- Amanda Baeza : Dew Beaded Fingers, vol.1 (Magma Bruta)

- Moon-Liters / Millennium Development : Nerve Agent! (Shhpuma; 2021) 

- Robert Wilson e Lucinda Childs : I was on my patio this guy appeared I thought I was hallucinating (D. Maria II; 16 Julho)

- Baro D'Evel : Falaise (CCB; 15 Julho)

- Kieran Hurley e Gary McNair : Taco a Taco (Artistas Unidos; 19 Mar.)

- Dan Erickson : Severance

- Erwin Dejasse : Art Brut et Bande Dessinée (Atrabile)

- Diniz Conefrey e Maria João Worm : apresentação de Área (Museu Bordalo Pinheiro; 16 Outubro)

sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

segunda-feira, 26 de dezembro de 2022

Alex Ogg: "Dead Kennedys : Fresh Fruits for Rotting Vegetable : The Early Year (PM Press; 2014)

 O livro sobre "Rock" mais difícil de se escrever começa aqui. Uma parte da história dos Dead Kennedys está feita, englobando a sua origem até ao seu primeiro álbum "Fresh Fruits" de 1980 - e ainda se fala um coche do segundo Plastic Surgery Disasters (Alternative Tentacles; 1982) que pelos vistos era uma "continuação" de muitas ideias do primeiro - apesar de entrar o recentemente falecido Peligro. A dificuldade passa pelo lodo de desentendimentos entre o vocalista Jello Biafra e o resto da banda sobre direitos de autoria e falsas reuniões (ou uma banda Karaoke, como apelida Biafra). É um livro para fãs Hardcore que descreve com minúcia o início da banda e a gravação do seu primeiro LP, complementado com fotos e outros artefactos da época (capas de discos, cartazes, flyers, colagens, zines, etc...). Algures no meio está a verdade entre as duas facções e é de salutar a coragem de Ogg em pegar nisto.

Explica bem a importância da banda e do primeiro disco, ao contrário dos outros punks (Sex Pistols, Ramones e Clash) esta banda nunca esteve em editoras grandes a bancarem grana nem tiveram exposição mediática. No entanto é tanto ou mais influente que as outras. Afrontaram a indústria da música, religiosos e políticos como ninguém. Para tal destacaram-se dos outros punks de várias formas, primeiro ignorando o credo que "sei tocar três acordes e posso seguir em frente", os elementos DK sabiam tocar e eram empenhados, segundo, por terem o humor e inteligência (chama-se imaginação?) como poucos tiveram, terceiro, por terem lutado em tocar em espaços para todo o público (antecedendo os straight edges) e quarto por terem apostado na Inglaterra, abrindo a carreira para além da podridão da gringolândia que ignorou o fenómeno punk assim que pode. No fim do livro percebe-se porque surgiu a vontade de desenvolverem uma cultura DIY.

Os livros radicais da PM Press encontram-se à venda em Portugal através da Tortuga, livraria do Disgraça.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

#38: Diário da Palavra

 


Diário da Palavra
de

É o Mesinha de Cabeceira #38 (#1 do vol. XVII), mais um número a comemorar os 30 anos de existência do fanzine, desta vez todo a cores num formato quadrado 12x12cm. 40p. 100 exemplares.


Será lançado no Natal Cosmos, dia 23 De Dezembro, Sexta-Feira!

terça-feira, 20 de dezembro de 2022

The Specials - Ghost Town [Official HD Remastered Video]


Obrigado Terry Hall (Rest In Punk) por uma das vozes do melhor tema Pop de sempre!

quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

Sinapses

 




Sinapses
do Ivo Puiupo é o novo volume da Mercantologia, colecção que recupera material perdido. 

O livro é resultado do concurso dos 500 paus.

Serão 12 bandas desenhadas curtas com poesia ou serão 12 poemas com desenhos sequenciados?

Segundo oFábio Zimbres:


Há uma tentação de entender as histórias aqui como fazendo parte, alternadamente, de: 1) um diário; 2) registros de sonhos; 3) ideias para um filme. Decidimos uma vez por um e depois por outro mesmo sabendo que não é necessariamente uma coisa nem outra, nem apenas isso. Mas há alguma coisa de íntimo, como um diário, e há um prazer nas associações que se desenrolam, as ambiguidades e o aspecto sensorial dos sonhos. E há às vezes a imediatez de quem registra.

Só que não é só isso. É mais que isso porque são o que são, obras acabadas, mesmo que não pareçam encerradas. É como uma estrutura no ar ainda com o processo nu, transparente. Mas são verdadeiras pontes nos transportando para lugares desconhecidos, Puiupo na frente. Cada ponte, várias possibilidades de história, de literatura, de imagem e de gente. 

Provavelmente por isso podem parecer fragmentos de diário ou de sonhos, porque a matéria-prima dessas pontes (sinapses? Ou o que permite informação passar de uma célula a outra) é, basicamente, gente, essa coisa feita de sonhos. É realmente um livro feito de pessoas. Se comunicando, se desdobrando e se tocando. Transpondo pontes, ligando possibilidades ainda desconhecidas.

No meio de cada conto, podemos olhar para trás e imaginar de onde ele veio e para onde vai, como uma estrutura expansível que atravessa mais do que o que vemos. Podemos imaginar o que acontece antes do começo e depois do fim. Não é difícil imaginar também que estamos flutuando, como uma ponte às vezes nos faz imaginar.

No meio da travessia, de repente achei que estava assistindo a uma coleção de curta-metragens, com uma trilha sonora adequada, uma coleção de trilhas sonoras que viraram filmes. E esqueci da ponte, ou seja, lá onde estava e tudo virou um fluxo me levando, que é aquele momento em que eu me esqueci que devia escrever algo sobre o livro e tive que refazer todo o caminho de volta para me lembrar o que estava fazendo ali.

Que é o que um diário/ sonho/ filme deve fazer com a gente. Nos desorientar.


