domingo, 31 de dezembro de 2023

A importância de enumerar 23



- Olivier Schrauwen : Sunday 5/6/7/X (Colorama)

- José Smith Vargas : Vale dos Vencidos (Chili Com Carne)

- Jarno Latva-Nikkola : Logistiikkakeskus 5 (Zum Teufel; 2022)

- Karel Čapek : A Fábrica do Absoluto (Antígona; 2022 - orig.: 1922)

- Hanane Hajj Ali : Jogging (Incrível Almadense - Salão de Festas; 9 Jul.)

- Hanneriina Moisseinen : Kannas (Kreegah Bundolo; 2018)

- Yoko Kondo sob texto de Ango Sakaguchi : Una mujer y la guerra / Sensô to hitori no onna (Gallo Nero; orig. 2012)

- Naomi Klein : The Shock Doctrine (Penguin; 2007)

- Mário Domingues : A Liberdade não se concede, conquista-se. Que a Conquistem os negros! (Falas Afrikanas + Letra Livre + A Batalha) c/ introdução de António Baião

- Michael Tau : Extreme Music, from silence to noise and eveything in between (Feral House; 2022)

- McKenzie Wark : Um Manifesto Hacker (DeStrauss; 2022 - orig. 2004)

- Aleksandr Sokurov : Fairytale / Sombras do Velho Mundo (2022) + Fausto (2011)

- Jafar Panahi : No bears / Ursos não há (2022)

- Elio Petri : Indagine su un cittadino al di sopra di ogni sospetto / Inquérito a um cidadão acima de qualquer suspeita (1970) + La classe operaia va in Paradiso / A Classe operária vaia para o Paraíso (1971)

- Bill Bryson : Breve História de Quase tudo / A short history of nearly everything (Bertrand; 2020 - orig. 2003)

- Kristoffer Borgli : Farta de mim mesma / Syk Pike (2022)

- Stefane Gil Franco : Os imperativos da Arte - Encontros com a loucura em Portugal no século XX (Caleidoscópio; 2021)

- Dominique Grange e Jacques Tardi : Elise e os novos Partisans (Ala dos Livros; orig. 2021)

- Jesse Jacobs : New Pets (Hollow Press)

- Rudolfo : Memórias Artificiais (Porto; 16 Jun.)

- Hunter S. Thompson : Hell's Angels (Texto; 2007 - orig. 1967)

- Tsugumi Ohba e Takeshi Obata : Bakuman (20 vol., Viz;  2009-12)

- Rataplan : Cannibal Zoo (Rasga; 2022) + Titã Calamita (Rasga)

sábado, 30 de dezembro de 2023

Michael Tau: "Extreme Music Silence to Noise and Everything In Between" (Feral House; 2022)

Bem fixe este livro que sintetiza todos os extremos da música: os excessos de escatologia (o Gore / Grind / Death), a velocidade e intensidade (Gabber / Extratone), sons encontrados, embalagens fodidas (a lixa na capa do disco de shhh...), formatos anacrónicos ou "disfuncionais" (disquetes de computador), o silêncio (foi o Walt Thisney que fez uma compilação de faixas silenciosas há alguns anos?), composições curtas (You suffer, but why?!!!!) e ainda os "anti-discos" (objectos que não se podem ouvir, pura e simplesmente). Duas notas críticas apenas. A primeira é o autor (canadiano) fala muito em valores dos preços dos discos para justificar as suas escolhas, num mundo americano de money money money é assim que se justifica as peças de arte? A segunda nota é sobre o capítulo "Digital Age" que é o mais fraco do livro. Apresenta o Vaporwave como música gerada pela popularização da 'net mas sinceramente, sendo esse género nostálgico apenas merdoso Muzak o que interessa se é feito com sons da 'net ou com bifes a serem batidos numa mesa? Percebo o fenómeno dos ringtones ou a referência ao género Black Midi (claro!) mas achar os "outsiders" (Wesley Willis, por exemplo, referido há pouco tempo pelo Luís Barreto n'A Batalha) e "celebridades" caídas em desgraça de Reality Shows como um fenómeno musical extremo não me parece tão interessante como ideia... Sim, a internet passou a ser uma rede social apenas, cheia de pífios desejos de poder, onde Arte é agora conteúdo (pode ser uma imagem do século XVIII ou uma "selfie" a chafurdar num prato de comida) e cultura é fama (um realizador de cinema ou um gatinho parvinho) mas daí o factor social passar a ser uma "forma" de música (ou anti-música), já não me parece correcto.

sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

Morte 2023


Tinha de ser o Camarada Fom Fom a orientar-me um disco inesperado, quando um gajo pensa que já conhece tudo ou pelo menos que nada já bate. 

A capa deixou-me logo à toa e que caralho é um Vágtázó Halottkémek? Húngaro, nome da banda! E A Halál Móresre Tanítása? É  Teach Death A Lesson (Von Unten + Sonic Boom ; 1988)! Viva a 'net! Os punks de Leste sabiam tocar, afinal apesar das misérias da Cortina de Ferro, esta malta teve uma educação que o Ocidente bem inveja e faz questão de se vingar em destruí-la, desculpem lá o momento Svenonius. Estes "Legistas Cavalgantes" sabem o que fazem, assim, soa, com aquela língua bárbara, aos Magma com pano de fundo punk ou noise rock, sendo o estilo auto-proclamado pela banda de Punk Xamánico ou Hardcore psicadélico, antecipando em 10 anos o pós-Hardcore e outras coisas do tipo. O vocalista-mentor, Attila Grandpierre (excelente nome, nem é inventado) até tem um "paper" sobre o assunto, ó!

