Nigga Poison : Simplicidadi (Optimus; 2011)
Na Sexta passada, os Nigga Poison deram um concerto na Musicbox para lançar o seu terceiro álbum. Casa semi-vazia - pudera, o bilhete era a 10 euros (?) - e mesmo com o disco gratis à entrada, não se conseguiu a festa que o disco pede. Talvez as pessoas sabem que não vale a pensa ir à Musicbox porque esta casa tem uma acústica de merda, ou porque o concerto estava marcado à meia-noite (e não haja transportes públicos para os subúrbios) ou talvez apenas porque os Nigga Poison chegaram a um disco de "terra de ninguém" que deve ter afastado os fãs de Hip Hop ao mesmo tempo que ainda não atraiu o público mais generalista. A verdade é que de Hip Hop este disco nada têm, em 10 temas encontramos dois temas de Reggae/ Dancehall, um Jungle raggazado com cítara (ripanço total a Asian Dub Foundation), três temas de Kuduro e um dancehall voodoo (Sentimentu Klaru, grande tema!). Sobra... um Hip Hop Snoopy à canzana e outros dois "normais".
Que se lixe o Hip Hop, se só o Nerve, Halloween (álbum do ano?) e Ex-Peão conseguem fazer algo de jeito mais vale investir noutras áreas que aliás os Nigga Poison já deram entender que poderiam ser geniais - refiro-me a Ke ki rapasis kre?, talvez o melhor tema de música urbana alguma vez gravada em Portugal, perdida numa colectânea medíocre e nunca regastada pela banda noutro registo nem (pelos vistos) ao vivo. Mas ao contrário do tema referido ou outros cabo-verdeanos Blackside capazes de fazer fusão de estilos, os Nigga não conseguem sair do "cada tema um estilo musical" o que faz pensar que eles não se esforçam muito, o que é mesmo uma pena.
Nigga Poison apesar da confusón-confusón que vivem ultrapassam o último álbum de Buraka Som Sistema - não é muito dificil, o último de BSS consegue ser mais estúpido que o Kuduro angolano mesmo quando um dos BSS seja cronista no Público. Confusón-confusón, rewind. Escrevia que os Nigga apesar da sua falta de direcção conseguiram fazer um disco bastante bom com temas fortes que mostram um cosmopolitismo que não existe em Portugal de forma oficial mas que existe numa série de cidadãos.
Para quem achar isto hermético, eis uma ideia do nosso Apocalipse: este fim-de-semana o Fado foi reconhecido como Património Mundial, ou seja, teremos mais histeria oficial e investimento unidireccional neste género, reforçando o cliché que Portugal é "Fado, Futebol e Fátima". Teremos de aguentar com esta porra reaccionária e fascista porque ela será a única coisa que as editoras irão apostar, para já não falar no espaço que o género irá ocupar em rádios, TV e eventos públicos e privados. O lado urbano contemporâneo não vinga porque é como uma prostituta junkie controlada por um sistema ilusório de "star system" instigado pelas empresas de telecomunicações. Paranóia? Teoria de Conspiração? Basta observar: a TMN que tem uma sala de espectáculos em Lisboa, todas elas patrocinam festivais de música, possuem estações de rádio (!) e a Optimus edita quase todos os discos de música portuguesa que não seja o Fado. As fadistas também eram umas putas há 100 anos e agora são património mundial, teremos de esperar 100 anos para os Nigga Poison serem reconhecidos como a grande música do século XXI?