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116p. 15 x 21 cm p/b (48p a cores), edição brochada

Será lançado oficialmente a 17 de Dezembro na Tinta nos Nervos, com a presença do autor e uma pequena exposição.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

web .2 tone .3

Não há nome para esta nova música  Clipping  excitante como   #Stealing Orchestra ou   #Dälek  novos territórios  Hip hop serve de base  CLPPNG de 2014 pela   Sub Pop   exemplo   video-clips   #Whitehouse goes MTV  coros infantis  único R'n'B aceitável com alarme do despertador com o único R'n'B aceitável no Universo  berbequim Techno Tarantino    #John Cage shit  Trap mutante  Noise para as massas  how high is your low brow? Razia!  Random Music mas com  atitude   O Cage foi à disco engatar

Culpados disto tudo  se calhar  Death Grips que desde cedo com o seu segundo álbum (ou primeiro oficial?)  The Money Store   (Epic; 2012)   mostraram que seriam sempre  rock híbrido - chama-se a isso de   punk rock  ? o feeling é esse mesmo que já não se possa meter o mofo da bateria + guitarra + baixo + voz   isto é rock ciborgue  electrónica rapada  para mim é impossível dizer o que soa   Eu Juro!  já ouvi este CD   mil vezes   e sempre quando ele acaba   ainda não percebi o que se passou  o que ouvi  o que aconteceu  é como ouvir a primeira vez o Last Rights dos #Skinny Puppy  ou  Beers, Steers and Queers dos #Revolting Cocks   Rembradt Pussyhorse dos #Butthole Surfers  não é todos os dias que isto acontece ...  Punk weight!



PS  O   2 tone   era nome para um   Ska   não racista em que o ponto de honra era ter uma banda que tivesse elementos branquelas e negros  Clipping e Death Grips  sabendo das cores de peles dos seus elementos   (como se na verdade isso importasse para uma coisa - bom, na Amérikkka  importa pelos vistos)  parece isso   um 2 tone para um mundo de Trampa  mergulhado na   deep web

espera

há mais


Apareceu Zeal And Ardor... WTF!?  Imaginem o coninhas do Moby a fazer Black Metal   essa seria a melhor ilustração para este disco Devil is Fine (Reflections; 2016)  música de escravos americanos a cantarem Blues ou Gospel invertido, ou seja, a louvor de Satanás Nosso Senhor invés ao Porco Nazareno   Devil is fine (o primeiro tema) abre-nos o coração, não não são samplers como o triste do Moby a voz é verdadeira  In ashes arrebenta com os primeiros Blasts de Black Metal e ficamos confusos  claro  e mais ficaremos com intermezzos de electrónica  que tanto podem ser Trip Hop ou caixa de música de criança  como gamanço de arabescos à Çuta Kebab & Party   ou What Is A Killer Like You Gonna Do Here? é uma pequena intervenção Tom Waits    Children's summon parece o sonso do  Gonza Sufi mas com Black Metal            sempre isso "mas com Black Metal"   o xoninhas do José Luís Peixoto escreveu há 10 anos um artigo qualquer a dizer que o Black Metal nunca seria popular pela sua violência - já na altura o que ele escrevia era errado porque bastava entrar no metro de Berlim e ter bem presentes outdoors do último disco de #Dimmu Borgir   God good is a dead one entretanto fizeram um segundo disco a explorar a fórmula que não tem piada nenhuma apesar das revistas especializadas virem dizer muito bem, os metaleiros andam atrasados!

vi os Ho99o9 no Milhones 2016 e foi das melhores coisas que vi há             imenso       tempo      ! Era como ver Bad Brains ou Black Flag e nunca o poder ter os visto porque não tinha idade para estar lá em Washington D.C. nos anos 80 nem nunca iria/  irei aos EU da amerdikkka    a sério!       Andei  louco até conseguir um disco deles  há um álbum - United States of Horror (Toys Have Powers; 2017)     fazem Hardcore melhor que a malta do Hardcore            e metalada, isto sim digno de sucessão de Discharge ou Slayer (vai na volta até samplam Slayer) ... mas fazem também dark Trap que a malta curte e tal em 2018 fuck! Tudo convive num disco de 46m que nada enjoa nada
a música pesada voltou a ter um ambiente de perigo depois de vinte anos de repetições ad nauseam



ESTE post ORIGINALMENTE foi escrito por uma máquina-humana-digital em 2018 e entretanto já há passado e futuro para este som indescritível ...

 FUTURO são estes Prison Religion que tocaram no BARreiro e que admito estar velho demais para consegui acompanhar esta fritice!!!! 

E PASSADO, eis os Beatnigs que em 1988 já faziam Hardcore    com    Industrial e algo   Abstracto digno de Death Grips, ora não? Mais politizados na vertente Malcolm X  Foi a Alternative Tentacles a editar o seu único LP. 
 Michael Franti (e Rono Tse) seriam mais tarde os fantásticos Disposable Heroes of Hiphopricy recuperado o excelente Television ...

Há sempre um primeiro gajo a 


sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

Memories don't live like people do They always 'member you Whether things are good or bad It's just the memories that you have (Beenie Man)


 

Coincidência gira esta, queixa-me naquela que será a minha última tira de BD sobre o facto de não haver muitas biografias do Pop/Rock portugueses como acontece com qualquer gato-sapato inglês, e até aparecem uns livros que provam o contrário. Ambos em formato A4 sabe-se lá porquê...

Memórias do Rock Desalinhado é mais uma farsa académica com a Paula Guerra a co-assinar mais um livro que obviamente não lhe pertence - parece que é prática comum no meio das bolsas académicas e afins pelos vistos porque tentou fazer o mesmo comigo com o Punk Comix. Quem fez o trabalhinho foi a Ondina Pires. A outra parece uma IA a gerar textos introdutórios, para encher a sua bibliografia autofágica, sem sal nem açúcar, falhando sempre ao lado do que se pretende. E aqui o que se pretende é a reunião de vários testemunhos de vários Rockers portugueses para contarem as suas peripécias em concertos e acidentes, sobre os sacanas dos promotores rip-offs, a loucura das pessoas e todo amadorismo português em estado de (des)graça sobretudo nos 80 e 90 on the road. Há situações hilariantes de uma época em que havia mato para desbravar por uma geração que armada em artistas e que provocavam as populações e audiências com toda a espécie de malabarismos sonoros e performáticos. É uma época que lá foi, hoje, ninguém terá a vontade de provocar ninguém, como se sabe, com medo de "afundar a carreirinha". Dos Bastardos do Cardeal até aos Dirty Coal Train, passando pelos Great Lesbian Show e outras bandas, há aqui relatos na primeira pessoa para uma tarde bem passada na completa risota. Podem sacar em PDF grátis aqui.