Já sabem, se estiverem fartos da mesma cagada Rock/Pop / Techno / Trap para a festinha de amanhã, é meter ácido ou fumar ganza e bombar esta coisa! ,E por favor ignorem que se a banda é xamánica não previu o porco Orbán! Grande falha!

Bom ano apesar de sabermos que tudo irá piorar!

segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

Visita ganzada


Sempre se disse que BD é para ser publicada e não para se expor na parede. Não sei se é por concordar em grande parte com isso que ganhei resistência a exposições de BD, ou apenas, os meus originais são tão feios e lixados que nenhum "agente da BD" queira promover exposições minhas. Não sei mas também não é que eu me possa queixar assim tanto, logo em 1998 tive direito a uma individual na Universidade De Aveiro, "Auto da Fé(rrajota)" organizada pelo Núcleo de BD e mais recentemente (o tempo passa, meu!) em 2015, a "Free Dub Metal Punk Hardcore Afro Techno Hip Hop Noise Electro Jazz Hauntology" (título homónimo do livro) na galeria da Mundo Fantasma. Pelo meio participei em algumas exposições colectivas nacionais - destaque para a “Tintanos Nervos” no CCB (2011) - e umas três no estrangeiro (Ourense, Ravenna e Pančevo).

Fico feliz que o João Silvestre me tenha convidado e que não se atreveu a colocar como "curador" porque senão recusaria logo. Tivemos trocas de emails a pensar o que faria sentido expor, é certo, mas sem uma hierarquia e esse parasitismo do intermediário. Ele organizou e essa palavra "organização" é mais catita que "curadoria", é o que acho porque acredito na cultura DIY numa óptica colaborativa (opondo a competição do empreendorismo neoliberal DIY). Daí que a maioria dos projectos que me envolvo tenham essa pretensão da "união faz a força" mesmo que, mais tarde ou mais cedo, fique só um cromo a cuidar de tudo, especialmente da parte chata da papelada. 


Comecei o fanzine Mesinha de Cabeceira em 1992 com o Pedro Brito, tendo ele abandonado o projecto no número seis (1995) porque andava exausto com a vidinha. Da minha parte prossegui com o zine ainda mais porque tinha descoberto uma força interior para desenhar as minhas autobiografias, fascinado por Harvey Pekar (1939-2010) ou Julie Doucet. É esse o primeiro bloco de originais que é aqui mostrado, as BDs vêm dos números 10 ao 12 do Mesinha, entre 1996 e 1997, sob o título "Apontamentos de Noitadas, Deprês & Bubas". Os tempos universitários eram longos nos anos 90 (pré-Bolonha), em que uma licenciatura demorava cinco anos mas que permitia perdições e explorações várias. Nessas pranchas há concretizações como um fim-de-semana ao mítico Salão de BD do Porto - no ano de 1995 em que os convidados internacionais era a malta toda da Drawn & Quarterly: Adrian Tomine, Seth, Doucet, Joe Matt, Chester Brown e Chris Oliveros. Noutras há apenas deambulações boémias já sem número, embora o Blixa Bargeld o tente fazer. Importante para mim era tentar a tarefa impossível de colocar toda a vida em papel, fosse músicas ouvidas ou desenhos feitos num "evento" (que acabavam colados nas BDs), pensamentos tão iluminados cheios de epifania (era mais pifos!) que tinham de ser registados na hora! Isto mesmo que demorasse anos para depois desenhá-los. Foi aí que que percebi que Arte precisa de tempo para arejar e que demora tempo a fazê-la. Arte não pode competir com a vida! Por fim, as pranchas eram quadradas, nunca curti o formato A4, daí que há umas BDs no topo dos originais A4 que juntos faziam de maquete para impressão dos Mesinhas mais o suplemento Meseira de Cabecinha que era o que sobrava - depois do corte para o formato quadrado. Aqui vêem-se tiras de Leonor Gomes mas noutras passaram nomes como o Janus ou Mike Diana.


Não querendo acabar como o Joe Matt - que faleceu com 60 anos em Setembro- que era um autor que confessa, na série Peepshow, TUDO sobre a sua vida privada de tal forma que acabou por destruí-la, ou apenas porque curtia a ideia de promover a BD noutras manifestações públicas, comecei a fazer BDs de critica de concertos - e mais tarde discos e livros. Comecei onde fazia sentido, um jornal de música, xunguérimo, chamado Inside em 1998. O "deal" era simples, davam-me bilhetes para os concertos e eu fazia a resenha crítica em BD. Trabalho baratinho para eles e a precariedade que aceitava era pela satisfação de ver uns gajos a abanar a cabeça, não tendo cheta para os ver - foi assim que perdi os Cramps na primeira vez. Na BD "Recuerdos" (1998) muitos concertos foram colocados na página mas quase todos sem bilhetes vindos da redação do jornal, isto porque não havia muito para contar do concerto de Soulfly para dizer a verdade, e sempre divulgava uma variedade de gente que merecia visibilidade como o fantástico Jad Fair. Anos mais tarde, em 2012, a organização do SWR Metal Fest de Barroselas convidou-me para fazer uma BD que seria incluída no DVD comemorativo dos 15 anos deste evento! Não sei o que eles esperavam de mim, sinceramente, mas curtindo Metal como gosto de muitas outras coisas na vida aceitei avisando que não sou especialista para escrever sobre guitarras (des)afinadas, pregos de bateria ou se é mais Black ou menos Death. Fiz "gonzo journalism" como fã do Hunter S. Thompson que sou até porque a caminho do festival sofri um acidente de automóvel em que sai vivo por um triz. Achei muito sinceramente a organização do festival impecável e que tal merecia ser divulgada na BD, daí falar mais com trabalhadores do que com músicos cheios de si. Quando a revista eslovena Stripburger pediu-me para fazer uma BD prás suas páginas, em 2013, a cena de Barroselas ainda estava quente para mim. Por um lado adorei o festival, por outro ouvir mexericos por lá e percebi também do lado perverso do mundo da música - neste caso Meta mas transversal a qualquer outra cena musical, artística ou profissional. Resolvi reflectir sobre esse mundo, mostrando o seu lado mais capitalista. Nesta altura já me tinha habituado a usar imagens de outros (ou minhas) para outras BDs, assim em modo de preguiça e orgasmo digital. As minhas pranchas originais começam a ter buracos enormes e ter menos interesse gráfico - fenómeno que não é novo e que se passa com muitos autores de BD desde os finais dos anos 90 com a entrada das ferramentas digitais.