Cliché Música de José António Mouras saiu inesperadamente pela Holuzam, editora de música "out" e ligada à loja Flur. Surpresa para aqueles que acham que a Ama Romanta foi a primeira "indie" portuguesa, nope! Há sempre alguém primeiro! Esta Cliché dos inícios dos anos 80 era assim de uma betalhada fixe (com ligações às Raincoats e a Rough Trade) que tinha uma loja de roupas (que tinha lá uns discos) e editaram uns discos fora do normal para a época como os Material (de Bill Laswell), Raincoats, Young Marble Giants, Pigbag e David Thomas (dos Pere Ubu), isto em forma de licença de direitos, claro. Discos portugueses (e originais) foi só um, Belzebu dos Telectu, tendo depois fechado  actividade editorial - engraçado aconteceu o mesmo com a SPH depois de editar um CD dos Telectu, hum... Numa Lisboa pouco cosmopolita tiveram estas actividades para não cair na modorra do país ainda traumatizado com o PREC e os baladeiros revolucionários. Um interessante cliché sobre a época.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

1000 paus da Chili vs 15000 do MC

Fiz este ano parte do Júri de atribuição das bolsas de criação literária na área de BD. Não sei se choro ou se rio porque olhando para as propostas enviadas pouco diferem das que são enviadas para o concurso dos 500 paus, organizado pela Associação Chili Com Carne, ou seja, vale um bocado de tudo... Considerando que a bolsa é do Papá-Estado a 1250 paus ao mês, esperava bem mais e melhor.

"Mais" é verdade que há mais quantidade de propostas mas não muito mais como nos 500 paus, especialmente nos últimos anos. Se calhar, fui ingénuo a pensar que há mais gente em Portugal daqueles que já conheço - quase todos. Exagero. Há sempre novos autores que nunca ouvi falar e muitos deles com potencial para criar boas obras. 

Mas os problemas mantêm-se desde sempre, nitidamente falta uma “cultura da banda desenhada” em Portugal. No entanto, existem QUATRO Bedetecas (bibliotecas especializadas em BD) espalhadas pelo país, nomeadamente em Lisboa desde 1996, na Amadora (originalmente como Centro Nacional de BD e Imagem) desde 2000, Beja (2005) e Cascais (2015), sendo que há países que nem uma Bedeteca têm! Tirando as excepções que confirmam as regras, não vejo os estudiosos a usarem esses equipamentos culturais, nem os pretensos programadores de festivais, nem jornalistas e talvez o pior de todos, nem os próprios autores. Há certezas, pelos vistos. Há certezas de que sabem o que estão a fazer ou investigar. Essa atitude está próxima do “fã”, essa vil criatura, um sociopata que lhe falta mundividência e vive sob a óptica dos universos de bolso.

Vivemos na época dos não-lugares, tão assépticos como um hospital privado, o aeroporto hiper-inflacionado ou a "novela gráfica" como novo paradigma da indústria da BD, cheia de regras novas e servilismo ao funcionalismo e à pedagogia, impedindo uma maturação do gosto público pela BD. Quer-se da BD, nestes tempos assanhados, que ultrapasse os escombros do imaginário que parece ainda dos anos 50 do século passado, a julgar por muita da produção que é publicada, especialmente em Portugal. No entanto, parece que está tudo ainda por fazer, mesmo depois dos esforços implacáveis e colossais de João Paulo Cotrim e a sua Bedeteca de Lisboa - mas também, como a outra face da moeda, com as produções tradicionalistas do CNBDI. 

Os novos não conhecem os velhos, os velhos não conhecem os novos, os novos passam a vida a inventar a roda ou a descobrir o fogo, numa ignorância atroz fomentada por editoras pobres de colhões e os que têm estão cheios de condescendência e paternalismo. Os editores e outros agentes de mercado são incapazes de publicar "certos" livros porque o "público não está preparado" mas preparam o público sempre para o pior, andamos nisto desde os anos 80. 

A Luta continua! Por isso, divulgo aqui o próximo concurso da Chili, sempre na esperança que alguém desconhecido parta a loiça toda!


segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

Opposights




Nestes anos estranhos de Covid só percebi em Junho deste ano que a antologia de BD Opposights pela Silent Army finalmente saiu. Junta nas suas páginas autores portugueses e australianos a tratarem das suas experiências com o meio da BD. Da parte portuguesa estão artistas fantásticos como a Amanda Baeza (que fez também a capa) ou a Hetamoé - hilariante a sua BD, parte com tudo!!!!!!!

Entretanto o editor e artista gráfico Michael Fikaris teve uma exposição inaugurada este Sábado na Tinta nos Nervos e tivemos uma conversa... e... foi o "high five" de missão cumprida!




Da minha parte ajudei o Fikaris na selecção e pelos vistos fui recompensado aparecendo nas BDs do Rui Moura e da Mariana Pita.



Se o Rui mostra uma homenagem porque lhe foi parar uma CriCa nos tempos do saudoso Milhões de Festa, já a Pita trata-me como se fosse um maluquinho. É merecido! Mas o melhor dela é algures na BD que mete o fofinho a dizer isto: Curators for a zine fair? What the f**k is this? Talvez a cena mais brilhante alguma vez escrita na BD portuguesa!!! Quem achasse que a Pita era só fofuras, fiquem então a saber que ela sabe dar uma doses de realidade crítica assim nas entrelinhas.

Por fim, mandar vir este livro da Austrália é uma dor de cabeça de guita e de burocracia - as alfândegas portuguesas deveriam entrar numa BD da Cátia Serrão ou do Pedro Burgos, por exemplo... Se calhar fazia-se uma edição portuguesa disto, não?





segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Hero Peligro

 


Já dizia o REP que o sinal de envelhecimento é quando os teus heróis começam a morrer. Bem sei que é uma simplificação mas cheira-me que começa aqui o meu fim também. D.H. Peligro faleceu este fim-de-semana. Baterista dos Dead Kennedys, banda da minha vida e do Mesinha de Cabeceira já agora pois logo no número 0 gamei montes de imagens de um disco deles para fazer umas montagens "punkis". 

Durante anos sem acesso aos discos deles - tal como dos Pixies - porque não tinha guita, a música aparecia em k7s gravadas de sabe-se lá quem. Uma vez apareceu uma fotografia deles numa revista brasileira de música e foi tudo um choque: o Jello Biafra estava de costas - por isso ainda demorei mais uns tempos a ver-lhe a fronha -, os gajos eram punks mas não tinham as cristas gigantes coloridas como os ingleses, os guitarristas pareciam uns "nerds" de uma escola de arte e depois havia um gajo negro. Nada melhor do que isto para dar cabo de todos os clichés estéticos, raciais e musicais. Obrigado DK! Quanto a Peligro admito que recusei-me a ir vê-lo no regresso dos Dead Kennedys sem Biafra, pareceu-me esturro e fraude. Na realidade preferi esperar alguns anos para ver o Biafra sem os DK. Desculpa lá qualquer coisinha. 

Rest in Punk!

sexta-feira, 28 de outubro de 2022

#37: Forceps

 ESGOTADO



Este é o número do Mesinha de Cabeceira que comemora de vez os 30 anos de actividade deste fanzine - o número zero saiu em Outubro de 1992!

E é um prazer poder publicar Forceps de R. Paião Oliveira em formato físico - originalmente foi publicado em linha no sítio bandasdesenhadas.com - com a sua estética Arcade 8bit embrenhada em tecno-misticismo patchouli.

Uma BD selvagem mesmo que cada pixel seja trabalhado horas sem fim pelo autor, de forma obsessiva e desgastante, ultrapassando a máquina para criar uma parábola que só os mutantes do futuro irão venerar.

RPO é mais um artista que mostra como a cena da BD portuguesa está viva, com ideias e projecção internacional ao ser publicado na última Kuti , publicação de referência com estadia em Helsínquia.

Foi para isto que o Mesinha foi criado.
Foi para isto que o MdC continua a ser publicado.

Obrigado RPO!

zzzt

36p. a cores, formato "comic-book", ESGOTADO este número (#2 do vol. XVI)... talvez encontrem ainda na Tigre de Papel, Kingpin, Snob, Matéria Prima, ZDB, Utopia, Socorro, Alquimia e Tinta nos Nervos.


FEEDBACK:

Estive a ver o mesinha com a BD do Paião Oliveira e parecia que me estava a ser revelado um grande segredo esotérico... Ele não fará parte da Golden Dawn ou algo assim? Achei fascinante
Nunsky (por email) 

 Folheando (...) instintivamente somos remetidos para a dimensão harmoniosa e infalível dos manuais de instruções de montagem da IKEA, apresentados em linguagem Lego, com cores lisas e tons tranquilizadores. Apesar do aparente esquematismo inicial, vislumbra-se uma leve cadência em lenta progressão, uma bem ensaiada coreografia mecânica e precisa a acontecer diante dos nossos olhos. Em suave dinâmica Minecraft, peça por peça, um procedimento após outro, e eis que surge um mundo novo - camada em cima de camada, cada vez mais complexo, totemizado, inexpugnável e arrogantemente vertical. De repente, algo surge ameaçador no horizonte... objectos voadores, que se dirigem imparáveis contra as duas torres siamesas. O rombo na estrutura é notório, mas a destruição não opera os resultados esperados. Os elementos primordiais reagem e de forma orgânica e simbiótica, com sequências a acontecerem em cadeia, por reprodução ou por simetria, movidos por uma febril força criadora que se expande galopante, acumulando cada vez mais elementos. O novo novo mundo aí está refeito, mais complexo e simultaneamente orgânico, uma emulação dos dispositivos tridimensionais pixelizados, esféricos e novamente perfeitos. Eis uma mulher, o ser feminino - o principio e o fim de tudo, uma esperança que se renova. Afinal, parece que nem tudo estará irremediavelmente perdido...
Erradiador in My Nation Underground


(...) un cómic experimental y mudo, que propone, tras una portada de pixel art, la exploración de una estructura fija sobre la que operan unas máquinas, alguna inteligencia ignota, y que se va transformando página a página hasta desbordarse y acabar creando nuevas formas humanoides. El dibujo vectorial y la perspectiva isométrica que domina la mayor parte de las páginas recuerda a videojuegos de 8-bits como Knight Lore (1984) o Solstice (1990), pero sus colores, si bien son planos y limitados, brillan con la pulcritud de las técnicas de impresión más actuales. Se trata de un viaje sensorial, que captura nuestra atención con el ritmo que imponen las viñetas a página completa y el juego que se propone, que invita a fijarnos en los detalles que van cambiando de una imagen a otra. Las simetrías y asimetrías que se van construyendo resultan muy estéticas: es uno de esos fanzines cuya lectura resulta gozosa, porque genera una cierta sensación de orden muy agradable, si bien también sabe subvertirla en unas páginas finales mucho más barrocas, aunque sigan respondiendo a la misma cuadrícula. (...)
 
I like it a lot. I find it very inspiring. I have this obsession with users' manuals and I find there a similar vibe. I love as well the "in process" layout. I want to make something like that where the reader see the pages being built/ transformed page after page. And (probably not intentional but) it's funny to look at the pages' transparency.
Samplerman (via tumblr)


zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzttttt


Here's the Mesinha de Cabeceira's issue which celebrates, once and for all, the 30 mother-farting years of radioactivity of this fanzine.

And so, it's a pleasure to be able to publish Forceps by R. Paião Oliveira i.e., in physical format (as it was originally published online, at bandasdesenhadas.com) with its kind-of Arcade 8bite-me-hard aesthetic, steeped in a proper techno-mystic etherealness o'patchouli.

A wildly-ugly comix, and proudly so, even if each atome-pixel is worked thru endless hours by the Great Authority, in an obsessive-compulsive and/ or exhausting manner, by means of a slow making of love-sweet-love with the machinery in order to generate/create a parable that only the mutant-bodies-and-souls of the far-future will venerate.

RPO is yet another artist who shows how the portuguese comics scene is alive i.e., Portugal is a beautiful circus, a core-monster of artists, as happily exemplified in the most recent spawning of Kuti magazine, a landmark publication forever nestled in the cold comforts of Helsinki.

This is what Mesinha de Cabeceira (in English means "Bedside table") was created for, and why it continues to be published.

SOLD OUT, try Fatbottom Books (Barcelona), Floating World (Portland), Quimby's (Chicago) and Le Mont en L'Air (Paris)

sábado, 22 de outubro de 2022

30 anos de MdC

número zero, capa desenhada por Pedro Brito menos as "letras" que foi Marcos Farrajota

Foi neste dia em 1992 que eu e o Pedro Brito, com 19 e 17 anos respectivamente, "lançamos" o fanzine Mesinha de Cabeceira para entrar à pala no Festival de BD da Amadora. Este não era o principal motivo de termos junto umas 20 e tal páginas com montes de colaboradores mas foi uma oportunidade. Se fizéssemos com aquela data na cabeça, conseguiríamos entrar no festival porque podíamos reclamar à entrada que íamos deixar a nossa publicação num stand para os vender. Acho que era assim... Foi em 1992  que o Festival da Amadora passou prá Fábrica da Cultura e prometia - e conseguiu - tornar-se no evento mais importante de BD em Portugal. O maior não quer dizer o melhor, e rapidamente deu para perceber a dada altura que a BD não interessava aquela gente mas sim o evento em si. Num concelho onde não há nada a nível cultural - este "nada" pode significar apenas "mediático" porque se calhar há sempre uma banda Rock numa cave a tocar ou algo do tipo - o que vale é manter a engrenagem a andar sem pensar ou ter cuidado com artistas, Arte e BD.