Quanto à prancha dos Napalm Death (grande-banda-grande-banda!) foi feito para um número do zine suiço Milk + Wodka (2008) que completava trilogia temática "sex, drugs & rock'n'roll" - ideia tão original que mais tarde que o zine brasileiro Prego também o fez e que eu também participei! A BD faz parte de uma fase em que não me apetecia desenhar mais e restou-me desenhar com a mão esquerda para recuperar o gosto e a concentração. Fiz mais algumas destas "BDs à canhoto" para o M&W, a antologia Futuro Primitivo (Chili Com Carne; 2011) e o zine que acompanhava o EP 7" Raridades (Zerowork; 2008). Aconselho este exercício a todos desenhadores quando estiverem na merda...



Fecha-se o círculo com a questão da disposição da BD nas paredes, da generalizada ausência de poder plástico de originais de BD quando são expostos. Tema bastante discutido no seio da Chili Com Carne, tentou-se resolver a questão no "Zalão de Danda Besenhada", em 2000 na Galeria ZDB, com vários artistas a montarem instalações que acrescentassem uma aura expositiva às suas obras. Da minha parte, apresentei a BD "Vaiz curtir?" que retrata o percurso de casa dos meus pais para uma paragem de autocarro num subúrbio em Cascais. A BD revela as relações (a)sociais com o local e na parede da exposição as suas páginas eram intercaladas por fotografias ampliadas desse trajecto. É uma modorra paisagística que obviamente a BD nunca iria apanhá-la nem as fotos iriam reter o humor de viver na seca suburbana. "O Império Nunca Acabou" (adoro Philip K. Dick!) foi feito para a colectiva "Mistério da Cultura" (2007). Foi um engano de um casal de betos que tinham uma galeria em Lisboa. Nunca disse que fazia ilustração mas insistiram. Saiu este auto-retrato divido em nove partes que in extremis faz dele uma BD. Cada desenho trata de momentos culturais marcantes para mim, que me construíram quer eu queira quer não, seja xungaria tipo X-Men ou Mata-Ratos, seja o bom tom de Young Gods ou Daniel Clowes.

Resta dizer que deixei de desenhar o ano passado e este é o meu epitáfio. MF … Lx, 30/11/23

Fotos de João Silvestre

sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

Ganza Metal Guimarães


Acho que poucas pessoas sabem que parei de fazer BD, desde o ano passado. No entanto a Magma Bruta crew ainda acredita em mim e prepara uma exposição em Guimarães, aproveitando a minha passagem pela cidade. Será uma exposição de originais com mostra de diários gráficos, das publicações originais e das recolhas. Cartaz de João Silvestre. Dankas very muchas! Não são todos o dias que tenho este tipo de convites!


Entretanto, os organizadores escreveram isto, que adorei: GANZA METAL', originals by Marcos Farrajota
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Opening 8 December at 19:00
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Everything we experience can be seen through comics, it is a fact. At least for Marcos Farrajota. From being a shy and introvert teen, coming home and just wanting to read zines his dad brought him to being an international published comic artist and having his own publisher - @chili_com_carne, Marcos has always lived his life around it.
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This is the opportunity to see his work exhibited on walls, his rough originals tainted with political and cut-throat inherent thoughts.
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At Gamor - Rua Paio Galvão 3 2, Guimarães
Visit the exhibition from 8 till 10 December!
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Poster by @ojoaosilvestre with original drawings by Marcos Farrajota

domingo, 3 de dezembro de 2023

Mr. Big


 

Marcos Farrajota 
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De William Blake ao Black Metal : Apontamentos da evolução da BD independente 

A falta de cultura no campo da BD é grave, geralmente contada pelo prisma industrial e comercial, dos vencedores. Mas é sabido que os vencidos são mais queridos, resistem ao teste do tempo e são os que realmente interessam. Temos de rever, repensar essa História e sobretudo criar novas balizas para quem se interessa não perca tempo. Esta conferência aborda as formas independentes de edição e de produção de BD, partindo de William Blake (1757-1827), passando pelo “underground comix”, até aos nossos dias. 

quarta-feira, 29 de novembro de 2023

Bando de mamados



Eis um bizarro - não são sempre? - disco dos Flaming Lips, banda norte-americana que tinha um cunho "indie" mas que foi para atmosferas sonoras cada vez mais extravagantes, pelo menos para os "índios" comuns e que bateu forte e feio na viragem do milénio com o The Soft Bulletin - vi-os em Paredes de Coura em 2000 e ainda hoje lembro-me da bela experiência que foi! The Flaming Lips and Heavy Fwends (Warner; 2012) é uma compilação de vários discos que eles foram lançando em vários formatos (vulgo, peças de colecção) com "amigos" numa altura que estavam mais ou menos livres de compromissos com a editora. Com VIPs (very importante punks) como Nick Cave ou Lightning Bolt ou VIPS à séria (Kei$a) ou músicos mais sérios (?) (respeitáveis?) tipo Prefuse 73, fazem os temas de "gourmet" Pop/Rock psicadélico que soam sempre mais a FL do que ao convidado ou à fusão dos dois - o caso dos Lightning Bolt é bastante exemplar! Nem sequer é uma coisa nova na carreira deles, considerando a improbabilidade do "remake" do Dark Side of The Moon com o Henry Rollins e Peaches. Ou outros discos clássicos como um dos Beatles com gajo dos Tool e dos Dinosaour Jr e Foxygen. Ou apenas o que já fazem nos seus discos de originais com gente como a Miley Cirus. Quem espera loucura que se acalme, o pós-modernismo está esgotado e não há aqui nada para ficar de boca aberta. As gravações são na base do "envia para cá uns ficheiros" que a gente cozinha isto. Não há encontro de mentes - e sobretudo de corpos - para que os temas rumem para caminhos diferentes pelo confronto físico in loco. É giro, atenção... mas ficamos por aqui, em 2012 já o mundo estava exausto mesmo puxando para títulos de músicas como I'm working at NASA on acid... LOLito

E se parece que estou a dar a ideia que os Flaming são uns betinhos, nada disso, basta lembrar que o Steven Drozd (sempre quis escrever este nome... Drozd! Drozd! Drozd!) teve para ter o seu braço amputado pelo abuso de heroína... E psicadélico por psicadélico ou louco por louco, nada melhor que recordar os que cunharam o termo Rock Psicadélico (em 1966), os 13th Floor Elevators, numa colectânea semi-xunga intitulada His eye is on the Pyramid (Recall 2CD; 1999) que faz um apanhado destes texanos - tudo que é mesmo mamado vem do Texas: Butthole Sufers, Red Krayola,...! E o facto do vocalista ter sofrido electrochoques e tratamentos de clorpromazina no manicómio, para escapar à sentença de 10 de prisão por posse de drogas. Estamos em 1969 e no Texas, estado conservador, enfim, ainda hoje continua a ser uma história triste de como o estado brinca com os nossos corpos e mentes - vale a pena ler A Doutrina de Choque de Naomi Klein ou Os imperativos da Arte de Stefanie Gil FrancoApesar de ter ouvido falar muito na banda nunca tive um disco deles. Lembro-me de ouvir versões de temas deles deles aqui e acolá - Jesus & Mary Chain com Reberveration (doubt) e Butthole Surfers com Earthquake são os que me vêm à cabeça logo à primeira. Esta colectânea é uma manta de retalhos, não indicando de quais dos três álbuns de originais vêm os temas (acho) e há alguns que são ao vivo (que deve ser o quarto disco oficial da banda?). Mas tudo bem, dá para perceber de onde veio muita coisa, do seu legado e é um disco que se ouve bem em casa, mesmo sem LSD na pinha. Não é o psicadélico calmo, trata-se ainda Blues e Rock selvagem - sem o açúcar que viria mais tarde noutras produções, Lips incluídos - mas algum fuzz, sons estranhos e alguma rudeza.

sexta-feira, 24 de novembro de 2023

José António Moura: "Cadernos de Divulgação" (2 vol.; Marte Instantânea; 2023)

 


Há gajinhos espertos e o JAM ganhou esse estatuto com os seus Cadernos de Divulgação (CD), um verdadeiro pot-pourri de informação de como ele consumiu música, aprendeu a apreciar outro tipo de sons e passou a divulgá-los em rádios piratas - isto para já, considerando que a sua futura actividade profissional será de  produtor electrónico e lojista. Dos finais dos anos 70 e em linha recta até aos dias de hoje quem sabe?), se estes CDs forem tão clínicos como têm sido nestes dois primeiros volumes só daqui a 10 é que estaremos em 2023! Mas é justamente o gozo de melómano de ter tanta efémera guardada, de fazer coleccionismo anal retentivo e afins que dá gozo a qualquer nostálgico/ melómano/ antropólogo (riscar o que não interessa) passar por estas folhas em riso com um bom sorriso - a impressão em risografia ou porque é chique ou apenas porque é a única impressão lowcost-DIY que permite ter uma textura que replica a velha fotocopiadora dos anos 80! Há descobertas fixes como Perennial Divide (pré-Meat Beat Manifesto), Princess Tinymeat (com um ex-Virgin Prunes) ou Poésie Noire como parvoíces como Bubblemen Rap (os Love & Rockets a divertirem-se? Que idiotas!), há listas de Top caseiros, há folhas dos programas de rádio, notas de imprensa, memorabilia de bandas, concertos ou discos e textos de reflexão como já pouca gente o faz nos dias de hoje porque já não há imprensa, livros sobre música sempre rarearam no mercado português e os sítios em linha são apenas miseráveis. Cá se espera por mais destes CDs de Marte, ó Major!