E saiu o número "zero", estranha lógica de "teste de mercado" que corrigimos assim que pudemos com o duplo 2/3.

O principal motivo - vá vamos ao que interessa - era fazer o melhor fanzine do burgo. Eu (de Cascais) e o Pedro (do Barreiro) conhecemo-nos em Lisboa, no Clube Português de BD, que nessa altura já não fazia nada a não ser, ser um espaço de encontro de colecionadores velhos de BD, aos Sábados à tarde num espaço de uma freiras ou lá o que era - o que fazia os velhos da BD esconderem muito bem algumas das suas publicações. Ali, os jovens ficavam à toa, embora o simpático Geraldes Lino tentasse levantar os ânimos. E foi lá que nos conhecemos todos: eu, Pedro, João Fazenda (com 13 anos), Ricardo Blanco, Arlindo e Jorge (d'O Moscardo, o único zine de crítica à BD até hoje!!!), Arlindo Yip Sou, Miguel Falcato (creio) e mais uns quantos - entre eles muito à distância porque perceberam que aquilo não era para eles, o Bruno Borges e o Nuno Neves (do Serrote) que fizeram os excelentes graphzines Crash e Speed Comics, e que muitos anos mais tarde iria reencontrar noutras situações. Mais tarde seria a Tertúlia Shock do Estrompa o local e dia da semana (Quinta-Feiras) de eleição prá malta jovem e rebelde.

O Mesinha era para ser também o nosso espaço de trabalho. Eu não me sentia bem com o desenho e o Pedro com a escrita. Fizemos parceria, eu escrevia e ele desenhava, histórias cheia de sexo violência, efeito dos anos 90. Mais tarde eu comecei a desenhar e o Pedro a escrever as duas histórias. Para além disso percebíamos que o ambiente da BD era morto. Não havia a energia que víamos nas outras Artes, sobretudo na música Punk e Industrial que descobríamos nessa altura todos babados em headbanging violento, sendo o nosso grande ponto de encontro os Ministry. 

Daí que colagem (convenhamos os computadores "ainda estavam a começar"), poesia, desenho e entrevistas a bandas faziam todo o sentido no meio de BDs parvas. Por isso a distribuição passava por lojas de discos como a Torpedo invés de livrarias, ou seja, onde estava a canalha punk e metaleira. 

Também acreditávamos estupidamente na falta de "heróis" (ou anti-heróis) ou séries na BD portuguesa e que a sua criação deveria ser a salvação prá coisa. Erro crasso da juventude embora daqui o grande sobrevivente tenha sido o Loverboy que deu em três (+ um) livros. Já agora, um reparo, depois de fazermos o zine começamos a perceber que havia outros fanzines com atitude e cheios de vida mesmo que fossem de "bêdê" como A Mosca (de onde saiu o Janus!), G.A.S.P. de Diniz Conefrey & cia, ou mesmo o Hips! de Nuno Saraiva e Jorge Mateus, Psicóse Infantil e O Búlgaro

Depois, o natural, cada um para o seu lado. O Pedro fundou a Polvo e saiu de lá aldrabado. Eu criei com os amigos a Chili Com Carne e depois a MMMNNNRRRG - que muitas vezes e até agora editaram vários números do zine. O Mesinha serviu de "estágio profissional" para o saber-fazer da edição. Aliás, outra consequência do MdC foi a colecção Mercantologia onde já recuperei material desde bons velhotes dos anos 70 às melhores autoras do momento (Amanda Baeza e Mariana Pita) já para não falar de BDs de gatos melomanos...

Que dizer mais? Sempre foi uma publicação mutante, até à saída do Pedro sempre assumimos que tinha de mudar de número para número. Com temas em cada número, esquemas editoriais até radicais como censurar um número como se fossemos uns cavacos. Continuei sozinho mantendo um estilo até o quebrar com o número 9 em que dei um maior passo em relação à exploração da BD autobiográfica e que durou ainda alguns números. Depois mais mudanças, no número treze comemora-se 5 anos de existência com o primeiro monográfico, o 88 de Nunsky, autor fora do vulgar que ainda esta semana teve o monstruoso Companheiros da Penumbra editado. O artista Mike Diana proibido de desenhar também teve direito a um monográfico. Antes a Isabel Carvalho que ganhou um concurso onde incluía não só guita mas edição de um livro, neste caso o Allen - por isso, foi foleiro ela dizer anos mais tarde que não fazia mais BD porque nunca tinha ganho dinheiro com esta Arte, aliás, ela foi das poucas que ganhou dinheiro num meio super-precário, mais do que os seus colegas masculinos, cheira-me que para continuar com a "arte contemporânea" tinha de dar este golpezinho.

Em 2002 o André Lemos é quem comemora os dez anos com um graphzine em serigrafia, abrindo caminho para muita réplica mais tarde. Vinte anos em 2012 é solidificado num dos objectos editoriais mais fixes em Portugal, o número 23 (coincidência deste número cabalístico que o Pedro sempre me avisou!) com montes de malta. Regressei à autobiografia em alguns números a seguir. O Nunsky também. 

Até que no ano passado decidi recuperar o Mesinha no seu sistema mais básico enquanto "true zine", ou seja, fotocópia (agora é a lazer tudo), 100 exemplares e com malta (+ ou -) nova a bombar loucura gráfico-narrativa. Tem sido fantástico ver e publicar "sangue novo" como o André Ferreira, Alexandra Saldanha (louca louca louca), Marco Gomes, Matilde Basto, Luis Barreto, 40 Ladrões e brevemente o R. Paião Oliveira. Mais virão espero...

Numa cena que só não foi reacionária e anacrónica nos anos noventa até 2005 - com a Lx Comics, Quadrado, Salão do Porto, Ai-Ai e Bedeteca de Lisboa - sinto algum orgulho em poder mostrar trabalhos que fogem à "bedófilia" e ao zombismo-papa-merda tal como em 1992 em que olhava à minha volta e havia tudo para fazer e tudo para destruir. O problema é que antes a "Merdibérica" era apenas incompetente, nos dias de hoje os "bedófilos" são mais espertinhos e mais hipócritas, sabem vender os seus subprodutos de forma mais convincente. A qualidade da crítica piorou e a desinformação aumentou, por mais estranho que isso possa parecer no mundo da 'net. Se calhar a próxima vida do Mesinha devia ser mais Fanzine e menos Zine, quem sabe?