PS - sinto, modéstia à parte, que o livro dos 30/20 anos SPH/Thisco tenha sido inspiração prá feituras destes CDs, valeu!!

sexta-feira, 20 de outubro de 2023

Capital Verde 2023


Bem estava eu farto de lixo humano (vou ser preciso: turistas), excesso de lixo (sobretudo o plástico por causa dos turistas) e ruas poluídas (olha, por causa dos turistas: aviões, tuk-tuks e cruzeiros!)! 

Viva os putos!!! 

VIVA!!!!

segunda-feira, 2 de outubro de 2023

Marissa J. Moorman : "Intonations : a social History of Music and nation in Luanda, Angola from 1945 to recent times" (Ohio University Press; 2008)

Uma agradável leitura de verão... já estava preparado para ler aquelas secas de notas ou as repetições chatas da escrita académica mas o tema manteve-me atento sem cair de sonolência e comer areia da praia. Mais do que tratar do tema específico bem explícito no título, isto é, sobre a música de Luanda desde 1945, Moorman faz um trabalho para revelar como a música pode ser importantíssima seja num cenário "micro" como "macro". 

"Micro" quando revela como a música em Angola, ou melhor, em Luanda, ou melhor, nos "musseques" (bairros de lata suburbanos) se desenvolveu, como "empoderava" os seus agentes (músicos, organizadores de festas e concertos, mulheres), como permitiu formas de auto-organização num mundo de trabalho explorado e miserável sob a administração portuguesa e, claro, como se disseminavam mensagens políticas nas canções contra o invasor colonialista português.

"Macro", quando após a independência, o vencedor MPLA (na altura marxista-leninista, hoje dizem que são "social-democratas") usou a música para criar uma identidade nacional, num país com várias étnias "recortado a régua e esquadro" - como aconteceu com quase todos os países africanos sob jugo imperialista europeu. Já agora, para o eurocêntrico convicto armado em parvo, ele que se recorde que as nações são invenções diabólicas e artificiais, basta pensar na vizinha Espanha (com as tensões galegas, bascas e catalãs), passando pela Itália, Inglaterra, Bélgica, Checoslováquia ou os massacres étnicos da ex-Jugoslávia que aconteceram apenas há 30 anos atrás. Claro que bons "tankies" que eram os MPLAs, deram cabo dos esquemas de auto-organização dos músicos, reprimindo e tomando controlo cultural e económico sobre a população, empurrando os músicos para a miséria ou para a morte, especialmente os que incomodavam. 

Sendo um Estado corrupto até ao tutano, o que interessa é diamantes e mais nada, por isso, Moorman viu-se grega para conseguir documentos e discos que deveriam estar preservados e catalogados nas instituições públicas do "país". Claro que não estavam nos tempos da sua investigação, durante os anos 00 deste milénio, e acredito que ganharia uma aposta se dissesse que continua tudo na mesma ou pior em 2023... Isto para dizer que ela safou-se bem, claro, graças às boas relações com músicos e colecionadores particulares.

O livro é acompanhado com um CD com músicas emblemáticas, durante a ocupação portuguesa. É música fantástica que se ouve e que prova porque Luanda merece estar nestas "dez cidades" (ao contrário de Lisboa!)

domingo, 17 de setembro de 2023

Old Leatherstocking


Death Banjo Sunday Music

sexta-feira, 21 de julho de 2023

Na cama com...




Bem sei que nada já escrevo pelos blogues que participo. No da Chili, sobre zines, livros e discos independentes, quase tudo das resenhas escritas vão para o papel d'A Batalha. Por aqui, do mundo Pop da música tem sido complicado por vários motivos, mais pessoais e profissionais do que o outro que vos apresento mas que é também bastante válido. Tenho arranjado dezenas de CDs numa orgia sonora em que pouco tempo tenho para fazer resenha de tudo. Os CDs estão para morrer, estão baratos como o raio, seja na Neat Records ou no discogs, amigos oferecem colecções e tropeçamos por eles na feira da ladra e afins. Na colecção ficam guilty-pleasures (Censurados, Faith No More, Ministry, Nearly God ou Morbid Angel) que não me apetece escrever sobre eles, não parece que queira falar das desilusões de ouvir discos de Elvis Costelo ou os Living Colour ou ainda perder tempo com discos de Noise e Harsh Noise.

No entanto este The Whitey Album (1989) dos Ciccione Youth fez-me mexer o rabo para aqui. Sobre o disco em si ele está mais do que bem documentado, os Sonic Youth juntam-se a Mike Watt (dos Minutemen) e J Macis (Dinossaur Jr.) para combater uma depressão de Watt. O álbum tem a aura de inconsequente em que vale tudo desde um exercício cageano de silêncio a batidas Hip Hop ou misturas Dub, sons encontrados, versões javardas de "hit-singles" de Robert Palmer e Madonna (em teoria tudo isto é uma homenagem à Diva Pop), experiências sónicas e até alguma erudição literária. Nada bate certo com nada, tudo é levado para direcções opostas da faixa anteriormente tocada / editada. Acho que no início de 2000 quando consegui emprestado o disco só devo ter gravado as versões de Palmer e da Madonna, claro - meu, que seca tudo o resto, devo ter dito! Recentemente fiquei com curiosidade em ouvir o disco todo outra vez com outra maturidade. Bem que poderia ter ido ao "youtubáro" (nem sabia que os SY tinham uma "banda_campa") mas tão barato que estava no discogs que nem um "skecht" dos Monty Python me condena. E na realidade tenho ouvido música no computador que soa tão má que não prescindo de ouvir numa aparelhagem um disco físico, mesmo que a aparelhagem não seja a melhor do mundo. A música precisa de espaço para nos envolver, ouvir no computador ou em fones é contraproducente, não faz sentido nenhum. Achei muito curioso o disco, sobretudo a quarta faixa, Platoon II que parece Dälek!! Entretanto arranjei o Gutter Tactics (Ipecac; 2009) que me disseram que era o último bom álbum deles, coincidindo com o hiato da banda pouco depois e regresso com outro elemento na maquinaria. Ou seja, neste disco ainda está cá o Oktopus. Sinceramente não sei o que dizer deste disco até porque mantem tudo o que sempre foi a banda: um Hip Hop ruidoso que cria um corpo monstruoso que nos envolve como uma canícula. Quem já os viu ao vivo, sabe do que falo, dessa sua massa sonora que sufoca os ouvidos ao ponto de passarmos para uma outra realidade. Não há muitas bandas assim...