Capa do próximo MdC (#37) por R. Paião Oliveira


PS - 30 anos merecia uma festa mas o Universo é cruel, para me punir da entrada à pala da Porcalhota, trinta anos depois, estando lá este ano no stand a Chili Com Carne a oferecer um pouco de civilização ao seu público, eis-me agarrado aos horários deles e sem capacidades para organizar uma festa com bandas e o catano. Desculpem meus amigos, olha mas podem organizar uma se quiserem hoje à noite, não se esqueçam de me convidar, hein!?

PPS - Seria estranho não agradecer a alguém com 30 anos em cima. Ficam aqui alguns nomes: Pedro Brito, Arlindo Horta, Miguel Falcato, Nunsky, Pedro Nora, Joaquim Pedro, João Maio Pinto, Pepedelrey, Joana Pires, Marco Gomes, Matilde Basto e todos os autores que participaram nestes 37 números do MdC. Da parte "mercantilista": Ruru Comix, Kus!, O Panda Gordo, A Batalha, Ediciones Valientes e Yuzin.

quarta-feira, 19 de outubro de 2022

Paixões privadas





Paixões privadas com Marcos Farrajota que é Funcionário-Responsável na Bedeteca de Lisboa, Co-Criador da Associação Cultural «Chili com Carne», Autor de Banda desenhada e Produtor de ‘Fanzines’. Credo, que apresentação...

quinta-feira, 13 de outubro de 2022

A queda do ídolo

 


Pá, não é só o gajo do Público que faz plágio a outros, não pá! Eu também sou plagiado! O gajo do fanzine de Metal undergound Fall of the Idol sacou-me a minha tira CAIAM (Centro Anarquista Internacional de Artes Modestas) publicada n'A Batalha em que falo do zine e pumba, assim mesmo sem aviso!

De resto o novo número do FOTI continua sick sick sick, com colagens à barda e bandas tão desconhecidas que até mete nojo.

Já lá vão umas dezenas de anos que não sou publicado num zine de Metal! YES! Obrigado João!

sexta-feira, 9 de setembro de 2022

CIA info 92.4


Detalhe de uma BD work-in-progress para um fanzine sobre Cinema, a editar pela Matilde Feitor. O zine chama-se Fora de Campo e já recebi a minha cópia. Em breve darei mais informações onde encontrar este "retrozine"...

Lançamento é dia 13 de Setembro no Espaço Corrente, em Arroios.

Fizeram-se 50 exemplares e custa 5 paus.

domingo, 4 de setembro de 2022

"Esta gaja vai ser grande!"


Lembro-me perfeitamente do Ghuna X no Porto dizer isto, enquanto estávamos no seu quarto acabadinhos de chegar de Lisboa e loucos por conversa-fiada. Creio que o Rudolfo também lá estava e mostrou-nos o Allen Halloween. Isto há mais de 10 anos. O Ghuna tinha razão, a Lana Del Rey ficou gigante - até há um video que ela brinca com o filme Attack of the 50 Foot Woman. De resto, ela é especialista em manipular nostalgia, prevendo todo mal-estar da cultura ocidental virada para o passado, la malaise dos filtros retro do Instagram e o bloqueio intelectual do "fim do capitalismo mas hoje não convém". 

Quando digo aos meus amigos que 'tou a curtir o(s) seu(s) disco(s) - tenho uma edição especial do Born To Die com um outro, Paradise, ambos de 2012 - mandam umas bocas que a gaja é "normie", vulgar, com uma carga patriota e não sei o quê. Se vivesse nos EUA, é certo que falaria dessa grande "terra da liberdade" embora eu acho que quem mais fala dos seus países até são os portugueses e os finlandeses, pela minha experiência e restringindo-me ao "Ocidente". Quanto a ela ser "normie" parece que é já um crime de lesa-majestade (ó doce ironia, tão doce como a sua música) ser "hetero" quando paradoxalmente até é na "queerness" de centenas de "Pop stars" (ou pretendentes a tal) que tenho insistido ouvir à procura de Pop fixe, que vejo a maior das vulgaridades. Batalhões de gajos e gajas com mil tatuagens, piercings, hiper-sexualidade (hetero ou não), uso de vocoder/ auto-tune ad nauseam, os mesmos ritmos reggaeton / "batida" / trap, em que há um esforço enorme para se ter uma personalidade para depois a montanha parir um ratinho ou ratinha, todos iguais da mesma ninhada.

A Lana é esperta como uma raposa, imaginativa e pós-moderna. Se parece que beija à Twin Peaks, a boca sabe a dream-teen-pop  dos 90's (seja pelo comércio Belinda Carlisle, seja pelas "indies" Belly ou Mazzy Star), a língua tem Kate Bush (entretanto recuperada prá fama devido a uma série de TV para crianças ao que parece) e a saliva tem o seu próprio ADN como boa gestora que é. A música flutua nos sonhos de um Pop elegante que recusa ter um ritmo dançante da moda, no entanto temas como This is what makes us girls tem uma intensidade que faz mexer o corpo de forma quase misteriosa. As letras sim são de amorzinhos "hetero" mas parecem que até  falam de relações de abuso - mas é dúbio... Pergunta pertinente, a Pop diz mesmo mensagens certas e objectivas? 

A melhor geralmente não, é ambígua, seja porque o emissor pode não ser claro na sua lírica seja porque o receptor inventa ou interpreta o que quer, conforme se está alegre ou tristonho. Na realidade, este nunca escuta uma letra do principio ao fim, apanha um refrão e apropria-se aos seus desejos e receios do momento, passado anos até poderá pensar de forma diferente. Um exemplo parvo é a interpretação de um dos Cães Danados sobre o significado do Like a Virgin da Madonna. Por isso pouco importa se Summertime Sadness é sobre o "break-up" juvenil no Verão, ou o suicídio do namorado da Lana. A ambiguidade das suas letras confunde-se com a condição eternamente trágica das mulheres na sociedade  com uma tradição tão longínqua até à Billie Holiday - apesar das diferenças de uma mulher negra dos anos 30 com uma pita burguesa branca do século XXI.