PS - Ao fazer estas pesquisas bati neste "bootleg oficial" do concerto dos Sonic em Lisboa - caraças, faz 30 anos que estive lá! Vale 42 paus no discogs, se calhar eu se fosse a ti guardava esses CDs, pá!

PPS - Lembrança, na semana que os SY tocaram em Lisboa em 1993 é claro que houve pompa e circunstância no jornal Blitz dessa semana. Na entrevista, provavelmente o Thurston Moore explicava porque tinha convidado os Lulu Blind para fazerem a primeira parte no concerto, dizia que a banda soava a Hardcore finlandês. Sem 'net na altura, claro que tive de esperar 11 anos para saber o que isso significava mas sinceramente não vejo relação, até porque depois da fase sónica deles os Lulu chagaram a tocar Rap Metal ou mais tarde armaram-se em Smashing Pumpkins à tuga, no fim de contas, era para onde fosse a modinha da altura... Que banda triste!

quinta-feira, 13 de julho de 2023

Holocausto de Merda


Prostitutas decadentes, cirurgias plásticas bizarras, mascotes perversas de cadeias de Fast-Food, parafilias estranhas, experiências científicas malucas, ténias gigantes, crimes de faca e alguidar, portugueses no espaço e muito mais, num compilado de histórias curtas contaminadas com generosas doses de coliformes fecais e muitas outras bactérias nocivas.

Eis o que promete
  Holocausto de Merda 
de 
neste 18º volume da Mercantologia,
colecção dedicada à recolha de material perdido em fanzines e afins,
co-editado com o fanzine Olho Do Cu Comics Group.

São 52 páginas (16 a cores!) 16,5x23cm, capa a cores como bem podem ver, edição brochada e 333 exemplares apenas, ó filhote da Besta!

Disponível na nossa loja em linha, na ODC Comics Group, Tinta nos Nervos, Kingpin, Linha de Sombra, Snob, ZDB, Universal Tongue, Tigre de Papel e amanhã na BdMania.

quarta-feira, 12 de julho de 2023

Estamos todos a ficar velhos...

 


O Erradiador escreveu estas belas palavras sobre o Mesinha de Cabeceira... fiquei sinceramente comovido mas também com a sensação de envelhecido. Gulp!

Tanto que meti parte do património à venda... 

quinta-feira, 22 de junho de 2023

quarta-feira, 21 de junho de 2023

Singela Sabotagem


Faleceu, ou pelo menos foi noticiado no passado dia 15, o "Zé Maria da Sabotage". Os aspas significa isso tudo. Ninguém sabe o seu nome como deve ser, a sua data de nascimento e ao certo as suas actividades, de tão resguardada que era esta pessoa. 

Da minha parte nada poderei dizer mais do que foi escrito na 'net excepto que lhe tenho em dívida uma cultura de música "Rock" quando ele tinha a sua distribuidora de discos Sabotage nos anos zero deste novo milénio. Não fosse ele nunca saberia quem eram os génios como End, sunn0))), Dälek ou Otto Von Schirach ou os géneros musicais como o Dancehall ou o Afrobeat ou editoras como a Anticon e Web of Mimicry.

Melómano e reservado, pouco mais poderei contar porque mais nada saberei, apesar de me encontrar com ele regularmente quando escrevia para a Underworld / Entulho Informativo, entre 2003 e 2006, e ia ao seu escritório-armazém, em Cascais, buscar "promos". O contacto era mínimo e sentia até um desconforto ao início porque vinha de uma revista ligada ao Metal. Aos poucos provei que conseguia escrever sobre os discos sem ter uma censura metaleira (que havia mas sempre consegui mandá-la à merda!) e com entusiasmo - pudera! dado os discões que recebia!

Lembro-me que a dada altura deixei livros da Chili Com Carne e da MMMNNNRRRG com a Sabotage - para eles venderem em feiras de discos? - e que ele e a sua companheira, Ana Paula, gostavam deles. Tanto que passados uns bons anos sem contacto - quer a revista quer a distribuidora desapareceram com o "fim" dos discos - quando decidem abrir uma sala de espetáculos com nome homónimo, contactaram-me para lhes sugerir alguém para fazer um mural no clube. A escolha recaiu sobre o João Maio Pinto, que quase passou a fazer tudo para eles. É irónico que não houvesse espaço visual para mais e sem "censura metaleira" mas a cultura visual portuguesa sempre foi sempre será limitada, pelos vistos...

Sem uma relação pessoal, a notícia da sua morte entristeceu-me e com dúvidas lá escrevi esta elegia. Ela tinha de ser escrita. Não teria a coragem de ser unDJ sem os terrores e os prazeres proporcionados pelos discos do "Zé Maria da Sabotage". Seria injusto não o recordar por mais "apagado" ele fosse. Seria ingrato senão o agradecesse publicamente, mesmo que o tenha agradecido várias vezes em privado pelas pérolas sonoras. 

Obrigado, mais uma vez!


PS - E lembrei-me que foi graças ao Zá Maria que conheci outro cromo, o João Mascarenhas dos Stealing Orchestra, um dos projectos musicais portugueses mais inteligentes, com quem tive a oportunidade de trabalhar com ele na banda sonora do Futuro Primitivo. Memória, onde estás?

quarta-feira, 17 de maio de 2023

segunda-feira, 15 de maio de 2023

#41 : diários dum cão danado




Este é que é o verdadeiro número 41 do Mesinha de Cabeceira passados 23 anos!

Nada mais afastado do que o outro: de um pseudónimo de um homem do Sul ao facto de ser uma selecção de desenhos de diário gráfico entre 2020 e 2023.

Já está disponível na Chili Com Carne e vai estar na Feira do Livro de Lisboa e no Festival de BD de Beja.

São 40 páginas A5 preto e branco.




Giancarlo Apollini ("Nova Luanda", 1972) vive atualmente no Alentejo. 

Iniciou em 2015 a sua atividade como escultor depois de muitos anos a trabalhar para o teatro como diretor técnico, cenógrafo e designer de iluminação cénica. 

Tem uma obra que, para além da escultura e desenho, se desdobra em várias expressões como a performance, o teatro de animação, a fotografia e o vídeo. 

Os desenhos e palavras aqui reunidos fazem parte dos seus inúmeros cadernos diários e são apenas uma pequena amostra de um sem fim de grafismos vários que o autor regista no seu dia a dia e que estão na base de todo o seu pensamento e pesquisa. 

O universo do autor balança entre o trágico e o cómico, entre o belo e o grotesco, numa expressão provocatória marcada intensamente por uma forte pulsão erótica. 

sexta-feira, 17 de março de 2023

#40: Lobisomem e outros mitos

 


Eis o novo Mesinha de Cabeceira! É o #40 (#1 do vol. XIII) de autoria do inglês Andrew Smith, em que voltamos a um formato "comic-book" de 28 páginas a preto e branco.

Quanto ao conteúdo temos dificuldades em meter numa gaveta. Há autobiografia light com autoficção, BD cómica-religiosa com um elemento "meta" e ainda alucinações de drogaria e um lobisomem. Olha, o melhor é mesmo ler, meu, ou achas que vais encontrar algo melhor no quiosque?

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ESGOTADO mas pode ser que encontrem ainda na Snob, Kingpin, Tigre de Papel, Matéria Prima, Alquimia,  Tinta nos Nervos, Linha de Sombra e Universal Tongue.
 
Acessível em arquivos na Bedeteca de Lisboa e Beja.

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Sobre o autor: Andrew Smith (1966; Suffolk) estudou Belas Artes em Londres. Publicou as suas primeiras BDs em fanzines punk, tendo seguido para revistas profissionais como a Punch e Spectator entre outras. Foi professor e tendo descoberto Portugal com a sua esposa e cão mudaram-se todos para Serpa. Por cá tem publicado nas colecções Venham + 5 e na Toupeira, ambas da Bedeteca de Beja. Nesta última lançou o "comic-book" O Desastre do Palhaço que foi uma bela surpresa em 2022!

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Feedback:

Ondina Pires gostou!!!

O Bandas Desenhadas entrevistou!!

terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

#39: artblock



Chega-nos o novo Mesinha de Cabeceira do Tomás Ribeiro, intitulado Artblock
É o número 39 (#2 do vol.XVII) do vosso zine mutante preferido! Sim, mudou de formato outra vez! Quer dizer, mais ou menos... continua quadrado, só um coche maior! 38 páginas 15x15cm todo a preto e branco como qualquer bom fanzine deveria ser! Zim! 
Para quem 'tá com bloquei artístico, Tomás safa-se com muita pinta neste "comix" que é uma verdadeira passerelle de estilos gráficos e narrativos onde se exibe escalotogia underground (o "comix" foi de propósito!), infografia clínica e filme de animação bué gonzo. Tudo isto em pouquíssimas páginas!
O Mesinha desde sempre que procurou novo talento por aí. E desde 2021, quando voltámos às raízes do fanzinato, que temos tido descobertas incríveis de novos artistas, será vulgar dizer que este é só mais um? É que não queremos provocar um artblock a ninguém! 

Este trabalho foi desenvolvido em estágio via ESAD, Caldas da Rainha, entre Outubro 2022 e Janeiro 2023.

Foram impressos 100 exemplares que podem ser adquiridos na nossa loja em linha e talvez venha a aparecer em algumas livrarias... quem sabe?

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

Unvisible (1 e 2)


Hoje: https://tirkultura.lv/

(especial "Carnival, Clowns and Comics" depois do especial "Dia dos Namorados")


arquivo: 
https://soundcloud.com/usagallery/sets/k-u-r-a-d-i-o-e-p-i-s-o-d-e-s




Ambos os programas Invisual foram gravados de um smartphone emprestado. 

No noise reduction!

 

quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

Vamos rifar o último LSD na Matiné Fetra!



Cafetra anda a organizar matinés com concertos e o zine Mesinha de Cabeceira juntou-se à festa! Neste próximo encontro, leva consigo uma mesa de Mesinhas recentes e alguns raros.