Fruto da web.2 e o fenómeno do vídeo-viral como impulsionador de carreiras mediáticas - olha Die Antwoord - o sucesso de Lana coincide com o falso-kennedismo do Obama, época de optimismo e de  imobilidade intelectual, onde o que vai estar em alta são músicas estáticas como o vaporwave, drone, noise e tudo que seja monótono para uma população mundial medicada em anti-depressivos ou a dar em codeína ou crackinho. A euforia dos anos rock/techno/hiphop dos 70/80/90 já lá vão. Nos anos 00 não há pica para mosh e saltos, a música como o trap (ou Lana) dança-se parado, com tique de "granda boss" cheio de pausa como se fossemos donos do mundo - apesar de sermos cada vez mais uma prole delapidada de direitos e de vida decente, sendo a cultura Zombie a grande ilustração desses tempos. 

De resto, as estratégias são as de sempre, pelas letras ou vídeos, Lana são várias Lanas como há vários Bobs, Bowies, Madonnas e Mansons, embora a maior parte das vezes identificamos como uma "girl next door" californiana - na realidade ela é de Nova Iorque, sacaninha! Pareço um gajo na crise da meia-idade mas defendo-me que a admiração que tenho por este CD não é a bizarria fetichista do meu mecânico pela Celine nem a pedofilia legal de um colega meu que passa o dia a ver os vídeos dos romenos "metaleiros" Iron Cross. Ainda acho a Diamanda Galas, A GAJA! Calma, isto é só Pop...

sexta-feira, 29 de julho de 2022

#36: Smash The Control Images


A Frrrrrança tem o Samplerman, os gringos o Christopher Sperandio... em Portugal temos o 40 Ladrões também ele a vasculhar o inDUSTriaLIXO da BêDê e a colocar desCOOLonização mental. Parte dos trabalhos já tinham aparecido o zine Ce ci n'est pas une bite de canard (2014). O 40 também participou no Pentângulo. Já sabem são 30 anos de existência do Mesinha de Cabeceira em 2022, este zine faz parte das comemorações!!

Sai na Feira do Livro de Lisboa mesmo para meter nojo às bestas editoriais.

terça-feira, 19 de julho de 2022

#35: Lúcidos, Sãos e Determinados


Já cá canta o novo Mesinha de Cabeceira do Luís Barreto que compila as melhores BDs da sua série Danny & Arby

Co-edição Associação Chili Carne e Culectivo Feira, limitada a meros 80 exemplares por falta de papel nas gráficas, mesmo assim são 40 páginas em papel amarelo, capa a cores, um luxito que vai desaparecer enquanto o diabo esfrega o olho!

Estes "Lúcidos" é o número 35 do Mesinha que ao comemorar os seus 30 anos de existência fez um "back to basics" que não se subscreve apenas em fazer "small press" mas sobretudo publicar futuros grandes autores de BD!

E já agora, um entusiasta comenta: Foda-se, finalmente uma BD que homenageia a única banda portuguesa merecedora de homenagem,... os Repórter Estrábico! - unDJ MMMNNNRRRG dixit.

ESGOTADO - exemplar disponível para consulta na Bedeteca de Lisboa

segunda-feira, 11 de julho de 2022

Música de Pança

Que pensar de um disco que nem se quer está registado no Discogs? E quando não se encontra nada sobre o "músico" Maroon Shaker? Ele que "tocou" todas as músicas deste Arabian Belly Dance (Weton-Wesgram; 2009)... toca tão bem e é tão diversificado que só pode treta e isto ser uma ripada de vários temas soltos. Ou é um "génio" tipo Mulimgauze que depois de morto ainda descobrem dezenas de discos para editar?? cóf cóf cóf... 
A música é vulgar e bonita q.b. para quem gosta de arabescos e aceitar de que nada percebo de música do médio oriente (ou de seus farsantes). Por isso "cala e come". Isto soa a falso mas ao mesmo tempo está tão bem? Parece que são de várias fontes mas o som é tão coerente - no que diz respeito à produção / gravação. Que pensar sobre isto? A ignorância é felicidade e só posso estar grato de ter adquirido este CD a "1 pau" no evento mais importante do ano passado no que toca a edição independente, o M.A.L., que decorreu na Dona Ajuda, onde é despejado "lixo cultural" e onde estas pérolas estão à espera de pequenos fanáticos como eu. Quero mais panças, até podem ser de gajos gordos invés destas belezas da capa, baratinhas e que abram os ouvidos para além de Bagdade.

#34: Casal de Santa Luzia

 



O novo Mesinha de Cabeceira foi impresso em risografia pela super-bacana Mago Studio

Carambinha, o MdC também sabe andar na moda mesmo com 30 anos de existência!!

E não é só sobre... gatos! 

Casal de Santa Luzia é realmente mais do que isso. Matilde Basto (2001) vai mais longe nesta banda desenhada para criticar uma cidade - Lisboa, que não haja dúvidas - que se vende ao metro quadrado sem qualquer enquadramento ecológico ou sociológico. O ambiente da BD entra em algo de Fantástico - lembra superficialmente o início da série Gideon Falls - sem nunca entrar numa aventura sci fi espectacular. Se há fogo de artifício esse passa pela mix-art da autora.

BD de 48 páginas mais ou menos A5, impressa uma cor (verde) em risografia e uma capa a duas cores, é mais um fascículo deste zine que comemora os seus 30 anos, sendo que a obra foi realizada no âmbito de um estágio não-explorador da London College of Communication entre Março e Maio 2022.




Esgotado - exemplar disponível para consulta na Bedeteca de Lisboa



Lançamento no Penhasco, 16 de Julho, entre 18h e as 22h


Entretanto o André Ferreira comentou isto: Do Casal de Santa Luzia gostei muito dos desenhos, mas o que mais me surpreendeu foi a forma como a história é contada, como a Matilde Basto nos vai dando pistas, como todos os pormenores contam e ampliam o significado da narrativa. Os gatos são o símbolo duma ameaça que paira sobre todos, um cerco que se aperta, e que nos vai expulsando dos espaços. A seguir para onde vão os gatos? Para onde vamos nós?

terça-feira, 5 de julho de 2022

Para bom entendedor...


Adorando a banda, por acaso sempre tive problemas com este álbum, não sei porquê talvez pelo tema poppy Pepper e nunca ouvindo com atenção pensava que era uma seca melosa. É verdade que o tema TV Star também leva praí mas eles sempre foram orelhudos mesmo com mil distorções "hendryxianas" mas Electriclarryland (Capitol; 1996) é mais um bom disco dos Butthole Surfers. Assim entre o rock abrasivo de Independent Worm Saloon e o futuro electrónico e derradeiro Weird Revolution. Nem mais nem menos. 

Também é estranha a imagem do disco, a capa a cargo de Paul Mavrides, autor de BD underground e um dos fundadores da Church of The SubGenius, mais abonecado e simpático (mesmo que haja um lápis enfiado na orelha de um bacano) e menos alucinante que as capas do passado. Vá, vá, vá não há mais gente assim, o disco é bem-bom!

terça-feira, 14 de junho de 2022

Joe Boyd : "White Bicycles : Making Music in the 1960s" (Serpents's Tail; 2006)

 As capas claro que enganam, sobretudo com "brouhahas" histéricos como o do Brian Eno neste caso - meu, vai produzir mais um disco dos U2 (vulgo, "vai à merda"). Ainda mais quando o subtítulo também é aldrabão. Não se vai ler muito como se fazia música nos anos 60 - o do Visconti é mais detalhado sobre cenas de produção e gravação - mas antes umas memórias esparsas de gajo ligado aos clássicos do Rock. 
Tal como Visconti, Boyd é gringo e foi para Londres, enojado com a cultura norte-americana e a sua falta de respeito por ela própria. Boyd até refere que as comunidades negras tiveram desdém pelo Blues a dada altura. Tal como Visconti, também ele adorava jazz, blues e rock e foi para a Europa à procura desse respeito tido pelos europeus e também por inovação que não a via nos EUA. Fez parte da "Swinging London", co-programando as noites do clube UFO, com John "Hoppy" do jornal contra-cultural IT / International Times) e produzindo músicos como Nick Drake, Incredible String Band, Pink Floyd ou os Fairport Convention, es especializando-se como um "folkie". Não é muito consistente como (auto)biógrafo mas é curioso o suficiente para ser lido, com episódios engraçados e alguns marcantes, ora sobre a tour de música negra norte-americana na Europa ou sobre a "electrificação" de Dylan no New Port Festival de 1965 - Boyd afirma que é aqui que nasce o Rock. Ou ainda o curto relato na África do Sul, em pleno regime nojento do Apartheid, em que falou com homens esfarrapados na Associação de Actores e Músicos (Negros) a perguntarem pela última peça de Harold Pinter.
O livro acaba por ter algo de "boomer" mas até acerta em alguns pontos quando fala como a economia neo-liberal de Tatcher e Reagan destruiu "o tempo". Nos anos 60 havia tempo, afirma, "o sei lá quantos" podia não ter um tusto nos bolsos mas conseguia uma casa no centro da cidade, com biscates safava-se e ainda tinha tempo para curtir e descobrir as coisas da altura. Com a aceleração da economia, tudo isto se perdeu. Outra curiosidade que afirma é que a Cocaína foi fatal para a música, que só assim se justifica como artistas que eram bons nos 60 só gravaram bosta nos anos 70 e 80 - com o estado de cagão que um gajo fica ao consumir a branca, é natural que pense que o disco que gravou seja a melhor coisa no mundo... Talvez por estas duas últimas conclusões é que o Eno ache que este livro foi o melhor livro sobre música que leu na altura. Ou isso ou andava a snifar coca com os Cosplay, não, os Coldplay,... whatever...

segunda-feira, 30 de maio de 2022

Conger Conger Comix


Eis uma fotografia do original da capa do Conger Conger Comix feita por Gregory Le Lay

Título de uma "BD Cadáver-esquisito" feita por Gonçalo Duarte, Alexandra Saldanha, a dupla de "Azoresploitation" Francisco Afonso Lopes e Francisco Lacerda, Rodolfo MarianoDois VêsTiago da Bernarda e Mariana Pita que realizaram para a agenda açoreana Yuzin

O livro é uma co-edição Chili Com Carne para a colecção Mercantologia. a lançar no dia 5 de Junho, às 11h, no Jardim Silva Porto (Benfica).

Quer a participação da Chili Com Carne no Yuzin, quer aparição do projecto Story Tellers remontam a 2021 e vão-se encontrar em 2022 em dois momentos, a saber:

I. A Primavera e Story Tellers (desde 21 de Março até 20 de Junho)

Story Tellers é uma instalação patente no Parque Silva Porto em Benfica, que apresenta uma nova seleção de bandas desenhadas em cada nova estação do ano. São pequenas esculturas da autoria do artista Fulviet e onde se encontram QR Codes que dão acesso a excertos de Bandas Desenhadas de autores nacionais e internacionais. O principal objectivo desta intervenção é dar a conhecer um pouco da história da BD, com especial ênfase na portuguesa, e criar novas formas de apreciar o Parque através da cultura interactiva. Abrindo o Outono do ano passado, estiveram patentes obras de oito autores representando as diferentes épocas da BD portuguesa, do Raphael Bordalo Pinheiro (1846-1905) até Nuno Saraiva, passando por Carlos Botelho (1899-1982), Sérgio Luís (1921-43), Eduardo Teixeira Coelho (1919-2005), José Ruy, Isabel Lobinho (1947-2021) e Fernando Relvas (1954-2017). No Inverno o tema recaiu sobre a cidade de Lisboa com trabalhos de Relvas - justificado com a reedição de Concerto para Oito Infantes e Um Bastardo -, O Eterno Passageiro de Luís Félix, Ana de Nuno Artur Silva e António Jorge Gonçalves, “Bairro Alto” de Ana Cortesão, excertos das antologias Lisboa 24h00 (Bedeteca de Lisboa; 2000) e Lisboa é very very Typical (Chili Com Carne; 2015) e ainda pela primeira vez em português a BD de José Smith Vargas publicada na revista italiana Internazionale

Para esta Primavera, estação da renovação da vida, aproveitaram para "abrir as portas dos QR" a novos autores em ascensão - que neste caso produziram uma "BD cadáver esquisito", isto é, uma BD em que começa um autor e que passa a história para o outro sem poder controlar a direcção da narrativa. Esta experiência foi realizada entre Junho e Dezembro de 2021, todos os meses com um autor diferente que saía em cada novo número da agenda alternativa Yuzin. A publicação convidou a Associação Chili com Carne para ter BD nas suas páginas e foi este o resultado. 

II. Conger Conger Comix (5 de Junho, às 11h)

A Chili Com Carne e a Yuzin vão lançar o livro que compila este "cadáver esquisito", que tem a capa e design do Gregory Le Lay com a presença de algum dos autores.