Será levado o último exemplar do recente e raro Lúcidos, São e Determinados de Luís Barreto, uma das cabeça se assim se pode dizer d'O Triunfo dos Acéfalos

Este número que esgotou em poucas semanas terá UM EXEMPLAR em rifa. Sim, é isso: vamos rifar o último LSD na Matiné Fetra!

Basta comprar o bilhete da matiné e no final da festinha, será tirado um número de bilhete à sorte. O vencedor é aquele que ainda tiver o seu bilhete pouco molhado de suor ou de cerveja barata!

sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

10 cidades tornam-se numa aldeia

Antes de ser o livro Ten Cities : Clubbing in Nairobi, Cairo, Kyiv, Johannesburg, Naples, Berlin, Luanda, Lagos, Bristol, Lisbon 1960 - March 2020 (Spector; 2020) por Johannes Hossfeld Etyang, Joyce Nyairo e Florian Sievers (e que já lá iremos) foi um disco. Ten Cities (Soundway; 2014) reúne 50 produtores e músicos das dez cidades já referidas para uma saudável e higiénica orgia juntarem-se para criar o monstro sónico Frankenstein que... pariu um ratito aldeão! Sou contra a ideia que "a fusão é um erro" mas é verdade que pode correr muito mal quando os intervenientes não tenham coragem artística para explorar mais do que uma simples fusão de ritmos já mastigados pela Aldeia Global, sobretudo na área da música electrónica funcional ou de dança. A ideia de juntar norte e sul - Europa e África - num laboratório de música de "Clubbing" tem tudo para correr bem. Talvez o dinheiro do Goethe tenha ido para betinhos que não deixaram a malta ir para o desconhecido musical - ao contrário o que tem acontecido entretanto em Kapala. Tudo é previsível mesmo que as línguas desconhecidas africanas apareçam ao longo do disco, o que é considerado como um brinde exótico pelo responsável da edição. Metade do disco é de uma vulgaridade tal que se resume na letra de Quero Falar (Lunabe com MC Sacerdote) que apesar do apelo... nada diz. Um óbvio reflexo do estado da arte no século XXI, muito artifício, pouco conteúdo. A outra metade do disco é mais chill e também mais interessante mas sem rasgos de génio mesmo que tenha o Maurice Louca ou Alva Noto como músicos. A evitar...

O livro logo que saiu estava já aberto às consequências dos horrores humanos. A primeira e assumida é que aborda a história do Clubbing nas ditas cidades desde os anos 60 até Março de 2020 - mês que marca o final de algo contínuo e progressivo nas nossas vidas, devido ao covid-19. Dois anos depois o que aconteceu a alguns dos clubes e discotecas que existiam até então? A segunda consequência é a inclusão de Kyiv que desde Fevereiro deste ano apanhou com a tentativa de invasão russa na Ucrânia. Que noitadas haverá nesta capital desde então?

O gigantesco livro ensina-nos imenso sobre duas coisas, a história da música de clubbing nessas cidades e a sua relação política. Alguns géneros de música são fáceis de associar às cidades, do Krautrock à Capital do Mundo do Techno que é Berlim ou o Afrobeat / Highlife de Fela Kuti em Lagos. Ou ainda o Jazz sul-africano de Joanesburgo e claro o Trip Hop de Bristol. Ah, e o Kuduro de Luanda! Mas que dizer de Nápoles lembrando-me lá eu que já conhecia 99 Posse? Há descobertas para se fazer neste livro mamute. Para além do "género" muito disto passa pela exclusão social, racismo e contestação às autoridades, não esquecendo o nojo do Apartheid e das suas cidades separadas por raças ou o confronto político das Okupas e Raves ilegais na Europa.

Já perceberam que se aprende muito com o livro mas claro quando chegamos a Lisboa temos Judas na área. Rui Miguel Abreu escreve um artigo sobre a história da música urbana portuguesa (deveria ser sobre música de clubbing, boy!) sem aprofundar nada em especial (porque se calhar não há uma música que defina Lisboa) e Vítor Belanciano dá um no cravo e outro na ferradura, armado em rebelde a criticar a gentrificação da cidade mas tal como Abreu também a vende como um sítio excitante e multi-cultural. Não sei onde estes gajos saem à noite mas devem ser sítios do caraças!! Vê-se nas fotografias que acompanham os artigos! Quase todas em volta do Frágil dos anos 80! Ah! Como a cidade vibra ou sempre foi "multi-culti" de artistas e betos brancos... Onde está essa relação entre Europa e África? Sempre foi fraca e estes artigos revelam isso sem o quererem fazer. Lisboa é uma fraude e gera seres fraudulentos que escrevem sobre ela, obrigado por relembrarem isso.

Mau disco, bom livro.

PS - No livro há uma lista de sons criados por cada cidade. Em Lisboa ela começa em Heróis do Mar para acabar em DJ Lilocox. No meio inserido o Pois pois dos Repórter Estrábico. Sim é a única banda portuguesa Pop/Rock que merece estar em qualquer lista de admiração mas que eu saiba ela sempre foi do... Porto! 

PPS - Abreu e Belanciano: ide pastar!

sábado, 7 de janeiro de 2023

Dave Laing : "One Chord Wonders: Power and Meaning in Punk Rock" (PM Press; 2015)

Depois de acabar o livro, pergunta-se porque raios escreveu-se mais livros a explicar o Punk? Ainda por cima originalmente foi escrito e publicado em 1985... Duvido que a nova edição mudou muito. Grande PM!